Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
23/01/2015 00h59
FOCO DE LUZ (37)

            Em 22-05-15 foi realizada mais uma reunião da AMA-PM e Projeto Foco de Luz com a presença de: 1. Edinólia 2. Adriana 3. Radha 4. Juliana 5. Zélia (primeira vez, nova diretora da escola) 6. Francisco 7. Paulo Henrique 8. Samir (primeira vez, professor de educação física, recreador) 9. Nivaldo 10. Silvana 11. Francinete 12. Ezequiel 13. Ana Paula 14. Davi 15. Costa 16. Rogério 17. Francisca 18. Vera 19. Nazareno 20. Washington 21. Luzimar (primeira vez – ex-participante do conselho comunitário, sorveteria) 22. Raullinson (primeira vez, filho de Luzimar) 23. Ricardo. Foi lido o preâmbulo espiritual intitulado “Aceita a Correção” e em seguida a leitura do registro da reunião anterior, que foi aprovado com uma correção, onde se lê: ...a possibilidade da escola passar para o âmbito estadual, leia-se municipal. Paulo informa que foi junto com Costa falar com o secretário de turismo Sr. Fernando Bezerril e o mesmo foi solidário a nossa reivindicação do quiosque do calçadão da praia, mas que há um impeditivo do ministério público. Feito doação de uma camisa da Associação. Edinólia informa que tentou falar com Zezito, mas o mesmo se encontra doente. Voltará a tentar na próxima semana, inclusive com a possibilidade de irmos à Recife no carnaval se ele tiver a disponibilidade de nos receber. Zélia se apresenta como a nova diretora da escola, que assumiu na condição de interventora por um ano já que não houve eleição como era previsto. Fala de sua disposição de trabalhar em parceria com a AMA-PM, na recuperação do prédio através de um mutirão comunitário; que pretende organizar e dinamizar a Biblioteca, e que irá procurar saber de mais detalhes para o incremento da escola, como o apoio aos grupos de estudantes que já funcionam na escola, como capoeira, xadrez, flauta e evangelização e também da formação de uma banda com as crianças. Ezequiel informa do registro de 30 crianças no futebol e que providenciou junto ao município a troca de lâmpadas queimadas no calçadão da praia. Luzimar informa do seu projeto de uma sorveteria na comunidade e se coloca como mais um voluntário para as diversas atividades. Costa fala do fardamento da escola que irá funcionar como um laboratório para a criação da Jovem Guarda Potiguar e que vai tocar pra frente o projeto de amigo da escola através do mutirão para a sua recuperação. Ricardo se apresenta como mais um voluntário para os serviços que a AMA-PM necessitar e tiver ao seu alcance. Foi feito o sorteio do ferro elétrico através do canhoto dos bilhetes que foram vendidos. O primeiro sorteado foi uma senhora do Centro Espírita Cruzada dos Militares que havia autorizado voltar para o sorteio se o seu número fosse o escolhido. Assim foi procedido e o novo sorteado foi o senhor Nivaldo. Como já estava dentro do nosso horário de encerramento, 20:30h, foi feito uma canção evangélica conduzida por Costa e a oração do Pai Nosso conduzida por Luzimar. Finalizou Luzimar com uma oração do próprio coração. Fizemos a foto com todos os presentes e concluímos com bolo, café e refrigerante. 

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em 23/01/2015 às 00h59
 
22/01/2015 00h59
AMOR E SEXO

            Existe uma forte desconfiança que o sexo não tem nada a ver com amor, que é um instinto puramente fisiológico criado para garantir a perpetuação da espécie, qualquer que seja o ser vivo, consciente ou inconsciente do que esteja fazendo. Devido a minha formação biológica, estudante do comportamento, sei que o sexo realmente tem fortes raízes biológicas, instintivas.

            Estou abordando este assunto nesta ocasião, como reflexo da mesa redonda do domingo passado, quando meu primogênito afirmou com muita segurança, do alto de sua formação em biologia, que o amor não tinha nada a ver com sexo. Fiquei incomodado com tamanha segurança nessa separação tão radical entre o amor e o sexo. Lembrei a ele que não era bem assim. Contei um episódio que aconteceu comigo no Rio de Janeiro, quando estive com meus irmãos. A minha avó que me criou desde os cinco anos de idade, sempre comentava que eu era o santinho da família e que todos os meus irmãos eram perdidos, verdadeiros capetas. Eu ficava muito incomodado com essa situação, pois percebia que ela agredia meus irmãos com essas palavras, principalmente a minha mãe, responsável pela educação dos que ficaram com ela. Então aproveitei que estava no Rio com eles passando férias e fui voluntário para irmos à noite para as diversões noturnas. Tive que fazer assim, pois eles já acostumados com a minha fama de santinho, não me chamavam para essas orgias que eles programavam.

            Fui com eles a zona de meretrício do Rio de Janeiro, cada um ficou com uma garota, inclusive eu. Acontece que eu não funcionei sexualmente. A mulher ficou preocupada com o meu desempenho zero, mas eu já intuía que isso podia acontecer, não fiquei alarmado. Pedi que ela tivesse calma, que ela não tinha culpa e que eu iria lhe pagar como deveria. Nenhum dos meus parceiros soube dessa falha no meu desempenho sexual, pois o meu objetivo era que todos soubessem que eu me comportei como eles, principalmente a minha avó, quando nos viu chegar ao amanhecer.

            Depois desse episódio ela nunca mais fez comparações me colocando como o anjo da família. Agora a questão que quero colocar aqui com esse episódio é que, se o meu primogênito tivesse completa razão, eu teria feito o ato sexual sem nenhuma dificuldade. O fato de que eu não tenha conseguido, mostra que acima dos desejos instintivos se encontra outra estrutura mental com poder de bloqueio. No meu caso eu só posso dizer que são os sentimentos afetivos que prevaleceram. A moça era uma pessoa que eu estava vendo pela primeira vez, que tinha seus atributos sexuais, mas não tinha nenhum nível de convivência que tivesse criado afeto. Era simplesmente dois seres humanos que se encontravam pela primeira vez, a mulher vendendo seu corpo e eu que estava a comprar. Só que os seus fregueses usam os seus instintos sem nenhum bloqueio, enquanto os meus instintos sofrem forte bloqueio dos sentimentos.

            Também percebo esse bloqueio dos sentimentos sobre os instintos sexuais em outras situações. Mesmo eu tendo uma prática sexual já estabelecida com uma pessoa, se ocorrem fatos que fazem essa pessoa entrar em conflito comigo, com meus sentimentos ou mesmo com meus paradigmas de vida, os instintos sexuais são automaticamente inibidos. O desejo sexual fica inibido e mesmo que eu decida iniciar o ato sexual, sinto por trás uma desmotivação que não alimenta o instinto sexual. Todas essas forças que se contrapõem ao ato sexual estão muito mais próximas do amor do que do instinto, portanto não posso aceitar que o sexo não tenha nada a ver com amor. Tem sim, nas pessoas que desenvolvem esse nível de sensibilidade e que não se deixam levar exclusivamente pelas forças instintivas.  

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em 22/01/2015 às 00h59
 
21/01/2015 00h59
TRAIÇÃO

            A leitura do livro “Judas” de Amós Oz, trouxe-me novas luzes conscienciais sobre o conceito de traição, que eu já intuía, mas que não estava no domínio da minha consciência. Tenta justificar as ações de Judas e tirar dele e do povo judeu o estigma da traição. Tenho que continuar colocando as ideias que encontrei em Amós...

