Foi no momento que escrevia o diário de ontem que percebi que não havia feito nenhuma oração, desde que sai de casa, de Natal para Fortaleza, não falei com o Pai durante qualquer oração, não procurei saber o que Ele tinha a me dizer durante qualquer meditação. Parei por um instante de digitar e fiz uma oração de agradecimento, por Ele ter nos conduzido em segurança e harmonia por todo o caminho até nos deixar em segurança no hotel que pretendíamos ficar com a Sua autorização.
Lembrei que, ao procurar o hotel, entrei sem querer dentro de uma caminhada que os cristãos de Fortaleza faziam até a Praia de Iracema. Cheguei perto de um rapaz e perguntei qual era o motivo da caminhada. Ele me disse que era uma caminhada de todos os cristãos, de qualquer tipo de igreja ou de denominações, e que iriam se concentrar na imagem de Iracema para fazer suas preleções. Fiquei encantado com a situação e me programei automaticamente para me unir a eles logo que repousasse um pouquinho na pousada, do cansaço da viagem. Nem consegui dizer aos meus companheiros desse meu objetivo, pois todos já estávamos combinados de irmos a referida praia e assistirmos aos shows de humor. Depois do banho fui para cama tirar um cochilo e só fui acordar as 22:30 horas, com todo mundo dormindo e na hora já perdida do encontro cristão e dos shows humorísticos.
Fiquei a meditar sobre essas ocorrências, da proteção que o Pai me dá e das falhas que eu apresento para Ele. Não penso assim como uma forma de me autoflagelar, pois o Pai sabe e eu também que esta falha específica foi devido ao cansaço do corpo e que eu não me preparei, física e psicologicamente para fazer o enfrentamento e ir encontrar os meus irmãos cristãos em suas preleções e até contribuir com as minhas, como testemunha do poder de Deus em nossas vidas. Depois que Deus preparou todo o cenário, organizou meus irmãos de Fortaleza em tão bela atividade, de ter me colocado dentro dela por Sua força de influência, de chegado à minha consciência da importância, tanto para mim como para meus irmãos, do meu testemunho, eu não compareci! Talvez tenha sido essa a principal tarefa que eu teria que fazer em Fortaleza, e eu falhei!
Agora estou aqui, ao pé da minha consciência, oferecendo ao Pai minhas desculpas, em dizer a Ele que eu não sou tão puro quanto Jesus, nem tão forte quanto Paulo em conduzir com toda a disciplina do corpo as minhas tarefas espirituais. Mas também ofereço a Ele a pureza das minhas mais nobres intenções de caminhar como eles, Jesus e Paulo, com a mesma disciplina no cumprimento da Vossa santa vontade.
Sinto que o Pai me perdoa mais uma vez, que também devo ter o meu auto perdão, mas com nova disposição de corrigir minhas falhas, mesmo que não seja de forma ampla e total, mas que observe algum grau de progresso nas minhas atitudes.
Como é importante quando estamos sentindo que temos a proteção de Deus! Desde que assumi a condição de filho de Deus, que Ele é meu Pai e que sempre está presente em minha vida, em todos os momentos, bons ou ruins, adquiri uma tal confiança que me deixa muito mais seguro quanto a qualquer surpresa que a vida possa me oferecer. Sei que ainda tenho minhas falhas, principalmente na minha forma de comunicação com o Pai e com os espíritos de luz que auxiliam o nosso processo evolutivo. Não consigo ainda praticar a oração com a regularidade que sua importância exige, faço com muita irregularidade e sem tanto empenho como é preciso. Mas sei que o Pai observa todos os meus passos, que sonda o meu coração e vê a honestidade de minhas intenções, nos meus sucessos e fracassos.
