Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
17/07/2022 12h10
RAÍZES CATÓLICAS DO BRASIL – (01) APRESENTAÇÃO

            Irei colocar aqui, com poucas adaptações, a aula do Prof. Luiz Raphael Tonon, com estreia no dia 26-06-2022, pelo Centro Dom Bosco, no Youtube, com 58.000 visualizações em 16-07-2022.



            Ainda menor, entrei no seminário menor dos redentoristas e no ano 2000 eu vim um tempo emprestado pela província dos redatores de São Paulo para a província do Rio e vim para ficar na igreja de Santo Afonso, na Tijuca. Padre Penido era vivo ainda e esta foi minha experiência de Rio.



            Já gostava muito de história, gostei muito de vir ao Rio e por ver aquilo que eu já conhecia. Depois deixei o seminário e fui me dedicar ao magistério, me licenciei em filosofia e tornei-me professor da rede pública do Estado de São Paulo. Depois ingressei na rede particular e depois fui fazer História, que era meu desejo inicial.



            Passei a ensinar mais História que Filosofia e já são 18 anos como professor. Sempre lecionei Filosofia, Sociologia, História e Ensino Religioso, por conta das matérias do tempo de Seminário.



            Em Campinas, onde deixei o Seminário, conheci minha esposa, namorei, casei e hoje pertenço ao Instituto Laical, que é um Instituto Misto, uma comunidade com sacerdotes e leigos, muitas famílias, minha esposa faz parte e eu também.



            Fui professor da História da Igreja no Seminário em Campinas e fui desligado da função por motivos óbvios, como vocês verão. Não permaneci na função, mas ensinei aos seminaristas por um tempo e também fiz um apostolado semelhante a esse do Centro Dom Bosco, e que aqui é mais extenso. Aqui se fala de todos os assuntos, eu era mais restrito, eu dava um curso da História da Igreja que funcionou por 10 anos, presencial e muito procurado por protestantes. Eu sempre perguntava, o que vocês vieram fazer aqui? Eles me diziam que procuravam ali o que nas suas denominações não ouviam. Nós falávamos da Igreja Primitiva até os Atos dos Apóstolos e depois dávamos um salto até o século 16.



            Uma vez um protestante disse que não era possível que o Espírito Santo ficou dormindo esse tempo todo. Essa pessoa disse que era filho de um pastor batista e depois de acabar o curso ele pediu o sacramento e eu fui o padrinho dele.



            E assim aconteceram vários casos lá em Campinas, com pessoas que estudavam a história da Igreja e como consequência final tornaram-se católicos. Para quem é católico, o curso fazia tornar-se melhor ainda, um católico de verdade, aferrado aquilo que é a fé da Igreja, a fé dos apóstolos, a fé de sempre. E é um caminho natural, lógico.



            Atualmente sou professor, ainda atuo em dois colégios católicos, mas a minha presença nas escolas tem diminuído ano a ano e tenho passado a dar aulas particulares. Tenho vários alunos em todos os cantos do Brasil e tenho migrado mais para isso justamente por essa questão ideológica.



            Hoje em dia há uma militância, uma perseguição, uma ignorância mesmo, não invencível, mas culposa: as pessoas não sabem e não querem saber dentro das instituições de ensino.



            Realmente, essa invasão ideológica nas escolas trouxe um enorme prejuízo para o potencial racional do país. Não sabemos a realidade da nossa história e quais os principais fatos que deviam nortear nossa opinião para um caminho reto, sem os desvios propositais que as falsas ou tendenciosas tentam nos colocar. Digo isso pois fui vítima desse processo perverso e somente hoje, professor universitário e com doutorado e longos anos de militância em partidos de esquerda, é que vejo o quanto fui ludibriado e que, infelizmente, muitos colegas meus de academia, continuam reféns das falsas narrativas que foram inoculadas em suas consciências, nessa revolução cultural da qual somos vítimas inocentes.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 17/07/2022 às 12h10
 
16/07/2022 07h10
EU QUERO A AMAR

            Fui aquela festa na companhia da minha irmã que fora convidada por uma amiga dela. Apesar dos meus 19 anos, época de ser festeiro como a maioria da minha faixa etária, eu sempre fui avesso, uma espécie de Dom Casmurro, introvertido com minhas emoções e inibido nas minhas relações, principalmente com o sexo feminino. Isso ficava mais evidente quando eu percebia uma garota e sentia por ela alguma emoção positiva, uma sensação libidinosa que me vinha a mente e era automaticamente rechaçada por meu espírito. Por isso, mesmo me sentindo atraído pela garota, eu procurava ficar afastado dela, nem ao menos me permitia olhar para ela.



            Pois assim fiquei naquela festa... depois que minha irmã se encontrou com as amigas, eu terminei ficando escanteado, assistindo o volateio das pessoas umas entre as outras e o burburinho de um falatório entremeado de risadas e mudanças de tons. Alguns se contorciam numa pista de dança improvisada, outros sem querer soltar os seus copos, que parecia ter dentro algum combustível para liberar tanto gasto de energia.



            Foi assim que percebi entre tantas, uma garota, meio simplória. Não tinha sobre si tanta maquiagem e sua roupa era também simples, mas bem adequada ao seu corpo, bem torneado, permitia mostrar suas curvas devidamente cobertas, sem nenhum excesso de exibição. Centrei a minha observação nela, à distância. Notei que ela estava naquele salão de dança improvisado, sem demonstrar tanto interesse, cortejada por um rapaz com copo na mão e que exibia seus passos de dança, sendo correspondido pela garota, sem tanta energia. O seu aspecto físico me atraia e o seu modo de se comportar mais ainda. Notei como destoava daquele parceiro, talvez uma paquera ou mesmo namorado.



            Passei a ter uma atenção centrada naquela menina... passou a funcionar em mim o que eu tinha de mais forte: a imaginação, os sonhos... imaginava que passava perto dela, trocava um olhar e um leve sorriso. A partir daí nossos olhares se procuravam, discretamente, sempre ela procurando fugir do assédio do companheiro que dançava e bebia na sua frente.



            Por uma feliz coincidência (ou não?) o seu olhar cruzou com o meu, apesar da distância. Senti uma espécie de choque elétrico na mente, me puxando dos sonhos para a realidade. Notei que ela procurava novamente o meu olhar e aí fui dominado por meus impulsos inibitórios, negativistas, e procurei fugir do olhar dela. Até mesmo de sua presença. Fui para um espaço mais distante, onde eu não tinha mais a visão do salão improvisado.



            Fui até uma mesa onde tinha a disposição uma jarra com sucos arrodeada de salgadinhos. Pequei um copo e fui até a torneira onde tinha um suco de cor amarelada, sem identificação, mas que imaginei ser de cajá ou maracujá, ambas frutas que gosto.



            Senti uma presença logo atrás de mim e meu coração disparou. Antes de vê-la eu a senti. A garota do salão estava também com um copo na mão esperando a vez de enche-lo com o suco que eu também iria beber. A minha mente entrou em descompasso. Não tinha mais condições de construir nenhum tipo de imaginação. Queria fugir daquela situação, desaparecer, me tornar invisível. Nunca imaginei que uma torneira como aquela da jarra de suco, fosse tão lenta para encher um copo tão pequeno. Mas eu devia me controlar, não podia deixar que o alvoroço da minha mente e do meu coração se expressasse em tremor nas minhas mãos...



            Não cheguei a encher o copo. Um pouco acima da metade, fechei a torneira e dei espaço para ela se aproximar. Não podia sair correndo como eu queria e fiquei parado, melhor dizendo, paralisado ao lado dos salgados e com medo de pegar algum e mostrar o tremor que eu começava a sentir no meu corpo. Para piorar, ela voltou aquele olhar angélico sobre mim e um leve ar de riso. Isso foi como uma injeção de adrenalina diretamente no centro do coração. Acredito que o meu olhar era de estupefação, e o riso que deveria sair solidário, acho que saiu na forma de uma careta. Minha imaginação voltou a funcionar no modo negativo... “ela deve estar pensando que sou um retardado mental”. Essa imaginação não ajudava em nada, pelo contrário, piorava!