            Ele vai muito além, chega a dizer Judas Iscariotes foi o fundador da religião cristã. Ele era um homem abastado da Judeia, ao contrário dos demais apóstolos, que eram simples pescadores e agricultores de aldeias longínquas da Galiléia. Os sacerdotes de Jerusalém tinham ouvido boatos estranhos sobre um excêntrico milagreiro da Galiléia que fazia coisas prodigiosas e atraia adeptos aqui e ali, em aldeias e vilas esquecidas, até as margens do mar da Galiléia, por meio de todo tipo de milagres provincianos, ele assim como dezenas de pseudoprofetas e milagreiros, a maioria dos quais eram charlatões, ou loucos, ou charlatões e também loucos. Só que esse Galileu atraia um pouco mais de que os outros embusteiros e sua fama crescia cada vez mais. Por isso os sacerdotes de Jerusalém resolveram escolher Judas Iscariotes, um homem abastado, culto, inteligente, profundo conhecedor da Torá escrita e da Torá oral, e próximo dos fariseus e do sacerdócio, e enviá-lo para se juntar ao grupo de crentes que seguiam o rapaz Galileu de aldeia em aldeia, fazer-se passar por um deles para informar aos sacerdotes de Jerusalém qual era a verdadeira natureza daquele excêntrico e se ele representava de fato algum perigo especial. Afinal de contas esse embusteiro da Galiléia realizava todos esses milagres provincianos em lugares distantes, para uma assistência de aldeões sem instrução que acreditavam facilmente em todo tipo de mágicos, feiticeiros e prestidigitadores. Judas Iscariotes vestiu-se pois de andrajos, foi para a Galiléia, procurou e encontrou Jesus e seu grupo e juntou-se a eles... Rapidamente ele conseguiu fazer amizade com os integrantes da seita, uma seita de rotos e esfarrapados que seguiam seu profeta de aldeia em aldeia. Ele também fez amizade com o próprio Jesus, graças a sua inteligência e sua lucidez, e fingindo ser um crente entusiasta logo passou a ser uma das pessoas mais próximas de Jesus, seu confidente, do círculo íntimo de seus seguidores, o tesoureiro desse grupo de indigentes, os doze apóstolos. O único entre eles que não era Galileu, nem agricultor ou pescador pobre.

            Só que ocorre uma reviravolta surpreendente no desenrolar da trama. O homem que fora enviado pelos sacerdotes de Jerusalém para espionar o embusteiro Galileu e seus seguidores, para desmascará-lo, passou a ser um de seus mais entusiasmados crentes. A personalidade de Jesus, a irradiação do amor caloroso e arrebatador que dele emanava, aquela mescla de simplicidade nos gestos, humildade, humor afetuoso, cálida intimidade com qualquer um, junto com a estatura moral, a visão elevada, a aguda beleza das fábulas de que Jesus se valia, e os encantos do maravilhoso evangelho em sua boca, transformaram o homem lógico, realisa e cético da cidade de Keraiot num seguidor dedicado com todas as forças ao salvador e seu evangelho. Judas Iscariotes passou a ser o discípulo mais fiel e dedicado, até a morte do homem de Nazaré. Se isso aconteceu da noite para o dia ou foi consequência de um longo processo de renascimento, não saberemos. Judas Iscariotes passou a ser Judas cristão. O mais entusiasta dos apóstolos. E além disso: foi o primeiro homem no mundo a acreditar piamente na divindade de Jesus. Acreditava que Jesus era onipotente. Acreditava que logo os olhos de todos os homens iriam se abrir, de mar a mar, para enxergar a luz, e viria a redenção para o mundo. Mas para isso, concluiu Judas, que era um homem do grande mundo e entendia bastante de relações públicas e de como criar uma repercussão impactante, era preciso que Jesus deixasse a Galiléia e subisse à Jerusalém. Tinha de conquistar a rainha em sua casa. Deveria realizar em Jerusalém, diante de todo o povo e aos olhos do mundo inteiro um milagre que como tal não houve igual desde o dia em que Deus criou o Céu e a Terra. Jesus, que caminhara sobre as águas no mar da Galiléia, Jesus que trouxera de volta dos mortos a menina morta e Lázaro, Jesus que transformara água em vinho, que tinha exorcizado demônios e curado enfermos com o toque de sua mão e com o toque das fímbrias de sua roupa, tinha de ser crucificado aos olhos de Jerusalém inteira. E aos olhos de Jerusalém inteira ele se livraria e desceria da cruz, vivo e presente, e se postaria saudável e inteiro, sobre as duas pernas, firme sobre o solo ao pé da cruz. O mundo inteiro, sacerdotes e o povo comum, romanos e edonitas e helenistas, fariseus e saduceus e essênios, samaritanos e ricos e pobres, centenas de milhares de peregrinos que chegarão a Jerusalém vindos de todo o país e dos países vizinhos para a festa de Pessach, todos cairão de joelhos para se empoeirar com o pó dos seus pés. Com isso começará o Reino dos Céus. Em Jerusalém. Diante do povo e do mundo.

