Esta missão que Deus colocou na minha consciência, aplicar o Amor Incondicional em todos os relacionamentos, principalmente os afetivos, inclusive os íntimos que levam a unidade (carne da minha carne) é muito clara para mim. Se no entanto é clara a missão, sua compreensão total e explicação de todos os detalhes e consequências, eu não consigo alcançar a contento. Deus ainda não me deu a sabedoria necessária. Porém, sinto que Ele não fez isso devido a minha mente ainda ignorante talvez não suportasse tanta explosão da luz da verdade. Mesmo assim, a cada dia sinto que Deus lança um pouco da sua imensa sabedoria para que eu possa distinguir um algo mais da verdade encoberta. Antes eu já havia falado do aparente paradoxo do “quanto mais amor menos proteção”, no contexto do Amor Incondicional.
Hoje, com as leituras que o Pai me proporcionou, a partir do “Pão Diário, nº 16” que reportou ao Cântico dos Cânticos (3:1) onde a esposa de Salomão demonstra alguns indícios de que vivia em unidade com seu marido. Ela diz:
Durante as noites, no meu leito, busquei aquele que meu coração ama;
Procurei-o sem encontrá-lo.
Vou levantar-me e percorrer a cidade, as ruas e as praças,
em busca daquele que meu coração ama;
procurei-o sem encontrá-lo.
Os guardas encontraram-me quando faziam sua ronda na cidade.
“Vistes aquele que meu coração ama?”
Mal passara por eles, encontrei aquele que meu coração ama.
Segurei-o, e não o largarei antes que o tenha introduzido na casa de minha mãe,
no quarto daquela que me concedeu.
Conjuro-vos ó filhas de Jerusalém, pelas gazelas e corças dos campos,
Não desperteis nem perturbeis o amor, antes que ele o queira.
Nesses versos observamos uma série de interpretações que poderíamos fazer com o auxilio do Amor Incondicional no sentido de ajustamento para um relacionamento fraterno em busca da família universal. Mas não vou perder meu foco de confrontar a unidade com a diversidade.
Ao gerarmos pensamentos carinhosos sobre nossos companheiros abrimos os nossos corações para a comunhão quando estamos juntos. Os companheiros íntimos podem buscar um ao outro, apesar das inconveniências dos projetos individuais de cada um que pode envolver longo tempo de afastamento: trabalho, parentela, religião, lazer, amigos, etc. Mas, manter-se fisicamente envolvido é uma parte do plano de Deus para a Unidade que faz o relacionamento das duas pessoas tornarem-se tão especial, pois caso contrário, não teríamos a reprodução e a continuidade da vida biológica.
O companheirismo integral significa muito mais do que duas pessoas que compartilham naquele momento o mesmo ambiente. Deve envolver pensamentos e sentimentos agradáveis para ambos e para o mundo; devem experimentar o prazer paroxístico dos sentidos, em seus píncaros celestiais, mas como combustível motivacional de respeito ao próximo e aos seus respectivos agrupamentos afetivos dentro da diversidade; é sentir que essa experiência máxima de integridade da Unidade no Jardim do Éden não é uma exclusividade constante do par, pois isso impediria as oportunidades do Amor Incondicional dentro da diversidade e da real construção da família universal, do Reino de Deus.
Sei que esta lição/explicação do Pai é muito complexa e com certeza Ele irá trazer outros momentos de luz a minha ainda fraca compreensão.
Falei ontem do pecado da gula que cometi e das consequências que sofri. Hoje vou falar do cumprimento da minha missão frente à vontade do Pai, que aconteceu naquele mesmo dia.
No contexto em que me encontrava o trabalho na seara do Pai que mais correspondia a minha capacitação, era falar das lições que Jesus deixou, da existência do mundo espiritual que é onde se processa a vida real. Promovi duas reuniões para tratar desses assuntos.
A primeira reunião aconteceu de características formais. Pedi licença aos donos da casa, nossos anfitriões, para reunir todos na área e falar algo referente à noite das fogueiras. Lancei a pergunta, se alguém sabia dizer qual o significado daquelas fogueiras que eram feitas nessa data, qual a importância de João Batista. A resposta foi bem satisfatória, a respeito dos pais de João Batista que eram parentes dos pais de Jesus e portanto ambos eram primos e que a forma de comunicar o nascimento era com uma fogueira. Daí o costume que ficou. Em seguida li o capítulo nº 3 do livro “Jesus no lar” intitulado: “Explicações do Mestre.” Falava de uma noite em que Jesus conversando com os amigos na casa de Pedro, ouviu de Sara a seguinte pergunta: “A ideia do Reino de Deus em nossas vidas é realmente sublime, mas como iniciar-me nela? Sabemos que a Boa Nova aconselha acima de tudo o amor e o perdão. Eu desejaria ser fiel a semelhantes princípios, mas sinto-me presa a velhas normas. Não consigo desculpar os que me ofendem, não entendo uma vida em que troquemos nossas vantagens pelos interesses dos outros, sou apegada aos meus bens e ciumenta de tudo o que aceito como propriedade minha.”
Jesus ouvira com atenção a pergunta e a honestidade com a qual fora feita. Para bem explicar o que necessário se fazia, Ele usou a comparação com uma atitude doméstica, própria do lugar, que casou perfeitamente com a vida dos nossos anfitriões. Ele perguntou a Sara qual era a sua principal providência para colher o leite de suas cabras e o conservar de forma inalterada e pura para o benefício doméstico. Lancei a mesma pergunta aos meus anfitriões que responderam tal qual Sara: “Antes de qualquer providência é imprescindível lavar cautelosamente o vaso em que ele será depositado. Se qualquer detrito ficar no vaso, em breve todo o leite se toca de franco azedume e já não servirá para os serviços mais delicados.”
Então continuei a explanação que Jesus fez:
- Assim é a revelação celeste no coração humano. Se não purificarmos o vaso da alma, o conhecimento, não obstante superior, se confunde com as sujidades do nosso íntimo, como que se degenerando, reduzindo a proporção dos bens que poderíamos recolher. Em verdade, Moisés e os profetas foram valorosos portadores de mensagens divinas, mas os descendentes do povo escolhido não purificaram suficientemente o receptáculo vivo do Espírito para recebê-las. É por isso que os nossos contemporâneos são justos e injustos, crentes e incrédulos, bons e maus ao mesmo tempo. O leite puro dos esclarecimentos elevados penetra o coração como alimento novo, mas aí se mistura com a ferrugem do egoísmo velho. Do serviço renovador da alma restará, então, o vinagre da incompreensão, adiando o trabalho efetivo do Reino de Deus.
A assembleia tanto na casa de Pedro, quanto na casa de meus anfitriões incluindo eu, recebemos a lição sublime e singela, comovidamente, sem qualquer interferência verbal.
Procurei fazer com que cada um fizesse uma pequena reflexão da lição que ouvíramos e assim encerramos a reunião todos de mãos dadas e rezando o Pai Nosso, concluído com uma sessão de abraços entre todos.
Para concluir a noite com chave de ouro, sentei numa pequena roda de conversa que se formou ao lado da fogueira e falei do mundo espiritual, através de perguntas dirigidas para provocar a inteligência de cada um. Fiquei satisfeito, pois todos compreenderam que existe um mundo espiritual à nossa espera, quando o nosso tempo de existência aqui no mundo da matéria terminar e voltarmos a Pátria espiritual para a prestação de contas, do bem que praticamos e do mal que evitamos.
Neste dia é comemorado a cada ano o nascimento de João Batista, aquele que veio antes para anunciar a vinda do Mestre, Jesus. É feita uma fogueira em cada casa sintonizada com essa informação, pois foi assim que o nascimento de João foi sinalizado, acredito...
Nos dias atuais continuamos a acender as fogueiras acrescidas de diversas outras atividades associadas: comidas típicas, adivinhações, bandeirinhas, balões, danças, fogos e rojões.
Sei um pouco da vida desses personagens, dos seus propósitos, aceito Jesus como o meu Mestre e modelo na condução da minha vida; na viagem que fiz para o interior, casa de parentes, sabia que iria me defrontar com os meus objetivos espirituais e os desejos materiais, tendo ao redor uma plateia que, mesmo ignorando os meus objetivos espirituais, estariam todos influenciando de uma forma ou de outra, positiva ou negativamente.
Vou falar hoje da falta que cometi e em função disso recebi um “cartão amarelo”, que em futebol significa uma advertência, pois da próxima vez uma punição se fará sob o ato de infração.
