Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LIX
DEZ DE MAIO DE 1941
Hess atravessa a Alemanha e o Mar do Norte rumo à Escócia. Ele entra no espaço aéreo inimigo e chega ao seu destino, no sul de Glasgow. Mas com pouca luz, ele não consegue ver onde pousar. Decide que não há alternativa. Precisa pular.
É algo extraordinário. Ele nunca havia pulado de paraquedas. O vice do Führer do Partido Nazista em uma missão solo em um Messerschmitt 110 voando sobre a Escócia para um lugar que não conhecia e pulando de paraquedas pela primeira vez na vida.
A coisa toda, não tem como ser inventada. Apesar de todos os perigos, Hess aterrissou em segurança. Foi praticamente um milagre ele ter conseguido isso. Quando aterrissou, deve ter pensado que sobreviveu a um voo e a um épico pulo de paraquedas e ainda estava vivo. Talvez fosse o destino fazendo dar certo.
Ao ouvir o avião cair, um fazendeiro vai investigar. Ele dá de cara com o vice do Führer. “Sou alemão”, o intruso anuncia. “E tenho uma mensagem importante para o duque de Hamilton.” O guarda local chega à cena. A partir daí tudo fica muito ridículo. O que houve depois parece saído de uma comédia britânica antiga. O fazendeiro o leva a casa dele e lhe dá uma xícara de chá aos moldes britânicos. Pensou ele, “é assim que fazemos na Grã-Bretanha, oferecemos chá, mesmo para o alto escalão nazista.”
Mas a recepção calorosa não dura muito. Depois ele é levado a um quartel onde é mantido e aí o problema começa. O prisioneiro é identificado como o vice do líder inimigo. Não era a recepção que ele esperava.
Hess tem a ilusão de enxergar o sistema político britânico com uma mentalidade quase feudal, um sistema em que duques e barões ainda têm muita influência política. Mas não tem. Ele acredita que será levado em um carro especial para jantar com Winston Churchill, e que terão conversa de alto nível. É muito diferente na prática e isso mostra o quanto Hess estava desconectado da realidade.
No mesmo fim de semana, Adolf Hitler está relaxando em seu retiro na Baviera, o Berghof. No domingo cedo, quase na mesma hora em que Hess é identificado na Escócia, seu secretário chega com uma carta importante para o Führer. “Mein Führer, quando receber esta carta, estarei na Inglaterra. A decisão de dar esse passo não foi fácil para mim.”
Hess diz que fez isso para o bem do seu querido Führer e da Alemanha. “A guerra com a Inglaterra não serve ao nosso interesse, precisamos de paz.”
“E se, mein Führer, este projeto, que admito ter poucas chances de sucesso, fracassar, e o destino ficar contra mim, isso não deve prejudicar você ou a Alemanha. Você pode negar toda a responsabilidade. Apenas diga que estou louco.
No alto da montanha em Obersalzberg, um turbilhão acontecia. No centro dele, estava Hitler, possesso de raiva por seu colega mais confiável e leal de tantos anos ter pegado um avião durante a noite e voado sem lhe dizer nada.
Os membros principais do partido são convocados. Bormann não tem resposta para as furiosas perguntas de Hitler. Como Hess poderia ter voado sem ninguém saber? Por que ninguém o deteve? Ele fica em posição delicada por ainda ser o vice de Hess. Ele ficará prejudicado por associação com o traidor? O maníaco por controle perdeu o controle. O que acontecerá agora? No círculo íntimo, todos se perguntavam como isso seria apresentado ao público. Martin Bormann contatou Joseph Goebbels, que respondeu que há situações em que a propaganda não tinha a resposta, e aquele era o caso. Rudolf Hess perdeu a noção.
Em seu diário, Goebbels define o clima no círculo íntimo: “A situação toda está confusa, é um golpe duro e quase insuportável. O Führer está abalado. Que imagem pública! O vice do Führer, um homem mentalmente perturbado. Terrível e impensável. Agora vamos ter de lidar com isso.”
Goebbels faz o que Hess sugeriu. Suas estações de rádio noticiam que Hess estava louco. Uma carta que ele deixou demonstra, em sua confusão, a prova do distúrbio mental, o que nos leva a temer que o membro do partido Hess foi vítima de um devaneio.