            Mas Jesus hesitou muito se deveria aceitar a ideia de Judas e subir para Jerusalém. Bem fundo em seu coração de menino, durante todos aqueles dias, o verme da dúvida roia. Serei eu o homem: serei eu o homem? E se eu for menor do que isso? E se essas vozes estiverem me iludindo, forem vãs? E se meu pai que está no céu estiver me experimentando? Brincando comigo? Me usando para um fim cujo segredo me é oculto? Talvez o que tinha conseguido realizar na Galiléia não conseguisse realizar em Jerusalém sofisticada, laica, assimilada, helenista. A Jerusalém pouco crente que viu de tudo e ouviu de tudo e já não se admira de nada. O próprio Jesus talvez estivesse esperando o tempo todo por algum milagre contundente vindo de cima, por alguma revelação ou iluminação, por alguma resposta divina as suas dúvidas: serei eu realmente o homem?

            Judas não o largou: você é o homem. Você é o salvador. Voce é o filho de Deus. Voce é Deus. Voce foi destinado a salvar todos os homens onde quer que estejam. O Céu o encarregou de ir à Jerusalém e lá realizar seus milagres, voce fará em Jerusalém o maior milagre de todos, vai descer vivo e inteiro da cruz, e Jerusalém inteira cairá aos seus pés. A própria Roma cairá aos seus pés. O dia de sua crucificação será o dia da redenção do mundo. É a última prova a que o submete o seu pai que está no Céu, e voce há de passar por ela porque voce é o nosso salvador. Após essa prova terá início a era da redenção da humanidade. Nesse mesmo dia começará o Reino dos Céus.

            Após muitas hesitações Jesus e seus seguidores subiram para Jerusalém. Mas aqui de novo foi assolado pelas dúvidas. E não apenas dúvidas, mas também um temor mortal, tão simples quanto isso, como o de um ser humano. Um temor mortal e humano, muito humano, se apoderou do seu coração: E seu espírito se alarmou, e foi tomado das dores da morte, e começou a se alarmar e desencorajar e disse a eles: minha alma está agora conturbada.

            Se puderes, rezou Jesus a Deus em Jerusalém durante a última ceia, afasta de mim esse cálice. Mas Judas o animou e fortaleceu seu espírito: quem caminhou sobre as águas e transformou água em vinho e curou leprosos e exorcizou demônios e ressuscitou mortos, será capaz de descer da cruz e com isso fazer com que o mundo inteiro reconheça sua divindade. E como Jesus continuava a temer e a duvidar, Judas Iscariotes assumiu os preparativos da crucificação. Não foi fácil para ele: os romanos não tinham nenhum interesse por Jesus, pois o país estava cheio de profetas, milagreiros e visionários sonâmbulos como ele. Não foi fácil a Judas convencer seus colegas sacerdotes a levar Jesus a julgamento: Jesus não era considerado por eles mais perigoso do que uma dúzia dos seus dublês na Galiléia e em regiões remotas. Judas Iscariotes teve de recorrer a manobras, valer-se de seus bons relacionamentos nos círculos farisaicos e do sacerdócio, incendiar corações, talvez também pagar subornos, para providenciar a crucificação de Jesus entre dois criminosos menores na véspera da festa sagrada. Quanto aos trinta siclos de prata naquela época não era mais do que a quantia apurada pela venda de um escravo de qualidade média. E quem pagaria até mesmo três siclos de prata pela prisão de um homem que todos conheciam? Um homem que não tentou nem por um momento se esconder ou negar sua identidade?

