Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
02/03/2016 23h59
TEXTO EXPLICATIVO

            Durante a reunião da AME-RN que participo todas as terças feiras, respondi de forma arrogante ao nosso coordenador que flava sobre o comportamento de Deus e eu defendi com muita prepotência que Deus permitia que acontecesse tudo que há no mundo, de bom e de ruim. Depois fiz uma reflexão e vi que meu comportamento não foi harmônico dentro do grupo e que merecia uma reparação. Por isso desenvolvi o texto abaixo para possivelmente apresentar aos amigos.

            Inicialmente peço desculpas, pois o que vou ler agora poderia ser falado sem a ajuda das linhas. Acontece que eu já reconheci dentro de mim, como um dos aspectos do autoconhecimento, que tenho deficiência na exposição do meu pensamento quando se depara com um pensamento contrário. Logo a emoção toma conta do meu psiquismo e a conduta de harmonização, tolerância, humildade e compreensão, que tanto desejo manter em minhas atitudes, se perde indiscutivelmente. Já aconteceu isso em várias ocasiões, e sempre vem à minha consciência o arrependimento pela minha falta de controle emocional. Como mecanismo de defesa, procuro ficar a maioria das vezes calado, mesmo quando imagino que o meu pensamento possa ser o mais correto. Mesmo sendo atacado em algo que eu imagino que fiz correto, eu prefiro ficar calado, sem colocar meus argumentos, pois sei que a emoção será despertada e a harmonização será perdida entre mim, o interlocutor e as demais pessoas presentes que possam tomar partido por um ou outro lado. Sei que esse meu comportamento talvez esteja errado, pois no cristianismo primitivo sempre havia conflitos entre os primeiros seguidores do Cristo. Lembro da discussão ferrenha que aconteceu sobre a dispensa de realizar a circuncisão aos gentios, levada por Paulo e contestada por Tiago (se não me engano) e que fez Pedro agir como juiz para evitar uma possível divisão dentro de um grupo tão próximo dos ensinamentos de Jesus. Pois, então, se um tal grupo tão bem preparado pelo próprio Mestre correu o perigo de se dividir por meio de uma discussão desarmônica entre eles, quanto mais uma discussão provocada por mim dentro de um grupo tão carente de preparo espiritual da estirpe do que o Cristo ensinou como nós.

            Fiz todo esse preâmbulo para me justificar do que ocorreu na primeira semana deste mês, promovido por mim. Não respeitei os meus cuidados e contestei de forma jocosa os comentários do nosso coordenador sobre o comportamento de Deus. Logo num assunto tão amplo e de, parece, impossível conclusão, eu venha a colocar opinião contrária de forma prepotente, arrogante, como se tivesse certeza do que estou dizendo. Por mais compreensão que eu tenha que determinado atributo de Deus seja assim ou assado, eu não posso usar tal argumento para desafiar ou constranger alguém, quem quer que seja, muito menos alguém que está imbuído de todo corpo, alma e coração em transmitir para nós um conhecimento  que nós iríamos gastar muito mais tempo para obtê-los sozinhos; alguém que já foi meu professor na Universidade e que continua a me ensinar no campo espiritual; alguém  que já tem o certificado do tempo de trabalhos realizados ao seu redor, dos mais variados matizes, quer seja acadêmico, político, cultural, comunitário... e espiritual! Afinal, o seu mentor, Craveiro Bento, tem mostrado para nós texto da mais bela espiritualidade. Então, vem eu, um aluno que está iniciando agora nas lides espirituais, trazido por suas mãos caridosas, contestar dessa forma os seus ensinamentos. Sei que eu poderia contestar de outra forma, poderia usar o método socrático, mas a minha impulsividade leva logo minhas palavras para o confronto e para a geração de desarmonia.

            Este foi o motivo de escrever este texto, impulsionado por minha consciência que obrigou ao meu ego arrogante de eu tentar reparar o mal que eu fiz. Sei também que esse “mal” que eu fiz não é tão extraordinário, a nível da cultura local, para que eu faça tamanha retratação, mas eu não estou dentro da cultura local. Estou dentro da cultura cristã, iniciada por Cristo há milênios e continuada na atualidade pelo Consolador. E dentro desta cultura o mínimo agravo à figura de uma pessoa, quanto mais a figura de um mestre, é um grande abuso e distorção da lei que quero seguir.

