Meu Diário
28/08/2023 21h01
OS PADRES DA IGREJA

            Lendo o primeiro tomo da coleção “Patrologia”, de Johannes Quasten, encontro o texto do Cardeal J. H. Newman, que descreve bem a importância do consenso na Igreja Católica, e como ele se distingue da opinião privada dos Padres.



Vejamos como ele pensa...



            Eu sigo os antigos Padres, não pensando que em tal assunto eles tenham o peso que possuem em matérias de doutrina e ordenança. Quando eles falam de doutrinas, falam delas como universalmente aceitas. São testemunhas do fato de que essas doutrinas foram recebidas, não aqui e ali, mas em todo o lugar. Nós recebemos aquelas doutrinas que eles, dessa forma, ensinam não porque as ensinaram, mas porque elas dão testemunho de que todos os cristãos em todos os lugares então as aceitavam. Nós os consideramos informantes honestos, mas não autoridades de pleno direito, embora eles também sejam autoridades. Se eles proclamassem estas mesmas doutrinas, mas dissessem: “essas são as nossas opiniões: nós as deduzimos das Escrituras, e elas são verdadeiras”, poderíamos duvidar de que as receberíamos de suas mãos. Poderíamos muito bem dizer que temos tanto direito de deduzir das escrituras quanto eles tinham; que as deduções das Escrituras eram meras opiniões; que, se as nossas deduções concordassem com as deles, seria uma feliz coincidência, mas se não convergissem, não precisaríamos segui-las precisamos seguir a nossa própria luz. Sem dúvida, nenhum homem tem direito algum de impor suas deduções sobre um outro em matéria de fé. De fato, existe uma óbvia obrigação de que o ignorante se submeta aos que estão mais informados; e é conveniente que os jovens se submetam por um tempo ao ensinamento dos mais velhos; mas, exceto nesses casos, nenhuma opinião é melhor que a do outro. Mas esse não é o caso quando se trata dos Padres primitivos. Eles não falam da sua opinião privada; não dizem “isto é verdadeiro, porque nós o vemos nas Escrituras” – uma opinião sobre a qual poderia haver divergências de julgamento -, mas “isto é verdadeiro, porque de fato foi professado, e assim tem sido, por todas as Igrejas, até os nossos tempos, sem interrupção, desde os Apóstolos” em que a questão é meramente de testemunho, ou seja, se eles tinham os meios de saber o que havia sido professado e assim permanecido; pois se foi a crença de muitas Igrejas independentes ao mesmo tempo, sem dúvida só pode ser verdadeira e apostólica.  



            Bons argumentos. Fazem a gente refletir na autoridade que a Igreja Católica possui ao reproduzir as informações prestadas por aqueles que viveram no tempo do Cristo, que foram testemunhas de suas aulas e milagres, ou então ouviram de tais testemunhas. Um ensinamento que vem mostrando a sua eficácia ao longo dos séculos, como pode um novo ensinamento, como as doutrinas revolucionárias, querer destruir essa história, a não ser pela força das armas, pelo aprisionamento dos crentes, pelo derramamento de sangue? Vejamos as consequências da Revolução Francesa e das demais revoluções que ocorrem no mundo, como prova do que estamos refletindo e diagnosticando.



Publicado por Sióstio de Lapa em 28/08/2023 às 21h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr