Eureka! Ao contrário. Com esta palavra Arquimedes mostrou de imediato que tinha percebido a solução de um problema que lhe incomodava o juízo como determinar o volume de um objeto irregular. Arquimedes foi solicitado pelo Rei Hierão II, de Siracusa, para determinar se alguma prata tinha sido usada na confecção da sua coroa, que deveria ser totalmente de ouro, pelo possivelmente desonesto ferreiro. Arquimedes tinha que resolver o problema sem danificar a coroa, de forma que ele não poderia derretê-la em um corpo de formato regular, a fim de encontrar seu volume para calcular sua densidade. Enquanto tomava um banho ele percebeu que o nível da água na banheira subia enquanto ele entrava, percebeu de imediato que esse efeito poderia ser usado para determinar o volume da coroa. Ficou tão que saiu de imediato da banheira, sem roupas, gritando pelas ruas: eureka! Eureka! Significava, encontrei, encontrei a solução do problema.
Também tenho um problema que me aflige o juízo. Como transformar uma comunidade cheia de vícios e problemas os mais diversos, num Reino digno de Deus? Pois Ele deu-me a oportunidade, assim como fez com Arquimedes, de ter dado um passo à frente na solução do meu problema. Isso aconteceu na noite que servimos o jantar para a comunidade, mas que só chegou à minha consciência agora, três dias depois. Merece que eu diga também o “eureka” de Arquimedes, só que com um grande atraso. Isso mostra mais um detalhe negativo do meu arcabouço mental: um raciocínio lento!
Sei que existem na comunidade duas pessoas de bem que por motivos menores se tornaram adversários. Uma dessas pessoas estava voltando do seu trabalho à noite, e parou em frente ao colégio que estávamos administrando o jantar comunitário. Mais adiante no meio da avenida estava o nosso companheiro empenhado em retirar da rua as mesas e cadeiras que utilizamos no jantar. Foi uma boa oportunidade para eu chamar o meu companheiro e promover junto ao seu adversário a reconciliação, aproveitando o clima natalino, de fraternidade, que imperava no momento. O Pai promoveu todas as circunstâncias para isso acontecer e eu era a ferramenta para fazer funcionar a Sua vontade, e falhei. Isso serviria de modelo para ser aplicado na comunidade e a solução do meu problema estaria mais perto. Cada vez que o tempo passa e vejo falhas que cometi naquele jantar, só posso culpar ao meu raciocínio lento.
Outra ação que eu poderia ter incentivado junto aos meus companheiros, além de cada um ter usado o microfone para se apresentar e dizer algumas palavras, era de cada um ter ido a cada mesa, sentar e conversar um pouco, pelo menos cinco minutos com aquelas pessoas, para um conhecimento pelo menos superficial de suas vidas. Também deixei de chamar pessoas que se dedicaram ao máximo no sucesso do evento e eles por compaixão não reclamaram de minhas fraquezas. Mas sei que o Pai está dando a devida compensação a todos eles que souberam exercer a tolerância e compreensão com as falhas de todos, principalmente as minhas.
Apesar de tantos defeitos que em meu comportamento, meu desempenho durante aquela tarefa que abracei, uma coisa me justifica. Eu não percebi nenhum defeito nos meus companheiros. Se algum deles fez algo assim ou assado, que para minha percepção era equivocada, logo eu entendia que ele, assim como eu, estava sendo instruído por Deus em seus corações; que também eles iriam perceber, assim como eu, os próprios defeitos.
Assim pensando ficava realçado em minha consciência o que de positivo eu encontrava em todos eles... e como encontrei!
Senti-me dentro de Reino de Deus!
Guershom Wald riu e disse:
“Em gerações passadas havia avrachim que perguntavam ao noivo no dia seguinte à noite nupcial: descobriu ou encontrou? Se respondia descobriu, eles compartilhavam sua tristeza, e se respondia encontrou, alegravam-se com ele.”
Shmuel perguntou:
“Ou seja?...”
