Em 07-01-16 foi realizada a primeira reunião do ano da AMA-PM e do Projeto Foco de luz, as 19h na Escola Estadual Olda Marinho, com a presença de 01. Edinólia, 02. Paulo Henrique, 03. Costa, 04. Nivaldo, 05. Silvana, 06. Netinha, 07. Luci, 08. Francisco, 09. João Maria, 10. Ana Paula, e 11. Sued. Foi lido o preâmbulo espiritual com o título “Segue-me tu”, a partir de uma citação do apóstolo João. Em seguida foi lida a ata da reunião anterior com a inclusão do nome de Costa, que havia participado, mas que não fora citado. Em seguida foi colocada em discussão apenas a avaliação da FESTA DO NATAL. Paulo apresentou um boletim financeiro preliminar da festa e ficou de ser completado na próxima quinta-feira, dia 14-01-16, no Departamento de Medicina Clínica, juntamente com o balancete financeiro total do mês de dezembro. Na avaliação da festa prevaleceu a discussão em torno do nosso comportamento que deveria ser evangélico e termina que muitos dos nossos membros exigem privilégios pelo fato de terem feito parte do trabalho de organização e confecção de alimentos. Edinólia se mostra muito incomodada com esse procedimento e confessa que causa desarmonia por exigir que seja cumprida com rigor a prioridade da fila, em respeito a quem está dentro dela esperando. Diz que por sentir que não está conseguindo fazer esse trabalho com justiça, não irá mais participar dos trabalhos de distribuição de alimentos ou de qualquer benefício, mas continuará com seus trabalhos na área financeira e em qualquer outra atividade que não implique se responsabilizar por atos de injustiça ou de privilégios. Todos consideraram que houve uma evolução positiva da festa, comparada com a que foi realizada no ano passado. No entanto a participação dos moradores do bairro ainda é pequena e dentro da Associação poucas pessoas se envolvem efetivamente com os trabalhos a serem realizados. Ana Paula relata que as crianças podem ser mais trabalhadas, pois os grupos que continuam funcionando são poucos, e que com a saída do futebol, muitas estão mais próximas da criminalidade. Diz que as ruas poderiam ser ocupadas com atividades para as crianças, como maratonas, por exemplo. Costa volta a citar a necessidade de formar departamentos para dividir as tarefas com todos os membros interessados da Associação. Nivaldo se coloca à disposição para ajudar em qualquer tarefa ao seu alcance. Paulo diz da necessidade de ser bem explicada à comunidade o trabalho que está sendo realizado colocando com regularidade e transparência os boletins financeiros para mostrar onde os recursos arrecadados estão sendo empregados. Diz que está recebendo críticas sobre esse trabalho da Associação o qual deve ficar bem claro para todos o objetivo de nossas ações. Francisco diz que este trabalho comunitário serve como um laboratório para se colocar em prática as lições do Evangelho, para construirmos uma sociedade solidária, baseada no Amor Incondicional, onde cada membro se sente motivado para cumprir a vontade de Deus conforme está aceito em sua consciência. Ficou definido que na reunião da próxima quinta feira seria discutido com prioridade A MISSÃO da Associação, para que todos saibam qual o objetivo final dos nossos trabalhos. As 20h30m foi encerrada a reunião, Nivaldo como aniversariante do dia conduziu a oração do Pai Nosso. Cantamos os parabéns e degustamos o bolo do aniversariante.
Ao ler o livro “Fontes Franciscanas e Clarianas” percebi que devo um reconhecimento que deveria ter feito há muito mais tempo.
Meu nascimento foi difícil. Fui o primeiro filho de meus pais, gerado com uma cabeça que não ajudava na passagem pelo canal do parto. Além do mais o parto foi realizado em casa, nessa época não havia tanta facilidade como hoje por maternidade. A parteira, de experiência prática, era a responsável pelo evento, mas não conseguia me trazer à luz do dia. Todo o seu esforço, com os seus dedos contraídos na forma de pinça, ficou impregnado na massa óssea do meu crânio, que não passava de uma simples moleira. O caso estava ficando dramático, ameaçava a minha vida e a vida da minha mãe. Numa atitude heroica para salvar a minha mãe, eu poderia ser arrastado de qualquer forma... outro filho poderia ser gerado, era o mais lógico.