            Portanto, meus amigos, tenham paciência comigo, porque tento evitar com meus silêncios, meus destemperos; às pessoas da minha intimidade, tenham paciência pelas minhas ausências, pois quanto mais tento semear na seara do Senhor, mais me afasto presencialmente; e aos meus mestres, em particular, quero pedir desculpas pelo meu comportamento de escorpião, de ferir a mão de quem quer me ajudar; enfim, quero pedir a Deus paciência para todos que convivem comigo pois quero ser tão certo e me descubro tão errado, e quero agradecer pela oportunidade que Ele me deu de ter ao meu lado pessoas tão bondosas a ponto de ajudar e amar a pessoas tão difíceis quanto eu.

            PS – Estou em dúvida se deverei apresentar esse texto na próxima reunião... Vou combinar com Deus para Ele me orientar, não quero complicar ainda mais a situação e também não quero deixar passar uma oportunidade de corrigir um erro que cometi. Se o Pai permitir que as mesmas pessoas que estavam presentes naquela reunião, voltem a estar presentes em qualquer reunião dentro deste mês, é porque eu devo apresentar o texto, caso contrário apenas publicarei neste diário, como sempre faço com minhas experiências mais significativas.  

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em 02/03/2016 às 23h59
 
01/03/2016 23h59
DESPEDIDAS

            Hoje resolvi falar da despedida. Parece uma circunstância inofensiva, que não pode trazer grandes ameaças à vida íntima. Mas quando me sinto tomado pela saudade, quando sinto um aperto no coração, um nó que se faz na garganta ou mesmo um aguaceiro nos olhos, vejo que quem causou tudo isso foi a despedida, que gerou ausência de alguém, que gerou a saudade.

            Vejo também que existem diversas formas de despedidas, nem todas tem o mesmo formato. Existe aquela na qual a ética e o bom senso se impõe, e força ao coração abrir mão de um amor que ele tanto deseja. Lembro de uma ocasião dessa, estava apaixonado por uma pessoa, desejava tanto ela ao meu lado, mas tive que conter toda essa enxurrada de afetos, pois ela precisava para ficar comigo, que eu tomasse decisões contrárias a minha consciência, a ética. Combinamos para ficar a última noite juntos, numa pousada na praia. Foi uma lua de mel às avessas, não posso dizer que foi uma lua de fel, pois apesar da tristeza que existia como pano de fundo, devido a despedida que logo iria chegar, foi uma noite maravilhosa. No dia seguinte, foi com o coração amargurado, cheio do dores, que eu fui deixa-la na rodoviária para a despedida final. O céu estava nublado, como estava a minha alma que acompanhava com os olhos a cadencia dos pingos da chuva. Sabia que com a partida dela o meu coração não teria conforto, mas a minha razão não podia permitir o que minha consciência não considerava correto. Esta foi uma despedida concedida por minha razão. Sofreria as consequências dela com altruísmo, pois eu sabia que, mesmo machucando o meu coração, eu estava do lado correto. Foi uma despedida sofrida, mas pacífica, compreensiva, tolerante, e com certeza cheia de amor. Aquela pessoa querida também se despediu com lágrimas nos olhos, sei que dentro dela não existia mágoa por eu não ter ficado.com ela. Acredito que ela entendeu minhas razões e também assumiu o ônus da despedida, por não querer violar a sua consciência, de permanecer comigo violando os seus princípios.

            Mas existe outra forma de despedida muito mais sofrida, muito mais traumática... e eu também a experimentei. Uma despedida em que fui forçado a sair de perto da pessoa amada. Mais uma vez os princípios de minha consciência provocaram essa situação de intolerância máxima da pessoa amada. Ela não conseguiu tolerar tanta decepção que sofria pelo meu modo de agir. Dessa vez a iniciativa da separação não foi minha, mas as condições quem forneceu foi eu. Talvez eu nem pudesse considerar essa circunstância como uma despedida, por tão traumática que foi. Nem me lembro se fui agredido fisicamente, como de uma outra vez que aconteceu de forma semelhante com outra pessoa. Sei que fui forçado a colocar minhas roupas dentro do carro e abandonar aquela convivência de cerca de 20 anos, sem nenhuma palavra de afeto, sem nenhum abraço. Nesta despedida o amor ficou comprometido com relação a mutualidade. Ela se deixou contaminar pela raiva e me fustigou com tanto ódio que pediu a toda sua família a nem se aproximarem de mim. Eu, como ferramenta do Amor Incondicional nas mãos de Deus, como assim me considero, não desenvolvi nenhuma raiva, tolerei toda reação negativa que desabou sobre mim e mantive o amor sempre presente.

