Após a escolha de Filipe, que caminhava com Natanael e encontrou Jesus com seus amigos, André, Pedro, Tiago e João, foi a vez de Natanael ser escolhido.
Filipe agora acenava ao grupo, para que esperassem onde estavam, enquanto ele voltou correndo para anunciar a nova da sua decisão ao seu amigo Natanael, que ainda ficara para trás, sob a amoreira, refletindo sobre as muitas coisas que ele tinha ouvido a respeito de João Batista sobre o Reino que viria, e do Mestre esperado. Filipe interrompeu essas meditações, exclamando: “Eu encontrei o Libertador, aquele sobre quem Moisés e os profetas escreveram; e a quem João Batista tem proclamado”. Natanael, levantando os olhos, inquiriu: “De onde vem esse Mestre?” E Filipe respondeu: “Ele é Jesus de Nazaré, filho de José, o carpinteiro, mais recentemente residindo em Cafarnaum”. E então, um tanto chocado, Natanael perguntou: “Uma coisa boa assim pode vir de Nazaré?” Mas Filipe, tomando-o pelo braço, disse: “Vem e vê”.
Filipe levou Natanael a Jesus, que, olhando benignamente no rosto do homem sincero que duvidava, disse: “Eis um israelita genuíno, para quem não há engano. Segue-me”. E Natanael, voltando-se para Filipe, disse: “Tu estás certo. Ele é de fato um Mestre dos homens. Eu também o seguirei se for digno disso”. E Jesus fez um gesto afirmativo a Natanael, dizendo de novo: “Segue-me”.
Jesus já havia reunido a metade do seu futuro corpo de colaboradores íntimos, cinco que já o tinham conhecido há algum tempo e um estranho, Natanael. Sem mais demora atravessaram o Jordão e, passando pela aldeia de Naim, chegaram a Nazaré tarde naquela noite.
Todos passaram a noite com José, na casa de infância de Jesus. Os companheiros de Jesus pouco entenderam por que o seu recém-encontrado Mestre estava tão preocupado em destruir completamente cada vestígio dos seus escritos que ainda permaneciam pela casa na forma dos Dez Mandamentos e outras frases e preceitos. Esse procedimento, no entanto, junto com o fato de que eles nunca mais o haviam visto escrevendo depois disso – exceto no pó ou na areia – causou uma profunda impressão em suas mentes.
Este relato também provocou uma profunda impressão em minha mente. Primeiro que, este livro, “O Livro de Urântia”, que é proposto como uma revelação mais aproximada da Verdade, traz algumas falhas que podem ser devido a tradução ou impressão, mas que deve ser ressaltado. Além de Natanael, Pedro também não era um estranho para Jesus? E quando Jesus foi com eles à sua casa em Nazaré, não podiam ter passado a noite com José, pois ele já havia falecido nessa ocasião.
No entanto, pequenas falhas que aconteçam não podem anular o conjunto da obra, a forte compreensão lógica, racional, da cosmogonia apresentada e da origem e comportamento do Mestre que o respeitamos como enviado de Deus e nosso irmão mais sábio, mais próximo do Pai.
Enquanto a complicação fermentava entre os seguidores de João Batista, Jesus e os seus quatro discípulos-apóstolos adiantavam-se no seu caminho para a Galiléia. Antes de atravessarem o Jordão, para ir a Nazaré pelo caminho de Naim, Jesus, olhando para frente, estrada acima, avistou um certo Filipe de Betsaida, que vinha na direção deles, com um amigo. Jesus havia conhecido Filipe há algum tempo e este também era muito conhecido de todos os quatro novos apóstolos. Ele estava, com o seu amigo Natanael, a caminho de visitar João Batista em Pela, para aprender mais sobre a comentada vinda do Reino de Deus; e ficou encantado de poder saudar Jesus.
Filipe era um admirador de Jesus desde que este veio à Cafarnaum pela primeira vez. Mas Natanael, que vivia em Caná, na Galiléia, não conhecia Jesus. Fiipe adiantou-se para saudar os seus amigos , enquanto Natanael permaneceu à sombra de uma árvore à beira da estrada.
Pedro levou Filipe para um lado e começou a explicar, referindo-se a si próprio, a André, a Tiago e a João, que todos eles se haviam transformado em seguidores de Jesus, no novo Reino; e insistiu veementemente para que Filipe também fosse um voluntário desse serviço. Filipe ficou em um dilema. O que deveria fazer? Aqui, de repente – em uma beira de estrada perto do Jordão -, aqui, punha-se ele diante de uma decisão imediata, sobre a mais importante questão de uma vida. Logo ele entrou em uma conversa sincera com Pedro, André e João, enquanto Jesus delineava para Tiago a viagem através da Galiléia e para Cafarnaum. Finalmente, André sugeriu a Filipe: “Por que não perguntar ao Mestre?”
Subitamente Filipe se deu conta de que Jesus era realmente um grande homem, possivelmente o Messias, e decidiu acatar a decisão de Jesus nessa questão; e foi diretamente até ele e perguntou: “Mestre, devo ir até João Batista ou juntar-me aos meus amigos que te seguem? “ E Jesus respondeu: “Segue-me”. Filipe ficou emocionado com a certeza de haver encontrado o Libertador.
Assim foi escolhido o quinto apóstolo, por intermediação dos quatro anteriores, todos com uma sintonia com João Batista, que reconhecia em Jesus o Messias verdadeiro, mas que não passava para todos os seus seguidores essa mesma impressão. Tanto é verdade que Ezdras, um dos seus seguidores mais próximos foi frontalmente e deselegantemente o contrário, chegando a sair do grupo e formar uma seita, apoiando João Batista e rejeitando Jesus, como permanece até hoje.
Fica nesse contexto uma grande lição para todos nós, de ficarmos sempre atentos às diversas narrativas que surgem em função de determinado fato. O fato é real, como foi a presença de Jesus e seu comportamento. As narrativas que se formam ao redor dele e que podem estar mais próximas ou mais distantes da Verdade. Ezdras, de acordo com o meu discernimento, ficou bem distante da Verdade. André, Pedro, João e Tiago, ficaram bem mais perto, apesar da narrativa que eles construíram em suas mentes ainda não sintonizarem com a Verdade que Jesus veio trazer, da construção do Reino de Deus.
No domingo de manhã, 24 de fevereiro do ano 26 d.C., Jesus despediu-se de João Batista no rio, próximo de Pela, para nunca mais vê-lo na carne.
Naquele dia, enquanto Jesus e os seus quatro discípulos-apóstolos partiam para a Galiléia, houve um grande tumulto no acampamento dos seguidores de João Batista. A primeira grande divisão estava para acontecer. No dia anterior, João havia pronunciado a André e a Ezdras, positivamente quanto a Jesus ser o libertador. André decidiu seguir Jesus, mas Ezdras rejeitou aquele carpinteiro de maneiras suaves, de Nazaré, proclamando aos seus companheiros: “O profeta Daniel declara que o Filho do Homem virá, com as nuvens dos céus, em poder e em grande glória. Esse carpinteiro da Galiléia, esse construtor de barcos de Cafarnaum, não pode ser o Libertador. Pode vir, de Nazaré, uma tal dádiva de Deus? Esse Jesus é um parente de João Batista e, por excesso de bondade de coração, o nosso instrutor enganou-se. Que permaneçamos afastados desse falso messias”. Quando, por causa dessas afirmações, João fez uma reprimenda a Ezdras, este se separou levando muitos discípulos e dirigiu-se para o sul. E esse grupo continuou a batizar em nome de João e finalmente fundou a seita daqueles que acreditavam em João Batista, mas que se recusavam a aceitar Jesus. Remanescentes desse grupo sobrevivem na Mesopotâmia até os dias atuais.
Os mandeus, gnósticos e discípulos de João Batista, é uma das mais antigas, desconhecidas e misteriosas religiões abraâmicas. Consideram-se a religião original de Adão e praticam semanalmente um batismo e refeição ritual. Para eles, Jesus seria um falso profeta no embate cósmico entre as Luzes e as Trevas. É a única religião gnóstica com contínua iniciação desde a Antiguidade.
Os gnósticos afirmam que o universo material (cosmo) foi criado por uma emanação imperfeita do Deus supremo chamada demiurgo, para prender a centelha divina (espírito) no corpo humano. Esta centelha divina poderia, então, ser liberta através da gnose, que seria o conhecimento intuitivo sobre o espírito e a natureza da realidade.