A transmissão sugere que o vice do Führer deve ter caído com o avião e sofrido um acidente. E isso, até onde o atordoado grupo de Hitler sabe, é o fim do assunto.
Hess torna-se assunto proibido, não deve ser mais mencionado em público. Mas uma pergunta inquietante fica na mente de muitos alemães, uma voz que ninguém ousa falar em voz alta. Se Hess estava louco, por que ainda era o vice do Führer?
Quatro horas após o boletim na rádio alemã, a BBC transmite um anúncio chocante. Eis as notícias de Londres. Rudolf Hess, vice de Hitler, voou da Alemanha e aterrissou na Escócia de paraquedas.
Os noticiários se regozijam com a bizarra reviravolta. A chegada inesperada de Hess na Escócia é um momento de diversão nos dias sombrios da Blitz.
O nome dele á David McClean. Ele trabalha em uma fazenda em Glasgow. Ele viu Rudolf Hess descendo de paraquedas à noite. Os ingleses tratam como se fosse uma piada. “Eu fui à fazenda e a única arma que achei foi um forcado.” Dizia o fazendeiro na televisão. Como assim? Não pode ser verdade. “Ele não quis beber chá, só água.” Continua o divertimento. Churchill nem dá importância. A imprensa britânica trata como uma grande piada: “Hess foge de Hitler.” O que está acontecendo?
Rudolf Hess pensou que seria convidado a tomar chá com Churchill, mas, em vez disso, foi levado à Torre de Londres. Diz aos interrogadores: “A ação mais inteligente seria a Grã-Bretanha aproveitar a chance de obter paz com Hitler e formar uma aliança contra a Rússia Soviética. E se o rei e o país permitirem que a Alemanha nazista reine livre na Europa continental, a Grã-Bretanha será poupada.”
Os interrogadores não sabem se Hess está iludido ou louco. E sua chegada na Grã-Bretanha coincidiu com um dos piores ataques aéreos da Blitz, em que 1.200 pessoas morreram. Winston Churchill não está em clima de paz. A situação toda foi uma verdadeira catástrofe em todos os sentidos para Hess, para Hitler, Goebbels e todos da Alemanha nazista.
Dentro de toda essa bizarrice, Hess não se dá conta do ridículo de suas ações. Fica atarantado por não está acontecendo o que esperava. Essa situação provocada por Hess, serve de piada na Inglaterra e constrangimento na Alemanha. Deveria ser mais um sinal para a população alemã, um atentado contra seu líder em um momento e no outro a fuga do seu líder para o principal país inimigo. Mas a cobertura implacável dos meios de comunicação mentirosos de Goebbels, não dá chance de reflexão para a população.
Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LIX
Quase três semanas após a rendição da França, a Luftwaffe de Göring lança um ataque sobre a Inglaterra, um prelúdio da invasão.
A batalha da Grã-Bretanha está próxima, mas ela causará uma virada no rumo da guerra. A batalha é travada acima das nuvens, mas é assim que termina.
Contrariando as expectativas, a Força Aérea Real resiste. E a Blitz, o bombardeio intensivo de cidades e indústrias em todo o país, não enfraquece a determinação britânica. Pela primeira vez, a máquina de guerra nazista não parece tão invencível. E isso revela uma grande falha de Göring, pois embora seja herói de guerra, ele nunca fez Escola de Comando e não sabe o que está fazendo militarmente como comandante da Luftwaffe.
O fracasso de Göring em derrotar a Inglaterra pelo ar força uma pausa na invasão planejada. A reputação do comandante da Luftwaffe está bem manchada. A estrela dele pode estar se apagando.
Mas enquanto isso, Hess encontra nova determinação. Ele começa a bolar um plano secreto, uma chance de se redimir, com a ajuda de uma habilidade que aprendeu há muitos anos. Ele é um piloto experiente. Ele voou biplanos na Primeira Guerra Mundial. Agora, ele se familiariza com o protótipo do mais recente Messerschmitt, voando nele com o pretexto de testar a sua capacidade.
O 110 é geralmente ocupado por dois pilotos, mas Hess o modificou para voar sozinho. E colocou tanques extras de combustível para aumentar o alcance. Hess sabe que Hitler está se preparando para invadir a Rússia. E reconhece que a Alemanha não pode lutar uma guerra longa em duas frentes. Seu plano bizarro é agir pelas costas do Führer, voar até a Grã-Bretanha e se encontrar com um contato influente, que ele espera que o apresente a Winston Churchill. Seu objetivo era persuadir os britânicos a pedirem paz. Ele sabia que se conseguisse fazer a paz com a Inglaterra, isso agradaria a Hitler. “Pronto, Führer, consegui a paz com a Grã-Bretanha.” Pensava ele, e que isso significaria que ele imediatamente voltaria ao círculo íntimo.
AGOSTO DE 1936 – BERLIM
O intermediário que Hess espera ter é alguém que ele conheceu cinco anos antes durante os jogos olímpicos na Alemanha. Nos bastidores, os líderes nazistas davam festas extravagantes a dignatários estrangeiros, e foi quando Hess provavelmente foi apresentado a um conhecido aristocrata escocês.
Parece que foi um desses banquetes que ele conheceu o duque de Hamilton, e eles criaram uma conexão que Hess viria a usar no futuro. Como Hess, o duque de Hamilton era um ótimo piloto. Na verdade, tornou-se um herói no mundo da aviação após ser a primeira pessoa a voar um biplano sobre o Monte Everest. Para Hess, esse arrojado aventureiro com título elegante deveria estar no centro do sistema britânico. Era alguém bem conectado, provavelmente relacionado à realeza, e que poderia ter ligação direta com a liderança britânica. Agora, cinco anos depois, Hess planeja reavivar essa conexão. Ele voará até o duque de Hamilton, na Escócia, e lhe pedirá para ser apresentado a Churchill.
Então, encorajado por essas ideias de destino, Nostradamus e astrologia, Hess decide que tem uma última jogada a fazer, e se a fizer certo, terá a gratidão eterna não só de seu querido Führer, mas também do povo alemão.
No começo de maio, Hess visita o Führer na Chancelaria do Reich. Foi a última reunião deles. Hess nunca contou o que foi falado naquele dia, dando origem a uma teoria da conspiração de que Hitler talvez soubesse do plano. Mas isso seria verdade? Não há provas de que Hitler sabia do plano de Hess. Todas as provas existentes são de que Hitler ficou surpreso com tudo, então, está claro que Hitler não sabia que Hess planejava voar até a Escócia para tentar negociar a paz com a Inglaterra.
Seis dias após essa reunião, dá-se início ao episódio mais bizarro da Segunda Guerra Mundial. Rudolf Hess explica suas intenções a Hitler em uma carta. Ele sai de casa e diz a esposa Ilse que voltará em alguns dias.
Em 10 de maio, Hess faz sua última jogada. É o lance de um homem desesperado. Hess dirige até o aeródromo. Ele pede a seu secretário para entregar a carta nas mãos de Hitler no dia seguinte. Agora não tem mais volta.
A mente de Hess procura uma saída. Ele sabe que está dentro de um ninho de víboras e ele não tem tanta peçonha assim. Elaborou um plano baseado em perspectivas do passado
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LVIII
NOVE DE ABRIL DE 1940
Primavera de 1940, a Luftwaffe de Göring lidera o caminho enquanto Hitler realiza a próxima fase de seu plano para conquistar a Europa. Primeiro, tropas alemãs ocupam a Dinamarca e a Noruega. Depois, uma grande invasão força caminho através de Luxemburgo, Países Baixos, Bélgica e vence a França em seis semanas.
As forças britânicas no norte da França estão chocadas com a rapidez da Blitzkrieg alemã. Eles são encurralados na costa e evacuam nas praias de Dunquerque.
Göring acredita que possa derrotar a Grã-Bretanha quando for a hora certa. Em dois meses, a situação da Alemanha na Europa se transformou. E a situação para Hitler e seu grupo também se transformará.
A conquista da França é o marco máximo de sucesso militar do Terceiro Reich. Hitler está triunfante. Essa vitória era sua ambição de vida e a vingança pela derrota humilhante na Primeira Guerra Mundial.
Göring deleita-se com o sucesso do Führer. Para ele, a queda da França significava que ele havia alcançado o auge da sua carreira. Ele ainda mantinha sua posição no topo da pirâmide.
Recém-promovido a Reichsmarschall, a patente militar mais superior, Göring vai a Paris, ao Louvre, e pega espólios de guerra. Hermann, ou um dos seus compradores, olhava todas as coisas e dizia: “Certo, coloque em um trem para a Alemanha.” Era roubo por atacado, basicamente.
