Estava na rodoviária quando passa por mim uma moça de capacete na mão. Senti uma simpatia automática por ela, trocamos olhares rápidos e ela subiu para o 1º andar onde estava havendo almoço com música ao vivo. Depois ela desceu e novamente fiz questão de olhar para ela com mais atenção, mas ela passou por mim sem notar a minha presença. Notei que ela era formosa, uma beleza trigueira, sem exageros, vestia uma bermuda curta, sensual, que destacava suas curvas vitalizadas pela juventude. Fiquei torcendo que ela voltasse pelo meu espaço mais uma vez. Como se atendesse ao meu pedido silencioso, ela surge mais uma vez e agora seguida por um homem da minha idade aproximada, o dobro da sua, que poderia ser o seu pai. Subiram para o 1º andar onde as músicas românticas, sertanejas de tonalidade brega se sucediam, acompanhadas do som do violão e do burburinho das pessoas que se encontravam por lá. Ela subiu com alegria no rosto e o meu olhar a acompanhou, sedento de receber um sorriso de sua parte. Mas ela novamente não deu nenhum sinal que notara a minha presença. Torci para que ela descesse mais uma vez e dessa vez notasse a minha existência. Enquanto isso a música prosseguia lá por cima:
...Eu tive um amor
Amor tão bonito
Aquele que nasce
Com sabor de saudade
Meu ex-amor
Tem coisas que a gente não esquece...
E aconteceu! Ela desceu mais uma vez e dessa vez acompanhada por um rapaz da sua idade com o qual conversava animadamente. Mais uma vez não deu a mínima atenção ao meu olhar que perseguia os seus movimentos, seu jeito de falar, de rir, o seu humor.
Fiquei a refletir sobre isso. A importância da simpatia para iniciar um novo relacionamento. Se as condições fosse m favoráveis, poderia acontecer: uma idade mais aproximada; a atenção dela ter sido despertada por uma simpatia recíproca comigo; um motivo externo párea o contato apesar de nós sermos desconhecidos; um caráter mais ostensivo da minha personalidade e tomar a iniciativa do contato... ultrapassado a barreira do primeiro contato, ainda viria a história e perspectivas de vida de cada, a compatibilidade e a sintonia para que o primeiro contato se transformasse num relacionamento. Daí a relação seria construída ou desconstruída de acordo com as coerências e incoerências que cada um tivesse no cotidiano da vida.
Mas o meu ônibus chegou e eu tinha que embarcar...
Estava dirigindo meu carro numa estrada conhecida. De repente em uma subida, tudo parece muito estranho, não reconheço o caminho. Diminuo a velocidade do carro e tento forçar a memória para fazer o reconhecimento do meu destino. O carro continua a subir e eu continuo confuso sem saber onde estou. Numa curva sinto que o carro se dirige perigosamente para o precipício, mas não consigo desviar. Sei que a queda é fatal, é preciso frear o carro e evitar o desastre, mas não consigo. O carro desaba no abismo e enquanto espero o choque fatal, explosão e morte, vem na minha mente tudo o que eu poderia ter feito de certo, o que fiz de errado, até mesmo evitar esta queda que estava acontecendo. Antes do choque, acordei!
Interpreto tudo isso como reflexos intuitivos que emergem do meu inconsciente para sinalizar prováveis eventos futuros. Foi assim que aconteceu num sonho que tive antes, onde o mundo que eu vivia desabava, as estrelas caiam e eu me sentia perdido no Universo. Na mesma semana a minha mulher, em reação ao meu comportamento, me expulsa de casa de forma definitiva.
Neste sonho de hoje, imagino que a estrada ascendente em que eu viajava é o caminho espiritual que eu procuro seguir de acordo com as instruções do Mestre Jesus e demais seres iluminados do seu nível. A estranheza é que não consigo prever o que vai acontecer, nem mesmo a curto e médio prazo, a estrada fica confusa. Sei que ela me traz perigos sociais já que caminho contra a cultura estabelecida. Posso ser vítima de reações por demais fortes que levariam a minha destruição acadêmica, social, financeira, religiosa... Os paradigmas de uma família ampliada em contraponto à família nuclear, deve ser o estopim dessas ameaças ou transformações como aconteceu no sonho anterior. Só espero que eu adquira a sabedoria para reconhecer a estrada por onde caminho, que se eu acabe caindo no abismo da intolerância ou da incompreensão, que não seja por desorientação. Serve de consolo e esperança para mim, que acordei com o Evangelho de Tomé e a Biografia de São Francisco ao meu lado. Acredito que eles estejam perto de mim para ajudar nessa compreensão da vida, reforçar minhas boas intenções relacionadas com a verdade e coragem para a sua aplicação.