            Mas a situação foi se enrolando cada vez mais. O rapaz que fazia parceria com ela no salão, chegou próximo de nós com o seu inseparável copo na mão. Pude perceber pelo modo dele falar e do hálito que exalava, que se tratava de bebida alcoólica e que já estava fazendo efeito. Ele chegou no modo “macaco” do alcoolismo, onde a pessoa faz tudo para ser engraçado, até inconveniente. Chegou perto de nós e sem a menor cerimônia foi logo falando...



            - Ei... então você está aí, né? Fugiu de mim? E achou um amiguinho? Então vamos brincar... vamos fazer um joguinho...



            E se dirigiu para mim, com uma postura meio cambaleante e um sorriso irônico no rosto.



            - Vamos ver se você sabe o valor do prazer... responda rápido... eu f... você. Você f... ela. E ela me f.... Quem tem maior prazer?



            Respondi rápido como ele queria.



            - Eu não participo desse jogo!



            - Mas porque não?...



            - Por que eu não quero f..., eu quero a amar!



            Isso foi uma bomba que eu soltei que não soube de onde veio. Imagino que do fundo do coração, se revoltando contra a minha inibição e com tamanha falta de consideração dessa pessoa que me interpelava atingindo uma pessoa que eu admirava.



            De repente aquela festa deixara de existir. Eram apenas nós três sentindo os efeitos emocionais da bomba que eu acabara de lançar com minhas palavras. Senti o efeito do álcool se dissipar da mente do meu interlocutor, sua voz ficou titubeante, sem conseguir se articular. Pediu refúgio em mais um gole do seu copo, como para voltar o grau de embriagues que o protegesse de sua gafe.



            A garota também se mostrava impactada. Seus olhos bem abertos, talvez um pouco umidificados, exprimiam admiração, gratidão. Não disse uma só palavra, não era preciso. Voltou a dar um sorriso, dessa vez mais intenso, antes de sair, como a dizer: “eu também quero te amar”.



            Mas de todos, o mais impactado fui eu. Fui eu o autor e o emissor da bomba! A bomba que quebrou as muralhas que prendiam a minha verdadeira alma. Mostrou que para mim o sentimento do amor está acima do prazer carnal. Mostrou que a pessoa amada deve ser venerada antes de ser penetrada. Que o respeito à pessoa humana deve sempre estar acima dos desejos animais. E, principalmente, que meus sentimentos positivos jamais devem ficar presos ou escravizados por medos imaginários.



            Aquela garota serviu de chave para abrir todas as minhas algemas emocionais. Não trocamos uma só palavra, mas nossos olhos comunicaram o que nossos corações sentiram. Ela foi embora e não combinamos nada, nem ao menos sei o seu nome nem ela sabe o meu, mas eu conheço o seu coração e ela conhece o meu. O destino talvez seja o nosso Cupido e mais adiante no tempo, talvez, a mesma frase que usei como bomba, eu possa usar como convite:



            - Eu quero a amar!


Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/07/2022 às 07h10
 
15/07/2022 00h01
PARTO DE ADULTOS

            Estamos acostumados a ver partos de crianças recém-nascidas, um, dois, três ou mais... Mas como pode acontecer um parto de adultos? Como pode adultos passar pelo canal do parto? Como podem se desenvolver num útero?



            São questões como esta que Jesus uma vez ensinou a Nicodemos, um sacerdote judeu que queria saber como alcançar o Reino de Deus. Jesus disse que era necessário a pessoa nascer de novo. Nicodemos ficou encucado, como uma pessoa pode voltar ao útero de uma mulher para nascer de novo?



            Jesus gostava muito de ensinar usando parábolas. Ele queria dizer que a pessoa devia deixar o comportamento de homem velho de lado e assumir a proposta de um novo homem; ou então queria se referir ao processo da reencarnação, onde o espírito que vai para o mundo espiritual com a morte do corpo físico, volta novamente ao mundo material através de um novo corpo (reencarnação) e assim passando naturalmente pelo canal do parto.



            Vou procurar seguir a didática do Mestre para encontrar uma resposta a uma questão de complexidade maior do que aquela proposta por Nicodemos. Vejamos esta outra passagem: “A outro disse Jesus: Segue-me! Ele, porém, respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o Reino de Deus (Lc 9:59-60).



            Vamos a questão. Uma senhora, mãe de diversos filhos, todos adultos, sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC), com sequelas físicas e mentais, sem conseguir falar, raciocinar ou andar. Suas seis filhas mais próximas, assumiram um plantão de duplas para cuidarem de seu corpo, higiene, alimentação e medicamentos, evitar escaras e qualquer tipo de complicação. A doença de natureza degenerativa, progressiva e fatal, sem qualquer possibilidade de cura, a espera apenas do momento da morte. Os meses passam, os anos, o corpo da mãe definha e o psicológico das filhas vai desmoronando. Cada uma sofre no emocional um verdadeiro velório de pessoa “viva”. Querem fugir da situação, mas a consciência não permite. Estão prontas para morrerem uma após outra, preso aquele corpo atrofiado que se alimenta e joga fora os dejetos pelas mãos dos outros. Ela não tem consciência de liberar as filhas, de dar uma orientação que já dera no passado, de não querer viver numa situação dessa.



            São essas filhas que foram ensinadas a respeitar e amar Jesus, como Mestre e Salvador, que agora chegam perto dEle e perguntam: Senhor, que devemos fazer? Acho que a resposta do Mestre é a mesma que Ele deu a cada dia que elas foram à missa aprender através dos padres: Segue-me! Imagino que a resposta delas seria a mesma da pessoa que queria sepultar seu pai: Senhor, permite primeiro nós irmos sepultar nossa mãe. Acredito que a resposta do Mestre ainda seria a mesma: Deixa aos mortos sepultar os seus próprios mortos!



            Podemos até pensar em desumanidade de Jesus considerando a dureza dessa declaração. Mas Jesus não tinha o costume de ser desumano, mas tratava com as pessoas dizendo exatamente o que precisavam ouvir. Talvez a excessiva preocupação com o corpo da mãe fizesse com que o Reino de Deus que ele advogava como prioridade, deixasse de ser importante. Então, Jesus coloca as coisas nos seus devidos lugares. Qualquer coisa que esteja acima do Reino de Deus, deve ser repensada, mesmo que seja culturalmente aceita. Ninguém pode servir a dois senhores!



            Com tais argumentos, a consciência de cada filha, onde está a lei de Deus, irá se iluminar para cada uma tomar a decisão mais coerente frente aos ensinamentos de Jesus, que a mãe tanto se esforçou para elas aceitarem desde a infância.



            Finalmente, através das palavras de Jesus, nossa prioridade com o Reino de Deus deve exceder qualquer outra prioridade, mesmo as culturais e sociais. Isso fica mais claro quando Ele diz: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o Reino de Deus (Lc 9:62).



            Não seria o momento de haver o parto coletivo dessas filhas antes que todas morram no processo e que isso não é o desejo da mãe?


Publicado por Sióstio de Lapa
em 15/07/2022 às 00h01
 
14/07/2022 00h01
ROMPIMENTO FAMILIAR, SEGUINDO O PAI

            Digitando a narrativa feita por J.J.Benítez (Cavalo de Troia, volume 9), do rompimento de Jesus com sua família biológica, atendendo a vontade do Pai, veio o sentimento do que aconteceu comigo.



            Também, em dado momento da minha vida, decidi fazer a vontade do Pai, deixar o amor exclusivo em troca pelo amor inclusivo, mais sintonizado com o amor incondicional, procurando construir o Reino de Deus dentro do coração e na sociedade com a família universal.



            Esta proposta que considero divina, privilegia a família espiritual em detrimento da família biológica, privilegia a família universal em detrimento da família nuclear. O Behemoth, monstro energético do egoísmo dentro de nós, logo se manifestou através da sua cabeça do ciúme. Fui expulso enérgica e violentamente da primeira família nuclear que construí porque estava fluindo este amor que deveria ser exclusivo, para outras pessoas. Procurei fazer uma nova família nuclear, mas sempre advertindo para minhas prováveis companheiras, da determinação de seguir a vontade do Pai, de construir a família universal, incluindo todos nos meus mais diversos relacionamentos, com o amor amplo, geral e irrestrito, desde que seguisse a ética do Amor Incondicional.



