Encontrei pela mão do acaso, que deve ser mais um dos nomes de Deus, o trabalho do autor Roger Scruton sobre o conservadorismo. Nestes tempos de conflitos ideológicos, onde procuro seguir as orientações espirituais dadas pelo Cristo para a construção do Reino de Deus, conhecer o pensamento de Roger Scruton pode fazer uma boa contribuição a mim e meus leitores.
Vejamos a entrevista que ele deu a Bruno Garschagen, tradutor de sua obra no Brasil, em uma matéria publicada pelo Grupo Editorial Record há 4 anos, com 40 mil visualizações nesta data.
BG – Sr. Scruton, muito obrigado por ter me recebido. Eu gostaria de fazer algumas perguntas sobre seu livro “Como ser um Conservador” que eu traduzi no Brasil. Você se tornou um intelectual famoso no Brasil.
RS – Que maravilha!
BG – Pois é. Há muitas pessoas interessadas em ideias conservadoras, no conservadorismo britânico. Bem, a primeira pergunta é: por que resolveu escrever o seu livro mais recente? O que motivou você?
RS – A motivação, primeiramente, é que considero que seja a hora de dar uma nova declaração. O conservadorismo precisa mudar e evoluir, junto com a sociedade. É sempre necessário ir atrás dos princípios básicos e expressá-los de verdade na linguagem da época. Se não fizer isso, vai parecer uma filosofia antiga, do passado, que não seria útil agora. É uma questão de reencontrar a linguagem relevante na situação na qual nos encontramos. Foi por isso que resolvi escrever.
BG – Quais são as questões centrais do livro que complementam o seu livro mais antigo?
RS – Escrevi “O Que é Conservadorismo” quando era muito jovem. Foi um livro inflamado porque era um protesto meu contra a instituição socialista que dominava a política britânica desde a 2ª Guerra Mundial, mas particularmente na época que eu era da faculdade. Através do livro tentei expressar que havia um outro lado que as pessoas tentaram esconder. O tema era identificar nossa lealdade política a entender isso. Expressei isso de maneira agressiva. Agora que sou mais velho e sofri todas as consequências da minha juventude inflamada resolvi que era hora de me expressar de forma mais serena, tranquila e indulgente. Também quis demonstrar uma tolerância em relação a todas as pessoas que discordam de mim.
BG – O seu conservadorismo critica muito a política de Thatcher no mercado.
RS – Escrevi em parte porque eu achava que a alternativa ao socialismo não era o mercado livre e o libertarianismo e sim algo que segue a linha de uma tradição nacional, de união social. Eu não era contra o mercado livre, mas eu achava que precisava se unir ao respeito pelas instituições, pelas tradições e assim por diante. Isso foi ignorado, em parte, devido ao pensamento libertário americano.
BG – Você mudou de ideia em relação a isso ou continua igual?
RS – Eu mudei de ideia em relação a muitas coisas. Mudar de ideia é a melhor prova de que você tem ideia. O que mudou na minha cabeça é que agora entendo direito que o mercado livre faz parte da nossa ordem tradicional e não é a sua destruição. Mas precisa estar controlado por restrições para que seja aceitável para todos que não se beneficiam dele. Essa é a grande dificuldade na política.
BG - A melhor maneira é identificar os elementos importantes no mercado livre para que exista um equilíbrio?
RS – É preciso equilibrar com a necessidade da comunidade, com a dependência de muitas pessoas em relação ao apoio. É algo que acontece cada vez mais no mundo. É um problema sério. Se você der apoio demais, você sabota a vontade das pessoas de viverem e de fazerem parte de uma comunidade. Mas, se não der apoio nenhum, o efeito é o mesmo.
BG – É possível ser conservador se você não for um indivíduo maduro?
RS – É, sim. Todas as crianças são naturalmente conservadoras. Elas dependem dos pais, se tiverem essa sorte. Elas amam os pais. Elas reconhecem que nasceram numa ordem que vai além delas. Elas se prendem a isso porque se sentem seguras. O ser humano tem muitas fases de desenvolvimento. Quando é criança, ele é conservador. Na adolescência, ele se torna liberal e talvez, até radical porque quer afirmar a própria identidade. Depois, ao estar mais maduro, ele volta a ter aquela noção de lar, através de uma espécie de passagem e começa tudo de novo.