“A palavra descobriu sinaliza um versículo que diz “e descobri que a mulher é mais amarga do que a morte” e encontrou remete ao versículo “encontrar uma mulher é encontrar a felicidade”. E você? Descobriu ou encontrou?
Shmuel disse:
“Eu ainda estou procurando.”
Este trecho do livro de Amóz Oz (Judas) me fez refletir sobre meus relacionamentos íntimos com as mulheres. Não consegui sintonizar esse pensamento “tudo ou nada” expresso pelo autor nestes meus relacionamentos com as mulheres. Com todas que eu me relacionei nunca tive essa expectativa de encontrar a amargura da morte ou a felicidade em uma mulher. A minha expectativa é de encontrar em alguma mulher a capacidade de um companheirismo sem qualquer vestígio de egoísmo, de querer o meu afeto íntimo somente para ela, de hostilizar todas as outras que se aproximarem de mim com esse potencial.
Dizem que não conseguirei encontrar essa mulher, que todas tem o mesmo pensamento de manter o homem com exclusividade para si. Mas acredito que esse comportamento de querer o companheiro com exclusividade está presente tanto no homem quanto na mulher. Eu também sentia assim, mas quando percebi que o Amor Incondicional era incompatível com essa forma de sentir, consegui com muito esforço me libertar desse egoísmo inerente à condição animal, conhecido como machismo dentro da condição humana. Sei também que não sou o único homem que atingiu essa condição e que também não depende do grau de escolaridade, de educação formal. Mesmo entre pessoas consideradas como bárbaras como os mongóis, a partir de seu grande líder, Gengis Khan, observo comportamento livre do machismo, que aceitou a sua esposa que havia sido raptada por seus inimigos, grávida e com um filho do outro no colo. Aceitou-a com o mesmo amor, e reconheceu os filhos delas com os outros como seus. Mesmo no momento em que ele foi vendido como escravo e que a esposa teve que se prostituir para conseguir o dinheiro necessário para a sua libertação, ele em nenhum momento mostrou qualquer ojeriza por ela.
Dessa forma, a capacidade humana de superar essas forças instintivas do egoísmo animal, principalmente no que diz respeito a sexualidade, estão presentes desde muito tempo entre nós. Agora com os ensinamentos do Cristo, na aplicação prática do Amor Incondicional, podemos domesticar os instintos animais e construir novos relacionamentos fraternos, amplos, não exclusivos, tanto para o homem quanto para a mulher.
Enquanto isso não acontece no meu entorno, onde não surge uma mulher com essas características ou minhas atuais companheiras não consigam aplicar esses ensinamentos, vou tentando administrar os conflitos e sofrimentos que a força do egoísmo ainda gera sobre elas e respinga sobre mim.
Portanto, se eu tivesse que responder a Guershom Wald se eu tinha descoberto ou encontrado minha companheira, responderia que até agora estou tentando encontrar a mulher capaz de aplicar o Amor Incondicional, mas até o momento só consegui descobrir companheiras que não conseguem domesticar a força dos instintos.
Encontrei Zaratustra no primeiro texto do livro “Cartas da Humanidade”, compilado e traduzido por Márcio Borges. O texto tem data provável em torno de 6.000 aC e o compilador da obra explica que as influências espirituais de Zaratustra sempre afetaram o pensamento e o raciocínio humanos. Sua meta era mostrar aos homens nossa conexão com uma criação e nossa ligação com uma fonte única. Fiquei curioso em aplicar essas lições ao meu comportamento e ver se há alguma sintonia. Coloco os versos abaixo na íntegra para interpretá-los depois.
1.
Agora falarei com aqueles que me ouvirem
De coisas que o iniciado deveria se lembrar,
Elogios e oração da Boa Mente ao Senhor
E a alegria que verá na luz quem se lembrou dele – o Bem.
2.
Ouvi com vossos ouvidos aquilo que é o Bem Soberano;
Com a mente clara olhai para os dois lados
Entre os quais cada homem tem que escolher para si.