Na viagem que fizemos para Fortaleza esperava e sentia a todo o momento a proteção de Deus em nossos passos. A viagem transcorreu com segurança e harmonia. Até no pequeno detalhe da reserva de um hotel, senti também a sua participação na forma de coincidência. Fiz a reserva em Natal usando um cartão que eu pensava ser de um local que já havia me hospedado e que achamos muito bom. Quando chegamos ao local percebemos que não era o local que pretendíamos, mas que esse local não ficava longe dali, que mesmo sem o nome do local, telefone ou endereço, nós poderíamos o encontrar. Explicamos a situação ao rapaz que fez nossa reserva, deixamos os carros estacionados na frente e dissemos que iríamos procurar nas imediações o lugar que pretendíamos, caso contrário, voltaríamos e acertaríamos com ele.
Saímos a procurar esse lugar sem nenhum tipo de endereço, confiando apenas em nossa memória. Entramos e saímos de diversas ruas e sem sucesso. Já pensávamos em desistir quando me aproximei de um barzinho situado numa esquina que eu achava muito familiar. Ao chegar mais perto o portão da casa vizinha se abre e sai um rapaz que é bastante familiar para mim. Mas eu percebo que naquela casa não tem nenhuma indicação de ser um hotel ou pousada, mas tem o aspecto de coletividade e também me evoca grande familiaridade. Chego perto do rapaz e indago se esse prédio é residencial. Ele me informa que sim, mas que também aceita hospedes para temporadas. Foi aí que percebi, com a voz e a forma de tratar do rapaz, que ele era o mesmo que nos acolheu da vez que estivemos hospedados com ele. Ele também nos reconheceu e logo nos colocou em dois quartos bem higienizados e divididos onde nós ficamos hospedados com conforto, higiene e economia.
Agora, ao fazer este diário, vejo o quanto Deus tem influência em nossas vidas, principalmente na minha vida que está sintonizada com Ele. Qual foi a força que fez aquele rapaz, naquele exato momento no tempo, abrisse o portão do seu trabalho, sem que ninguém tivesse lhe chamando e que tivesse se colocado à disposição para minhas indagações? Sei que muita gente vai justificar o fato pelo acaso, pela coincidência, mas sei que para isso acontecer existe uma probabilidade e que não é muito grande. Então para mim é mais confortável e até mais racional, que é a proteção do Pai se expressando em minha vida em atos tão simples e ao mesmo tão importantes.
Obrigado, Pai!
Estava lendo um texto que falava da maravilha que foi a transformação que ocorreu na vida de Saulo, especialmente em seus relacionamentos. Ele se tornou mais reverente a Deus. Como fariseu ele devia ter orado muitas outras vezes, ou pelo menos lido algumas orações, publicamente ou quando estava sozinho. Agora ele podia desfrutar de um novo acesso a Deus através de Cristo e de uma nova paternidade de Deus quando ele testemunhou em seu espírito que era filho de Deus: o leão feroz se transformou em um manso cordeiro.
O relacionamento de Paulo com a igreja mudou completamente. O arqui-inimigo da igreja foi recebido como irmão. Foi batizado, Paulo, na comunidade cristã. O novo Paulo tinha agora um novo paradigma, uma nova responsabilidade com as pessoas. Jesus lhe havia dito que ele precisava dar testemunho de tudo que havia visto e ouvido. Foi confirmado como apóstolo dos gentios.
Sofri também uma profunda conversão de paradigma na minha vida. Antes eu pensava e defendia a estrutura do casamento, e suas características românticas e exclusivistas. Casei com essa perspectiva e vivi durante algum tempo com esse mesmo paradigma. Mas, sofrendo a pressão dos instintos e o senso de justiça, fui lentamente ao longo do tempo reformulando o pensamento. Hoje entendo que a união entre duas pessoas não pode levar ao exclusivismo de outras; que o amor que é dado a uma pessoa, não possa também ser dado a outras; que a minha relação e obediência a Deus não estaria restrito a preconceitos e dogmas escritos e sim a essência do espírito de Deus e que Ele manifesta Sua vontade no palco da minha consciência.
A partir daí fiquei mais reverente a Deus, apesar do meu comportamento a primeira vista não obedecer ao que está escrito nos livros sagrados, sigo com maior fidedignidade ao espírito da letra. Assumindo a conversão ao novo paradigma, sofro da mesma forma que Paulo, as consequências dentro dos meus relacionamentos. Em um momento sou amado e cultuado, em outro sou odiado e despejado. Mas, assim como Paulo recebo tudo isso que Ele colocou na minha mente como a missão que Ele quer que eu desenvolva, o caminho que Ele quer que eu trilhe, que apesar de ter bastante flores, também tem os seus espinhos. Peço apenas a Deus com humildade, força e resistência para aqueles que decidem caminhar pelo mesmo destino, sem jamais perder a capacidade de receber e doar amor.
Hoje foi o aniversário da minha irmã, completou 54 anos, se não me engano. Fizemos uma reunião com 22 pessoas para ler uma passagem da vida de Jesus e fazer uma reflexão. Jesus sempre se reunia na casa de Pedro à noite, com os amigos, depois de suas tarefas diurnas. Nessa noite Jesus foi interpelado pela sogra de Pedro que perguntava o que viria a ser a vida no lar. Ela se queixava de que iniciava uma tarefa entre flores para encontrar depois pesada colheita de espinhos. No começo era a promessa de paz e compreensão, mas logo surgem as pedras, dissabores...
Jesus observou que a sogra do seu primeiro discípulo estava emocionada até as lágrimas e deu pressa em responder. “O lar é a escola das almas, o templo onde a sabedoria divina nos habilita, pouco a pouco, ao grande entendimento da humanidade.”
Aproveitou o Mestre a ocasião para dar um exemplo prático como Ele sempre gostava de fazer. Perguntou então a senhora, o que ela fazia com as lentilhas ou com os feijões, antes de servi-las à refeição. Ela respondeu, meio escabreada com tão obvia resposta: “naturalmente, Senhor, eu os levo ao fogo para que sejam cosidos. Depois devo temperá-las tornando-os agradáveis ao sabor.”
Então Jesus explicou onde queria chegar: “Há também um banquete festivo na vida celestial, onde nossos sentimentos devem servir à glória do Pai. O lar, na maioria das vezes, é o forno preparador. O que nos parece aflição ou sofrimento dentro dele é recurso espiritual. O coração acordado para a vontade do Senhor retira as mais luminosas bênçãos de suas lutas renovadoras, porque somente aí, de encontro uns com os outros, examinando aspirações e tendências que não são nossas, observando defeitos alheios e suportando-os, aprendemos a desfazer as próprias imperfeições. Nunca notou a rapidez da existência de um homem? A vida carnal é idêntica à flor da erva. Pela manhã emite perfume; à noite, desaparece... O lar é um curso ligeiro para a fraternidade que desfrutaremos na vida eterna. Sofrimentos e conflitos naturais, em seu círculo, são lições.”
A sogra de Simão escutou, atenciosa, e ponderou: “Senhor, há criaturas, porém, que lutam e sofrem; no entanto jamais aprendem.
O Cristo pousou na interlocutora os olhos muito lúcidos e tornou a indagar: “Que fazes das lentilhas e feijões que não cedem à ação do fogo?”
Ela respondeu de imediato: “Ah! Sem dúvida, atiro-as ao monturo, porque feririam a boca do comensal descuidado e confiante.”
Então o Mestre concluiu a lição da noite da seguinte forma: “Ocorre o mesmo com a alma rebelde às sugestões edificantes do lar. A luta comum mantém a fervura benéfica; todavia, quando chega a morte, a grande selecionadora do alimento espiritual para os celeiros do nosso Pai, os corações que não cederam ao calor santificante, mantendo-se na mesma dureza, dentro da qual foram conduzidos ao forno bendito da carne, serão lançados fora, a fim de permanecerem, por tempo indeterminado, na condição de adubo, entre os detritos da Natureza.”