BG – Interessante. O indivíduo se torna conservador ou se descobre conservador?
RS – É uma boa pergunta. É difícil separar as duas coisas. Eu me descobri conservador aos 21 anos. Eu não era nada antes. Quando aconteceram os eventos de maio de 1968 em Paris, vi que eu acreditava no oposto do que eles acreditavam. Foi assim que descobri.
BG – A família é um elemento-chave na vida do indivíduo que se descobre conservador.
RS – Sim. A família é uma grande questão política hoje. A posição conservadora na cultura europeia e em todas as culturas tem sua base em afirmar a família contra o Estado. É a fonte dos sentimentos morais e sociais. Não é o maquinismo do governo que produz esses sentimentos. Mas devido ao trabalho do Estado, a família está mais fraca agora. Está entrando em colapso na Europa. Uma grande dificuldade para os conservadores é se prender a ideia da família numa época em que as pessoas não se casam e têm filhos fora do casamento. As pessoas se divorciam, abandonam os filhos. O que devemos fazer? Acho que isso é um problema no Brasil também.
BG – Quais são os elementos principais que identificam uma pessoa conservadora?
RS – Os elementos principais? O primeiro de todos é o respeito pela herança social, o respeito pelo que recebemos dos nossos ancestrais. Segundo, é preciso respeitar a lei, a propriedade e a religião. São as maneiras básicas de nos conectarmos com o mundo. Também é preciso estar aberto à oposição. É preciso ter o desejo de resolver as questões através de negociações, discussões e até chegar a um acordo. Não se pode impor uma solução.
BG – Os conservadores, geralmente, negam a visão de conservadorismo como uma ideologia. Qual é a sua opinião sobre isso? Pode ser uma inclinação, uma filosofia política.
RS - É claro que é uma inclinação. Os seres humanos são muito diferentes. As pessoas que têm uma inclinação conservadora não são diferentes das que têm uma inclinação radical. É verdade que os conservadores desconfiam das filosofias compreensivas. Eles não acham que a vida é um sistema de soluções, e sim, ter que lidar com os problemas conforme surgem e fazer isso com respeito ao próximo. Nesse sentido, os conservadores desconfiam da ideologia. Mas mesmo assim, não podem desconfiar das ideias. Todos precisamos de ideias. Precisamos dos conceitos do que fazemos para poder fazer.
BG – Certo. O que os conservadores precisam fazer quando estão no poder para controlar a natureza leviatã do Estado?
RS – É uma pergunta e tanto! Bem, eu espero que eles reconheçam que a questão não é controlar, e sim influenciar. Quando você está no governo, não deveria querer controlar tudo que acontece e sim ter uma influência para que as coisas sigam na direção que você quer. Se o público não quiser que siga nessa direção você não pode prendê-lo e ameaça-lo dizendo que só pode ser assim. Isso é importante. No último século, a política só quis controlar. Na Europa pelo menos. Os comunistas, os nazistas, os fascistas... Todos queriam controlar tudo e tomar as rédeas do futuro para moldá-lo do jeito que idealizaram. Os resultados foram desastres. A Europa foi destruída três vezes. Devemos aprender a lição de que a política não é só o controle, e sim administrar as crises que acontecem para tentar reconciliar os conflitos.
BG - É possível fazer isso de maneira eficaz, considerando o tamanho do governo e das cidades?
RS – É uma ótima pergunta. Como as nossas sociedades são enormes agora e chegaram ao limite da expansão... podemos ver isso, porque as populações estão começando a diminuir. É preciso ter muita organização. Isso é inegável. Muito mais do que era necessário na Idade Média e no século 19. Mas existe uma organização que respeita as pessoas e outra que tenta controla-las. Precisamos do primeiro tipo de organização. Por exemplo, no caso das escolas. Acreditamos que as crianças precisam de educação, mas não acreditamos que as escolas devam ser controladas pelo Estado. Podemos dizer aos cidadãos que devem educar as crianças, mas que depende deles. As crianças podem estudar numa escola particular e o Estado pode até subsidiar isso. Mas você precisa cumprir o seu papel.
BG – Você cita conceitos de Hayek no seu trabalho e nos artigos e livros mais antigos. Hayek, no passado, escreveu um ensaio famoso chamado “Por que não sou Conservador”. O que você acha desse ensaio? Me parece que Hayek se colocava como conservador de outra forma.
RS – Certo. É preciso olhar para o ensaio no contexto no qual escreveu. Acho que foi nos anos 1950. Ele analisou a política da Europa no pós-guerra e ficou muito desiludido, principalmente com os partidos conservadores, como o nosso, que simplesmente aceitou o resultado estatista da 2ª Guerra Mundial. Para eles, o Estado foi o único vitorioso. A União Europeia se desvencilhou da ideia de que precisamos de um Estado compreensivo para poder controlar tudo. É por isso que Hayek não se considerava um conservador. Ele era um liberal clássico, tradicional. Mas, desde então, ficou muito mais claro que os argumentos do tipo de liberalismo de Hayek também fazem parte do conservadorismo.
BG – Certo. O que acha da Escola Austríaca de Economia?
RS – É uma aventura intelectual brilhante. As pessoas ainda não absorveram a lição. Com certeza, Mises e Hayek ... destruíram a possibilidade de uma economia socialista. Eles tinham argumentos conclusivos contra isso. Claro que não resolveram todas as questões da economia, pois essas questões não são apenas científicas. Mas é preciso levar à sério o que fizeram.
BG – Acha que o governo conservador precisa das ferramentas da economia austríaca?
RS – Bem... O governo precisa reconhecer a verdade no argumento austríaco. Principalmente a verdade de que não temos a informação econômica da qual precisamos, a não ser no contexto de livre comércio e de transações livres. Se tentar controlar as transações das quais a economia depende, você perde a informação de que precisa para que aquilo funcione com êxito.
BG – A informação correta.
RS – Isso. Isso quer dizer que é preciso ter muito cuidado com todas as intervenções no mercado. Talvez sejam necessárias, ninguém nega isso, mas precisam ser feitas com muito cuidado e ceticismo.
BG – Certo. Para finalizar a nossa conversa, o que gostaria de dizer para os seus leitores conservadores do Brasil?
RS – Eu gostaria de saber mais sobre essas pessoas e sobre como veem o mundo. Uma coisa eu diria é que o Brasil é um país incrível. É único no mundo. Não só graças à sua herança ecológica, que é um dos seus grandes tesouros, mas também porque se fala português. É um país que se isola dos outros que os cercam, mas ao mesmo tempo está unido à Europa. Eu diria para os brasileiros se agarrarem à herança europeia e à herança cristã, primeiro de tudo. E também diria para respeitarem a grande herança ecológica. Se possível, tentem manter as multinacionais distantes. Todas querem se apropriar do Brasil. E é tudo de vocês.
BG – Senhor Scruton, muito obrigado.
Importante conexão do pensamento político com o valor da família como célula master da sociedade. Como evoluirmos e respeitando a sua estrutura, mesmo que sofra as transformações citadas pelo Cristo, da família nuclear, ampliada até a família universal que é a base do Reino de Deus.
Entendo assim, que o conservadorismo está bem mais próximo dos ensinamentos evangélicos, com os princípios do amor, tolerância, compaixão, perdão, solidariedade, verdade, etc.
Este foi o tema do dia 03-11 das “Reflexões Diárias” livro de Alcoólicos Anônimos. Este é um processo importante para nossa evolução, tanto material quanto espiritual. Faz sintonia e comunicação com o Poder Superior.
Primeiro, devo fazer um autoexame, quem sou, o que faço para onde quero ir, onde estou. Quais são os maiores obstáculos que encontro em minha caminhada, se considero que são contornáveis, e segundo o que estou fazendo para superá-los. Este é o trabalho de focalização que devo iniciar no meu esforço de praticar a reforma íntima.