            Certamente existem outras formas de despedida e já experimentei diversas delas. Mas eu queria colocar aqui dois polos bem diferentes de uma mesma circunstância e que pode ter a participação das mesmas pessoas. No meu projeto de vida não está incluso as despedidas traumáticas, como esta última. Meu projeto de vida considera com prioridade os encontros carregados de amor, e tendo muitos encontros vai haver muitas despedidas. Mas as circunstâncias devem garantir a harmonia nas despedidas, que sempre tem a perspectiva do reencontro. Isso implica que cada encontro deve estar sintonizado com o Amor Incondicional e sua natureza inclusiva.

            Cada vez que fico mais experiente nessa lida, as despedidas se tornam menos traumáticas, pois agora não deixarei alimentar na convivência uma perspectiva de amor exclusivo, pois é aí que reside o risco da despedida traumática.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 01/03/2016 às 23h59
 
29/02/2016 23h59
JULGAMENTO E APROVAÇÃO

            É tão raro encontrar alguém que nos ame do jeito que somos quanto encontrar alguém que ame a si mesmo plenamente. Eu, particularmente, posso dizer aqui que ainda não encontrei ninguém com esse perfil em toda a minha vida. Nem minha mãe que me deu a luz, nem a minha avó que me educou, nem minhas diversas companheiras, fixas ou fugazes que tive pela vida afora. Talvez, quem tenha chegado mais perto tenha sido a minha mãe, eu sentia um tanto disso nela, mas lembro que chegava momentos que a vontade dela se defrontava com a minha vontade de forma firme, exigindo que eu também fosse firme, para mostrar que minha forma de pensar era diferente.

            Essa aprovação do que pensamos e do que fazemos, depende do julgamento que é feito pelos outros. Também estamos sempre a nos julgar e isso muitas vezes tem a força de reduzir a nossa vida, muito mais do que qualquer doença. Podemos viver uma vida acanhada porque o nosso julgamento aceita o julgamento dos outros sobre nós, passamos então a nos inibir e a viver a vida como os outros querem. O julgamento que fazemos sobre nós mesmos e sobre o que as pessoas julgam de nós, pode sufocar nossa força vital, nossa espontaneidade e nossa expressão natural.

            Quando aprovamos uma pessoa fazemos um julgamento sobre ela, assim como quando a criticamos. O julgamento positivo magoa menos do que a crítica, mas não deixa ser um julgamento, e podemos ser prejudicados por ele de maneiras muito mais sutis. Isso pode nos levar a buscar sempre a aprovação dessa pessoa que nos julgou positivamente, e isso leva a uma atenção redobrada, perdemos assim o nosso lugar de descanso íntimo, o nosso santuário, pois aquela pessoa que nos julgou positivamente pode não gostar e mudar a sua opinião sobre mim. Então não importa, quer seja uma crítica ou um julgamento positivo, devemos permanecer sempre focado nas diretrizes básicas de nossa consciência.

            Todos os julgamentos que levam a uma aprovação, nos deixa incertos quanto a quem somos, a verdade do que fazemos, qual o nosso valor real. Isso pode acontecer tanto com a aprovação que recebemos dos outros, da que damos a nós mesmos e a que oferecemos aos outros. Não se pode confiar na aprovação, ela pode ser retirada a qualquer momento, não importando qual tenha sido nosso desempenho no passado. Ficar esperando essa aprovação para nutrir a nossa evolução, equivale ao algodão doce para nutrir o nosso corpo. Um monte de açúcar dispostos como um emaranhado de fios que se dissolve sem consistência ao simples toque da saliva. E mesmo assim a maior parte da humanidade passa a vida em sua busca.