A escala total da pilhagem de Göring só será revelada no final da guerra quando seus tesouros escondidos na Alemanha são descobertos pelos aliados.
Os favoritos do círculo, Bormann e Goebbels, também estão em Paris, aproveitando o sucesso do Führer. Goebbels providencia a melhor foto de propaganda do herói conquistador. Mas há um líder fora da festa em Paris. O vice do Führer.
Isso indica que a influência de Hess está em queda. Ele não tem mais o acesso que tinha a Hitler. Outras pessoas que são mais espertas, maquiavélicas e das quais Hitler gosta mais, estão se aproximando dele.
Um dos quais que está constantemente ao lado de Hitler é Albert Speer, que antigamente era da equipe de Hess, mas agora é o arquiteto do Reich. Ele assume aos poucos o papel de confidente de Hitler, e seu diário registra a queda de Hess: “Hitler me disse, após uma conversa de hora com Hess: ‘Com Hess, toda conversa se torna um tormento insuportável. Ele sempre trata de assuntos desagradáveis e não vai embora.’”
Então, há provas por parte de um acólito próximo a Hitler de que Hess está sendo... como pode ser dito? Numa expressão vulgar: “Está sendo um pé no saco.” Isso era verdade no caso de Hess e revela que ele estava dando trabalho.
Excluído do círculo íntimo, a pressão está afetando Hess, e os outros viam isso. Göring fofoca que o vice do Führer usa poderes psíquicos para adivinhar se uma carta traz boas ou más notícias. E Hitler não o leva mais a sério, dizendo: “Espero que ele nunca assuma me lugar. Não sei de quem eu mais sentiria pena, de Hess ou do partido.”
A guerra mundial travada é o que interessa a Hitler no momento. Ele não está interessado nas ansiedades de Hess sobre rivalidades no partido.
Surge outra faceta comportamental associada aos participantes do mal: a pilhagem. O roubo que Göring realizou nas obras de arte da França é um bom exemplo disso. E mostra o paralelismo que existe no comportamento de Lula ao deixar o Palácio da Alvorada: fazendo a pilhagem do que encontrava e que só foi denunciado com a entrada de nova gestão. Enfim, são esses comportamentos deletérios que tais agentes públicos fazem acontecer sobre nossos recursos, que devemos nos precaver. E o primeiro sinal de perigo de que o mal pode estar se instalando, é a mentira. Por isso não podemos ser complacentes ou displicentes com a mentira. Se a identificarmos a qualquer momento ou local, de imediato devemos repudiar e nos afastar dela.
Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LVII
OITO DE NOVEMBRO DE 1939 – MUNIQUE
No outono de 1939, o círculo íntimo se reúne em Munique para comemorar o golpe fracassado de 1923. Como sempre, Hitler discursará na cervejaria Bürgerbräukeller, onde tudo começou. Ele pretende ir de avião a Berlim à noite. Mas por causa da neblina na capital da Baviera, seus planos são alterados. Seu piloto, Hans Bauer, diz que ele não pode voar. Então ele decide ir de trem, e seu discurso na cervejaria teria de ser mais curto. Hitler sairia mais cedo da cervejaria.
Um fotógrafo está presente quando Hitler adianta o seu discurso. O Führer sai do local assim que termina. Exatamente 13 minutos depois explode uma bomba que foi colocada bem atrás de onde Hitler estaria. Oito pessoas morrem e muitas ficam feridas.
A bomba destrói um pilar principal. Todo o teto desaba. O local fica destruído. Vira um caos. Se ele não tivesse saído 13 minutos antes do planejado, certamente teria morrido. A vida de Hitler foi salva em 1939 por causa do mau tempo. É um daqueles incríveis “e se”, e é assombroso que pouco se sabe disso hoje em dia.
Cada um dos capangas tenta se beneficiar com a tentativa fracassada de assassinato e a usa para obter favorecimento com o Führer. Hess realiza uma cerimônia elaborada para homenagear os “mártires de sangue” e, claro, para louvar o milagroso salvamento do Führer. É uma forma de ele dizer: “Veja, ainda estou aqui. Ainda amo o Führer. Quero voltar ao círculo íntimo.” É um momento meio sinistro de desespero.