A falta que cometi foi sobre o pecado da gula. Todas as pessoas que nos receberam se esmeraram em providenciar o melhor que podiam para nos atender. As aves eram os pratos especiais: guinés, galinhas caipiras e até marrecos, estavam a nossa disposição. Apesar de muita gente a comida era o suficiente. Mesmo eu procurando ser educado e não exagerar no meu prato, via que a comida estava ali à minha disposição e que todos já estavam entregando seus pratos satisfeitos. Mas a minha gula estava assanhada e meu espírito ficou hipnotizado, nem se preocupava com consequências, queria só atender o desejo do meu apetite. Finalmente foram limpas as panelas de guiné, de marreco, de galinha com minha forte contribuição.
Fomos para o hotel onde ficamos hospedados e voltamos a noite para o sítio, acender a fogueira e comer os pratos tradicionais de milho, canjica, pamonha, milho assado, milho cosido... não consegui comer mais nenhum caroço de milho, sentia que não existia espaço, além daquele necessário para água de matar a sede. Senti a falta dos fogos, das danças, das adivinhações ao redor da fogueira. Mas ao chegar no hotel foi que eu percebi o que estava reservado para mim. Tudo isso que eu senti falta no sítio iria encontrar no quarto do meu hotel. Primeiro a adivinhação, já quando eu ia chegando no hotel, eu já estava adivinhando que eu iria pagar alguma coisa pelo exagero, pelo pecado da gula que eu cometi. Ao entrar no banho percebi que meu estômago estava bem dilatado, não só pela quantidade de comida que ele recebeu, mas principalmente pela quantidade de gases que formou. Então começou o festival de fogos que eu fazia o máximo para abafar dentro do pequeno espaço do banheiro que logo era seguido pelo rojão do excesso de alimento que agora processado como se fosse num moinho saia na forma de traques, em jatos intermitentes. Quando me senti aliviado fui para a cama higienizado e perfumado pensando que iria dormir o sono dos justos. Mero engano, faltava a dança. Durante toda a noite eu repetia os passos que se tornaram bem cadenciados. Sentia os gases se formando e prestes a soltar os fogos, corria para o banheiro para ninguém os ouvir e também soltar os rojões que sabia que vinha os acompanhando. Logo em seguida ia para o chuveiro, novo banho, nova higienização e voltava para a cama limpo e perfumado. Em seguida nova formação de gases e tudo se repetia. Assim foi durante toda a noite... Ainda assim tenho a agradecer, pois não vinha acompanhado de cólicas, eu não sentia dores físicas, apenas as dores morais que agora compartilho com você, caro leitor, torcendo que você absorva o exemplo como lição para não repetir o mesmo erro frente as exigências da gula.
Estou em plena madrugada. Dentro em pouco o sol se levantará no horizonte e espantará as trevas que envolvem a terra. O silêncio que agora reina lá fora, onde apenas ouço o marulhar constante das ondas do mar, logo mais estará cheio de barulhos que sinalizará o vai-e-vem de tantos em busca do trabalho, da saúde física...
Com o primeiro clarão do dia, pegarei o carro e entrarei na estrada. Vou em atividade de lazer, mas aprendi com Madre Teresa que o bem não tira férias. Onde eu estiver devo fazer a vontade do senhor, ser a luz que Ele me deu para iluminar outros caminhos que não percebem o valor mundo espiritual, as vezes nem sabem que tem um Pai tão poderoso e tão bondoso.
Sei que hoje vou para essa viagem com mais consciência quanto esse dever filial. É a primeira vez que tenho tamanho objetivo em minha mente, de ver com pragmatismo tudo ao redor, em qualquer lugar que a viajem me leve, a oportunidade de ser a luz de Deus. Deverei ter o cuidado de não me tornar um fanático, de não trazer constrangimento e inconveniência para nenhum dos meus companheiros nessa viagem. Que seja alegre e divertida como foram todas as outras, somente que agora devem ser temperadas pelo sal da vida, que é o que nós, conhecedores da vontade de Deus representamos.
Fico a imaginar, pegar o carro e ganhar a estrada. Meu primeiro movimento será no sentido de admirar a obra de Deus nos reflexos exuberantes da Natureza. Sei por experiência anteriores, que a maior parte do tempo eu estarei ligado em outras coisas. Será o meu primeiro obstáculo, trazer à lembrança o interesse do Pai. Com qualquer pessoa que eu venha a conhecer, a interagir de alguma forma, verei se vem a lembrança esse compromisso com Deus.
Não posso deixar de lembrar também todos aqueles que não puderam vir comigo nessa viagem, por qualquer motivo que seja. Onde tiverem que também recebam a proteção do Pai da mesma forma que Ele está sempre a me proteger em qualquer rota que minha estrada de repente tome.