No desenrolar dessa batalha pela vida, como estávamos no mês de outubro, alguém lembrou do santo mais importante dessa época, São Francisco, da cidade de Assis, Itália. De imediato foi feita uma promessa, que se ele interviesse e salvasse a mãe e o filho, este receberia o seu nome. Finalmente eu consegui sair ileso do sufoco, somente com as marcas dos dedos da parteira na cabeça e que até hoje marca o meu crânio.
Soube dessa história e não dei muita importância, afinal essas promessas são muito comuns de acontecerem e só viemos a saber dos resultados positivos, pois as pessoas fazem questão de lembrar a graça recebida, e geralmente esquecem quando não são atendidas, talvez por pensarem que isso vai depor contra elas, de não serem merecedoras das graças divinas.
Quando passei a estudar com a metodologia científica, de considerar o mundo material com mais destaque que o mundo espiritual, aí foi que essa história ficou mais distante, principalmente quando fui para o serviço militar e passei a ser chamado pelo sobrenome, Rodrigues. O nome Francisco ficou em segundo plano e o motivo dele ter surgido, também.
Nesta fase mais amadurecida da minha vida, reconheci a importância do mundo espiritual, da sua superioridade sobre o mundo material, e dos exemplos de várias personalidades pelo mundo todo, principalmente Jesus de Nazaré ao qual considero meu Mestre e procuro seguir suas lições.
Seguindo esses novos paradigmas de vida, procuro ler e estudar tais comportamentos e o entorno dos relacionamentos e fenomenologia do que está descrito, com a mesma postura de aceitação e de crítica de tudo que tenho conhecimento. Foi nesse sentido que a leitura das “Fontes Franciscanas e Clarianas” me trouxe a informação dos inúmeros casos considerados como milagre por São Francisco. Casos muito mais complexos do que o meu, inclusive com ressuscitação, fez eu lembrar da velha história que sempre ouvia relacionado com o meu nascimento e a influência do santo na minha sobrevivência.
Agora não tenho justificativas para manter no ostracismo o que aconteceu comigo há 63 anos. Se alguém pediu por mim ao Santo, e se esse fato que foi pedido se realizou, pode muito bem ter isso acontecido pela interferência do santo. Os novos estudos que estou realizando e praticando dão sustentação a essa possibilidade. A incredulidade própria do mundo material continua na minha mente dizer que existe também a possibilidade de tudo ter acontecido sem nenhuma interferência espiritual, tudo ter sido consequência da resolução natural que estava à caminho. Claro, essa possibilidade material pode ter sido a responsável, mas isso não anula a possibilidade espiritual, e sou mais inclinado a pensar agora na importância do espiritual, mesmo porque a ciência já demonstrou que nenhum experimento que possamos projetar irá tirar a influência da consciência do pesquisador, principalmente em situações dramáticas onde o emocional favorece muito mais o espiritual do que o material.
Agora eu me sinto mais agradecido ao santo, respeito mais o nome que herdei de sua memória, principalmente quando tenho um papa que adotou o seu nome. Lembro que o poder espiritual que ele recebeu, foi devido ter se esforçado para imitar o comportamento do mesmo mestre que eu procuro seguir as lições: Jesus de Nazaré.
Por isso não poderia deixar de fazer esse reconhecimento a São Francisco de Assis, mesmo tardio, apesar de terem escolhido o diferencial para o meu nome das chagas que ele apresentava e não da cidade onde nascera.
Ao ouvir uma música de minha adolescência, invade-me a nostalgia dos primeiros amores e fiquei inspirado para fazer um conto adaptado da realidade o qual reproduzo neste espaço.
Tenho 12 anos... não sei bem o que é isso que sinto... quando olho pra ele é como um fogo que invade meu corpo e queima por dentro forçando as lágrimas saírem de par em par para tentar apagar um queimou, um incêndio. O coração acelera... a respiração fica rápida, entrecortada... meu Deus, será o amor? Mas eu sou tão pequena, sou ainda uma criança... não sei amar, não posso amar... ele é casado, sabe de tudo, eu não sei da nada! Ou melhor, sei que não posso amar...
Mas, meu Deus! Ele olha pra mim, aumenta o meu incêndio... tenho que baixar os olhos, deixar as lágrimas caírem sem ninguém perceber... olhar para distante, para o nada... meu Deus! Ele olha pra mim, percebe minhas lágrimas... e vejo, sim eu vejo... seus olhos também estão molhados!