Alertas de antemão, que o grande teste seja cumprido em nosso favor
3.
Ora, no princípio os espíritos gêmeos declararam sua Natureza,
O Melhor e o Mal,
Em pensamento e palavra e ação. E entre os dois
Os sábios escolhem certo, mas não os tolos.
4.
E quando estes dois espíritos vieram juntos,
No princípio estabeleceram vida e não vida.
E que, no final, a pior experiência deveria ser para o mau,
Mas para o íntegro, a Melhor Mente.
5.
Destes dois espíritos, o mau escolheu fazer as piores coisas,
Mas o mais Sagrado Espírito, vestido nos céus mais firmes, uniu-se à Retidão;
E assim fizeram todos aqueles que se aprazem em agradar o Sábio Senhor
Por ações honestas.
6.
Entre os dois, também não escolheram corretamente os falsos deuses,
Pois enquanto ponderavam foram atacados pelo erro,
De forma que escolheram a Pior Mente. Então depressa se uniram à Fúria,
Pois poderiam por ela depravar a existência dos homens.
7.
E a Ele veio a Devoção, com o Domínio, a Boa Mente e a Retidão
Ele concedeu perpetuidade de corpo e respiração da vida,
Para que pudessem ser suas, à parte daqueles,
Como a primeira, pelas retribuições em metal.
8.
Quando o castigo a estes pecadores,
Então, oh Sábio, que o vosso Domínio, com a Boa Mente, seja concedido
Aos que depuseram o Mal nas mãos
Da Retidão, oh Senhor!
9.
E sejamos nós os que renovam esta existência!
- Oh sábio, e vós outros Senhores,
E a Retidão, trazei vossa aliança.
Que os pensamentos possam vigorar onde a sabedoria for fraca.
10.
Então que o Mal deixe de florescer,
Enquanto aqueles que adquiriram boa fama
Colham a recompensa prometida
Na habitação santificada da Boa Mente, do Sábio e da Retidão.
11.
Se vós, oh homens, entendeis as ordens que o Sábio deu,
Bem-estar e salvação para o íntegro
E sofrimento de longa tormenta para o mau –
Tudo doravante será para o Melhor.
São versos de boa ética e espiritualidade, capazes de serem absorvidos pela nossa moral e princípios religiosos. Não vejo dificuldade em acoplar o que acredito e pratico com o conteúdo desses versos.
Primeiro os versos ressaltam a importância da oração, de conversar com Deus, de ser um ente luminoso. Chama a atenção para apurar os ouvidos e para ver sempre os dois lados da questão. Essa é uma dificuldade que tenho na adaptação aos mais diversos grupos que participo, pois sempre procuro ver o outro lado do que meus amigos procuram evitar de considerar como verdade o que me é oposto. Mas se eu ajo dessa forma é como se tivesse feito a melhor escolha de acordo com meus princípios fundamentais e não por interesse de terceiros. Devo ver na Natureza a presença do Bem e do Mal, como foram colocados lá pelo Criador. A minha escolha deve ser sábia e envolve o pensamento, a palavra e a ação. De que vale eu falar cobre o Bem se meus pensamentos estão voltados para o Mal e na primeira oportunidade eu o pratico? Devo saber que o Bem e o Mal são espíritos gêmeos da Natureza, e se eu ajo com integridade estabeleço em mim e ao meu redor o princípio da vida e não da morte. Pois, se eu sou mal escolho fazer as piores coisas, mas se ajo com retidão sei que estou agradando ao meu Senhor, quando escolho fazer as ações honestas. Devo ter cuidado com as ponderações, pois posso ser atacado pelo erro; mas isso é uma necessidade, a ponderação para ser feito a melhor escolha entre o Bem e o Mal. A devoção a Deus, a disciplina, os bons pensamentos e a retidão nas ações é o que dá o sentido positivo da vida. Assim não agindo posso me deparar com o castigo na forma do sofrimento, perco a aliança com Deus, deixo o Mal florescer.