Segundo, apelo para o Poder Superior através da oração. Sei que Deus é o meu criador assim como de tudo que existe no Universo. Fui criado simples e ignorante, assim como todos meus irmãos, com o propósito de crescer com meus próprios esforços, consciente que sou portador da centelha divina na intimidade da minha alma, que me capacita a fazer o contado consciente com o meu Pai. Depois de feito o autoexame, onde identifico minhas principais dificuldades, é o momento de ser humilde, reconhecer que preciso de ajuda, que o Pai pode me dar. Sei que Ele conhece todos os meus defeitos, que Ele sonda meu coração, mas que precisa ouvir de mim os pedidos que tenho a fazer. Com isso Ele confere por onde anda a direção do meu livre arbítrio, único espaço que Ele não tem acesso. É o livre arbítrio que me dá a direção de onde quero ir, que seja certo ou errado. Se entro no caminho errado por ignorância, tenho o direito da compaixão exemplificada pelos ensinos teóricos e práticos do Cristo. Se uso o livre arbítrio para fazer o errado, sabendo que isso não é certo, então devo ficar sob a força da justiça, representada pelo Arcanjo Miguel. Assim é feita a oração, essa fala honesta com Deus, pedindo com humildade aquilo que precisamos para nossa evolução, mantendo o esforço para deixar o coração limpo de sentimentos negativos como ódio, vingança, ressentimentos, mágoas, ciúme, etc. terminada essa fase, entramos em silêncio para a última.
Terceiro, em silêncio meditativo, procuramos ouvir o que Deus tem que nos dizer no âmago da consciência. É um momento único, somente nós que estamos dentro do processo, podemos perceber, sentir o que Deus quer dizer para nós. Problemas de grande magnitude, que parecem explodir dentro da alma, somente nós que estamos em meditações somos capazes de ouvir. Devemos ter muita atenção para não esquecer quando voltarmos ao estado normal de consciência, pois é necessário implementar o que foi instruído, pois somente assim podemos receber o que pedimos na oração.
Assim, dessa forma agindo a cada dia, com certeza iremos captar tudo que pedimos e que o Pai permite para nossa evolução, principalmente nos livrar dos maus hábitos e vícios que nos deixam paralisados à beira do caminho.
Colocarei em alguns blocos o pensamento da filósofa Lucia Helena sobre o escritor Kalil Gibran que contribuirá para a maturação de nossa consciência frente a alguns dos principais aspectos da vida. Este é o primeiro bloco.
Gibran é um libanês, ele nasce e morre nos Estados Unidos em 1931. Chega com a família nos Estados Unido, na cidade de Chicago, ele e o irmão mais velho que era arrimo da família, sustentava toda a família, a mãe e duas irmãs, uma situação muito delicada. Eles não falam a língua, não tem muita habilitação profissional. O irmão trabalha duro pra sustentar a família e de repente vão morrendo um por um: o irmão e a irmã morrem de tuberculose, a mãe morre do coração e fica apenas ele e uma irmã, Mariana, que trabalha como costureira e ajuda a sustentar os dois. Ele é um gênio, já tinha uma habilidade muito grande, tanto para escrever, quanto para pintar. É um grande pintor também, agora, escrever libanês nos Estados Unidos... e é ali que aquele talento, sem ter muito recurso material, talvez não tivesse ficado nos Estados Unidos, se não encontrasse um anjo da guarda que era uma professora norte americana. Uma professora que o conheceu muito jovem, recém-chegada aos Estados Unidos, e começou a apoiá-lo financeiramente, ajudou ele praticamente toda a vida.