Em toda família existe a hierarquia natural da idade, do mais novo para o mais velho. Atualmente, com a morte da minha mãe, já que fui o seu primogênito, assumi a condição de mais velho. Sempre procurei reunir a família e discutirmos juntos aspectos da vida e devido a esse fato de ser o mais velho, existe uma aura de respeito às minhas palavras. Considerava isso natural, mas sem qualquer tipo de obrigatoriedade. Mas lendo um dos capítulos do Baghavad Gita, descobri que é obrigação do membro mais velho da família reunir seus integrantes e passar para todos a sabedoria da vida. Então aquilo que eu fazia sem qualquer compromisso, passei a considerar da minha responsabilidade. E mais ainda, como sei que a vida é efêmera, logo mais não estarei neste mundo material e outro elemento da família atingirá a posição do mais velho. É importante que ele tenha essa consciência, essa responsabilidade e continue a instruir os membros da família com as verdades da vida. Os livros religiosos nos dão grande ajuda nesse sentido, afinal foi através de um deles que atingi essa consciência. Não quero direcionar religião para ninguém, acredito que cada um tenha um perfil psicológico diferente e portanto deve procurar nas diversas religiões aquela que melhor se adéqüe ao seu perfil. Pode até que não encontre nenhuma, mas espero que considere a existência do Pai extra-fisíco, que não pense que é um órfão dentro do macrocosmo da Natureza, pois sei que será um grande prejuízo que ele terá. Mas enfim, prejuízo será dele e continuará a cumprir o seu papel de membro mais velho se procurar divulgar a verdade e respeitar a vontade de cada um no caminho espiritual que queira seguir. Afinal, a verdade nunca pode estar errada!
Todos possuímos uma luz interna que é a fagulha do Criador dentro de nós. Pode ser que nunca a percebamos e morramos como um animal que é nossa característica material. Porém chega um momento que uma força interior começa a atingir nossa consciência e, apesar de todo o condicionamento material que possa ter sido incutido em nossa mente, passamos a procurar algo mais para nos deixar confortáveis perante a vida. Depois de muito procurar esse “que” longe de nós e não encontrarmos, passamos a conhecer os livros divinos, a filosofia universal, e passarmos a dirigir a nossa atenção para o nosso interior. Essa foi também aminha trajetória. Depois de certo tempo de tanto adquirir conhecimentos e nunca chegar a me sentir pelo menos caminhando em direção a algum objetivo, passei a considerar a procura dentro de mim. Foi ai que encontrei o meu foco. De repente todo o meu conhecimento teórico, a minha experiência prática, passou a fazer um sentido lógico. Reconheci a existência de um Pai extra-físico e que, como criador de todo o Universo e estrategista da evolução, percebi na consciência uma compreensão perfeita do que eu teria de fazer para me encaixar nessa Natureza da qual sou uma partícula insignificante, mas de grande responsabilidade nesse projeto evolutivo, pois possuo a inteligência privilegiado capaz de altos alcances cognitivos. Então a minha caminhada adquiriu a orientação para dentro de mim mesmo e em decorrência disso influir ao meu redor da maneira que o Criador deseja. A cada dia reconheço um melhor conhecimento da minha missão e dos obstáculos que tenho para sua realização. Sei que ainda não sou completamente o que sou, mas desejo com todas as forças atingir o meu potencial. Peço ao Pai todo momento, que Ele me dê forças para eu dirigir a minha consciência a mim mesmo e fazer o caminhar espalhando o amor que vou acumulando com essas descobertas.
Não somos perfeitos e portanto sujeitos a erros e falhas. Alguns desses estão dentro de nossa personalidade, do caráter, e dessa forma de difícil reabilitação. Porém se tomamos conhecimento dessa situação, e queremos modificar aquilo que está errado em nós, não devemos nos intimidar por concluirmos que é difícil essa tarefa. É difícil, mas não impossível. O nosso principal aliado nesse projeto é a tenacidade, a perseverança. Os erros irão surgir, mesmo nós sabendo deles e querendo os evitar. Algo dentro de nós força o nosso comportamento a agir contra a nossa vontade. Parece paradoxal, a vontade ser vencida por algum elemento que faz o corpo agir sem nós o querermos. É o que Paulo deixou escrito na Bíblia, em momentos de angústia: “Por que eu faço o que não quero e o que quero deixo de fazer?”, mais ou menos assim. Pois é isso que observamos constantemente em nosso comportamento. É isso que observo constantemente em meu comportamento. Quero trabalhar na seara do Senhor, construir o seu Reino aqui na terra assim como Ele colocou esta ordem na minha consciência. Sei os passos que devo dar para fazer isso acontecer. Mas fico a procrastinar dia após dia o que tenho de fazer. A cada dia constitui uma batalha perdida. O que me salva é a perseverança. Todo o dia amanheço com a firme intenção de fazer o necessário. Também sei que apesar dessa visão negativista que coloco aqui, também percebo que a derrota não é tão completa assim. Todo dia reconheço que algum palmo de terreno conquistei. Poderia ser mais rápido nesse meu trabalho, mas acredito que esteja atingindo os meus limites e para avançar mais ainda no trabalho eu tenho que ampliar ainda mais esses limites, e isso mexe com toda a estrutura da personalidade, do caráter. Assim vou me transformando num novo homem, aquele que eu quero ser, que obedece a ordem do Criador. Agradeço a perseverança que tem sido minha fiel aliada.