Tudo, então é bem aplicado à luz do Evangelho do qual procuro ser seguidor e portanto estou em sntonia.
Hoje é dia do Natal, do nascimento de Jesus, o divisor de anos do nosso tempo, antes e depois do Cristo. É a noite mais longa do ano e nos cultos pagãos era celebrado com o nascer do sol, como luz na escuridão, como a fertilidade para a Terra e todos os seus filhos. O cristianismo adotou essa data para o nascimento de Jesus mantendo o significado da luz que Ele trazia para o mundo e iluminar as trevas da nossa ignorância, nesta noite mais longa do ano.
Desenvolvo com meus amigos e companheiros um trabalho comunitário na Praia do Meio de inspiração cristã, no intuito de colaborar na construção de uma comunidade parecida com aquela regida pelo Amor Incondicional e que servirá de modelo para o Reino de Deus.
Organizamos um jantar para ser realizado a partir das 20h. Combinei com os amigos que estaria presente por volta das 18h para ajudar nos preparativos finais do evento. Como estava em outro encontro de lazer junto com os familiares numa fazenda em outro município, terminei por chegar por volta das 19h, e com a mesma roupa que estava usando no interior. Mas foi o tempo suficiente para ajudar nos preparativos do evento. Fiquei de posse do microfone no sentido de organizar as diversas atividades que havíamos planejado. Comuniquei aos convidados que já estavam chegando em número além daquele que prevíamos. Notei o grande esforço que os amigos da comunidade fizeram para a realização do evento, envolvendo outras pessoas com o empréstimo de mesas e cadeiras que eles traziam com todo o esforço e com todo amor. Terminei por cometer uma grande falha, pois havia me comprometido a avisar aos meios de comunicação sobre o evento para ter uma cobertura e informar a Natal o que estávamos fazendo, e terminei esquecendo.
Avisei aos presentes de como iríamos servir o jantar para eles a partir das 20h, que seria posta uma mesa ao lado do som com as panelas; que seria formada uma fila onde todos pegariam pratos e colheres e seria colocado o arroz, salpicão de frango, e batata palha. Ao final receberiam uma senha para o sorteio de brindes que havíamos recebido. Nesse momento de falar sobre os brindes, fiz questão de ressaltar o comportamento cristão de fazer o bem sem querer aparecer, fazer o bem no anonimato, pois só assim será reconhecido pelo Pai. Comuniquei que recebemos dois pacotes de brindes de pessoas anônimas, que nem eu mesmo sei quem foi. Deixaram dois pacotes de brindes para meninos e meninas, juntamente com senhas para o sorteio. Foram embora no anonimato como preceitua as lições do Cristo. Portanto, meus irmãos, nesta noite mágica as lições daquele que nasceu hoje servem de exemplo para todos nós e assim o Pai espera que todos nos comportemos dessa maneira.
As crianças começaram suas apresentações musicais, com violões e flautas, com o som de suas vozes cantando as melodias acompanhadas timidamente por um coro das pessoas presentes. Nos intervalos eu falava do Projeto Foco de Luz, da Associação de Moradores e amigos; falava dos amigos que moram fora do bairro, mas que dão grande contribuição ao nosso trabalho e convidei algumas delas para se apresentar e dizer algumas palavras no microfone. Falei que no início do próximo ano estaríamos fazendo a eleição da diretoria da Associação e que todos aqueles que quisessem ser sócios podiam procurar nossas reuniões nas quintas feiras.
O professor de capoeira do bairro levou os alunos de sua escola para uma apresentação no meio das mesas. Todos se afastaram e fizeram uma arena onde ao som do berimbau e de canções próprias daquele esporte os jovens e crianças mostravam toda a disciplina e maleabilidade com o corpo.