Goebbels também usa o ataque em sua vantagem. Ele praticamente diz exatamente o que seus jornais devem escrever, que tinha sido obra dos britânicos. O culpado era o nefasto Serviço Secreto britânico, justificando a guerra contra britânicos e franceses. Mas como sempre, é mentira de Goebbels. A bomba não foi obra de agentes inimigos. Foi colocada por um alemão que agiu sozinho.
Georg Elser queria deter a guerra, temendo que levaria a indescritível sofrimento humano. Ele é pego tentando atravessar a fronteira suíça e confessa. Ele acredita, completamente com razão, que Hitler estava levando o país de volta à guerra. E diferentemente de seus colegas que também duvidavam de Hitler, ele decidiu agir, e isso demonstra a coragem de Elser.
Para Heinrich Himmler, encarregado da segurança pessoal de Hitler, a tentativa de assassinato é má notícia. Himmler está muito furioso. Aconteceu sob sua supervisão. De acordo com o chefe local da Gestapo, Himmler não hesitou em descontar sua frustração no prisioneiro. Ele intervém em parte do interrogatório e bate muito no homem. Sentia-se humilhado e, talvez, tentasse mostrar seu valor, mostrar que era grande e durão como seus rivais. “Vou fazer esse cara sofrer. Quem mexe com o Führer, mexe comigo.
Interessante como este homem, Georg Elser, que fez um ato de heroísmo tentando destruir Hitler e sua caminhada em direção a guerra, não é bem conhecido. Hitler foi salvo pelo mal tempo que alterou o tempo de permanência no local do atentado. Fica aqui outra pergunta: existe um demônio da guarda para proteger os maus, da mesma forma que existe o anjo da guarda para proteger os bons? Fica a pergunta no ar. Não vamos entrar por essas considerações, senão perderemos o nosso foco. Georg Elser confessou o atentado e sua motivação. Livrar o planeta de uma guerra mundial, salvar o mundo de tanto sofrimento. Apesar do atentado à vida de qualquer ser humano não seja visto como um ato positivo, mas considerando tudo que aconteceu a partir da quebra de compromisso, do reajustamento das forças armadas, da invasão de países vizinhos, da perseguição de pessoas por motivos étnicos, que levava a morte milhares de pessoas inocentes, ficaria assim justificado esse ato como positivo e a sua realização um ato de heroísmo. Talvez não seja bem divulgado esse fato, porque os agentes de publicidade podem se ver como agentes diretos ou indiretos de tais iniquidades, e da mesma forma ser vítima de tal heroísmo.
Interessante procurar saber como o mal pode se desenvolver e ameaçar todos os países do mundo. O que se passou na Alemanha Nazista sob o comando de Hitler e seus asseclas, abordado pela Netflix em uma série sob o título “Hitler’s circle of evil” serve como um bom campo para nossas reflexões.
LVI
Ansioso para provar seu valor, Hess tenta convencer a Grã-Bretanha a não apoiar a Polônia. Ele convida um alto político da Grã-Bretanha, o lorde Buxton, para conversar na Alemanha. Mas até ele percebe que Hess não tem mais poder sobre o Führer. O lorde Buxton voltou a seu país e disse que Hess não tinha valor. Não tinha influência sobre Hitler. Ele era contra a ideia de invadir a Polônia e provocar guerra com a Grã-Bretanha, mas não tinha influência.
Começou em 13 de janeiro deste ano. Joseph Goebbels, confiável ministro da Propaganda de Hitler, não tem ressalvas sobre guerrear, e dá um pretexto para invadir a Polônia. Sua máquina de propaganda mostra histórias, algumas narradas em inglês para um público internacional, de alemães étnicos sendo atacados na Polônia. Milhares deles fogem de perseguições de gangues polonesas. Suas casas são queimadas e destruídas por poloneses. Mas essas histórias são falsas. Eles basearam a propaganda em fortes sentimentos antipoloneses que os alemães tinham.
Goebbels se aproveitou disso. Foi fácil para ele incentivar esse sentimento antipolonês e de que deveria haver guerra contra a Polônia. A propaganda se amplia para culpar o governo polonês de organizar ataques a alemães em seu território. Centenas de milhares de pessoas cansadas, angustiadas e em pânico aparecem diariamente em campos refugiados alemães. Havia histórias de brutalidade, assassinatos, confisco de propriedades, famílias alemãs retiradas de suas casas, agredidas, tendo seus direitos negados, discriminadas e perseguidas.
É tudo mentira, mas o povo acredita. O problema é que o povo alemão começa a acreditar nessa propaganda, já que não tem acesso a outro ponto de vista. Goebbels tem o monopólio sobre todas as opiniões.
As histórias falsas dão certo. Equipamentos militares alemães são levados para perto da fronteira polonesa e preparados para a ação. Goebbels preparou o fogo. Agora só precisam da centelha para inflamar as chamas da guerra.
31 DE AGOSTO DE 1939 – GLEIWITZ, ALEMANHA
Não demora para ter a centelha para a chama da guerra. A estação de rádio alemã próxima à fronteira com a Polônia é atacada. Alguns dos autores foram mortos. Eram soldados poloneses. Mais tarde naquela mesma noite, a rádio de Berlim noticia essa provocação. Mas não é o que parece ser. O acontecimento foi encenado por ideia do líder da SS, Heinrich Himmler. Os autores eram membros da SS vestindo uniformes poloneses e carregando armas polonesas. E os corpos na cena? Não eram de poloneses também.
Prisioneiros de campo de concentração foram retirados de seu confinamento, baleados, vestidos com uniformes do Exército polonês e dispersados na área da rádio alemã para parecer que havia sido um ataque do Exército polonês.
Agora Hitler tem desculpa para retaliar. A guerra está próxima. E Göring sabe disso. Ele está muito irritado. “Meu Deus, será o fim da Alemanha.”
Para sobreviver no círculo, é preciso pensar rápido, então o líder da Luftwaffe se recompõe. Após se recuperar do choque e desespero, ele pensa: “Mas o Führer é magnífico, somos apenas peões, somos pequenos perto de sua grandiosidade e devemos obedecê-lo.”
01 DE SETEMBRO DE 1939 – POLÔNIA
A alvorada de primeiro de setembro de 1939, o ponto sem volta do conflito mais mortal na história humana. A Luftwaffe de Göring dá início à Segunda Guerra Mundial bombardeando alvos civis na Polônia. Depois os navios de guerra Kriegsmarine se juntam ao ataque. E a Wehrmacht atravessa a fronteira.
Agora que o conflito começou, com novo ânimo, Hess assina os documentos que incorporam o território polonês ao Terceiro Reich. Sua devoção fanática a Hitler supera quaisquer dúvidas pessoais que ele tinha sobre guerrear. Percebe que precisa fazer o que Hitler quer, e se Hitler quer invadir a Polônia, ou você o segue ou não.
Dois dias após a invasão o jogo muda quando a Grã-Bretanha declara guerra. As previsões de Göring, ignoradas por Hitler, se realizaram. Göring parece ter murmurado: “Se perdermos esta guerra, que Deus tenha misericórdia de nós.” Ao mesmo tempo, ele sabe que não é hora para desafiar Hitler, e que ele não gostaria de ouvir: “Eu avisei.” Então, apesar de suas ressalvas, ele decide continuar e apoiar Hitler.
A Inglaterra está na guerra, mas isso não impede a Alemanha de dominar a Polônia em cinco semanas. Göring é o herói do momento, é mais uma conquista após a anexação da Áustria e Tchecoslováquia.
Agora Heinrich Himmler toma o palco. Ele manda a SS acabar com qualquer resistência. Mas eles vão além, buscando e atacando judeus e outros indesejáveis. É outro passo fatídico em direção ao que ficará conhecido como Holocausto.
Até agora, a grande campanha de Hitler por novas terras no Oriente aconteceu como planejada. Mas agora o círculo íntimo vai enfrentar uma ameaça existencial, e ela acontece no coração do Terceiro Reich.
As mentiras de Hitler e seus comparsas e a displicência dos aliados favoreceram a expansão do nazismo pela Europa, como se fosse reivindicações baseadas na justiça e na ética. Essa displicência dos aliados deixando-se enganar pelas mentiras de Hitler custou caro ao mundo, pois Hitler fortalecido ficou mais difícil de ser derrotado. Mas o que estava em jogo era a liberdade do mundo. Pagamos caro, mas valeu todo o esforço. Agora fica a lição. Não podemos ser iludidos pela mentira, por falsas narrativas, e deixar o mal se instalar com profundidade nos mecanismos do poder.