Ele está sentado na janela do ônibus. Vai embora pra sua cidade depois de ter passado um fim de semana na casa de minha família. Está ao lado da sua esposa que o acompanhou nessa visita. Ele é casado, meu primo, e bem mais velho do que eu... Não pode ser amor! Eu sou apenas uma menina!
Mas seus olhos falam com os meus, e sim, eles dizem que me ama. Mas não pode ser, eu sou apenas uma menina, não sei amar, não tenho o direito, não tenho a idade... eu nunca amei!
Mas seus olhos pedem para eu amá-lo também, pois ele me ama. Mas não tenho idade, não tenho direito, de sair sozinha contigo, respondo da mesma forma... será que ele está entendendo o meu olhar? Ele sabe de tanta coisa mais do que eu, com certeza está entendendo tudo que meus olhos falam... Eu queria saber tudo que ele sabe, mesmo que não pudesse amá-lo, queria ele como meu mentor... que entrasse em minha mente, me ensinasse como amar.
Eu não tenho nada para você, não tenho nada para dizer-lhe, eu não sei de nada... apenas posso dizer o que sinto. Veja meu corpo pequeno, meu vestido de chita... que posso te oferecer? Meus olhos perguntam, e os fios de lágrimas engrossam ainda mais... você sabe que ainda não sou mulher, não passa de uma menina... não tem seios, não tem bunda, somente dois olhos grandes que viraram lagos...
Mas, o olhar dele grita no fundo da minha alma... “Eu te amo pelo que és e pelo que irás ser! Pela semente de mulher plantada nesse corpo de menina... Eu te amo acima das convenções sociais, das burocracias, dos dogmas ou preconceitos... Eu te amo acima da lei, acima do tempo... deixa-me ser o teu mentor, o seu amor... por onde você for me leve consigo, guardado em seu coração, pendurado em sua memória... aonde você for, eu vou... aguardarei na próxima esquina do tempo para tocar as cordas do seu novo corpo de mulher, fazer poesia com o frescor dos seus lábios, e tirar harmonias das curvas e reentrâncias da sua anatomia feminina... Te ensinarei a penetrar no meu coração enquanto eu penetro a tua essência, e na mistura de nossos fluidos a explosão dos sentidos.”
Sim, eu entendo o que você diz, meu amado, meu primeiro amor... confio na sua promessa, vou espera-lo na esquina do tempo onde você quer esperar-me. Nesse dia terás todo o meu amor pra você... você sabe muito mais coisas que eu, certamente sabe de tudo o que vai acontecer, eu quero aprender... com você... meu primeiro amor...
Obrigada, meu Deus, pelo meu primeiro amor romântico. Eu irei viver nas nuvens na espera que chegue o futuro. Eu vou encontra-lo sim, na próxima esquina do tempo... o meu primeiro amor!
Ainda fazendo comparação com Jean-Paul Sartre, entre os meus pensamentos e ações e os dele, no tipo de contrato que fizemos com nossas companheiras, mesmo correndo o risco de errar, mas raciocinando sobre o que Simone de Beauvoir escreveu sobre ele, faço a seguinte reflexão.
Sartre montou um contrato com sua companheira para poder obter da vida o máximo prazer e satisfação que sua existência pudesse lhe oferecer, sem nenhum empecilho de qualquer natureza, principalmente os de natureza exclusivista afetivo-sexual. Acredito que, sendo ele uma pessoa honesta, uma pessoa de bem, deveria respeitar apenas os limites éticos de não prejudicar ninguém que se envolvesse com ele. Olhando assim à distância, os inúmeros relacionamentos que ele teve com diversas mulheres, muitas bastante jovens, alunas dele, parece isso algo exagerado, que implicava em algum tipo de prejuízo para as mentes ainda não bem amadurecidas que ficavam ofuscadas com o brilho do seu saber. Posso estar errado e Sartre está rigorosamente dentro da ética, de não prejudicar nenhuma delas, pelo contrário, até ajudar no seu amadurecimento enquanto pessoa humana, moça/mulher cheia de hormônios e de necessidade de autoafirmação. O que posso avaliar com mais segurança é o comportamento de Simone, o prejuízo ou benefício que ela sofreu dessa relação.