            Muita energia é gasta no processo de consertar e rever a mim mesmo. Isso é positivo, quando orientado para ser feita essa reforma íntima baseada nos princípios que minha consciência considera como corretos, sem deixar que o julgamento dos outros interfiram naquilo que acredito ser mais importante para mim. Este é um trabalho cognitivo importante, pois também devo seguir a lei do Amor, de amar ao próximo como a mim mesmo. Isso implica que devo respeitar o próximo assim como quero ser respeitado.  Vejo assim que o julgamento sempre vai existir, faz parte do meu senso crítico que justifica o meu livre arbítrio. Quando estou agora fazendo esse texto com toda essa argumentação, nada mais é do que um julgamento do que faço e penso e assim eu expando em direção aos outros. Então, como determino o núcleo dos meus pensamentos para não correr o risco de me prejudicar ou alguém?

            Foi nesse ponto que a absorção do conteúdo dos livros considerados divinos, tanto do ocidente quanto do oriente, fez a minha consciência aceitar como importante o Amor puro, incondicional, como a maior força do universo, que eu deveria respeitá-la e cumprir os seus princípios acima de qualquer outra instância, psicológica, fisiológica, religiosa ou cultural. Existe dentro da lei do Amor todos os cuidados para não prejudicar ao próximo, mas, pelo contrário, de ajuda-lo nas suas dificuldades, assim como fui ajudado.

            Portanto, o meu julgamento estando dentro da lei do Amor, jamais irá prejudicar a ninguém, nem a mim nem ao próximo.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 29/02/2016 às 23h59
 
28/02/2016 23h59
MENSAGENS DE DEUS

            Quando reconhecemos a paternidade universal de Deus e decidimos fazer Sua vontade, mesmo não O identificando materialmente como uma pessoa comum, nem tendo a percepção de Sua presença pelos cinco sentidos físicos tradicionais, algo em nós se amplia a tal ponto que um novo canal perceptivo surge, racional e coerente, mesmo que não seja identificável e provado materialmente. Esse novo canal está nos domínios da intuição, mas de forma muito mais ampliada, pois a intuição é fator psicológico que todos possuem, mas na maioria das vezes não é respeitado.

            Pois bem, o trabalho que realizo na Praia do Meio, junto com diversos companheiros, considero que foi uma convocação de Deus, assim como considero que da mesma forma foi chamado cada companheiro que dele se aproximou e se engajou. Então formamos um grupo de trabalho comunitário, mas, principalmente servimos de instrumento para a realização da vontade do Pai, seguindo as lições do Mestre Jesus.

            Existimos como grupo há mais de dois anos e já temos bons trabalhos realizados na comunidade, e temos como base a Escola Olda Marinho, na qual nos reunimos semanalmente às quintas feiras. Tudo ia bem, procurávamos nos desenvolver enquanto Associação, mas de forma acomodada de dentro da Escola, pedindo que as pessoas comparecessem às nossas reuniões. De repente, sem motivos significativos, chegou uma decisão de que os trabalhos comunitários não poderiam mais ser realizados dentro da escola. Fomos a administração central, à Secretaria de Educação, e obtivemos a autorização para o trabalho ser continuado. Isso poderia nos deixar satisfeitos e tudo voltar a ser como antes... mas alguma coisa ficou para refletirmos...

            Por que Deus permitiu que esse transtorno acontecesse? Se o trabalho que realizamos é em Seu nome e quem o realiza não procura obter nenhuma vantagem, quer seja religiosa, política ou financeira? Pelo contrário, quem dele participa tira dinheiro do seu bolso para desenvolver o trabalho. Por que os professores da escola, pessoas esclarecidas pela força de suas profissões, que devem perceber a natureza desse trabalho de essência evangélica, deixou isso acontecer? Por que os moradores da comunidade que são beneficiários efetivos ou potenciais da Associação, que tem os seus filhos ou eles mesmos sob os nossos cuidados deixaram isso acontecer? Só tenho uma explicação, Deus quis chamar nossa atenção para algo. E como foi que Ele fez isso? Tenho uma ideia...

