Meu Diário
05/07/2023 02h33
MISSÃO EM TESTE

            Godofredo sabia que tinha uma missão dada pelo Pai, de construir o Reino de Deus ao seu redor, a partir da purificação do egoísmo do seu coração. Sabia que para fazer isso devia aplicar o amor incondicional em todos seus relacionamentos, fazendo ao outro justamente o que gostaria que fizessem consigo. A sua vida devia ser transparente para todos aqueles que se aproximassem dele, mesmo que seu comportamento fosse em alguns aspectos totalmente contrários à cultura mundana, que privilegia mais a família consanguínea, nuclear, do que a família espiritual, universal. Ele sabia que iria viver uma vida de constantes batalhas, tanto de adversários externos, quanto, principalmente de adversários internos. E estes adversários internos são representados para todos os seres humanos, na forma de instintos que preservam a vida, que são aquelas 7 cabeças do monstro energético que habita em nós, o Behemoth.



            Vivendo esse paradigma, Godofredo encontrou-se com sua amiga que mora em outro município, que veio para ficar consigo uma noite em seu apartamento. O amor incondicional era o pano de fundo desse relacionamento, mas o motor que fazia tudo se desenrolar era a libido exacerbada que desejava o prazer do ato sexual. Mas Godofredo estava atento, para não sair da bússola comportamental do Cristo. Sua amiga se mostrava temerosa desse afeto de Godofredo desembocar no ato sexual. Godofredo não poderia agir de forma que causasse constrangimento, mesmo sabendo que por trás das defesas e esquivas de sua amiga, existisse também o desejo dentro dela. Mas Godofredo não podia ser o desbravador de tais obstáculos, jogando contra eles a força dos seus instintos. Não, ele devia e assim fez, de observar onde estava o fator psicológico que dava mais segurança à sua amiga. Descobriu que era a espiritualidade e fez a proposta de se fazer o Evangelho no Lar, algo que ela já havia comentado que tinha interesse em aprender para praticar em sua casa.



            Ao ouvir a proposta que Godofredo fazia, sua amiga se mostrou mais confiante e buscou dentro da sua bolsa um livro que havia trazido, O Evangelho Segundo o Espiritismo. Pediu para que Godofredo conduzisse todos os passos que segundo o seu amigo seria a prece inicial, a leitura com reflexão de um texto do Evangelho e a prece final. Assim Godofredo fez. Após a prece inicial ele abriu aleatoriamente o livro, pedindo aos mentores espirituais que estavam presentes e que tinham interesse na evolução deles, apontasse o melhor tema para discussão naquele momento.



            O trecho escolhido caiu no início do capítulo, Os Trabalhadores da Última Hora. Godofredo fez a leitura por duas vezes, mostrando onde estava os erros e os acertos, tanto dos trabalhadores que reclamavam da injustiça de terem sido pagos com o mesmo valor daqueles que chegaram depois, no término do dia de trabalho e receberam o mesmo valor, quanto do patrão que mostrou sua bondade com os trabalhadores da última hora, oferecendo a eles o mesmo valor dos primeiros.



            Foram considerados os diversos pontos de vista colocados pela lição do trecho, associando ao Reino de Deus, que somos convidados a qualquer momento de nossa vida, em qualquer momento histórico ou qualquer local, cidade, país existente no mundo. Sabemos que, se concordamos em ir trabalhar na seara do Senhor, para construir o Seu reino de amor, iremos receber o mesmo valor que os primeiros trabalhadores receberam.



            Após as devidas reflexões da implicação da parábola em nossas vidas atuais, Godofredo fez a prece final, agradecendo ao Pai e a todos os presentes espirituais, encarnados e desencarnados que estavam presentes nessa singela reunião. Tanto os mentores espirituais colocados em maior nível evolutivo, quanto aqueles espíritos desejosos de sexo que chegaram atraídos pelo alto nível vibracional dos desejos libidinosos. Mas receberam uma lição importantíssima para seus espíritos retomarem o Caminho da Vida eterna que o Mestre apontou, seguindo sempre a bússola comportamental de não fazer nada ao outro fora daquilo que desejamos ser feito a nós.



            Tendo ambos participado desse simples Evangelho no Lar, ficaram calados um ao lado do outro, com simples toques corporais, sem qualquer avanço para áreas erógenas. Estava aberto o período de sinalização para o possível aprofundamento desses afetos e que poderiam culminar no ato sexual. Mas essa sinalização não ocorreu, e Godofredo bem interpretou os conflitos existentes na alma de sua amiga e que não seria conveniente nenhuma tentativa de avançar esse sinal, pois estaria fora da rota apontada pela bússola comportamental do Mestre.



            Após Godofredo ter se sentido vitorioso em tal teste no enfrentamento da libido, percebeu que associado a esse teste havia outro que esperava uma resposta. Este era um teste ético, onde a filha do primo, já falecido precocemente, mas que tanto o ajudou a estudar e adquirir o status que hoje detém, estava precisando de ajuda para atenuar suas grandes dificuldades com a vida. Com ela Godofredo não tinha nenhum apelo libidinoso, mas o apelo ético era forte. Godofredo decidiu que apesar de suas dificuldades financeiras do momento, ele não poderia deixar de ajudar, proporcionalmente, aquela ajuda solicitada à distância.



            Feito tudo isso, apesar da turbulência que os instintos provocavam nesse ponto da jornada de Godofredo, ele sentia que não havia desviado do Caminho que o Mestre ensinava e agradeceu pela bússola comportamental que agora possuía, pois em qualquer momento, por mais tenebroso que fosse o trajeto da jornada a ser percorrido, ele não correria o risco de sair do Caminho da sua missão, construir a família universal, o Reino de Deus e se aproximar do Pai.   



Publicado por Sióstio de Lapa em 05/07/2023 às 02h33


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr