Dentro de nossa alma existe a centelha divina que mesmo adormecida pelos instintos da natureza animal sempre tem o potencial de brilhar com menor ou maior força, dependendo da pessoa e das circunstâncias.
Vou relatar o caso que encontrei no livro “Francisco Julião – Uma Biografia”, de Cláudio Aguiar.
Francisco Julião, parlamentar do Partido Socialista Brasileiro (PSB), denunciava com coragem os crimes cometidos contra os camponeses que se associavam ás Ligas Camponesas.
Dias depois, por causa de um incidente entre um senhor de terras e a família de camponeses que acabaram de se associar á Liga Camponesa, a polícia, comandada por um sargento, invadiu o sítio do velho Mata, que nenhuma relação ele tinha com o caso.
A segunda parte dessa tragédia foi denunciada no Plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco, sob o choro e pesada emoção da mãe dos filhos sacrificados, dona Maria Mata, que se encontrava nas galerias, pois Julião costumava levar os camponeses agredidos pela polícia ou pelos capangas para serem vistos na Assembleia, pela imprensa e pelo público presente.
Este é o relato do Julião.
A polícia entra pelo oitão, viola a camarinha, joga os trastes de pernas para o ar, quebra os potes e as panelas de barro a coronhadas, criva as portas e as paredes de balas de fuzil, interroga, aterroriza, espanca, mata as crias miúdas do terreiro. Vai além. Agarra um dos filhos do velho Manuel, passa-lhe pela cintura um laço de corda de agave e o prende á traseira do jipe, que se põe em marcha. A velha mãe de Manuel, neta de índio, de caboclo do mato, paciente, estoica, habituada ao sofrimento, precipita-se atrás do filho, pede, grita, implora, tenta segurá-lo, mas nunca o alcança, porque o jipe aumenta a marcha cada vez mais, até que ela perde as forças e se deixa ficar de joelhos com as mãos para o alto clamando pela Virgem. Manuel tem de aumentar o passo, de correr, de pular, equilibrando-se para não cair, mas, finalmente, cai, e é arrastado por cima de pau e pedra. A roupa se rasga, a pele se esfola, o sangue começa a minar das pernas dos braços, do peito, da cara, mas da sua garganta não sai uma palavra, nem se ouve um gemido. Nada. O sargento, o cabo e o soldado se divertem com a carreira, os saltos e tombos de Manuel, que não resiste mais e perde os sentidos. Não passa agora, de uma posta de sangue, que rola desgovernada por baixo da poeira que o jipe vai levantando pelo caminho afora. Três quilômetros durou o suplício de Manuel. Um soldado, a mando do sargento, cortou de facão a corda e o jipe disparou para a cidade. A missão fora cumprida. Quem iria queixar-se ao delegado se o delegado era o sargento? Veio o velho Mata com os filhos e levaram Manuel numa rede para casa.
Quando voltou a si estava deitado num leito de folhas verdes de bananeira e trazia as feridas curadas com leite de mangará, que estanca rapidamente o sangue. Mas daí por diante Manuel deixara de ser o mesmo homem. Sararam as feridas e enfermou-se da mente. Mais uma denúncia. Mais um inquérito. O retrato do velho Mata e da família na imprensa. Como sempre, a crônica policial, que é a página social do camponês. E tudo acaba em nada.
Pela primeira vez tenho diante de mim a velha Maria Mata, como um bronze vivo, que diz tudo pelos olhos e quase nada pela boca. Manuel, porém, não viu nascer o sétimo filho que tomou o seu nome. A Liga levantou para ele uma casa noutras terras. Mas no dia que teve a família agasalhada, foi até o local que dava para a estrada, onde a Liga se reúne, sentou-se, tomou a peixeira e, de repente, abriu a barriga de um lado para o outro, tirou de dentro os intestinos e cortou em pedaços que atirava para longe, até cair sem dar um gemido. Conduzido ás pressas para um hospital, o coração de Manuel deixou de bater na sala de cirurgia (Julião, 1975: 166-167).
Como ficar insensível a uma situação dessa? Quem está se beneficiando dessa condição macabra de tão perversa? São essas circunstâncias que fizeram eu defender as bandeiras políticas das esquerdas, na minha fase de adolescente e adulto jovem, até agora a maturidade. Uma situação que merece a luta em defesa da dignidade humana, mas o passo seguinte não podemos observar com tanta clareza. Os movimentos socialistas/comunistas conquistam o poder com base nessa luta, muitas vezes com revoluções regadas a muito sangue, e se tornam mais sanguinários que os regimes anteriores.Por isso, conhecendo melhor a realidade, resolvi me tornar um soldado do Cristo, um cidadão do Reino dos Céus, onde não há corrupção ou genocídio na liderança do Cristo.
