Meu Diário
13/08/2023 05h29
SALVAÇÃO, SERVIDÃO E LIBERTAÇÃO

            Ao assistir o filme “Nefarious” encontrei diálogos que o demônio fez com o psiquiatra que leva a profundas reflexões. O demônio diz que o seu chefe, Lúcifer, percebeu a influência autoritária de Deus, isso bem antes da criação do homem. Ficou revoltado com essa situação e provocou uma rebelião nas hostes celestiais. Terminou sendo expulso pelas entidades alinhadas com o propósito de Deus e ficou ainda mais revoltado quando viu que Deus criou o homem Sua imagem e semelhança, com inteligência e livre arbítrio, para evoluir às suas próprias custas até chegar a um nível de proximidade com o Pai-Criador suficiente para ocupar o espaço deixado pelo grupo dos revoltosos, após a sua expulsão.



            Lúcifer e seus comandados ficaram muito contrariados com tudo isso e decidiram que todos eles iriam fazer de tudo para corromper a humanidade, desviando-a do seu caminho em direção à Deus e infligindo no Criador a dor da derrota.



            Tudo ia bem nos propósitos luciferinos, até que surgiu o Cristo e não se deixou corromper pelas promessas de poder e glória oferecidos diretamente pelo chefe. Jesus se mostrou um filho obediente ao Pai, disposto a servi-Lo sem hesitação, se mantendo sempre no caminho da verdade que leva diretamente à intimidade com Deus.



            Esta consciência de nossa paternidade divina evita que fiquemos presos às algemas do pecado, dos erros que nos desviam do caminho reto que nos leva a Deus, das promessas amplas de prazeres imediatos da vida material que Lúcifer nos oferece. Isso nos faz sair do caminho reto que leva a salvação das nossas almas.



            Portanto, a servidão apontada por Lúcifer como motivo para a rebelião, para nos afastarmos compulsoriamente de Deus, é simplesmente uma forma de arrogância, de não aceitar a hierarquia imposta pelo ato da criação. Não é que Deus tenha nos criados para sermos servos sofredores, como não acontecia nas hostes celestiais pois todos eram anjos já bem formados em sabedoria e graça. O que aconteceu entre os anjos da criação foi que, a inteligência aguçada de alguns superou a humildade que deve está implícita em toda criatura, no respeito e obediência ao Criador e não querer tomar o Seu lugar, com a arrogância de uma autonomia desordenada.



            Para Deus seria fácil resolver esse problema, pois da mesma forma que criou esses anjos revoltosos, com mais facilidade Ele os destruiriam. Mas Deus não quer existir isolado ou cercado de seres robotizados, sem vontade própria, sem livre arbítrio. O que Ele deseja é que em Sua criação todos tenham os talentos próprios do Pai e que não apresentem falhas na compreensão de que a criatura jamais pode ser igual ou superior ao Criador. Se isso fosse possível era como se o Criador houvesse criado algo que Ele não possuía e que fosse capaz de O suplantar no futuro. Isso abriria uma sequência de criaturas desestruturando a hierarquia da criação, fazendo surgir outra e assim indefinidamente pela eternidade e sem harmonia, sempre com o veneno da revolução inoculado em cada criatura.



            A sabedoria do Criador deixou que as suas criaturas celestiais resolvessem a questão sem a Sua participação direta. Foi o que aconteceu. O arcanjo Miguel tomou a dianteira da reação, se colocou à frente dos revoltosos e fez a pergunta-chave para colocar o confronto com a verdade: “Quem como Deus?”. É claro que nenhuma das criaturas celestiais poderia ser igual ou superior a quem os criou. O peso dessa constatação e a arrogância de não ter a humildade de se colocar dentro da hierarquia, fez com que eles caíssem da proximidade com Deus.



            Depois de tudo isso acontecer, Deus fez mais um tipo de criação: a Natureza e no centro dela o homem. Agora não mais perfeito como os anjos. Agora este novo ser nascia simples e ignorante, mas com uma centelha divina que fizesse a sintonia intuitiva com o Criador. Pelos processos evolutivos da Natureza, materiais e espirituais, ele veio formar a humanidade.



            Esse processo evolutivo no qual a humanidade está submetida, devemos seguir pelos próprios esforços de adquirir conhecimento e sabedoria. Pela ignorância somos levados aos erros, e pelo sofrimento do mal que causamos vem as consequências do sofrimento que iremos receber. Tudo está equânime na justiça de Deus.



            Devemos ter a humildade de reconhecer a condição de criatura, que devemos corrigir nossos erros agradecendo ao sofrimento que vem nos alertar do desvio do caminho da verdade, sabendo que estamos indo em direção à vida eterna ao lado do Pai.



            Devemos saber que tudo podemos fazer, mas nem tudo nos convém, para isso serve o livre arbítrio, decidir com sabedoria o caminho a seguir. Desobedecer a lei do Pai que está implícita na Natureza, da qual fazemos parte pode nos levar ao fogo do sofrimento que persiste enquanto permanecermos no erro, com nossa consciência presa aos sentimentos de arrogância, vingança, ódio e retaliação.



            Portanto, reconhecemos nossa condição de criatura, que devemos respeito e obediência ao Criador, e que Sua vontade está na evolução satisfatória de nossas consciências até a Sua intimidade e que para isso devemos nos ajudar mutuamente como irmãos, até a libertação de nossa ignorância.



Publicado por Sióstio de Lapa em 13/08/2023 às 05h29


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr