O caráter é uma característica que nos identifica diante da sociedade, diante da vida. É formado por diversos aspectos de nossa personalidade a qual é construída ao longo de nossa vida e que se adapta as diversas situações que podemos encontrar pelo caminho. Tanto o caráter quanto a personalidade, possuem uma certa flexibilidade de acordo com os conhecimentos que vamos obtendo e descobrindo formas de agir tanto para evitar erros quanto para corrigir os que cometemos. Assim, se nossa consciência percebe os caminhos mais favoráveis da vida, aciona a vontade para fazer com que o comportamento executado imprima uma personalidade e caráter mais adequado ao que queremos.
A minha característica marcante, que exprime minha personalidade, é a curiosidade, a busca do desconhecido, a procura pela verdade. Nesse ponto a ciência é a minha principal aliada e tanto é verdade que direcionei minha vida durante a maior parte do tempo em busca desse objetivo. O caminho mais eficaz para isso é na carreira acadêmica. Fiz meu curso de graduação e pós-graduação, especialidade, mestrado, doutorado, tudo em busca de descobrir coisas novas, situações, conceitos, intervenções, etc. Nessa busca constante terminei por encontrar evidências de um mundo espiritual o qual eu não tinha encontrado até o momento. Percebi a sua dimensão, sua importância e a sua posição hierárquica na vida. Percebi que a minha ferramenta científica não tinha como dominar esse mundo espiritual assim como procura dominar o mundo material, com todos os seus instrumentos de pesquisa, observação e precisão. No mundo espiritual prevalece o poder da lógica, da razão para entender a verdade que ele encerra. Outro problema é a aplicação dos seus princípios, pois muitos deles são incompatíveis ou inconvenientes com os interesses que regem o mundo material.
Foi ai que percebi a fraqueza do meu caráter, nessa circunstância de mudança da hierarquia dos mundos, de privilegiar agora mais o espiritual de que o material. Em reuniões sociais entre amigos e familiares temos condições de mostrar o nosso caráter até em maior profundidade. No último domingo participei de um aniversário de pessoa amiga. Todos brincavam, bebiam e comiam. Percebi que no final, pouca gente restava na festa, eu teria oportunidade de aplicar uma ação de cunho espiritual com os presentes. Sei que seria aceito por meu anfitrião cuja esposa aniversariava. Mas temia que o resto das pessoas se incomodassem e percebessem nessa ação uma interrupção a sua forma de brincar. Eu sabia dos bons resultados que essa ação teria, pois no aniversário da minha irmã eu a apliquei e foi positivo, não atrapalhou a festa, pelo contrário, trouxe para nós mais harmonia. Mas agora eu não tive coragem! O meu caráter ainda em processo de consolidação para o mundo espiritual, não conseguiu arranjar forças para vencer o medo da censura que eu poderia sofrer. E minha consciência estava convicta de que o pensamento estava correto, eu deveria aplicar uma ação espiritual naquela festa exclusivamente material, pois eu não me considero o Monitor de Jesus? Não me considero o filho de Deus que quer seguir os passos do irmão maior, Jesus, no estabelecimento do Reino de Amor na terra material? Então, numa prova dessa tão pequena, eu falhei desastrosamente.
Fico agora a pensar no sucedido, reconhecer minha fraqueza de caráter e pedir a Deus as forças necessárias para que eu possa em outra ocasião ser digno daquilo que Ele me confiou: a missão de trabalhar pelo seu Reino.
Quando criamos em nossa mente uma série de valores, de verdades, criamos automaticamente um conjunto de possibilidades e de regras para dirigir e controlar o comportamento. Percebemos também o alcance que isso terá no futuro se formos capazes de aplicar com competência os nossos princípios no meio ao redor. Em algumas situações essa percepção fica ampliada e conseguimos ver com mais clareza as consequências do comportamento no futuro. Foi o que aconteceu na última quinta feira.
Minha filha adoeceu e eu estava fora de casa. Não foi nada grave, foi resolvido sem minha presença. Mas percebi que se o caso fosse de maior gravidade, eu teria me envolvido logo que fosse comunicado e que é mais interessante, percebi ainda que as minhas diversas namoradas/companheiras/amigas também se envolveriam no sentido de ajudar. Isso ampliaria o meu potencial de ação positiva muitas vezes. Percebi também que esse movimento não seria sempre unidirecional, que a rede de relacionamentos formados poderia se dirigir a qualquer pessoa em dificuldade e a resolução do problema tornava-se muito mais fácil do que se eu tivesse um único relacionamento.
Esse é o tipo de relacionamento que nos aproxima do Reino de Deus como Jesus ensinou e que nós devemos nos capacitar para viabilizar a sua existência entre nós, a humanidade.
O nosso pensamento deve sempre estar livre para poder observar todas as coisas ao alcance e decidir pela maior verdade observada. Quando por algum motivo o pensamento fica preso a algum detalhe, sistema ou paradigma. Nesse caso o acesso a verdade fica comprometido e a mente engessada no emaranhado de considerações. Onde observamos com maior frequência esse engessamento de mentes, é na religião. Como a prática de uma religião envolve um ato de fé, logo que aceitamos os seus princípios, deixamos mente engessada nessa fé de que tudo que ouvimos é a própria verdade e que não devemos procurar outra fonte de verdade, pois isso implica em não acreditar nos princípios da religião que adotamos. O mais salutar é que tenhamos sempre a mente livre e pronta para considerar qualquer opinião que se diga uma verdade da fonte original, da verdade absoluta. A fé é importante para a nossa qualidade de vida, mas uma fé raciocinada, que possa se debruçar sobre a verdade de qualquer ponto do Universo e a compararmos com nossa verdade..
Tenho o pensamento livre para considerar a verdade de quem quer que seja, mas sempre encontro pessoas que nãopermitem que o seu pensamento seja livre, que imaginam o seu conjunto de crenças como a verdade inconteste e que não existe possibilidade de nenhum tipo de mudança. Vamos considerar uma religião qualquer, logo estamos engessados nos seus dogmas se não tivermos cuidado com nossa independência, nossa liberdade. Quando entro em avaliação dessas questões com minhas parceiras de relacionamentos, percebo a sua firmeza de confiança nesse aspecto, nas suas crenças religiosas. Também eu mesmo considero a minha religião mais perfeita e evoluída, porém estou sempre com a mente aberta para conhecer a verdade do outro e se não for possível manter o meu conjunto de crenças como a mais verdadeira, mudarei para o outro lado da questão, pela força dos argumentos.
Estava perto de terminar o meu trabalho no consultório, quando ouvi fora da sala um alarido de vozes e as pessoas que estavam na sala de espera, inclusive a secretária, correram para onde eu estava. Diziam de forma descontrolada que acabara de entrar um ladrão na sala. Diziam com voz trêmula e outra com o corpo todo em tremores, quase não conseguia emitir nenhuma palavra inteligível. O paciente que acabara de sair da sala queria ir pegar o ladrão; as mulheres queriam se esconder na minha sala. O tumulto estava feito. Procurei manter a serenidade, mas também estava com medo. Não sabia que tipos de armas esses ladrões conduziam e do quanto ele estavam disposto a cometer para obter o que queriam. Felizmente a passagem deles foi muito rápida. Entrou um na carreira, oculto por um capacete e foi direto para o caixa onde se guarda o dinheiro das consultas e voltou aceleradamente para o outro comparsa que o esperava na moto na frente do Hospital. Felizmente a secretária havia colocado em outro local.
Ficou lição dura, mas necessária. É necessário um controle vigilante mais firme na entrada do hospital. Mas isso não é uma solução definitiva. Isso é apenas um atenuante, uma condição que nos deixa cada vez mais prisioneiros dentro de nossos próprios espaços de moradia e de trabalho. A sociedade humana se deteriora, apesar do grande progresso tecnológico e científico que alcançamos. Nós, cidadãos pacatos que pagamos nossos impostos para que o Estado se organize e defenda todos os seus filhos, pobres ou nobres, assaltantes ou assaltados, na forma de prevenção que corrija as distorções de renda per capita de cada um, não vemos resultados positivos.. A ganância dos dirigentes, a força dos impulsos materiais, o egoísmo, a prepotência, o orgulho e toda série dos diversos pecados, alimentam essa continuação através dos séculos. Sei que nossa ação positiva e individual é tão inócua quanto a gota d’agua que o beija-flor levava no seu bico para atenuar o incêndio que tomava conta da floresta, mas é o que podemos fazer, é o que devemos fazer.
A minha amiga não se manifestou até este momento. Acredito que se ela leu e não fez nenhuma observação é porque concorda comigo e até esse ponto nosso pensamento funciona de igual forma. Agora no passo seguinte é que veremos a divergência de opinião. Eu acredito que o Amor Incondicional é a maior força do Universo, coincide com a essência de Deus e gera a principal lei que organiza e disciplina as nossas vidas, os nossos relacionamentos: a Lei do Amor.
Existe um amor subalterno ao Amor Incondicional que é o amor romântico. É ele que direciona a aproximação entre homem e mulher para formar um laço afetivo, criar a condição de exclusividade no amor e consolidar tudo isso no casamento, um compromisso legal e espiritual para garantir a fidelidade desse relacionamento até o fim da vida, superando qualquer dificuldade que ocorra no caminho. Esse compromisso serve para frear a força dos instintos de aproximação sexual com outra pessoa e até mesmo o desenvolvimento de um afeto mais profundo, mesmo que não chegue a intimidade carnal. Quem aceita o casamento tradicional, aceita todos os itens de controle e limitações que ele impõe.
Agora existem pessoas que também desenvolvem o amor romântico, mas não aceitam a exclusividade nos seus relacionamentos. Essas pessoas jamais aceitarão o compromisso do casamento tradicional, pois ele implica em todas as limitações que o amor exclusivo exige. Essas pessoas estão dispostas a sempre ficarem permeáveis ao amor romântico com quantas pessoas sejam convenientes, que pensem da mesma forma, que acatem e aceitem saber e até ver o seu companheiro com uma relação afetiva com outra pessoa assumindo todo o potencial sexual que ela enseje.
Então, existe agressão ao Amor Incondicional em algum desses dois tipos de relacionamentos? Acredito que não! No entanto foi formado com clareza dois subgrupos de pessoas no grupamento humano. Pessoas que desenvolvem o amor romântico com exclusividade, e pessoas que desenvolvem o amor romântico sem exclusividade. O que deve haver é honestidade no relacionamento. Jamais nenhum parceiro deve forçar ou enganar o outro para entrar no seu paradigma. Se um deles acredita que o seu paradigma é o correto, mas deve aceitar o erro do outro como direito dele assim o exercer; e vice-versa! Até aqui os princípios da Lei do Amor, do Amor Incondicional não foram feridos. O amor existe em ambos os planos, com tolerância, honestidade e firmeza de convicções.
Até esse ponto eu possa ter cometido algum erro de avaliação que a minha amiga com sua leitura atenta pode muito bem apontar para que eu possa corrigir minha forma de pensar. Muito agradeço!