Quando Gibran faleceu em 1931, ela ainda o ajudava de uma certa forma. É uma coisa bastante interessante, uma história á parte. Existe um livro que se chama “As cartas de amor do profeta”, são as cartas que ele troca com essa jovem, Mary Elizabeth. São 600 cartas de um lado e 600 respostas do outro, ou seja, 1.200 cartas. Passou a vida inteira, era um amor profundo entre os dois. Num determinado momento ele a pede em casamento, ela prefere que não, os dois ficam se vendo esporadicamente. Ela inspira ele em tudo que ele fez, ou seja, nas cartas trocadas entre eles nascendo o profeta; por exemplo, ela tão brilhante quanto ele. Ela vive muito mais que ele, vai morrer na década de 60 enquanto ele morre em 1931 e ela só autoriza a publicação dessas cartas logo após a morte dela e o profeta já era famoso no mundo inteiro. Ela é só renúncia. Se essas cartas fossem conhecidas com ela viva, iriam a tornar famosa e ela prefere ficar na sombra. Ela realmente o empurra para cima e muito do que você vê de Gibran tem a sombra do que acontece a grande mulher. É um amor muito profundo. Duas pessoas que se amam e trocam cartas, ficam longo tempo sem se ver fisicamente. O que se deve tratar nessas cartas? Eles falam sobre Deus, sobre sabedoria, sobre vida interior... o interesse deles era muito elevado, muito transcendente. As vezes não parecem cartas de namorados, parece um tratado de filosofia e ele não tinha intenção que fossem publicadas. Essas cartas pessoais quase foram destruídas, por um triz não foram destruídas.
Então, é algo interessante que além de Gibran ser um gênio, tem uma alma gêmea, um relacionamento maravilhoso com essa dama americana que está por trás de tudo que ele foi e fazia. Ele faleceu em 1931 e seu corpo é levado de volta para o Líbano. Em toda sua vida ama profundamente a sua terra natal e não teve oportunidade de voltar em vida.
Sua obra escrita é mais famosa que suas pinturas, e sobretudo “O Profeta” eu diria que se forem colocar livros de poesia na sua cabeceira esse tem que ser o primeiro porque ele é simplesmente perfeito em cada capitulo. Ele é pedagógico até nas virgulas, muito conhecimento sintetizado, muito bonito. Foi traduzido em 40 idiomas até o momento, seja em termos de literatura sobretudo de prosa poética, que é o que ele faz. Não conheço um livro tão popular, enfim, em 40 idiomas esse livro foi traduzido. Acho interessante que ainda haja muita gente no Brasil que nunca leu o profeta, que nunca tinha ouvido falar.
Sim, é verdade, nossa cultura ainda é pobre, muita gente lutando pela sobrevivência, dentro da ignorância. Não tem chance de ler um livro como esse, e quando fazem, como eu fiz no passado, não encontra essa fonte de sabedoria que a Lucia Helena tão bem explica. Ajuda a incorporar alguns conceitos, mas não te forma tão completa quando fazemos a leitura orientada que a filósofa nos instiga.
João Evangelista ficou à direita de Jesus no seu reino de amor, aquele que de fato possuía amor por tudo. João e Tiago, filhos de Salomé, que pedira ao Cristo por eles e que acompanhou o Mestre até o calvário. Findou seus dias em Éfeso, com quase 100 anos e 80 anos de vivência cristã. Compreendia que se Deus e Jesus eram um, ele e Cristo eram dois que poderiam também ser dois.
João não tinha conflitos íntimos, seus problemas eram só exteriores. Os que vinham ao seu encontro por dentro eram imediatamente sanados por não encontrarem ressonância em seu modo de ser. Admirava que seus companheiros fossem amarrados na intimidade por simples fatores que para ele não tinha importância. O tempo o ensinou a respeitar os direitos alheios, na sequência que a vida propõe a todos, nas múltiplas diferenciações.
Gostava muito de Jerusalém, passava horas e horas desde menino dentro dos templos, sondando as belezas e sentindo algo que somente os místicos podem compreender. Em certos casos os olhos deixam escapar muitas verdades espirituais. No entanto a sensibilidade da alma parecem ser olhos que enxergam além dos olhos físicos, com uma precisão absoluta. João sentia o ambiente dos anjos nas sinagogas e parecia que conversava com a atmosfera do ambiente religioso.
Certa vez, o sacerdote Azia-Car, vendo o menino João dentro do templo em hora imprópria, advertiu-o que saísse nesses termos:
- Meu filho, aqui é uma casa de Deus. É bom que não fiques muito tempo dentro dela, para que não venhas a esquecer o teu dever com teus pais.