Simone mergulhada em seus medos faz sempre as considerações do comportamento do companheiro, de sempre estar olhando com apetite para outras mulheres, apesar de falar pra ela que eram almas gêmeas, que ambos tinham um sinal na testa que apenas podia ver um e outro. Ela lembrava que ele prometera aliança eterna, mas veio com a história de um novo pacto: “Você e eu vamos fazer um acordo de dois anos, renovável...” Ora, se existe abertura para quebrar a aliança eterna com um acordo de dois anos, então há abertura para quebra total dessa aliança eterna. Ela temia que a sua condição de “amor necessário” enquanto as outras seriam apenas “amores contingentes” pudesse se perder frente às novas motivações surgidas com a força da paixão, como era o caso de Dolores. Ela percebia que o “amor necessário” agora era Dolores, e ela o “amor contingente”. Além de tudo ela não tinha confiança em Sartre. Imaginava que essa história de pacto fosse apenas um truque, um jogo de palavras, uma astúcia para justificar as piores traições. Lembrava que desde o começo Sartre havia mentido, tem disso a maior certeza, pelo menos ele nunca dissera tudo.
Com esse quadro formado, eu vejo a posição de Sartre totalmente diferente da minha, na filosofia e nos objetivos. Mesmo que no início da abertura do meu relacionamento eu não tivesse tanta certeza do caminho que começava a trilhar como tenho hoje, mas o cuidado ético de não prejudicar o outro fez com que eu não cometesse erros bárbaros. Hoje eu posso lembrar o passado sem grande erros, o presente como uma consequência de minhas ações e posso projetar o futuro com os mesmos paradigmas de quando eles começaram a surgir. A grande diferença hoje é que consigo colocar todos esse comportamento distribuído no tempo, dentro de uma perspectiva espiritual, de fazer a vontade de Deus, enquanto Ser Supremo, criador de tudo, e eu apenas uma minúscula partícula de Sua criação, mas disposto a servir de Seu instrumento dentro do contexto coletivo.
Por esse motivo não posso prejudicar ninguém para atender as minhas necessidades biológicas, instintivas, que represento dentro do contexto bíblico como o monstro criado por Deus para proteger a minha existência biológica, o Behemot, mas que deve ser domesticado até para servir ao próximo, na perspectiva do Amor Incondicional.
Assim, o contrato que propus às minhas companheiras foi também de manter a possibilidade para ambas as partes de inclusão de afetos ou sexo da parte de outras pessoas. A pancada no coração que Simone referiu sentir ao perceber a paixão do seu companheiro por outra pessoa, eu também estava exposto a essa mesma condição. Também eu sentia assim como Sartre, e sinto até hoje, a necessidade de ter um “amor necessário”, uma espécie de “matriz afetiva”, uma companheira que sinta-se carne da minha carne, que sinta prazer com o prazer que eu sinto por amar, me apaixonar ou transar com outra pessoa. Isso eu também não consegui, e percebo que todas minhas companheiras sentem a mesma pontada no coração sentida por Simone. A mesma reação de acusar a “outra” como uma megera, como a maldita, no dizer de Simone. Acompanhada dessa reação tão negativa sobre a “outra” ainda acontece de todos os aspectos negativos que eu ainda possuo, serem ressaltados, assim como aconteceu com Sartre.
Um aspecto que diferencia bastante o meu contrato do contrato de Sartre, é que minhas diversas relações afetivas devem sempre estar revestida de um tipo de amor mais profundo, uma maior aproximação ou sintonia afetivo/sexual, mesmo que não exista a paixão. E como o amor nunca morre, essas pessoas que um dia foram carne da minha carne nunca morrerão para mim. Por mais distante que estejam, por mais dificuldades emocionais que apresentem, eu sempre estarei com o coração aberto, sem guardar dentro dele nenhum tipo de ressentimento.
Essa compreensão que tenho justifica o Amor Incondicional ensinado por Jesus e necessário para a construção da família universal, onde a inclusão afetiva ou sexual seja permitida, desde que não se mostre incompatível com a bússola que o Mestre nos legou: “fazer ao próximo o que desejo para mim; não fazer ao próximo o que não quero para mim”.
Sei que essa comparação entre o meu contrato afetivo e o de Sartre, merece uma avaliação mais minuciosa. O que coloquei aqui foi apenas primeiras impressões, e que podem ser modificadas se uma verdade diferente e mais profundamente localizada for descoberta.