As ideias e ramos gnósticos floresceram no mundo mediterrâneo no século II d.C., em conjunto e trocando influências com os primeiros movimentos cristãos e médio-platônicos. Mesmo com um considerável declínio após o século II, o gnosticismo sobreviveu sub-repticiamente ao longo dos séculos na cultura ocidental, remanifestando durante o Renascimento através do esoterismo ocidental, assumindo a proeminência com a espiritualidade moderna. Do império Persa, o gnosticismo se alastrou até a China através do maniqueísmo, ao passo que o mandeísmo ainda vive no Iraque.
Sempre há pessoas que pensam diferente uma das outras. Como existe uma só verdade, certamente uma pessoa ou um grupo estará mais próxima da verdade que a outra. Foi o que aconteceu com André e Ezdras. André discerniu que o Mestre ensinava e se comportava como uma pessoa enviada por Deus; Ezdras, cheio de preconceitos, não aceitava que pessoa tão humilde e delicada trouxesse consigo tão alta missão. Até hoje existe essa dicotomia em grupos tão diferentes, mas que perseguem o mesmo ideal. Que possamos exercitar um discernimento correto de onde está a Verdade, para não ficarmos vegetando sem encontrar o Caminho correto.
Depois que Jesus havia voltado a Pela, para passar a noite, e enquanto André e Simão estavam ainda discutindo sobre a natureza do seu serviço no estabelecimento do Reino que viria, Tiago e João, os filhos de Zebedeu, acabavam de chegar da sua longa e inútil procura por Jesus nas colinas. Quando ouviram Simão Pedro contar que ele e seu irmão, André, haviam tornado-se os primeiros conselheiros aceitos do novo Reino e que estavam para ir, com o seu novo Mestre, no dia seguinte bem cedo, para a Galileia, Tiago e João, ambos, ficaram tristes. Eles haviam conhecido Jesus já há algum tempo e o amavam. Tinham procurado por ele durante muitos dias nas colinas e, agora que retornavam, ficavam sabendo que outros tinham sido preferidos antes deles. Perguntaram aonde Jesus tinha ido e apressaram-se para encontra-lo.
Jesus estava adormecido quando eles chegaram na casa, mas eles acordaram-no dizendo: “Como é que preferiste outros, enquanto nós procurávamos por ti nas colinas, nós que por tanto tempo vivemos contigo. Como deste preferência a outros, antes de nós, e escolheste André e Simão como os teus primeiros colaboradores no novo Reino?” Jesus respondeu a eles: “Acalmai os vossos corações e perguntai a vós próprios: ‘quem mandou que procurásseis pelo Filho do Homem, quando ele estava tratando dos assuntos do seu Pai?’” Depois de terem contado, com detalhes, a sua longa busca nas montanhas, Jesus continuou ainda a sua instrução: “Vós devíeis aprender a procurar o segredo do novo Reino nos vossos próprios corações e não nas montanhas. O que vós estáveis procurando, achava-se já presente nas vossas almas. Sois de fato meus irmãos – e não necessitáveis ser recebidos por mim -, já éreis do Reino e devíeis ficar animados, aprontando-vos para também ir conosco amanhã até a Galiléia”. João, então, ousou perguntar: “Mas, Mestre, Tiago e eu seremos agregados teus no novo Reino, do mesmo modo que André e Simão?” E Jesus, colocando uma das mãos no ombro de cada um deles, disse: “Meus irmãos, já estivestes comigo no espírito do Reino, antes mesmo de os outros solicitarem ser recebidos. Irmãos meus, não tendes necessidade de pedir para entrar no Reino; vós tendes estado comigo no Reino, desde o princípio. Perante os homens, outros poderão ter tido precedência sobre vós, mas também no meu coração eu já vos coloquei nos conselhos do Reino, antes mesmo que tivésseis pensado em fazer esse pedido a mim. E mesmo assim poderíeis ter sido os primeiros, perante os homens, não tivésseis estado ausentes em uma tarefa bem-intencionada, mas imposta por vós próprios, de procurar alguém que não estava perdido. No Reino que está por vir, não vos deveis ocupar das coisas que alimentam a vossa ansiedade, mas sim e todo o tempo ocupai-vos apenas em fazer a vontade do Pai que está nos céus”.
Tiago e João receberam a reprimenda de bom grado; nunca mais foram invejosos de André e Simão. E se prepararam, junto com os seus dois companheiros apóstolos, a fim de partir para a Galiléia na manhã seguinte. Desse dia em diante, o termo apóstolo foi empregado para distinguir a família dos conselheiros escolhidos por Jesus, da imensa multidão de discípulos crentes que iriam segui-lo posteriormente.
Este texto está repleto de ensinamentos. Primeiro, se fosse eu no lugar de Jesus, teria ficado acuado com a reclamação de João e Tiago. Como é que eu aceitaria em primeiro lugar André e Pedro como apóstolos, tendo João e Tiago vivido por tanto tempo mais perto de mim? Mas Jesus vivia com plenitude no Reino de Deus. Ele já considerava João e Tiago dentro do Reino, de acordo com a convivência que eles partilhavam. Não era preciso eles pedirem para entrar, já estavam dentro. Foi isso que Jesus tentou explicar. O ciúme por cargos e posições neste novo Reino não pode ser aplicado, da forma que é aplicado nos reinos mundanos. Aquele que ocupa o maior cargo no Reino de Deus, é aquele que mais serve aos irmãos. Esse conceito inverte toda a forma de conquista de cargos elevados que se observa no mundo material.
Outro ensinamento mais sutil, é feito quando ele critica a procura dos irmãos por ele nas colinas, já que ele não estava perdido, e sim fazendo o trabalho do Pai. que não devemos nos ocupar com as coisas que alimentam a nossa ansiedade, e sim fazer a vontade do Pai a todo o momento
Irei colocar aqui o início do documento 137 de “O Livro de Urântia” para melhorar o meu nível de compreensão como se deu a formação do apostolado do Cristo.
Cedo pela manhã, no sábado, 23 de fevereiro do ano 26 d.C., Jesus desceu as colinas para juntar-se à companhia de João Batista, que estava acampado em Pela, cidade portuária da antiguidade, na província romana da Macedônia.
Durante todo aquele dia, Jesus misturou-se à multidão. Cuidou de um menino que se havia ferido em uma queda e viajou a um vilarejo vizinho de Pela, para entregar a criança com segurança nas mãos dos pais dela.
Durante esse sábado, dois dos principais discípulos de João passaram muito tempo com Jesus. De todos os seguidores de João, um, que se chamava André, era o mais profundamente impressionado com Jesus e o acompanhou na viagem à Pela com o menino ferido. No caminho de volta, ao encontro de João Batista, ele fez muitas perguntas a Jesus e, pouco antes de chegarem ao seu destino, eles pararam para uma pequena conversa, durante a qual André disse: “Eu tenho observado-te desde que vieste para Cafarnaum e acredito que sejas o novo Mestre e, mesmo não entendendo todos os teus ensinamentos, eu me decidi inteiramente por seguir-te; eu me assentaria aos teus pés para aprender toda a verdade sobre o novo Reino”. E, com uma segurança sincera, Jesus deu as boas-vindas a André como o primeiro dos seus apóstolos, daquele grupo de doze com o qual deveria trabalhar na tarefa de estabelecer o novo Reino de Deus no coração dos homens.
André vinha observando silenciosamente o trabalho de João Batista e acreditava sinceramente nele; e tinha um irmão muito capaz e entusiasta chamado Simão, que era um dos discípulos principais de João. Em verdade, não seria um engano dizer que Simão era um dos principais esteios de João.
Logo que Jesus e André voltaram para o campo, André procurou Simão, o seu irmão e, levando-o para um lado, informou-lhe estar convencido de que Jesus era o grande Mestre, e que se havia engajado como discípulo. Dizendo que Jesus havia aceitado a sua oferta de serviço, André sugeriu também a ele (Simão) que fosse a Jesus oferecer-se para irmanar-se no serviço do novo Reino. Simão disse: “Desde que esse homem (Jesus) veio trabalhar na oficina de Zebedeu, que eu sempre acreditei que ele fosse enviado por Deus, mas e João? Vamos abandoná-lo? Seria a coisa certa a fazer?” E, então, concordaram em ir imediatamente consultar João. João ficou entristecido com o pensamento de perder dois dos seus conselheiros mais capazes e dois promissores discípulos, mas bravamente respondeu às perguntas deles, dizendo: “Isso não é senão o começo; logo o meu trabalho terminará e todos nós nos tornaremos discípulos dele”. Em seguida André acenou a Jesus para que se aproximasse, enquanto ele anunciava que o seu irmão desejava aderir ao serviço do novo Reino. E, dando as boas-vindas a Simão como o seu segundo apóstolo, Jesus disse: “Simão, o teu entusiasmo é louvável, mas é perigoso para o trabalho do Reino. Aconselho-te a pensar mais antes de dizer algo. Eu mudaria o teu nome para Pedro”.