Que magnífica lição! Compreendemos assim que todos os conflitos que existem em nosso lar, têm uma função educativa para nossos próprios espíritos. E que aquelas pessoas que não se tornam amaciados pelo calor do forno, devem ser lançados fora para não atrapalhar a delícia do banquete.
Esse aspecto do meu paradigma de vida, confiar em Deus, foi uma conquista lenta que ainda está em processamento acredito. Lembro desde a minha infância quando eu tinha uma participação ativa dentro da igreja católica, era escoteiro sob a orientação do padre de minha comunidade, estudava no colégio sob a sua direção, auxiliava na missa e nas procissões, e fazia minhas confissões e orações regularmente. Adquiri o hábito que se arrasta até hoje de forma condicionada, de rezar a Ave Maria sempre que vejo no céu a Estrela D’Alva. Desde essa época Deus estava presente na minha consciência, mas era representado como um velhinho de barbas brancas que estava sempre a me vigiar, que eu devia mais temer do que confiar. Toda minha relação com Ele era baseada nos rituais que eu deveria observar, nas orações decoradas que eu devia aprender e executar diariamente sob a vigilância da minha avó, nas confissões ao pé do padre para me sentir aliviado dos erros que eu praticava. E Deus sempre era o proprietário severo da minha vida, sempre pronto a me castigar por minhas peraltices, mesmo que mais ninguém soubesse.
Com o passar do tempo eu fui adquirindo uma razão critica por tudo ao meu redor, inclusive a concepção que eu tinha de Deus, até mesmo duvidava da Sua existência. Passei a desenvolver o meu ego e com ele eu entrei no centro de meus interesses. Tudo que era observado ou que eu sentisse era considerado como uma forma de crescimento dentro da minha evolução pessoal. Passei a desenvolver controles racionais para executar com pragmatismo os recursos que surgiam à minha frente. Queria que as coisas fossem feitas de um jeito que me trouxessem conforto. Foi o momento que eu mais fiquei afastado de Deus! Perambulei por várias igrejas procurando encontrar o Deus que eu tinha necessidade. Apesar da dúvida eu intuía que Ele existia e que eu o encontraria em algum lugar. Cheguei a me sentir ateu, de que não existia Deus nenhum a não ser no imaginário humano. Mas sempre a dúvida vinha atormentar a minha consciência: e se Ele existisse? Aprofundei, paralelamente à minha vida acadêmica, os estudos nos livros espiritualistas de quaisquer religiões. Lentamente a ideia de Deus foi adquirindo um novo formato na minha consciência. Não era mais o velhinho de barbas brancas, e sim a inteligência suprema do Universo e que faz tudo funcionar com a energia da Sua essência que podemos sentir como Amor Incondicional. O meu racional não tinha como colocar dúvidas sobre a realidade dessa hipótese, pois o fato da Natureza estava presente no cotidiano de minha existência, inclusive a minha própria vida. Passei a me considerar uma das Suas criaturas, criado por ato de amor e pelo amor me desenvolvo na trilha da evolução que Ele me colocou.
Hoje tenho uma consciência bem mais clara da Sua existência e da minha, da dEle enquanto Criador, da minha enquanto criatura. E entre nós e em tudo que existe, a força do amor a promover a evolução. Sei que Ele colocou em minha consciência um projeto de acordo com Sua vontade e que Ele me auxilia nesse processo, pois sabe que estou dentro de um corpo biológico cheio de energias instintivas de sobrevivência e reprodução, que podem turvar minha consciência. Posso perder minhas forças espirituais e me deixar influenciar, no gozo ou no sofrimento, por essas forças materiais, instintivas e mundanas. Mas agora eu confio plenamente em Deus, essência do Amor Incondicional, que está sempre ao meu lado para me proteger e amparar. Mesmo que em alguns momentos surja a melancolia em minha alma, ela não me dominará, consigo transformar as lágrimas de tristeza em belas poesias e baladas para louvar a Natureza e ao Senhor da vida, e assim como Francisco de Assis, ser um constante jogral de Deus.