Tenho uma série de comportamentos que desviam da norma cultural, mesmo que eu esteja convicto de que quero cumprir a vontade do Pai e que as normas culturais procuram se nivelar com a vontade divina. Então fiquei a pensar naquelas pessoas que se envolvem com algumas empresas multinacionais e se tornam vendedor independente, fazem o trabalho de forma autônoma, sem ter um padrão que lhes dê ordem sobre o que deve ou não fazer, mesmo que cumpra todas as orientações elaboradas pela central de empresa. Da mesma forma posso estar agindo para cumprir a vontade de Deus, mas seguindo uma lógica pessoal.
Um exemplo disso foi o que aconteceu nesta sexta feira da paixão. Antes do nascer do sol sai com minha companheira e meus irmãos para visitar a sua mãe que mora num interior distante duas horas de onde moramos. Antes passamos numa fazenda para visitar e tomar o café da manhã, mas infelizmente não foi possível.
Fomos então para o nosso destino e eu procurava manter o jejum parcial que eu estava fazendo para só liberar no domingo. Mesmo assim fui em busca do peixe para complementar o almoço, uma vez que não foi possível trazermos o que tinha sido comprado em Natal. Enquanto o almoço era preparado fomos organizar uma mesinha no quintal para jogarmos cartas que minha irmã havia trazido.
O dono da casa ainda nos advertiu que isso era proibido na sexta-feira da paixão, mas não foi suficiente para evitar o jogo. Ficamos na brincadeira até o término do preparo do almoço e fomos todos para a mesa. Também aí passei a comer bastante do que estava à mesa. Mesmo que eu tentasse fazer o limite de quantidade, mesmo assim eu comi além do que eu devia.
Voltamos ao jogo e depois, sob lembrança da minha companheira, convidamos as pessoas da casa para sentar em roda junto conosco e lermos uma das histórias que Jesus contava aos seus discípulos e fazermos, cada um, a devida reflexão.
A lição que caiu foi sobre o “Amor mútuo”. A lição queria mostrar que o bem que façamos a alguém, sempre e de alguma forma seremos recompensados também. Isso é o que dá a característica da mútua ajuda.
Foi o momento máximo da nossa reunião e que consegui aproveitar apesar de não estar cumprindo os rituais que a cultura pede para respeitar se queremos ser respeitosos com o Cristo. Daí porque surgiu a idéia de me considerar como um “filho independente” de Deus, pois estou decidido a cumprir Sua vontade, mas seguindo os critérios que a minha consciência considera como importantes, convenientes ou pertinentes. O jogo naquele momento era uma atividade que estava trazendo alegria e interação entre nós e que Jesus nem o Pai pode estar contra isso, pois ambos desejam a felicidade para todos nós.
Ao final do encontro e no retorno para casa, estava fazendo estas considerações. A primeira conclusão que tirei de tudo, inclusive com a experiência relatada no dia anterior, foi que apesar de todo o meu conhecimento técnico e espiritual, tenho uma fraqueza grande na divulgação do Evangelho a partir das leituras evangélicas e sua aplicações no cotidiano.
A segunda conclusão é como essa lição de Jesus que fala da importância da ajuda mútua. As minhas companheiras têm uma grande importância na aplicação da espiritualidade, da vontade de Deus, mesmo que seja num nível social ou doméstico.
Decidi, e rogo em minhas orações para ser um dos instrumentos de Deus. Parece ser coisa simples, afinal Deus quer que pratiquemos o Amor com prioridade em todos nossos relacionamentos, assim como Jesus ensinou. Mas vejo ao longo do dia, das chances que surgem em minha vida, quanto sou incompetente nessa promessa, como sou um instrumento cego de Deus.
Fui ao aniversário de minha amiga com o objetivo maior da minha companheira cantar a oração de São Francisco dentro do evento. Falei dessa possibilidade com minha amiga que acatou a idéia. Sentei com minha companheira e observei o ambiente, desenvolvi algumas idéias mentalmente de como iria apresentar o trabalho, de como iria falar, uma forma de apresentação como aconteceu no meu aniversário. Depois de eu explicar a minha forma de ver a espiritualidade de minha amiga convidaria todos para ouvir o canto da oração de São Francisco. Isso deveria ser feito na ocasião do parabéns, antes do corte do bolo.