            Judas Iscariotes é, pois, o inventor, o organizador, o diretor e o produtor da cena da crucificação. Nisso tiveram razão os seus detratores e difamadores em todas as gerações, talvez com mais razão do que eles mesmos imaginavam. Mas quando Jesus agonizava na cruz em terrível sofrimento, horas e horas no sol ardente, o sangue escorrendo de todas as suas feridas com moscas esvoaçando sobre elas, e até mesmo quando lhe deram vinagre para beber, a fé de Judas não esmoreceu nem por um instante: eis que já está chegando. Eis que o deus crucificado já vai se levantar, livrar-se dos pregos e descer da cruz, e dirá a todo o povo, prostrado em seu assombro: amem uns aos outros.

            E o próprio Jesus? Mesmo nos momentos em que agonizava na cruz, na nona hora, quando a multidão zombava dele gritando: salve a si mesmo se puder e desça da cruz, ainda o fustigava a dúvida. Serei eu realmente o homem? E mesmo assim, talvez ainda tentasse se agarrar, em seus últimos momentos, à promessa de Judas. Com o que lhe restava de forças puxava as mãos presas com pregos à cruz e puxava os pés também pregados, puxava e se sacudia, puxava e gritava de dor, puxava e clamava a seu pai no céu, puxava e morria tendo nos lábios as palavras do livro dos Salmos: Eli Eli lama shabachttani, que significam, meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Tais palavras só poderiam sair dos lábios de um homem agonizante que acreditava, ou talvez acreditasse, que o Deus realmente o ajudaria a arrancar os pregos, realizar o milagre e descer inteiro da cruz. E com essas palavras agonizou e morreu, dessangrado, como humano, como carne e sangue.

            E Judas, cujos olhos horrorizados viam o sentido e o objetivo de sua vida se esfacelar, Judas, que compreendeu que com suas próprias mãos tinha causado a morte do homem que amava e admirava, foi embora de lá e se enforcou. Assim morreu o primeiro cristão. O último cristão. O único cristão.

            Eis uma bela dissertação de comportamentos que possuem coerência e podem ser verdadeiros, frente uma diversidade de outras dissertações, algumas delas já expostas neste diário. O que quero ressaltar com essa extensa cópia do texto é para dar um sentido à traição, que muitas vezes tem uma conotação diferente daquela que a maioria imagina. Da mesma forma eu posso também ser considerado como um traidor por ter saído de dois casamentos onde minhas esposas esperavam um comportamento que eu não tinha mais condições de exibir, pois eu deveria ser fiel às minhas convicções, se quisesse ser honesto comigo mesmo, se quisesse amar a mim mesmo como pré-requisito para amar a humanidade. Talvez eu seja considerado uma espécie de Judas por algumas pessoas, mas espero que um dia a compreensão do ideal que está por trás daquilo que eu faço venha a me inocentar, como pode ser visto nos sentimentos e pensamentos de Judas quanto a Jesus: o traidor não foi mais do que o seu discípulo mais crente na sua origem divina e que imaginava que ele tinha condições de transformar de imediato a humanidade egoísta em cidadãos do Reino dos Céus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 21/01/2015 às 00h59
 
20/01/2015 00h59
REFLEXÕES NO FUTURO

            Este texto de hoje é o complemento da roda de conversa que tive ontem, domingo, no flat. Vou colocar agora os argumentos do meu primogênito e de sua namorada com relação aos seus relacionamentos no futuro.

            Meu primogênito começou dizendo que respeita o meu posicionamento quanto aos meus relacionamentos, principalmente porque eu não engano ninguém, que todas as mulheres que se aproximam de mim e desejam convivência comigo, sabem da minha forma de pensar, sentir e agir. No entanto ele não quer isso para o seu relacionamento com sua companheira. Faz questão de frisar que faz diferença entre amor e sexo, e que a sua companheira tem toda a liberdade e confiança, para se relacionar com qualquer pessoa, desde que não cometa atos sexuais, mesmo que não haja penetração.

            Fiz também questão de dizer que respeito a posição deles, de construir uma família nuclear com base no amor exclusivo, mas que isso implica na fidelidade, com base na verdade dos procedimentos. Que eles sejam firmes para garantir essa fidelidade ao longo da vida, sem fazer como a maioria faz, de romper essa fidelidade de forma clandestina e muitas vezes transformando o relacionamento conjugal em um campo de batalha verbal e agressões físicas, sem nenhuma qualidade de vida.  

            A namorada dele colocou uma perspectiva diferente. Ela considera que não só uma relação sexual é considerada uma traição, mas qualquer tipo de relacionamento afetivo mais íntimo ou projeto de vida desenvolvido com outra pessoa sem o conhecimento do companheiro. Colocou como exemplo uma pessoa que constrói uma casa com outra pessoa, do mesmo gênero ou não, e passa a dormir algumas noites com ela. Mesmo que não haja sexo, ela já considera isso como uma traição, tanto pelo fato de não ser conhecido como pela possibilidade de existir o sexo.

            Senti que a posição do meu primogênito é mais ampla, ele dá total liberdade e confiança à companheira, desde que ela não tenha comportamento de natureza sexual com ninguém. Se a sua companheira faz uma viagem de estudos para um congresso sozinha, e lá encontra alguém que simpatiza, que sai para jantar, que cheguem até a dividir o mesmo quarto do hotel, para ele não há traição se não existe sexo, que seja informado o que está acontecendo ou não.

            Para ela isso já configura traição se ele não comenta essa ocorrência, e mesmo que comente, mas se ficam no mesmo quarto do hotel, somente a possibilidade de existir o sexo já configura uma traição.

            Percebi que a posição cognitiva quanto o relacionamento conjugal que eles têm hoje é semelhante ao que eu tinha no passado no início do relacionamento com minha primeira esposa. Eu também tinha total confiança nela e acreditava que a traição era caracterizada por fazer sexo ou projetos clandestinos com outra pessoa.

            É importante que essas reflexões do futuro tenham conhecimento das minhas reflexões do passado, pois muito provavelmente eles irão passar por circunstâncias parecidas com as que eu passei e poderão evitar os erros que eu cometi.

            Primeiro, se eles entram em reflexões que implicam na mudança dos seus atuais paradigmas, que o companheiro(a) tenha conhecimento no começo para evitar o que aconteceu comigo. Cresci muito cognitivamente na mudança de paradigmas de forma isolada e não permiti que a minha companheira fizesse as mesmas avaliações para chegar às mesmas ou diferentes conclusões.

            Segundo, ao assumir a mudança de comportamento a partir das mudanças de paradigmas, devem estar prontos a suportar todas as consequências que daí advirem, quer sejam culturais, familiares, legais, etc.

            O importante é que a confiança não seja afetada, por mais dolorosa que seja a verdade. Talvez essa minha experiência de vida seja o meu grande presente de casamento para eles. 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/01/2015 às 00h59
 
19/01/2015 00h59
REFLEXÕES NO PASSADO

            Hoje foi um dia de lazer no flat da Redinha. Sentei numa roda que se encontra a minha primeira ex-esposa e o meu primogênito com sua namorada. O tema da conversa passou a ser relacionamentos, do meu primogênito com sua namorada até o meu relacionamento com a sua mãe quando ainda éramos casados.