            Novamente fui vítima do famigerado ciúme. Mesmo tentando todo tipo de acordo com minha segunda esposa, inclusive de vivermos como amigos, sem intimidade sexual, como praticamos durante 8 anos, chegou um momento que ela não conseguiu mais suportar as investidas do Behemoth, e mais uma vez eu fui expulso sem nenhuma consideração, sob chuva de impropérios e violência.



            Como me tocou essa fala do Mestre, quando Ele pedia para que não fosse afastado dos corações que Ele tanto amava, que eles eram também sua família, que isso nunca iria mudar, e que Ele estaria sempre com eles...



            Essa é também a minha fala até hoje... amo a todos que me escorraçaram, me agrediram, jogaram montanhas de ódio sobre mim e a quem eles puderam influenciar, até os meus filhos biológicos e adotivos... mesmo agora, quando procuro me aproximar com amor, esperando que o tempo seja meu advogado de defesa, sinto o Behemoth de todas sempre armado, enquanto o meu está manietado.



            Não sabem essas pessoas que agem com vingança, o quanto fazem sofrer a essas outras que procuram fazer, com firmeza, a vontade do Pai. Não veem as cicatrizes que provocam ou as lágrimas que deixam correr no rosto daqueles que só se expressam com amor. Num mundo cercado de lobos com aparência humana, nós, filhos de Deus e que queremos fazer a Sua vontade conforme Ele coloca em nossas consciências, parece que somos seres de outro planeta.



            Parece que estamos condenados a caminharmos sozinhos, nossos companheiros de jornada não nos entende o pensamento, não nos sente a forma de amar. Não sentem que dou a minha vida ao meu redor, pois quando eu distribuo os frutos do meu trabalho com harmonia e fraternidade, estou doando o tempo de minha vida.



            Parece algo paradoxal com quem quer fazer a vontade do Pai, criar esse Reino de Deus com base na família universal, pois terminamos sozinhos, expulsos das famílias tradicionais e ainda tão longe da ideal. Sofremos a exclusão e muitas vezes o martírio.


Publicado por Sióstio de Lapa
em 14/07/2022 às 00h01
 
13/07/2022 00h01
ROMPIMENTO FAMILIAR

            Quem poderia imaginar que Jesus, o Mestre da paz, o Embaixador do amor, o Filho mais próximo do Pai, promoveria um rompimento com sua família biológica? Esta é uma narrativa totalmente fora dos padrões do Evangelho convencional que me traz uma forte sintonia com a mensagem que ele deixou. Mesmo eu não tendo argumentos suficientes para mudar meu bloco paradigmático de ver o mundo e com Jesus no centro, como meu orientador, Mestre e Irmão mais velho, tenho que colocar esses argumentos agregados aos meus paradigmas já bem estabelecidos.



            Mas agora irei descrever à minha maneira, o rompimento familiar que o Mestre provocou na sua volta à Nazaré, para justificar com sua família biológica os motivos de seu comportamento tão fora das perspectivas dos parentes de sangue.



            Neste relato, feito por J.J.Benítez, no seu livro “Cavalo de Troia, volume 9, apresenta Jesus chegando na casa de sua mãe, sem ser esperado, e convocando uma reunião com os parentes.



            Vale ressaltar aqui os irmãos de sangue de Jesus, conforme esta narrativa. O mais velho depois do Mestre era Tiago, nascido no ano -3. Depois veio Miriam no ano -2. O quarto filho de José e Maria foi José, nascido no ano 1. Simão veio ao mundo no ano seguinte. Marta nasceu em setembro do ano 3. Judas, o rebelde, nasceu no ano 5. Amós nasceria em 9 de janeiro do ano 7 e faleceria em dezembro do ano 12. Ruth foi a caçula, nascida em 13 de março do ano 9 de nossa era.



            Por volta do meio-dia os parentes que quiseram e puderam foram chegando, atendendo a convocação do Mestre.



            Simão acabava de completar 24 anos. Era pedreiro de profissão e tinha problemas de obesidade, como Tesouro, sua esposa. Era um sonhador inveterado, mas não entendia o que queria fazer o seu Irmão. Limitava-se a viver, sem perturbar ninguém. As pessoas lhe apelidaram de Tartaruga, porque não fazia nenhum movimento sem pensar demoradamente antes.



