I
Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar controlar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
Episódio 1 – Heróis e desajustados.
Das cinzas da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha clama por um salvador. Um ocultista rico, Dietriche Eckart, acha que o encontrou.
Cenas de Hitler discursando.
Comentário: Ele queria uma Alemanha regenerada. Mas como conseguir isso? Precisamos de um Messias.
O jovem idealista Rudolf Hess torna-se o primeiro discípulo. Foi o início do que quase se torna um caso de amor.
Um jovem aspirante a soldado, Heinrich Himmler, encontra a chance de lutar por seus ideais malucos. Ideias mitológicas, raciais e biológicas têm grande apelo e ele nunca parará de idolatrá-las.
E o arrojado herói de guerra Hermann Goring descobre uma causa para alimentar sua própria ambição. Ele queria que a Alemanha fosse do jeito dele.
Esse pequeno grupo de desajustados e heróis se junta em meio a violência e desencanto de sua nação destruída. E sua sede por vingança fará com que cometam os piores crimes da história.
Esses homens passarão de lutar nas ruas a dominar quase toda a Europa em apenas 15 anos.
Esta é a história dos capangas de Hitler, da inveja, da luta pelo poder e dos bajuladores que criarão um monstro e alimentarão os horrores brutais do Terceiro Reich.
Em um mundo dominado pelo egoísmo, pelo mal, onde as guerras se travam quase em todos os países de forma repetida, é natural que possamos encontrar dentro delas o ingrediente mais aperfeiçoado para o mal se expressar em toda sua potência. São pinçados dentro do contexto da Alemanha e suas guerras, o nome dessas quatro figuras (Adolf Hitler, Rudolf Hess, Heinrich Himmler e Hermann Goring) como os maiores promotores do ódio na era moderna.
Os ensinos cristãos já estão muito conhecidos na Europa e nos demais países ocidentais, porém não é suficiente para conter a sanha perversa que ira ameaçar dominar o mundo, com uma ideologia totalmente contrária ao cristianismo.
O mundo terminou envolvido pela Segunda Guerra Mundial, enquanto o genocídio acontecia nas áreas comandadas pelo nazismo. É importante avaliarmos passo a passo como pessoas tão raivosas e vingativas alcançam o poder máximo de um país e o leva à bancarrota aplicando uma ideologia tão desumana.
Série da Netflix, segundo episódio.
A cena muda para o local da conferência onde Freud faz sua exposição, em Viena, 1903.
- F. No entanto, acadêmicos medíocres ainda afirma que o comportamento humano é guiado por motivos, ideais e regras sociais. Bobagem! Maior bobagem! Eu insisto que o comportamento humano é guiado por dois princípios: medo da morte e desejo sexual.
Alguém da plateia pergunta...
- A. E o dinheiro?
- F. Dinheiro, amigo, é a mais simples e a mais clara forma de desejo sexual.
- N. E os sonhos? Não somos guiados pelos sonhos?
- F. Lamento desapontá-la, minha jovem. Seus sonhos também são uma forma de desejo sexual. O sexo é a única motivação para qualquer atividade. Milionários e sonhadores querem a mesma coisa que um amante ardente quer: provar seu valor para conquistar, para possuir. Você sabe com o que seu amigo sonha?
- T. Com a revolução mundial.
- F. Bom para você. O desejo daquele senhor chato gira em torno do dinheiro. Para seu parceiro, para tê-lo ele está disposto a queimar meio mundo. Para ele, sexo é a revolução! A sociedade também se baseia no desejo sexual. Grupos sociais se unem assim como um homem e uma mulher. A luta pelo poder é a luta por uma mulher. Sujeitos obedecem às regras porquê...
- T. As temem.
- F. De fato. Mas também as amam. Da forma mais sexual. Faça as pessoas desejarem você. E elas moverão o mundo por você. Alguma pergunta, senhoras e senhores?
Trótski levanta a mão.
- F. Você, Sr. Revolucionário?
Trótski se levanta e fala de igual para igual.