Enquanto a apresentação seguia eu tentava organizar a fila com as crianças impacientes querendo serem as primeiras. A apresentação da capoeira terminou e os pratos começaram a ser distribuídos e não consegui atrelar a senha com os pratos. Depois tentei corrigir indo as mesas e deixando uma senha em cada prato, mas muitas pessoas alegavam que já tinham recebido o prato e estavam sem a senha. Resolvi distribuir as senhas restantes exclusivamente com quem saia da fila com o prato e aqueles que alegavam que já tinham passado pela fila e não tinham a senha, pedi para terem paciência que eu estava distribuindo daquela maneira e tinha que manter o padrão até o fim. Mas depois que terminasse a fila eu distribuiria o restante das senhas com quem não tinha recebido. Reforcei que esse trabalho que estávamos realizando era um trabalho motivado pelo próprio Cristo e que Deus estava no comando e assim ninguém iria ser prejudicado nesta noite tão especial. Enfim as senhas acabaram e também a fila. Então disse no microfone que iria aplicar os ensinamentos cristãos para resolver a questão de quem tinha pegado o prato, mas ficou sem a senha. Pedi a todos adultos que estavam nessa condição que se aproximassem da mesa da distribuição dos brindes. Apareceram seis pessoas que fiz questão de identificar para aqueles que estavam com suas senhas. Então expliquei que no Evangelho tem uma passagem que diz “os últimos serão os primeiros” então eu iria aplicar esse ensinamento. Essas seis pessoas que por qualquer motivo não receberam as senhas, que ficaram por último em nossa distribuição, nós iríamos dar a cada, um dos brindes sem necessitar de sorteio. Essa lição serve para cada um de nós aprender como funciona a providência divina. Essas pessoas estavam tristes, pois não iriam participar do sorteio, mas como o Pai ensina que devemos esperar por sua providência em qualquer frustração, eis que essas pessoas que confiaram no Pai, todas ganharam os seus brindes sem necessitar do sorteio. Então cada um que estão agora com as suas senhas irão ficar atentas para ver se serão sorteadas. Então começamos a sortear os números e uma parte dos brindes já estavam sendo distribuídos com as crianças por uma das companheiras, sem passar pelo sorteio. Fiquei um pouco contrariado, pois eu imaginava que todos os brindes seriam distribuídos pelo sorteio, mas depois entendi que o Pai estava influenciando o coração de cada companheiro envolvido com este trabalho, e se assim ela estava fazendo é que foi tocada no seu coração para assim proceder. Poderia, eu, contestar um “toque” de Deus? Absorvi sem mágoas a mudança da minha programação e anunciei que aquelas pessoas que se sentissem de alguma forma prejudicada neste jantar, que procurasse a Associação na primeira quinta feira de janeiro, na Escola Olda Marinho, para fazermos a devida compensação de acordo com a justiça de Deus.
Todo o jantar teve a cobertura musical de um cantor católico que levou os seus CDs e a aparelhagem para nos prestigiar com canções espirituais.
A última etapa do jantar foi a distribuição de pedaços de um enorme bolo que tinha como cobertura o símbolo da Associação de Moradores da Praia do Meio e da Santa Ceia, junto com um copo de refrigerante.
Fiz este relato sem colocar o nome de ninguém com dois propósitos, primeiro de seguir a lição evangélica de ser caridoso sem aparecer, e segundo, porque eu não queria deixar de citar o nome de todos que colaboraram, por menor que seja a colaboração, e isso seria impossível de eu fazer, de registrar o nome de todos neste relato.
O público presente foi avaliado em torno de 400 pessoas. Consideramos um sucesso, apesar das diversas falhas que observamos. Uma delas foi aquela que eu, como apresentador do evento, não ter organizado um plano de atividades onde teria que ser incluído a oração do Pai Nosso, explicando aos nossos convidados a importância de orarmos ao Pai como Jesus nos ensinou.
Fiquei depois de tudo com a impressão de que, muito mais do que ensinar aos nossos convidados a sermos espiritualizados e obedientes ao Pai, fomos nós quem aprendemos mais nesta noite, principalmente com nossos erros. Mesmo assim, sentimo-nos todos gratificados juntos ao Pai, tanto os companheiros presentes ao evento como aqueles que não puderam participar, mas que tudo fizeram para o nosso sucesso.