            Jacó, o pedreiro, que fora amigo muito próximo do Mestre na infância e juventude, foi o único a abraça-lo com entusiasmo. E lhe comunicou que Tiago havia declinado do convite.



            O Mestre não respondeu. Seu rosto estava grave.



            Era óbvio que Tiago não queria ver o irmão. E apoiaria o que a Senhora, sua mãe lhe dissesse.



            Judas tampouco estava presente naquela decisiva reunião de família. Não houve tempo suficiente para que ele fosse avisado.



            A família foi se acomodando ao redor de uma mesa de pedra junto a qual a Senhora Maria, mãe de Jesus, recebeu a visita de um ser luminoso anunciando a concepção e o nascimento do Mestre. Mas a mãe parecia ter se esquecido daquele evento milagroso.



Jesus foi direto ao que interessava. E, conforme ele ia falando, todos se mostravam atentos...



            - Não tenho a intenção de magoar ninguém – disse delicadamente, mas com firmeza. – Estou prestes a inaugurar minha carreira como educador e como um enviado do Pai, e somente aspiro fazer a Sua vontade. Por isso, insisto, é que me ajusto sempre para espelhar essa vontade divina. É por isso que tento selecionar 12 homens que me acompanharão nos bons e maus momentos.



            Maria, a Senhora, mãe, franziu o cenho, não gostava daquilo. 



            - A escolha desses 12 homens é a vontade de meu Pai. E eu sempre cumpro a Sua vontade.



            O silêncio era denso. Parecia chumbo.



            - A família deve ficar afastada, para sua própria segurança.



            Nenhum dos presentes captou a sutileza do Mestre. Ninguém, naquele momento, podia imaginar o que estava por vir. Jesus não se estendeu muito mais, e acrescentou, com grande ternura:



            - Não pretendo que aceiteis cegamente a minha mensagem...



            Fez uma pequena pausa. A Senhora, mãe, olhou para ele, desafiadoramente. O restante ficou ouvindo, confuso.



            - Mas, pelo menos, não me afasteis de seus corações. Vós sois a minha família, e isso nunca vai mudar. Sempre estarei convosco... (Essa passagem tocou o meu coração, e fez eu parar o relato aqui e procurar digitar o que invadiu o meu coração, para publicar amanhã)...



            O Mestre terminou. Estava sofrendo. Alguns se retiraram, desconfortáveis. Todos se refugiaram naquele silêncio de chumbo. Mas, a Senhora, mãe, tomo a palavra e falou em nome do resto. Ninguém fez um movimento sequer. Ninguém disse que sim, mas tampouco disse que não. E Maria, sem hesitar, começou a expor as suas condições. Se Jesus não as aceitasse, não haveria trato; ninguém o seguiria. Simplesmente: ele seria deixado sozinho.



            - Primeiro: Tiago e Judas, os irmãos, seriam admitidos como discípulos. Além disso, seriam a sua mão direita.



            O Mestre ouviu atentamente.



            - Segundo: Jesus teria que esquecer dessas ideias blasfemas e pretenciosas sobre o Pai. Teria que se conformar com a tradição e com a Lei. Ele era o Messias prometido e teria que assumir essa responsabilidade. Teria que cumprir a profecia e conseguir a libertação de seu povo.



            Jesus baixou os olhos. Ele disse: não havia solução...



            - Terceiro: se você foi capaz de transformar água em vinho, então pode curar sua irmã, Ruth, que se encontra doente e levar Israel ao auge de sua glória. Esse é o seu destino. Se você aceitar essas condições, a família em bloco o acompanhará e o protegerá.



            A reunião não durou mais do que 45 minutos. Nenhum comentário. As posturas eram inamovíveis. Jesus fora rejeitado, primeiro na Sinagoga e agora em sua casa, pelo seu próprio sangue.



            O Mestre, pálido e em silêncio, se levantou, pegou sua bolsa de viagem, e se encaminhou para a porta de saída.



            Minutos mais tarde, das colinas ele contemplava a fumaça azul do amor que fugia de Nazaré... passou vários minutos com o olhar perdido sobre a aldeia e um par de lágrimas escorria pelo seu rosto. Foi um dia amargo...


Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/07/2022 às 00h01
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