- T. Você falou conosco por duas horas. Nossos olhos estavam em você, não existia mais ninguém. Isso significa que nós todos desejámos você?
- F. Eu diria que está simplificando minha teoria. Mas se esta for sua pergunta, responda você mesmo, sinceramente.
- T. Eu tenho uma resposta. Eu não o desejava. Sou um homem normal. E não poderia responder à minha pergunta. Nem sim, nem não. Um “sim” faria de você um tolo. Um “não” confirmaria que sua teoria está errada. Mas eu não fui embora. Eu ouvi fascinado. Sabe por quê? Porque você tem razão. Um paradoxo.
- F. Nossa vida é feita de paradoxos.
Plateia explode em palmas e bravos. Todos se retiram, alguns comentam...
- N. Ele é um gênio. Um maníaco depravado. Ele sabe como chocar.
- T. Chocar? Como chocar uma mulher que posa nua diante de uma dúzia de homens?
- N. Tenho que ganhar meu pão, não quero dever para o Parvus. Não há implicação sexual.
- T. Freud diz que há alguma.
- F. Sr. Revolucionário! Você é um tipo raro de agressor sexual. Você tentou armar para mim só para destruir minha autoridade. Mas quando eu estava perdido, você me ofereceu a mão.
- T. Sr. Freud, por favor, perdoe minha pergunta superficial.
- F. Você tem uma mente crítica. Não é enganado facilmente, as leis da coroa não servem para você. Seu tipo psicológico é conhecido por matar de uma vez. Mas algo o impede de finalizar a sua vítima. Sim, sim. Talvez seja fraqueza?
- T. Eu lhe dei minha mão, quando estava se afogando em sua própria demagogia. Isso é fraqueza para você?
- F. Como suas pupilas se contraem rapidamente. Eu só vi isso em dois tipos de pessoas: serial killers e fanáticos religiosos. Você pode ser os dois se superar sua fraqueza.
- T. Não tenho interesse em enfrentar fraquezas. Prefiro enfrentar a força. Adeus.
- F. Você vai ficar em Viena? Eu gostaria de estuda-lo.
- T. Na próxima vez, Sr. Freud. Preciso ir à Bruxelas.
Dois homens com convicções fortes, de ideais revolucionários: Freud está promovendo uma revolução psicológica que até hoje é estudada e tentada colocar em prática; Trótski está tentando fazer a revolução social, algo que conseguiu e mostrou ao mundo um modelo de sociedade que até hoje se tenta reproduzir.
Os pensamentos desses dois homens influenciam a conduta humana até hoje, não com perfeição, claro, cada um tem seus defeitos e suas teorias também. Isso faz parte da evolução onde vamos avançando por pequenos passos de cada vez.
Nós, que procuramos estudar e praticar o pensamento mais correto que nos foi deixado como modelo, não podemos esquecer as lições e o comportamento do Cristo, que se fosse corretamente aplicado em qualquer área do conhecimento, certamente evoluiríamos com mais rapidez e harmonia.
Irei reproduzir um texto que inspirou os artigos anteriores deste diário, que merece ser também refletido por meus leitores. Aborda a questão da religião de uma perspectiva livre de dogmas e associada fortemente com a verdade.
Escreve-me um amigo desde o Chile me dizendo que lá se encontrou com algumas pessoas que, referindo-se aos meus escritos, lhe disseram: ''Bem, de modo resumido, qual é a religião deste senhor Unamuno?''. Pergunta análoga me foi dirigida aqui várias vezes. E vou ver se consigo, não a responder, coisa que não pretendo, mas expor melhor o sentido desta pergunta. Tanto os indivíduos como os povos de espíritos preguiçoso - e pode ocorrer preguiça espiritual junto a atividades de ordem econômica muito fecundas e de outras ordens análogas - tendem ao dogmatismo, saibam-no ou não, queiram-no ou não, propondo-se a ele ou não. A preguiça espiritual escapa da posição crítica ou cética.
Cética digo, mas tomando a voz do ceticismo em seu sentido etimológico e filosófico, porque cético não quer dizer aquele que duvida, senão aquele que investiga ou vasculha, por oposição ao que afirma e crê haver achado. Há quem esquadrinhe um problema e há quem nos dá uma fórmula, acertada ou não, como solução dele. Na ordem da pura especulação filosófica, é uma precipitação pedir-se a alguém por soluções prontas, sempre que tenha adiantado a exposição de um problema. Quando se faz um cálculo errado, apagar o que foi feito e começar de novo significa um progresso relevante. Quando uma casa ameaça ruir ou se faz completamente inabitável, o que se faz é derrubá-la, e não há mais o que pedir senão que se edifique outra sobre ela. Cabe, sim, edificar a nova com materiais da velha, mas derrubando-a antes. Entretanto, as pessoas podem se abrigar numa barraca, se não têm outra casa, ou dormir ao relento.
E é preciso não perder de vista que para a prática de nossa vida, raras vezes temos que esperar pelas soluções científicas definitivas. Os homens viveram e vivem sobre hipóteses e explicações muito descartáveis, e mesmo sem elas. Para castigar a um delinquente não definiram se ele tinha ou não livre-arbítrio, assim como para espirrar ninguém reflete sobre o dano que lhe pode fazer o pequeno obstáculo na garganta que lhe obriga ao espirro. Os homens que sustentam que por não crerem no castigo eterno do inferno seriam maus, creio, em honra deles, que se equivocam. Se deixaram de crer numa sanção além-túmulo não se tornariam piores por isso, mas buscariam então outra justificativa ideal para a sua conduta. Aquele que sendo bom crê numa ordem transcendente, não é bom tanto por crer nela, mas nela crê por ser bom. Proposição esta que haverá de parecer obscura ou enviesada, disto estou certo, aos inquisidores de espírito preguiçoso.
Bem, me dirão, ''Qual é a tua religião?'' E eu responderei: minha religião é buscar a verdade na vida e a vida na verdade, mesmo sabendo que não hei de encontrá-las enquanto viva; minha religião é lutar incessante e incansavelmente contra o mistério; minha religião é lutar contra Deus desde o alvorecer até o cair da noite, como dizem que contra ele lutou Jacó. Não posso transigir com este negócio de Inconhecível - ou Incognoscível, como escrevem os pedantes- nem aquilo de ''daqui não passarás''. Rechaço o eterno ignorabimus. E em todo caso, quero ascender ao inacessível.
''Sede perfeitos como vosso Pai que está no céu é perfeito'', disse-nos o Cristo, e semelhante ideia de perfeição é, sem dúvida, inexequível. Mas nos impôs o inacessível como meta e termo de nossos esforços. E isto ocorreu, dizem os teólogos, com a graça. E eu quero combater meu combate sem preocupar-me com a vitória. Não há exércitos e até mesmo povos que vão na direção de uma derrota certa? Não elogiamos aqueles que se deixaram matar lutando antes de render-se. Pois esta é minha religião.
Estes, os que me dirigem esta pergunta, querem que eu lhes dê um dogma, uma solução na qual possam descansar o espírito da sua preguiça. E nem isto querem, apenas buscam classificar-me e meter-me em um dos quadrados em que colocam os espíritos, dizendo de mim: é luterano, é calvinista, é católico, é ateu, é racionalista, é místico, ou qualquer outra destas alcunhas, cujo sentido claro desconhecem, mas que os dispensa de seguir pensando. E eu não quero me deixar classificar, porque eu, Miguel de Unamuno, como qualquer outro homem que aspire à consciência plena, sou um espécime único. ''Não há enfermidades, apenas enfermos'', soem dizer alguns médicos, e eu digo que não há opiniões, apenas opinadores.
Na ordem religiosa não há quase nada que eu tenha racionalmente resolvido, e como não o fiz, não posso comunicar logicamente, porque só é lógico e transmissível o que é racional. Tenho, sim, com efeito, com o coração e com o sentimento, uma forte tendência ao cristianismo sem ater-me à dogmas especiais desta daquela confissão cristã.
Considero cristão todo aquele que invoca com respeito e amor o nome do Cristo, e me repugnam os ortodoxos, sejam católicos ou protestantes - estes costumam ser tão intransigentes quanto aqueles - que negam o cristianismo a quem não interpreta o Evangelho como eles. Conheço cristão protestante que nega que os unitários sejam cristãos.
Confesso sinceramente que as supostas provas racionais - a ontológica, a cosmológica, a ética, etc. - da existência de Deus não me demonstram nada; que quantas razões se queira dar de que existe um Deus me parecem razões baseadas em paralogismos e petições de princípio. Nisto estou com Kant. E sinto, ao tratar disto, não poder falar aos sapateiros em termos de sapataria. Ninguém conseguiu me convencer racionalmente da existência de Deus, mas tampouco de sua não-existência; os raciocínios dos ateus me parecem de uma superficialidade e futilidade ainda maiores do que os de seus contraditores.
E, se creio em Deus ou, pelo menos, creio crer Nele, é, sobretudo, porque quero que Deus exista, e depois, porque se revela a mim, por via cordial, no Evangelho e através do Cristo e da História. É coisa de coração. O que quer dizer que não estou convencido disto como o estou de que dois mais dois são quatro. Caso se tratasse de algo que não mexesse com a paz da minha consciência e com o consolo de ter nascido, talvez não me ocupasse do problema; mas como nele vai toda a minha vida interior e o estímulo de todas as minhas ações, não posso contentar-me em dizer: não sei nem posso saber. Não sei, é certo; talvez não possa saber nunca, mas ''quero'' saber. Quero-o, e basta. E passarei a vida lutando contra o mistério e ainda sem esperança de nele penetrar, porque esta luta é meu alimento e meu consolo. Sim, meu consolo. Me acostumei a extrair esperança do próprio desespero. E não gritem ''Paradoxo!'' os mentecaptos e os superficiais.
Não concebo a um homem culto sem esta preocupação, e espero muito pouca coisa na ordem da cultura - e cultura não é o mesmo que civilização - daqueles que vivem desinteressados do problema religioso em seu aspecto metafísico e somente o estudam em seu aspecto social ou político. Espero muito pouco para o enriquecimento do tesouro espiritual do gênero humano daqueles homens ou daqueles povos que, por preguiça mental, por superficialidade, por cientificismo, o pelo que seja, se apartam das grandes e eternas inquietudes do coração. Não espero nada dos que dizem: ''Não se deve pensar nisso!''; espero ainda menos dos que creem em um céu e em um inferno como aqueles em que acreditávamos na infância, e espero até menos daqueles que afirmam com a gravidades do néscio: ''Tudo isto não passa de fábulas e mitos; quem morre é enterrado, e acabou''. Somente espero dos que ignoram, mas que não se resignam a ignorar; dos que lutam sem descanso pela verdade e põem sua vida na própria luta mais que na vitória.
E o maior dos meus trabalhos tem sido sempre inquietar aos meus próximos, remover-lhes a quietude do coração, angustiá-los, se puder. Já o disse em meu Vida de Dom Quixote e Sancho, que é a minha mais extensa confissão a este respeito. Que eles busquem, como eu busco, que lutem, como luto eu, e, entre nós todos, algum fiozinho de segredo arrancaremos de Deus, e, pelo menos, essa luta nos fará mais homens, homens de mais espírito. Para esta obra, obra religiosa, foi-me necessário -em povos como estes povos de língua castelhana, carcomidos de preguiça e de superficialidade de espírito, adormecidos na rotina do dogmatismo católico ou do dogmatismo livre-pensador ou cientificista - parecer por vezes impudico e indecoroso, em outras duro e agressivo, não poucas enrolado e paradoxal. Em nossa minguada literatura não se ouvia ninguém gritar desde o fundo do coração, descompor-se, clamar. O grito era quase desconhecido. Os escritores temiam fazer-se ridículos.