Ao assistir o documentário “I AM” na Netflix, notei alguns comentários dos participantes que achei conveniente confrontar com as ações práticas da minha vida. Vou reproduzir neste texto com algumas adaptações no sentido de atender as provocações que eles fazem aos meus paradigmas.
As noções básicas de nossa relação com as coisas vêm, de uma verdade e uma mentira na nossa cultura. A verdade é que se voce está nu e com frio, à noite, ao relento, sozinho na floresta e está chovendo, voce está infeliz. Certo? Todos concordamos com isso. E se alguém abrir a porta, convidá-lo para entrar e sentar perto de uma lareira, lhe der roupas, coberta, um lugar quente para dormir e um prato de sopa, de repente voce passa da infelicidade à felicidade com muito pouco, mas são coisas que fazem a diferença, simples assim. Então essa é a Verdade. A mentira é que se estas coisas vão fazê-lo feliz, então ter mais o fará mais feliz. Cem vezes mais o fará cem vezes mais feliz. Mil vezes mais o fará mil vezes mais feliz e Bill Gates vive em felicidade perpétua (Thom Hartmann – Autor de “Last Hours of Ancient Sunlight).
Então é um problema psicológico, pois, tem razão, pois não é a realidade. A realidade é que se você tem dois bilhões ao invés de um, não terá o dobro da felicidade. Mas as pessoas são movidas a acumular, acumular, acumular, sem se perguntarem: “isto vai me fazer feliz ou não?” (Howard Zinn – Historiador, Autor).
Então eu descobri que muita gente era infeliz mesmo parecendo ter tudo, mesmo parecendo estar fazendo ou vivendo o sonho americano. (John Francis – Environmentalist, Author, “Plantwalker”)
A riqueza por si não lhe proporciona a felicidade que achou que lhe daria. (Desmond Tutu – Arcebispo, Cape Town, África do Sul).
Rumi diz para suspeitar do que deseja. Isso é bem subversivo em uma cultura consumista, não é? Devemos multiplicar nossos desejos e satisfazê-los. Mas ele diz: “Voce cava covas para pegar alguém, mas acaba caindo nelas.”. “Trama para conseguir o que quer, mas acaba numa prisão.”. Sabe, “corro atrás de um veado e acabo perseguido por um porco.” (Poeta, Autor – “The Essential Rumi”).
Todas essas opiniões não ferem a minha consciência, não sou incompatível com elas. A fórmula da felicidade não passa pelo acúmulo de bens materiais e sim pelo acumulo de bens espirituais, o tesouro que podemos levar conosco para qualquer viagem, até mesmo a viagem para o plano espiritual.
Hoje à noite fizemos uma demonstração disso com o jantar que oferecemos aos familiares a amigos. O aspecto material fica totalmente fora de cogitação e toda a harmonia é feita em torno dos valores espirituais. Acredito que ainda posso melhorar muito esses momentos, pois perco a ocasião de expor com mais clareza aos convidados o nosso compromisso com os valores espirituais, o que o Pai espera de cada um de nós de acordo com os talentos que Ele deixa no coração de cada um, e das lições do Mestre Jesus que veio nos ensinar sobre o Amor Incondicional, na teoria e na prática.
Tenho que desenvolver a habilidade para reunir as pessoas presentes em torno do aprendizado dos valores espirituais sem que isso se torne monótono, maçante ou deixe transparecer algum tipo de fanatismo. Tenho que ter a habilidade do professor que conduz os seus alunos por terrenos áridos do aprendizado, mas deixando a sensação em todos eles de uma viagem mágica pelos caminhos da evolução.
Devo ter a habilidade de mostrar a todos a fórmula da felicidade que alcancei, mesmo não tendo eliminado o sofrimento que é inerente à condição humana de quem ainda sofre os efeitos dos desejos da matéria, da carne.