Fui antes para o salão para a socialização no momento da dança. Tive um bom desempenho, cumprimentei os amigos e dancei com desenvoltura no salão, inclusive integrando as rodas que se formavam e as diversas coreografias.
Voltei depois para a mesa para pegar a Buffet que já estava sendo servido, depois de ter ingerido diversos salgadinhos e bebido vinho, espumante, água de coco e suco de abacaxi com hortelã.
Tive um bom desempenho até esse momento. Procurava lembrar a todo momento que eu era um instrumento da vontade de Deus e que eu devia aproveitar esse momento para mostrar aos presentes a importância da espiritualidade na qualidade de vida da aniversariante e de todos que se aproximam dela e sentem a sua influência.
Fomos chamados para o salão principal para cantarmos os parabéns. A aglutinação de pessoas já havia se formado ao redor da aniversariante. Minha companheira procurou ficar e me levar para uma posição mais estratégica para usar o microfone e fazer o que estava planejado. Ela lembrava sempre para mim para aproveitar o momento e saudar minha amiga. Procurei ficar mais perto da aniversariante, mas não encontrei a oportunidade de fazer a saudação a ela e de oferecer a canção da oração de São Francisco.
Ao nos retirarmos do evento fizemos a avaliação do que acontecera. Minha companheira fez a critica da oportunidade que eu perdi de ter oferecido a minha amiga algo do que eu recebi durante o meu aniversário, quando um amigo também me saudou sem eu esperar e fez um descritivo da minha história para os presentes. Foi um momento enriquecedor naquele momento.
Ao fazer essa reflexão vi que neste aniversário da minha amiga eu me comportei como um instrumento cego da vontade de Deus. Não ofereci a minha amiga algo que eu estava capacitado a fazer e que eu gostaria de ter recebido. Não fiz ao próximo o que eu gostaria que tivesse sido feito para mim. Não cumpri com fidelidade a principal lei do Amor, assim como Jesus ensinou.
Percebi a minha fraqueza cognitiva, de não ter coragem suficiente para aproveitar as circunstâncias formadas para realçar o lado positivo das pessoas e mostrar a importância de todos, ao seguir os bons conselhos na prática cotidiana.
Fiquei a imaginar que eu poderia ter ido antes ao moço que estava cantando e animando a festa das minhas intenções, de no momento dos parabéns eu estar ao seu lado e ter dado o sinal para a minha palavra. Com certeza eu teria a ajuda necessária do Pai para contornar minhas dificuldades pessoais quanto a timidez que ainda é forte dentro de mim e que encontraria as palavras convenientes e apropriadas ao momento e que essa seria a minha maior contribuição, tanto para abrilhantar a festa da minha amiga, quanto no cumprimento da vontade do Pai.
Ao terminar a reunião de estudo na Associação Médica, e ao assistir o filme “Nosso Lar”, ao chegar em casa vi que nessa obra de André Luiz tinha uma boa “dica” para colocar em prática conforme o que decidimos ontem em reunião.
Na reunião de hoje houve uma espécie de catarse coletiva, onde várias pessoas se colocaram com assuntos íntimos. Foi verificado então a necessidade de tirarmos um dia para fazer essa catarse de forma organizada. Foi escolhida a primeira terça feira do mês de maio para fazermos isso.
Assistindo o filme vi que no Ministério do Auxílio ficava um preceptor que atendia diversas pessoas numa mesma sala, com os mais diversos motivos. O atendimento era feito em dupla e com a audiência de todos os presentes.
Achei interessante que seguíssemos esse modelo na nossa reunião de estudos. Faríamos uma espécie de escala onde a cada mês uma dupla seria atendida pelo preceptor sob a audiência dos demais participantes do grupo. Durante o trabalho de exposição dos motivos que cada um considerasse importante, só poderia haver interação entre a dupla e o preceptor. Os demais integrantes do grupo permaneceriam calados e só poderiam se manifestar sobre o que ouviram ao final dos trabalhos, quando fossem autorizados pelo preceptor.