Acontecia-lhes e lhes acontece o mesmo que àqueles que suportam à uma afronta no meio da rua por temor ao ridículo de se verem com o chapéu no chão ou presos pela polícia. Eu, não; quando senti vontade gritar, gritei. Jamais me conteve o decoro. E esta é uma das coisas que menos me perdoam estes meus companheiros de ofício, tão comedidos, tão corretos, tão disciplinados até mesmo quando pregam a incorreção e a indisciplina. Os anarquistas literários se preocupam, acima de tudo, com a estilística e a sintaxe. E quando saem do tom o fazem afinadamente; seus desacordes conseguem ser harmônicos.
Quando senti uma dor, gritei, e gritei em público. Os salmos que figuram em meu volume de Poesias não são mais que gritos do coração, com os quais busquei fazer vibrar as cordas dolorosas dos corações dos outros. Se não têm essas cordas, ou se as têm tão rígidas que não vibram, meu grito não ressoará nelas, e declararão que isso não é poesia, pondo-se a examiná-los acusticamente. Também se pode estudar acusticamente o grito que lança um homem quando vê seu filho de repente cair morto, e quem não tem nem coração nem filhos, fica nisso.
Estes salmos de minhas Poesias, com outras várias composições que ali estão, são minha religião cantada, e não exposta logica e racionalmente. E a canto, bem ou mal, com a voz e o ouvido que Deus me deu, porque não posso raciociná-la. E quem veja nestes meus versos raciocínio e lógica, e método e exegese, mais do que vida, por neles não haver faunos, dríades, silvanos, nenúfares, ''absintos'' (ou seja, losna), olhos glaucos e outras joias mais ou menos modernistas, que lá permaneça com os seus, pois não vou tocar-lhe o coração nem com arcos de violino ou martelos.
Do que fujo, repito, como da peste, é de que me classifiquem, e quero morrer ouvindo perguntar de mim os folgados de espíritos: ''E este senhor, que é?'' Os liberais ou progressistas tontos me terão por reacionário e acaso por místico, sem saber, é claro, o que isto quer dizer, e os conservadores e reacionários tontos me terão por uma espécie de anarquista espiritual, e uns e outros, por um pobre senhor desejoso de singularizar-se e de passar por original e cuja cabeça é um pote de grilos. Mas ninguém deve se preocupar do que dele pensam os tontos, sejam progressistas ou conservadores, liberais ou reacionários. E como o homem é teimoso e não costuma querer se informar e tem o hábito de depois de lhe haverem pregado sermões por quatro horas voltar aos passeios, os perguntões, se leem isto, voltarão a me perguntar: ''Bom; mas que soluções trazes?'' E eu, para concluir, lhes direi que se querem soluções, corram para a loja da frente, porque na minha não se vende semelhante artigo.
Meu empenho foi, é e será, que aqueles que me leem, pensem e meditem nas coisas fundamentais, e nunca foi de dar-lhes pensamentos prontos. Eu busquei sempre agitar e mais sugerir do que instruir. Se vendo pão, não é pão, mas levedura ou fermento. Há amigos, e bons amigos, que me aconselham a deixar de lado este esforço e me recolher a fazer o que chamam de obra objetiva, algo que seja, dizem, definitivo, algo de construção, algo duradouro. Querem dizer algo dogmático. Declaro-me incapaz disto e reclamo minha liberdade, até mesmo de me contradizer, se for o caso. Eu não sei se algo do que fiz ou que venha a fazer na sequência haverá de perdurar por anos ou por séculos após a minha morte; mas sei que se for dado um golpe num mar sem orla as ondas ao redor prosseguirão sem cessar, mesmo que se enfraquecendo.
Agitar é algo. Se por conta desta agitação vier atrás de mim outro que faça algo duradouro, nele durará minha obra. É obra de misericórdia suprema despertar o adormecido e sacudir o inerte, e é obra de suprema piedade religiosa buscar a verdade em tudo e descobrir onde quer que seja o dolo, a necedade e a inépcia. Já sabe, pois, meu bom amigo o chileno o que tem que responder a quem lhe pergunte qual é minha religião. Agora, bem; se for um destes mentecaptos que creem que guardo ojeriza a um povo ou à uma pátria quando lhe cantei as verdades a algum de seus filhos irreflexivos, o melhor que pode fazer é não lhes responder.''