Ao ler o primeiro capítulo do livro “Beauvoir apaixonada”, escrito por Irène Frain, que faz um relato da famosa escritora/filósofa como se esta própria estivesse escrevendo em primeira pessoa, encontrei argumentos que tocam à minha consciência e princípios existenciais, para usar a mesma linha de pensamento que ela adotou do seu companheiro, Jean-Paul Sartre.
Quando conheci o pensamento desse casal de filósofos, a maneira de conduzir um relacionamento aberto à outras experiências afetivo/sexuais, senti uma forte identificação com o sistema de crença que eles desenvolveram: o existencialismo. Também as pessoas que conhecem a minha forma de pensar dentro da intimidade, também faziam sem dificuldade essa correlação. No entanto, ao estudar com mais profundidade, não a escola filosófica, mas o comportamento pessoal de ambos, principalmente o de Sartre, verifico que a forma pode ser muito parecida, mas o conteúdo é muito diferente. Por esse motivo fiquei interessado a fazer reflexões sobre o comportamento dele comparado com o meu, pois acredito que eu esteja sendo acusado dos erros éticos que ele cometeu os quais eu acredito que não se aplicam a mim.
Talvez seja difícil fazer uma avaliação do pensamento e comportamento de Sartre quando o relato é de sua companheira, Simone. Mesmo assim, aproveito o sentimento que ela expressa, através do trabalho minucioso de Irène Frain, pois, mesmo não sendo o ideal, serve como uma primeira linha de demarcação de pensamentos e ações.
Começo pelo sentimento de Simone a sofrer o comportamento de Sartre, na sua relação com as mulheres, principalmente com aquela que ele está apaixonado, Dolores, como um soco no coração: Pang!
Acredito que esse efeito que Sartre provoca em sua companheira na relação com outras mulheres eu também tenha causado, nesse ponto talvez tenhamos cometido o mesmo “erro”, causar dor na pessoa ao lado, na nossa companheira. Mas isso se deve mais a um “status quo” da natureza feminina, pois existia também com Sartre e Simone um pacto/contrato que essa possibilidade de terceiros na relação poder existir, tanto para um como para o outro, sem comprometer a convivência “ad eternum” dos dois enquanto a biologia permitisse. Esse acerto feito há dezoito anos, de Sartre a tê-la como “estrela fixa, independente do que aconteça”, era a sua boia salva-vidas durante a percepção que ela tinha da paixão do seu companheiro por outra pessoa.
Por esse motivo Simone relata a sucessão de Pangs, quando percebe que Dolores é a nova estrela na vida de Sartre. É para ela que tudo se volta, suas palavras, seus pensamentos, seus devaneios, suas dedicatórias... São essas atitudes de Sartre que geram os pensamentos de Simone e que lhe causam a saraivada de pangs.
Incomodada com essa situação, ao perceber o aspecto sombrio de Sartre e o silêncio pesado entre eles, que ela chega a fazer a indagação: “Honestamente, quem você preza mais: Dolores ou eu?” E ele responde de imediato: “Eu prezo muito Dolores, mas é com você que estou”.
Simone entendeu essa réplica como a resposta de um macho banal que quer ao mesmo tempo a esposa e a amante. Mas o que mais provocou o novo e repetido pang em seu coração, foi o tom no qual foi dito, a mesma entonação metálica que usava com suas jovens conquistas quando havia decidido delas se distanciar.
É neste ponto que faço uma reflexão mais profunda. Por acaso Simone não sabia que esse seria o comportamento de Sartre, elaborado por ele e aceito por ela? Ela não imaginava que iria sofrer esses pangs no decorrer de sua vida de relacionamento com ele? Se isso for verdade, que ela não pensava que esse sofrimento iria acontecer, então ela deve reconhecer o erro de perspectiva dela e se não quiser sofrer mais esses pangs, então reformular o contrato ou simplesmente romper. Acredito que Sartre aceitaria ambas propostas, pois o motivo seria justo, evitar tanto sofrimento numa pessoa que ele tanto preza.
Enfim, o sofrimento de Simone se mantém porque ela persiste em continuar num relacionamento que a faz sentir assim e que não tem perspectivas de melhorar na direção do que ela deseja, pelo contrário, na direção de um rompimento, que talvez provoque um pang maior... mas, somente a ela cabe essas considerações e decisões.