A colocação do assunto de escolha de cada pessoa não tem a função de abrir qualquer tipo de polêmica. A pessoa vai abrir o seu coração sabendo que todos na sala são seus irmãos espirituais e que desejam aprender com sua experiência. As perguntas que poderão ser feitas sempre terão esse sentido, de fazer a pessoa explicar melhor o seu ponto de vista e os seus sentimentos e emoções relacionadas.
No final dessa exposição e quando o preceptor autorizasse, os demais membros do estudo poderiam dar sua opinião sobre o que ouviram de forma avaliativa, usando a sua forma pensar e de sentir. Não quer dizer que sua avaliação seja sempre a correta e o criticado a pessoa equivocada. Pode ser que o comentário recebido seja mais equivocado do que o que foi explanado. Mas não é motivo para ninguém entrar em discussão, fica a cargo da consciência de cada um verificar se a sua participação foi coerente com a aplicação do Amor Incondicional que deve ser o princípio a ser atingido por todos os participantes.
No término do encontro o sentimento de fraternidade entre todos deve ter ficado mais fortalecido, principalmente naquele que expôs os seus pensamentos mais íntimos.
Acredito que esta atividade seja bastante positiva, como forma de verificarmos se estamos colocando em prática as lições do Mestre Jesus dentro dos nossos relacionamentos mais diversos.
Quando queremos construir algo devemos começar pelo alicerce. Se queremos construir uma vida, qual será o alicerce? O corpo ou a alma? Ambos coexistem no viver, no mesmo plano material, mas depois da falência dos órgãos o corpo vai para a sepultura se deteriorar e voltar ao barro de onde veio e a alma vai para o mundo espiritual de onde veio também. Uma é passageira, fugaz... a outra é perene, indestrutível.
Então, onde construir o alicerce da nossa existência, na transitoriedade do corpo ou na eternidade da alma? A lógica diz com clareza que deve ser sobre a alma. Porém a ignorância que nos impede de ver e sentir a importância da alma em nossas vidas, apenas dá valor às necessidades do corpo físico.
Com base nessas premissas decidi construir o meu alicerce de vida nos princípios espirituais. Os materialistas podem me criticar, afinal eles não deixam de perceber o que está acontecendo comigo, pois fazendo assim eu dou uma guinada radical na minha meta de vida. Os valores amoedados que é o símbolo da provisão materialista, que garante o conforto e a segurança desse meu corpo físico agora fica em segundo plano. Esta moeda que é o símbolo da riqueza no mundo material, não tem nenhuma serventia no mundo espiritual para onde logo irei. O que vai servir são os valores morais preservados, o Amor que consegui ofertar sem esperar recompensas, a paciência de tolerar o erro e as críticas dos outros, mesmo sabendo que estão errados.
A minha forma cada vez mais radical de desenvolver esse projeto espiritual me deixa mais próximo do Criador e mais distante dos sonhos acadêmicos e financeiros que eu nutria no passado. A conseqüência é que continuarei a viver neste mundo material, mas os valores serão cada vez mais espiritualizados em sua prática. Viverei neste mundo, mas já pertencerei ao mundo espiritual. Construirei o meu alicerce de vida nesse mundo espiritual. Quando fizer a passagem de um mundo para o outro, não levarei moedas, ninguém consegue fazer isso, mas espero que eu possa levar todo o bem que eu fiz, todo o Amor que deixei fluir do Criador para o meu semelhante.
Estou construindo o meu alicerce espiritual com as diversas chances e companheiros que o Pai disponibiliza para mim. Procuro fazer ver ao próximo a importância desse trabalho, pois mesmo que eu esteja totalmente errado, que não existe nada de mundo espiritual e tudo termina com a finitude do corpo, mesmo assim, a qualidade de vida que adquiri é de um maior quilate, capaz de trazer satisfação interna e a sensação de que cumpro uma importante missão.