Miguel de Unamuno - Salamanca, 6 de novembro de 1907.
Sim, Miguel de Unamuno, naveguei por seus mares e me deliciei com suas ondas de pesquisa e de dúvidas, de reconhecimento da ignorância de não poder se associar à nenhuma religião sob pena de perder a indispensável liberdade de navegar por tantos mares quais sejam os que apareçam no espírito humano.
Sim, Miguel de Unamuno, seus mares são como os meus, cheios de certezas deléveis que se rearranjam ao sabor dos ventos da verdade, dos fatos percebidos ou dos pensamentos coerentes.
Li um texto do colega do site Recanto das Letras, Richard D Foxe, um autor cuja inteligência e perspicácia na filosofia admiro, que fala sobre a Religião. Tenho opinião parecida com a dele e irei pinçar um trecho do seu artigo para justificar o que não concordo com ele, que faço ideia diferente. Não quer dizer isto que ele esteja errado e eu certo, é para colocar para os meus leitores opiniões diferentes dentro de um contexto aceitável por ambos os contentores, e despertar neles reflexões sobre o assunto.
Assim, vejamos o que o Richard escreveu:
... O que vai ser de nós após a morte isso não sei, e ninguém sabe e quem afirma saber está mentindo. Posso apenas raciocinar e considerar que a mera existência física, que sempre acaba com o horror da decomposição, frequentemente é precedida por sofrimentos prolongados de uma maneira que contrasta com a beleza, a perfeição e o esplendor do Cosmo. Tudo isso resulta num paradoxo que só pode ser superado admitindo a continuação da vida em outro plano, mas, como não tenho elementos que comprovem essa afirmação, ela permanece no campo da metafísica e deve ser vista apenas como mera hipótese, uma tênue esperança. Entretanto, o ato de cogitar o prosseguimento da consciência em outra dimensão é, de uma certa forma, uma fé, não tanto num Ser, mas na lógica e corresponde a admitir que o próprio Universo sabe o que faz. Obviamente, com a palavra Universo me refiro não apenas ao Cosmo visível, mas ao Tudo que o constitui, não acreditando numa criação do nada, mas na emanação oriunda duma hipóstase (como diria Plotino) cujo único atributo certo é a existência.
Outro ponto importante é que, enquanto Unamuno mostra ''uma forte tendência ao cristianismo'', quem escreve não sente nenhuma atração para uma fé que reputa ter sido construída durante os séculos juntando elementos oriundos de religiões anteriores (em boa parte pagãs) e dogmas oportunos, assim como as crianças fazem com os tijolinhos da Lego. Apesar desses pontos de vista diferentes, posso fazer minhas as palavras de Unamuno e afirmar que: ''Minha religião é buscar a verdade na vida e a vida na verdade''.
Essa primeira frase é muito forte. Coloca a minha forte convicção no que aprendi sobre o pós-morte como um atestado de mentiroso. Se estamos no campo do raciocínio, ele e eu, se usamos a coerência em busca da verdade da existência, terminamos, por caminhos diferentes. Eu encontrei a doutrina espírita que a minha coerência admitiu como uma filosofia impecável, respaldada por aspectos científicos da mediunidade, capaz de ser comprovada em laboratório e que se ajusta a um procedimento religioso ensinado por Jesus de Nazaré. Os elementos comprobatórios que faltaram ao colega, eu encontrei na Doutrina Espírita. Certamente ele estudou essa doutrina, e poderá dizer em que destoa a sua coerência da minha.