            Tive oportunidade de fazer uma retrospectiva sobre o que aconteceu entre nós e que mudou a minha forma de pensar, de uma família nuclear como hoje pensam meu primogênito e sua namorada, para uma família ampliada onde o amor deixa de ser exclusivo.

            Falei que a mudança do meu pensamento não aconteceu de forma instantânea, de uma hora para outra, de um dia para outro, de um mês para outro... não, foi um processo que levou anos e consistiu de uma verdadeira batalha mental sobre o que eu poderia ou não fazer, sobre fidelidade, sobre traição. Reconheci que este poderia ter sido um erro que cometi, ter entrado nessas reflexões de forma solitária, sem dividir com minha esposa as críticas que começavam a surgir na minha cabeça em função dos desejos e das circunstâncias.

            Nessa época eu era estudante de medicina e dava plantões em hospitais psiquiátricos. Em um desses hospitais havia uma auxiliar de enfermagem que simpatizava comigo e sempre que estávamos juntos no plantão ela chegava perto de mim com suas blusas generosas e fazia convites cada vez mais explícitos para sairmos qualquer dia ou noite para namorarmos. No primeiro momento eu respondia com convicção que era casado, que amava minha esposa e que não pretendia traí-la. Mas cada vez eu sentia que minhas defesas ficavam mais fracas. O desejo passou a surgir na minha mente frente à visão daqueles seios farto e prontos para escapulir do controle daquela blusa branca para minhas mãos ou meus lábios; fazia-me pensar cada vez mais nessa opção que minha amiga oferecia, e seus argumentos cada vez mais se fortaleciam. Ela sabia que eu era casado, que não queria deixar a minha esposa por ela nem por mulher nenhuma, pois a amava e vivia em harmonia com ela. No entanto, ela não tinha interesse em destruir esses pensamentos e sentimentos que existiam em minha mente com relação à convivência com minha esposa. Ela queria apenas um momento só para nós, que pudéssemos namorar nossos corpos, sem a possibilidade de gerar filhos ou qualquer outra forma de compromisso. Era um prazer que tanto ela como eu queríamos, que não iria interferir com a vida de ninguém, nem dos meus parentes nem dos dela. Eu poderia perder essa oportunidade em função apenas de compromissos psicológicos que a ninguém dizia respeito a não ser a mim e a minha fortuita companheira?

            Foi com esse pensamento crítico que percebi que eu estava dentro de uma espécie de prisão psicológica devido a um compromisso assumido com a minha esposa. Passei a vê-la como uma espécie de carcereira, que impedia o prazer que eu também desejava obter nesse relacionamento fortuito com a minha amiga. Senti que o meu relacionamento antes tão harmônico e prazeroso começava a deteriorar-se. Eu conseguia manter a harmonia no relacionamento conjugal, mas agora não existia o prazer que eu tinha antes, com o sentido pleno de liberdade que eu vivia. Agora eu sentia que existia uma cadeia psicológica que me prendia e que os meus desejos e instintos se rebelavam cada vez mais com essa situação. Cheguei ao ponto de decidir quebrar essas cadeias, pois se isso não acontecesse a qualidade do meu relacionamento no casamento iria deteriorar até o ponto de ser insustentável, e eu teria que acabar no divórcio. Eu não queria que isso acontecesse, eu queria viver com minha esposa até o resto de nossas vidas, como tínhamos jurado um ao outro em tantos momentos, inclusive no altar. Portanto eu teria que atender a esses desejos da carne, já que eu não via neles nenhuma consequência negativa para meus diversos relacionamentos, inclusive o conjugal, pois dizia respeito apenas a mim e a minha amiga.