O livro de Roberto Shinyashiki, “A Carícia Essencial”, traz importantes elucubrações sobre uma forma de fazer terapia. Começa citando Eric Berne, um psiquiatra canadense que desenvolveu o conceito de strokes, que significa carícia, toque, estímulo e reconhecimento.
A introdução feita pelo psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, afirma que “é preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque ‘não fica bem’ mostrar bons sentimentos”.
A citação de Sigmund Freud coloca mais ênfase na forma de fazer terapia com mais afeto, pois diz que ele ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim. Porém, não é só coisas ruins que colocamos dentro da chamada Caixa Preta. Também escondemos dentro dela o que é bom em nós, a ternura, o encantamento, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar com o outro.
Por que tudo tem que ser tão sério, respeitável, comedido, contido, fúnebre, chato, restritivo? Por que o desejo, mesmo tendo sintonia com o Amor Incondicional deva ser reprimido? Até porque o desejo tem a ver com o sideral, com as estrelas. Seguir o desejo é seguir a estrela, estar orientado, saber para onde se vai, conhecer a direção.
A gama de preconceitos em nossa cultura não deve impedir de tomarmos a direção correta, seguir o desejo compatível com o Amor Incondicional, principalmente em terapia, quando o outro que está ao meu lado merece ter todos os recursos, os mais apropriados para a melhora de sua condição afetada.
Nesse contexto, o medo é nosso maior inimigo, pois o outro está sempre observando atentamente tudo que fazemos e que não pode sofrer desvios do padrão cultural estabelecido. Assim, criamos mentalmente uma prisão sem grades para o nosso comportamento. Vivemos sob vigilância mútua, todos contra todos, observando, criticando, comentando.
Quem tem coragem e quebra essas algemas mentais e faz o que dita a sua consciência, logo vai para a fogueira moderna queimar nas labaredas da maledicência até voltar a ser pequenos, insignificantes, imperceptíveis, uma espécie de normopatia.
O corajoso que assume abrir sua Caixa Preta e assumir qualquer conduta que não se afasta do Amor Incondicional, pode ser considerado um iluminado, apesar de todos o considerar um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Interessante é que fazendo assim, o corajoso mostra um alto senso de dignidade humana, o que faz ele se tornar insuportável para todos os outros, que são indignos.
Amar ao próximo deixa de ser um idealismo místico de alguns poucos espiritualistas honestos. Iremos observar que a união na sintonia do Amor nos transfere sua força. Iremos, afinal, construir o Reino de Deus, recuperando nossos irmãos com afetos em primeiro plano.
Mesmo sabendo da importância da oração, sempre tenho dificuldade de realiza-la, por esquecimento mesmo. Isso é uma prova que não dou a importância devida. Mas aconteceu um caso comigo em Caicó onde a oração de repente assumiu a sua relevância.
Sempre corto o cabelo com um senhor idoso, quando tenho necessidade. Neste dia não havia tanta necessidade, mas como meu trabalho terminou cedo, resolvi entrar na barbearia e fazer o cabelo. Resolvi também, por curiosidade, fazer a barba. Não havia também a necessidade. Mas a curiosidade venceu a prudência. Podia muito bem ter esperado e fazer a barba quando chegasse em Natal.
O drama começou cedo, quando o idoso barbeiro terminou o cabelo e começou a barba. Ao sentir a proximidade daquela navalha afiada no meu pescoço, de imediato veio á minha mente a necessidade de fazer a oração. Sempre tenho vontade de fazer orações regulares com palavras bem concatenadas dirigidas ao Pai. Nunca consegui fazer isso a contento e muito menos nessa ocasião. Ai foi que a minha mente não encontrava palavras. Só vinha na minha mente as pequenas frases... “Pai, me ajuda!”, “Pai, me socorre!”.
Sentia a lâmina desfilar pelas áreas frágeis do meu pescoço e ficava a pensar: tenho um cachorro idoso em casa, que treme frequentemente devido a idade, e se esse barbeiro idoso também tremer e me cortar? Mas, ainda vinham pensamentos piores: sei que tem gente que sem motivos aparentes entra em surto psicótico e machuca quem está perto. E se o barbeiro entrasse em surto? Mas, ainda vinha pensamento pior do que estes: sei que a mente pode captar pensamentos pela telepatia e o pensamento de uma pessoa pode influenciar outra pela hipnose. E se esses meus pensamentos influenciassem a mente do barbeiro para ele fazer aquilo que eu temia, dar um simples corte na minha garganta e, com certeza, eu não levantaria jamais daquela cadeira.
Enquanto a minha mente fervilhava com esses pensamentos misturados com os fragmentos de oração, o meu corpo queria responder com rigidez. Não podia deixar essa minha contração muscular ser aparente, pois sei que os cachorros quando percebem que uma pessoa estar com medo aí é que eles ficam mais valentes.
O coração queria acelerar, mas também aceleraria a respiração, e assim o barbeiro perceberia minha situação emocional. Precisava controlar os pensamentos catastróficos para não influenciar no ritmo do coração, mas tinha que fazer a oração que era a minha única tábua de salvação.
A aflição se desenvolvia na minha mente e corpo enquanto a navalha persistente passeava por minha face, sentia mais arranhar do que alisar, muito diferente do alisar do meu estojo de barbear. Foi ai que eu senti a força do arrependimento e a extrema necessidade da prece.
Comecei a ficar mais aliviado quando percebi os movimentos finais do trabalho. Mas ainda tinha uma surpresa que eu não esperava. Ele molhou as mãos com um liquido, possivelmente contendo álcool, e alisou o meu rosto com ele. Parecia um lança-chamas incendiando meu rosto. Mais uma vez fiz outra acrobacia física e mental para controlar a rigidez do meu corpo, a contenção de lágrimas e até um grito preso na garganta.
Finalmente terminou a tortura. Posso não ter sido competente com a oração mais uma vez, mas fui muito competente com meus controles internos, pois o barbeiro comentou satisfeito: aproveitou bem o momento que chegou a dormir, né? Não iria destruir minha performance contando a verdade, dei simplesmente um sorriso desbotado de alegria, paguei, recebi o troco e sai em direção do mercado, com o rosto ainda afogueado pela brisa que lhe tocava.
Querendo aliviar a intensa pressão que acabava de sofrer, aceitei o convite de um senhor para sentar no seu banco para ele engraxar meu sapato, na frente do mercado. Foi quando passou um transeunte e procurou me fazer um favor, pois eu estava com uma camisa branca e iria sujar, dizia ele, o meu rosto estava manchado de sangue. Perguntou se eu tinha feito a barba com o referido barbeiro e confirmei, com o já tradicional sorriso amarelo, que talvez tivesse também vermelho. Ele disse que aquele profissional já era conhecido em retalhar o rosto de quem ia fazer a barba, e certamente eu não era da cidade para ter ido lá. Não quis prolongar a conversa, pois afinal de conta eu até gostava do tal barbeiro, pois sempre me dava um desconto sem eu pedir, quando fazia meu cabelo, alegando que não tinha o que cortar, com muita justiça, por causa da minha careca.
Agora que estou digitando essa história, vejo como sou resistente com relação a oração. Fiz a oração, desesperado, durante a aflição, mas depois, não mais voltei a orar e agradecer ao Pai por ter saído vivo.
O primeiro passo para o estudo da Verdade, é não termos a convicção que já somos portadores dela e que o outro é quem está equivocado dentro das mentiras.
As lições que vêm do mundo espiritual nos convidam ao estudo da Verdade e ensina a distingui-la da Mentira. Vêm estimular e desenvolver nossa experiência, perspicácia e devotamento, clareando a inteligência, iluminando o coração e nos tornando dignos da assistência dos Espíritos elevados e capazes de ser por eles conduzidos à Verdade inteira. Vêm como precursores do estado de perfeição que devemos atingir.
O objetivo dessas lições é nos preparar para esse estado de perfeição, abrindo pouco a pouco os olhos à luz, desenvolvendo gradualmente a inteligência e pondo-nos em condições de romper francamente e para sempre com todas as fraquezas de nossa humanidade contaminada pela condição animal, instintiva e egoísta. Devemos estar prontos para construir o Reino de Deus conforme as lições de Jesus, o Espírito da Verdade.
Para alcançar essa meta é necessário que trabalhemos sem cessar sobre nós mesmos, destruindo tudo que pertence ao homem animal, repelindo as fraquezas e as faltas, nos protegendo contra os desejos da carne, incoerentes com a Lei do Amor.
Para vencer as tentações incoerentes da carne, trabalhemos continuamente pelo progresso moral, ajudando também os nossos irmãos, dividindo a Luz que conseguirmos alcançar, agitando sobre nossas cabeças para que as suas centelhas iluminem ao longe.