            Deus viu que nosso trabalho estava de certa forma ocioso, dentro de uma escola quando devia estar na ruas. Jesus, o Seu filho mais evoluído, veio para a Terra e não só ensinava ao povo nas igrejas, dentro de escolas ou nas sinagogas. Ele falava com o povo nas ruas, reunia nos montes, ia aonde o povo estava, pessoas carentes e ignorantes, para falar do nosso Pai comum e como chegar a construir o Reino dos Céus. Então, imagino que Deus queira fazer entender essa Sua vontade. Como fazer isso, se nossa consciência estava acomodada naquela escola? Então Ele retirou Sua luz momentaneamente daquela escola e deixou que almas mais distantes do Amor ao próximo se incendiassem pela raiva, por qualquer motivo, o mais mínimo possível, e atingissem com dureza a associação expulsando de suas instalações todo o trabalho a que ali era realizado. Tivemos que fazer a reunião seguinte quase no meio da rua. Mas procuramos nos comportar dentro da compaixão cristã, sem julgar a ninguém, e procurando resolver os problemas sem agressão. Nesse ponto, escrevo aqui com orgulho do comportamento dos meus irmãos que foram diretamente atingidos por essa expulsão, mas conservaram a serenidade de não reagir com vingança e ter a coragem de voltar a outra face. Eu não estava presente a essa reunião na escola, Deus me preservou para que eu fizesse essa reflexão, longe do calor emocional, para que eu pudesse interpretar melhor a Sua vontade. Pois é isso que estou fazendo agora e divulgando para os companheiros e verdadeiros irmãos da nossa grande família espiritual, como Jesus falou: “Quem é meu pai e minha mãe? quem são meus irmãos? São todos aqueles que fazem a vontade do Pai”.

            O Pai quer que façamos reuniões no seio da comunidade, na casa de pessoas sintonizadas com o bem, que respeitam a vontade do Pai, como aconteceu na última reunião. E por reforçar ainda mais esse pensamento, a reflexão que coube ser lida nessa reunião foi inspirada por João em 20:19 que reproduzo abaixo:

 

REUNIÕES CRISTÃS

“Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e cerradas as portas da casa onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado, chegou Jesus e pôs-se no meio deles e disse-lhes: Paz seja convosco.” (João, 20:19)

 

            Desde o dia da ressurreição gloriosa do Cristo, a humanidade terrena foi considerada digna das relações com o mundo espiritual.

         Jesus, provou que vencera a morte, vindo ao encontro dos discípulos saudosos.

         Fechadas as portas, para que as vibrações tumultuosas dos adversários gratuitos não perturbassem o coração dos que desejavam o convívio divino, eis que surge o Mestre muito amado, dilatando as esperanças de todos na vida eterna.

Desde essa hora inesquecível, estava instituído o movimento de troca, entre o mundo visível e o invisível, entre o Mestre e seus discípulos, entre Deus e seus filhos.

A família cristã, em suas várias denominações, jamais passaria sem o doce alimento de suas reuniões carinhosas e íntimas, aprendendo sempre como se comportar para ser um digno cidadão do Reino de Deus. Desde então, os discípulos se reuniriam, tanto nos cenáculos de Jerusalém, como nas catacumbas de Roma. E, nos tempos modernos, a essência mais profunda dessas assembleias é sempre a mesma, seja nas igrejas católicas, nos templos protestantes ou nos centros espíritas.

         Agora, o objetivo do cristão é praticar as lições evangélicas no seio das comunidades onde a caridade for mais necessária, onde a ignorância é a grande sombra que envolve o futuro, onde o medo é o algoz inclemente que atinge a todos nas ruas. O discípulo do Cristo é a ferramenta que o Mestre usa para se fazer presente e atender a todos aqueles que clamam com os seus gritos ou os seus silêncios pelo socorro do Pai.

 

Adaptado de Emanuel, “Caminho, Verdade e Vida”

 

            Para mim tudo ficou muito claro. Deus permitiu nossa expulsão para rua e ainda enviou um texto explicando como devíamos nos comportar. “Praticar as lições evangélicas no seio das comunidades, onde a caridade for mais necessária, onde a ignorância é a grande sombra que envolve o futuro, onde o medo é o algoz inclemente que atinge a todos nas ruas”. Não poderia ser mais explícito!