            Quando decidi sair com ela para namorarmos em algum momento e lugar discretos, que ninguém percebesse nossas ações, senti que a pressão no casamento foi aliviada, que eu agora estava pronto para sair com alguém em função do prazer, e que não existiriam consequências negativas, pelo contrário, ajudou bastante a eu reencontrar a alegria na harmonia do relacionamento conjugal. Mas isso não foi suficiente para eu sair com a minha amiga, pois logo entrou em cena o meu senso de justiça que apontava que a minha esposa teria o mesmo direito que eu agora estava adquirindo, se em igual situação ela um dia se encontrasse. Surgiu de dentro dos meus instintos o preconceito machista que jamais eu deveria admitir a minha esposa com outro homem. Então eu não deveria jamais me admitir namorar com outra mulher. Foi outro freio no meu comportamento libertário, mas dessa vez os grilhões da cadeia estavam dentro de mim. Agora era uma luta interna de mim para comigo. Os meus desejos de saciar o prazer com o sexo com uma pessoa diferente versus o meu preconceito de não permitir o mesmo direito à minha esposa.

            Entrei nessa nova batalha sem consequências na harmonia prazerosa do meu relacionamento conjugal, pois agora o meu carcereiro não era a minha esposa, e sim os meus preconceitos. Levei mais um tempo para vencer esses preconceitos, de seis meses a um ano de constantes embates mentais, mais uma vez de forma solitária. A perspectiva do prazer sexual era uma força impiedosa que massacrava os argumentos do meu preconceito a toda hora, a todo momento. Eu procurava argumentos nos livros acadêmicos, nos livros religiosos, na esperança que fortalecesse os meus preconceitos e que eu abandonasse a ideia de transformar o meu casamento de fechado, exclusivo, para um relacionamento aberto, inclusivo. Mas aconteceu o contrário. Os argumentos que encontrei nos livros, tanto acadêmicos quanto religiosos, fortaleciam a expressão do prazer consentido e esclarecido e massacravam os preconceitos machistas. Finalmente o preconceito foi nocauteado e fiquei livre para ter a experiência sexual tão desejada e permiti consciencialmente que a minha esposa tivesse o mesmo direito.

            A partir desse momento passei a agir de forma diferente, pois já pensava de forma diferente. Mesmo assim a minha esposa não desconfiou um só momento dessa luta interna e dessa transformação que eu passei, mesmo porque ela não tinha motivos, pois eu atingi um nível de gratificação altíssimo na harmonia do nosso relacionamento. Ela se sentia tão segura comigo que um dia de forma inocente e pensando que a pergunta que iria fazer jamais teria uma resposta positiva, que ela a fez: “Você seria capaz de um dia me trair?”.

            Pela minha forma de pensar eu não sentia que estava lhe traindo, pois ela tinha o mesmo direito de fazer o que eu estava fazendo. Mas eu sabia onde ela queria chegar, queria saber se eu tinha coragem de “sair” com outra pessoa. Então respondi afirmativamente, e logo em seguida à sua perplexidade, eu disse que ela tinha o mesmo direito de fazer mesmo se assim desejasse. Eu pensava que isso fosse atenuar a sua dor, mas ela se mostrou atingida duas vezes. Eu não imaginei que todo o esforço de transformação que eu passei foi de forma solitária, que ela não teve oportunidade de caminhar comigo pelos caminhos cognitivos e emocionais que me levaram à construção de novos paradigmas. A partir daí a nossa vida passou a ter um rumo completamente diferente, com muita dor e resignações, principalmente da parte dela. Foi o preço da minha liberdade, e peço desculpas por não ter tido a coragem naquela época de fazer essa conquista junto com ela, eu não tinha o amadurecimento que tenho hoje; esta é a minha defesa, meus atenuantes para os erros cometidos.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 19/01/2015 às 00h59
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