Meu Diário
25/04/2024 00h01
TIA NEVES, PRIMEIRA CONVERSA

            Boa noite, tia Neves. Acabei de lhe deixar no hospital, conversamos sobre sua vida, sobre a sua passagem para o mundo espiritual, que se aproxima. Você pouco interagiu comigo, mas me entendia e conseguiu dizer palavras que eu também conseguia entender. Falou que sua fé não havia se acabado e eu concordei, que tudo que acontecesse, que fosse até contrário à nossa vontade, mas receberíamos com respeito, pois era a vontade do Pai e que certamente este era o melhor caminho, pois Ele é pura bondade e sabedoria.



            Agora, tia Neves, estou conversando com a senhora, mas não sei se está me ouvindo, se está entendendo onde está agora. Sei que deixou de sentir dor, que a sua doença ficou aqui no corpo físico, mas sua alma imortal está junto com o Pai, na sintonia dos bens que construísses aqui e levaste consigo.



            Seus parentes estão chorando a sua partida, lamentam a sua perda, mas eu não tenho esses sentimentos. Estou satisfeito, pois fizemos todo o possível para a senhora permanecer mais algum tempo conosco, mas sei da sabedoria e bondade do Pai e que Ele fez o melhor para a sua vida. Pois não era a cura do seu corpo que tanto pedíamos e fazíamos aqui? Pois isso o Pai concedeu, retirando você do corpo doentio e lhe trazendo para perto dEle.



            Tenho essa convicção, pois sei da história de muita gente que sofreu algum tipo de morte, por acidente ou doença, foi declarado clinicamente morto, e por algum motivo voltou à vida. Essa pessoa relatava tudo o que aconteceu ao seu redor quando ela estava oficialmente morta. Mais ainda, dizia que não queria voltar, pois a sensação de paz e de harmonia com a vida, ao lado de pessoas amigas ou parentes que vinham lhe cumprimentar, lhe deixavam totalmente decididas a ficar ali. Depois de muita conversa e convencimento, dizendo da importância do seu retorno ao mundo material, é que ela voltou a ocupar o corpo que já estava declarado morto.  



            Por esse motivo, tia Neves, sei que você está muito melhor aí perto do Pai do que aqui perto de nós. Então, por que eu ficaria triste ou revoltado com Deus porque Ele decidiu levar você para perto dEle?



            Mas confesso, tia Neves, senti uma certa frustração, ao perceber que tudo eu fazia para a sua recuperação e que você tudo seguia com fé e confiança que o Pai iria sarar o seu corpo físico. A cura do corpo físico não aconteceu, e eu sei que Jesus quando estava entre nós promoveu tantas curas, de pessoas que simplesmente tinham fé em Seu poder. E agora, sabemos que o Mestre deixou o plano físico, mas ensinou que estaria sempre perto de nós, quando assim nós quiséssemos. E isso nós fizemos. Nos reunimos e oramos em Seu nome, pedindo que a cura ocorresse. Tanto eu como você, tia Neves, tínhamos fé e confiança que a cura poderia ocorrer. E não ocorreu...



            Orgulho e vaidade, é a base da minha frustração? Eu queria mostrar para todos que a minha fé é tão grande que atraia a vontade de Deus para fazer a minha vontade? Mesmo sabendo que a pessoa está melhor ao lado do Pai do que ao meu lado?



            Sim, não posso alimentar esse sentimento de frustração por meus pedidos ao Pai não terem sido atendidos da forma que eu queria. E talvez o Pai tenha procedido assim por outro motivo, além de lhe deixar, tia Neves, numa posição mais confortável. Talvez o Pai tenha aproveitado a oportunidade para quebrar um pouco da minha arrogância, de ter operado ou contribuído para um milagre acontecer.



            Sim, tia Neves, lhe agradeço a disposição de ter vindo para Natal e servir de instrumento ao Pai para me dar essa importante lição de humildade. E quando puder falar conosco, diga como foi seu encontro com os parentes e amigos.



            Fica com Deus, pois logo estaremos chegando por aí.



Paz e Luz!



Publicado por Sióstio de Lapa em 25/04/2024 às 00h01


Imagem de cabeçalho: Sergiu Bacioiu/flickr