            Vamos agora planejar nossas reuniões nas ruas. Vamos à procura das pessoas mais necessitadas da caridade divina, que vivem atormentadas pelo medo, e mergulhadas na ignorância sobre o Reino de Deus. Nós somos os instrumentos do Cristo para fazer a vontade do Pai. Somos como aquela enxada usada pelo agricultor, que não quer saber se vai afastar lama ou pedras, sabe que vai abrir covas para plantar sementes do amor. Aqui, o agricultor é Jesus, nós somos as enxadas, a comunidade da Praia do Meio é a seara, o Pai é o patrão que espera os frutos para o Seu Reino.

            Agradecemos a todos que estiveram envolvidos nesta vontade de Deus, de forma direta ou indireta, de forma propositiva ou impositiva, de forma serena ou revoltada, de forma consciente ou inconsciente... e roguemos ao Pai que todos possamos caminhar irmanados em Sua direção, pois, afinal, todos somos irmãos!

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/02/2016 às 23h59
 
27/02/2016 23h59
MEMÓRIA E SENTIMENTOS

            Trocando mensagens com minha segunda ex-esposa, de forma amistosa e gratificante, percebemos, ambos, que minha memória anda ruim e a dela continua ótima. Falamos de livros e eu citei um que pensava que ela ainda não tinha lido. Ela respondeu que já lera e que tinha muitos outros ainda na mesma linha que eu havia lido e rabiscado, como sempre faço nas minhas leituras, mesmo sabendo que o livro era dela, uma má educação, reconheço, que eu prefiro assumir do que não colocar algum sublinhamento, destaque, ou pensamento meu dentro do pensamento do autor.

            Fiz um comentário sobre isso, que esses livros que os meus rabiscos provam que eu já os havia lido, mas que eu não lembro mais dos seus conteúdos. É como se fossem livros novos para mim. Então comentei de forma jocosa que eu corria o risco de me apaixonar por ela uma segunda vez por não lembrar da primeira. E conclui que o que evitaria isso seria a memória dela que continuava ótima.

            Depois fiquei a refletir sobre isso, não é que eu queira voltar com nossa convivência conjugal, tanto eu como ela sabemos agora que somos incompatíveis nesse campo. Ela pensa de uma forma, tem os seus paradigmas, e eu tenho os meus, diametralmente opostos. E sabemos que ambos temos firmes convicções para não se deixar subornar ou influenciar pela vontade do outro. Mas a situação é deveras interessante para ser abordada de forma literária, fictícia. Então me propus a fazer um conto que coloco aqui, no seguimento deste diário.

AMOR RENOVADO

            Não pensava jamais voltar a conviver com ela como marido ou mulher, ou mesmo como amigos. Não é que eu não gostasse da sua companhia, pelo contrário, das mulheres que eu conheci, ela era a mais inteligente, mais culta, mais filosófica, e escrevia maravilhosamente. Muito melhor do que eu, que sem falsa modesta, digo sempre que escrevo melhor do que falo. Mas ela tinha uma forma de ver o mundo muito diferente da minha visão, principalmente no que diz respeito aos relacionamentos afetivos. Eu desenvolvi o pensamento até certo ponto perigoso, na visão de muitas pessoas. Desenvolvi a convicção que recebi de Deus a missão de praticar o Amor Incondicional, sem barreiras ou preconceitos, como uma ordem direta dEle para mim. E isso implicava na forma de amar incluindo a qualquer pessoa, e que se houvesse simpatia mútua e circunstâncias favoráveis ao Amor Incondicional, o relacionamento podia se aprofundar sem qualquer barreira social ou preconceitos culturais, até o relacionamento sexual, com todas as consequências que isso podia trazer.

Ela nunca aceitou esse modo de viver que eu fazia questão de esclarecer para ela, nem ela aceitava para ela e também não aceitava, que eu como seu companheiro pensasse e me comportasse dessa maneira. E eu não aceitava mudar o meu modo de agir para seguir a vontade dela, sabia que isso iria me despersonalizar e passaria a viver em função do outro. O mesmo direito eu também dava a ela, nunca iria obrigar a ela pensar e se comportar como eu, se tal ela não aceitasse por vontade própria, por seu livre arbítrio, pois não queria que ela vivesse como robô ao meu lado.