Sei como todos sabem que temos uma origem biológica, que temos um pai e uma mãe na origem de nossa vida material. Poucos sabem, no entanto, que também temos uma vida espiritual e que possuímos um Pai primordial, aquele que construiu todo o universo e que continua criando. Portanto, sei que sou filho do homem e filho de Deus. Tudo vem de Deus, tudo tem dois significados. A minha existência tem um significado biológico e outro espiritual. O significado biológico implica na permanência da vida biológica ao longo do tempo, que eu atenda os instintos que Deus criou dentro do meu corpo para a preservação e reprodução. O significado espiritual é que a vida real se processa no mundo espiritual e que o nosso espírito precisa evoluir no campo moral e ético, usando a Terra como escola e o corpo como campo de estágio, sabendo usar os seus recursos instintivos para potencializar o Amor Incondicional de natureza divina.
Assim, o filho do homem possui dentro de si as forças do egoísmo que podem se manifestar como o mal; o filho de Deus sabe da existência dessa maldade em potencial que existe na estrutura do nosso corpo e que precisa aprender a domesticá-la para os princípios estreitos do bem e não para os prazeres largos do individualismo.
O filho de Deus pode fazer a vontade do Pai ao partilhar essa verdade que descobriu dentro de si, dentro do filho do homem, com os irmãos que ainda vivem envoltos nas trevas. Não deve de ter medo de falar para todos, os que queiram e os que não queiram ouvi-lo. Basta ter compaixão pela humanidade e abrir a boca. Falar do que o coração está cheio. O segredo é esse: compaixão! Compaixão pelos homens, por todos, por tudo, pois tudo faz parte de Deus! Ser capaz de olhar nos olhos de uma formiga e ver a face de Deus. Não ter medo de morrer, por entender que ela não é uma porta que se fecha, ela se abre.
Não deverei ter medo de falar, Deus falará por mim. Eu vim do Mata-Sete, uma região de Macau, um setor de bebidas e prostituição. Cresci e fui educado nessa região. Muitos diziam que eu não iria servir para nada, pois nada que viesse desse lugar poderia prestar. Mesmo assim diziam de Jesus, que nada que viesse de Nazaré poderia servir. Quando Deus quer coloca as palavras certas na nossa boca, vasta aceitarmos essa condição. Foi isso que Jesus fez; é isso que devo fazer.
Jesus sabia da dificuldade que o povo teria de entender a sua mensagem e usava muito os recursos das parábolas. Era um semeador da verdade. Ele semeava como o agricultor que joga as sementes, as pessoas que o escuta são as pedras e espinhos que dificulta o eclodir da semente. A semente é o Amor tem que tem de encontrar um solo fértil para se reproduzir e alimentar uma nação. Ontem eu era um solo árido, cheio de pedras e espinhos, mas acreditei na mensagem, deixei a semente crescer no meu coração, e agora que ele está cheio já posso também sair a semear. Não preciso ir à escola para aprender a semear, a falar; basta dizer do que o meu coração está cheio; basta agir de acordo com o que eu falo; basta amar como Deus me ama!
Existe um risco, e Jesus também já sabia disso: o filho de Deus está falando para os filhos dos homens, aqueles que possuem os instintos em polvorosa, que desejam poder, riqueza, influência... Que podem usar a semente do Amor como símbolo em bandeiras de carnificina entre irmãos, como aconteceu com os cruzados; que podem usar a semente do Amor dentro de livros intolerantes capazes de condenar os pensamentos discordantes ao suplício das fogueiras, como aconteceu na inquisição. Existe o risco do objetivo da construção do Reino de Deus se transformar em guetos de isolacionismo, em cortiços de miserabilidade, em favelas de violência.
Esta é a grande guerra do bem contra o mal, da verdade contra a ignorância, da luz contra as trevas. Acima de tudo tremula a bandeira do Amor e quem a levar nas mãos com honestidade, independente de sua origem ou de recursos materiais, estará sendo o instrumento de Deus.