Existem três meios de atingir a perfeição humana: o amor, o estudo e a caridade. É importante conceder ao corpo tudo o que a matéria exige, mas sempre nos limites da sobriedade, da Lei do Amor. Devemos manter o nosso corpo num equilíbrio necessário, principalmente no que se refere ao amor romântico e ao Amor Incondicional, pois estamos sempre sob as vistas do nosso Pai. Ele julga não só nossas mais secretas ações, como também os pensamentos mais ocultos do nosso coração.
O conselho de “vigiar e orar” é importante, a fim de que nossos pensamentos e ações possam ser postos a nu, saiam da caixa preta, não somente diante do nosso Pai, mas também diante de cada um de nossos irmãos. Oremos para que nossos atos estejam sempre em relação com os nossos pensamentos
A oração agradável a Deus é o trabalho, tanto da inteligência quanto do corpo. Cada um de nós devemos trabalhar conforme a tarefa que nos foi confiada.
Vigiar constantemente a nós mesmos, assim o espírito se tornará mais forte e não mais estaremos subjugados a tentações incoerentes.
Seguindo essas orientações, o Espírito da Verdade nos dará a conhecer de tudo, mesmo aquilo que por muito tempo terá que permanecer oculto, e nos ensinará a fitar a Luz divina sem ser por ela ofuscado.
No passado Jesus escolheu 12 homens para serem os seus discípulos. Hoje a escolha depende de cada um que conhece suas lições e deseja seguir, coloca-las em prática. São pessoas esclarecidas da existência do mundo espiritual, da criação de Deus, da necessidade da Reforma Íntima para se considerar um cidadão do Reino dos Céus.
São pessoas que buscam a Verdade, iluminadas pelos espíritos santos sintonizados com a vontade do Pai. Caminham em busca da perfeição moral e intelectual.
Jesus disse a Verdade, mas não toda a Verdade. Só deu aos homens o que eles podiam suportar e entender. Mesmo assim, se os homens se tivessem contentado e desenvolvido com honestidade o que receberam, a Verdade já teria construído o Reino dos Céus entre nós. No entanto, as tradições, os preconceitos, os dogmas, todos provocados, encorajados e conservados por espírito de dominação, de tirania, cupidez, se encarregaram de manter a semente adormecida.
Estamos na época do advento da Verdade. Ela se despoja de todas as falsas narrativas que a cobre aos olhos humanos, afogados nas trevas da mentira, pois são chegadas ondas de luz divina.
Deus não abandona seus filhos nas garras da Mentira. Deixa que sigam seus caminhos escolhidos pelo livre arbítrio, pois assim ganham experiências e verificam a inutilidade de seus esforços para alcançar felicidade pelos caminhos da iniquidade, iludindo e escravizando o próximo em benefício dos seus interesses, dos interesses da família nuclear, dos amigos, comparsas do mesmo mal feito.
Hoje, muitos como eu, percebem que estavam tateando nas garras da mentira. Percebi que enquanto estava militando em partidos de esquerda, por um ideal de justiça e solidariedade, fazendo vista grossa a comportamentos incoerentes com esse propósito, só veio cair os véus dos meus olhos quando o presidente que elegi pelas esquerdas, o Lula, na primeira vez, fazia de conta que não era nem com ele, os crimes do mensalão que existia dentro dos seus gabinetes. Foi aí que chegou a Luz à minha consciência.
Quem sustenta a Luz é a Verdade. Podemos considerar o próprio Jesus como o Espírito da Verdade, pois Ele mesmo disse: “Eu sou o caminho, a Verdade e a vida”. A Sua vinda sobre nós, para quem tem olhos para ver, marcará o fim de nossa fraqueza e ignorância. Para isso é necessário a era preparatória na qual nós estamos.
João, precursor de Jesus, aconselhava os homens ao arrependimento e os batizava com água. Hoje percebemos tanta gente vivendo dentro da iniquidade, promovendo crimes contra a humanidade, sem um pingo de remorso, de arrependimento, sempre se defendendo como se fosse pessoa honesta, a alma mais pura do mundo, que tem mais a aparência de deboche de que uma defesa real.
Jesus chegou, nos ensinou o modo de nos arrepender, observando o crime que cometemos ao fazer ao próximo aquilo que não queremos que façam conosco. Quando seguimos Suas lições, ficamos capacitados em receber a influência dos espíritos do Senhor, desenvolvendo em nós as faculdades para receber as intuições divinas.
O batismo com o Espírito Santo corresponde a comunhão com os Espíritos elevados que velam por nós, orientam e protegem. Mas para chegar a essa comunhão é preciso estar sintonizado com a Verdade, ser puro, cheio de zelo, de amor e de fé, como eram os apóstolos fiéis.