Criou-se assim uma incompatibilidade entre nós difícil de resolver, e o tempo, ao invés de ajudar, somente piorou a situação. Chegou ao clímax da intolerância e a separação ocorreu até de forma traumática, com muita emoção negativa sendo purgada, principalmente da parte dela.

            Passamos a viver separados, e agora o tempo se mostrou nosso aliado, quando no passado, na nossa convivência, mostrou-se adversário. Voltamos a conversar como bons amigos e trocar ideias sobre leituras, hábito muito valorizado por nós.

Mas algo novo começou a acontecer entre nós, algo que não imaginávamos que fosse acontecer e que começou sem percebermos. Tanto eu quanto ela indicávamos leituras um para o outro, e quando íamos conferir, pensando que ainda não havíamos lido aquela obra, víamos que estávamos enganados, principalmente eu, que gostava de rabiscar minhas leituras introduzindo meu pensamento junto ao pensamento do autor. Ríamos quando percebíamos que isso acontecia, encarava como uma brincadeira que a velhice estava nos trazendo. O tempo ia cada vez mais aprofundando essa “brincadeira” e nós até que gostávamos, pois líamos um livro pela segunda ou terceira vez como se fosse pela primeira vez.

Mas outro fenômeno se associou a esse e o prejuízo na memória não fez a gente perceber. As rusgas que no passado nos separava, também foram esquecidas. A simpatia que naturalmente sentíamos um pelo outro, e que fez nos apaixonar no passado com a força dos hormônios, voltou a se manifestar. Agora não tinha o apelo do desejo sexual, nos contentávamos em ficar um ao lado do outro jogando conversa fora, comentando determinado autor, ou apreciando algum aspecto da natureza. Quando eu ia embora, não havia a cobrança de quando eu voltaria, apenas a leve sensação de uma saudade que se instalava, mas que era atenuada pelo saber de que voltaríamos a nos encontrar. Cada novo encontro era retomado o prazer da convivência, não havia perguntas investigativas do que eu estava fazendo lá fora com A ou com B. O monstro que no passado fustigava as nossas vidas, o ciúme que dentro dela era incontrolável, não mais existia. Certamente o esquecimento do passado contribui decisivamente para isso acontecer.

Dessa forma eu vi o nosso amor florescer outra vez, mesmo que mutilado das lembranças do passado que nos encantou a juventude. Mesmo assim era um sentimento lindo, adaptado a lei do amor, integrado à Natureza. Nascia todo dia assim com nasce o sol, e repousava à noite sem exigir uma presença constante. Cada reencontro reacendia o mesmo prazer do dia anterior. E assim vivemos os últimos anos de nossas vidas, lendo velhos livros já tantas vezes lidos e esquecidos, e aproveitando um amor que o ciúme tanto machucou e sufocou, mas que o esquecimento apagou as lembranças que alimentava essa fera tão cruel.

Meus últimos dias foram cheios de beleza imediata que eu tinha que construir a cada momento. Mesmo que eu não lembrasse do ontem, sentia grande prazer com o presente, ao lado de uma pessoa amada, com coisas que gosto de fazer... e com a perspectiva de que amanhã tudo iria se repetir.

Quando a morte me transportou e eu cheguei aqui no mundo espiritual, reconheci toda a dinâmica do que acontecia na minha vida. Fiquei triste, pois não podia mais voltar à presença do meu amor, que com certeza estaria me esperando. Fui até a sua casa, e a vi serena, lendo um livro, sentada perto das plantas que tanto amava. Percebi que vez por outra ela olhava para o horizonte como se esperasse acontecer algo agradável, de chegar alguém que ela gostava... mas nada acontecia e ela voltava a leitura. Percebi que, apesar dela estar com algo vazio dentro de si, estava feliz! Eu, é que não sei... eu tinha retomado todas minhas lembranças e sai dali com as lágrimas lavando o chão, antes que meus sentimentos cheios de lembranças denunciassem a minha presença.

           

Publicado por Sióstio de Lapa
em 27/02/2016 às 23h59
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