No segundo parágrafo, também sinto uma forte tendência ao cristianismo, pois me considero cristão e procuro seguir suas lições, principalmente no que diz respeito ao Amor Incondicional e formação da Família Universal. Essa peculiaridade dessa fé ter sido construída por tijolos de religiões anteriores, para mim serve mais como atrativo do que repelente. A fé que eu tenho está em constante transmutação, de acordo com a verdade que é descoberta e que devo incluir no meu paradigma de fé. Por esse motivo posso me incluir entre os dois, Richard e Unamuno, e dizer também: “Minha religião é buscar a verdade na vida e a vida na verdade”.
Por esse motivo estou dissecando e colocando no meu diário as duas séries da Netflix, “Trótsky” e “Hitler – O Círculo do Mal”, procurando encontrar a verdade nesses dois movimentos históricos tão importantes, Comunismo e Nazismo, cujo comportamento humano chega até nossos dias influenciando a tantas narrativas, geralmente tão longe da verdade.
Tenho muitas restrições com relação a Bíblia, principalmente o Velho Testamento. Tenho muita consideração pela ciência, que trabalha em busca da verdade, de retirar a cortina de ignorância dos nossos olhos. Muitos acreditam que na Bíblia está a palavra de Deus, eu não entendo que seja assim. Vejo a Bíblia como uma coletânea de livros, feita por um povo que tinha um bom relacionamento com o Deus que eles acreditavam, e que foi descrito de uma forma no Velho Testamento, conforme Moisés e tantos profetas, e que difere daquele do Novo Testamento ensinado por Jesus. Este eu acredito que é o verdadeiro, pois é o que sintoniza com o amor, que deve ser a essência de Deus.
Mas, recebi um texto com o título acima, que cita o comportamento de um cientista bem conhecido, Louis Pasteur, que merece ser reproduzido aqui para nossas reflexões.
A Ciência & A Bíblia
Um senhor de 70 anos viajava de trem, tendo ao seu lado um jovem
universitário, que lia o seu livro de ciências.
O senhor, por sua vez, lia um livro de capa preta. Foi quando o jovem percebeu que se tratava da Bíblia e estava aberta no livro de Marcos.
Sem muita cerimônia o jovem interrompeu a leitura do velho e perguntou:
O senhor ainda acredita neste livro cheio de fábulas e crendices?
Sim, mas não é um livro de crendices. É a Palavra de Deus. Estou errado?
Respondeu o jovem:
- Mas é claro que está!
- Creio que o senhor deveria estudar a História Universal. Veria que a Revolução Francesa, ocorrida há mais de 100 anos, mostrou a miopia da religião. Somente pessoas sem cultura ainda creem que Deus tenha criado o mundo em seis dias.
- O senhor deveria conhecer um pouco mais sobre o que os nossos cientistas pensam e dizem sobre tudo isso.
- É mesmo? - indagou o idoso senhor.
E o que pensam e dizem os nossos cientistas sobre a Bíblia?
- Bem - respondeu o universitário -, como vou descer na próxima estação, falta-me tempo agora, mas deixe-me o seu cartão, que lhe enviarei o material pelo correio, com a máxima urgência.
O velho, então, cuidadosamente abriu o bolso interno do paletó e deu o seu cartão ao universitário.
Quando o jovem, descendo na plataforma, leu - curioso - o que estava escrito, e sentiu-se profundamente constrangido.
O cartão dizia:
Professor Doutor Louis Pasteur, Diretor Geral do Instituto de Pesquisas Científicas da Universidade Nacional da França.
E um pouco mais abaixo, uma frase estava escrita, em letras góticas negritadas:
" Um pouco de ciência nos afasta de Deus. Muita, nos aproxima".
[Fato verídico, ocorrido em 1892, narrado na Biografia de Louis Pasteur]
A leitura estava sendo feita na parte do Novo Testamento, na Bíblia, e, portanto, estava sintonizado com o Deus de amor citado por Jesus. Somente a colocação de que a Bíblia é a palavra de Deus destoa do meu modo de pensar, pois entendo que ali tenha mais o interesse humano apoiado pelo Deus dos exércitos, do que o interesse do Deus do amor. Mas a finalização é perfeita, mostrando a humildade do cientista, a prepotência do estudante e devida colocação, sem alardes, inscrita no cartão.