- Doutor, se esta é a casa de Deus, como pode fazer mal às pessoas? Eu sei que este ambiente deve ser respeitado por todos nós. E faço isso com toda a alegria. Isso é errado, meu senhor?
- Não, não... Claro que não. Pode ficar. Eu pensei que...
À noite, como de costume, os discípulos se reuniram em Betsaída e João teve oportunidade de fazer a pergunta a Jesus:
- Mestre, anunciastes certa vez, que onde houvesse duas ou mais pessoas em teu nome estarias no meio delas. Para nós, da tua família do coração, o que isso significa? Como poderias estar no meio dos que se reúnem em teu nome se os discípulos se dividissem e saíssem a pregar por muitos lugares?
Cristo responde com serenidade:
- João, quando as coisas que falo não fazem sentido ao pé da letra, é necessário que busques o espírito para que possas entender. Tu bem sabes que vim da parte de Deus e que legiões de anjos estão a me servir. Não falo de mim, mas daquele que me enviou. Eu e Ele somos verdadeiramente um.
‘Onde eu estiver o Pai estará comigo. A vontade do nosso Pai é uma ordem em todos os reinos celestiais. Quando se reunirem em meu nome, duas ou três pessoas, aí se trava um diálogo compensador, eu estarei no meio delas por meio das luzes celestiais dando-lhes apoio, inspirando-as e motivando-as para o amor de Deus e de uns para os outros. Ainda mais, qualquer anjo que serve comigo a grande causa de Deus, pode tomar a minha presença e se apresentar como se fosse eu porque nós somos iguais pelos sentimentos de amor que nos unem.
‘Certamente podemos estar em lugares onde as pessoas não se reúnem em nosso nome, e é provável que nos achemos em ambientes até contrário ao Evangelho. Entretanto, estar no meio daqueles que falam a nossa mesma linguagem espiritual, que deixam pulsar o coração pelo bem estar alheio, que se alegram em matar a fome, que tem prazer em visitar e consolar os presos, que vestem os nus, que procuram entender os problemas das viúvas, ajudando-as, sem que o interesse distorça as boas intenções. Estar no meio dos irmãos que procuram doar as instruções espirituais e do mundo, visando somente o prazer de servir por amor, com esses estamos neles e eles em nós, para que possamos juntos gozar as delícias da vida, nas delícias de Deus.
‘João, não leves tudo para os extremos, porque ouvistes de mim o que foi dito. Eu sou eu mesmo e estou no meio dos que se reúnem em meu nome, porque é o mesmo nome do Pai que está nos céus. Deixo este corpo a hora que aprouver ao Senhor. Não há barreiras para quem está de posse da Verdade e não existe dificuldade para quem se faz uno com o Todo Poderoso. Posso aparecer em milhares de lugares, dividir-me ao infinito, sem perder a consciência de onde me apresento e lembrar-me de tudo o que o dever me exige.
‘Vós todos podeis fazer o que eu faço, dependendo de alcançar a minha morada e pagar o preço que eu cedi pela força do despertar espiritual. Não penseis que darei qualidades que somente o Senhor pode dar. O que faço é despertar o que já existe na alma de cada criatura. Eu sou alguém de fora, mas posso ser algo de dentro, com mais realidade, no sentido de que vos liberteis para sempre e que a eternidade possa fazer-vos mais felizes comigo.
‘À ciência do amanhã podereis dar testemunho das coisas que eu vos falo, mas nunca podereis fazer na perfeição em que podemos viver. O meu prazer de levar a fé aos vossos corações é muito grande, para que possais crer sem vacilar, de que não vos abandonarei, nem vos deixarei órfãos nas perseguições e nos sacrifícios que requerem todas as subidas.
‘A Boa Nova, meus filhos, é muito cara para os corações. Custa alto preço a sua disseminação pelo mundo, por encontrar resistência por todos os lados em que a ignorância se faz presente.
A melhor maneira de propagar o Evangelho: o combate, pois anuncia mais alto. Aquele que perseverar até o fim será salvo das impurezas da Terra. E eis que, daqui a pouco, podereis pregar as Novas que estou anunciando por toda parte. Estarei convosco eternamente. Quando eu for para meu Pai, pedirei a Ele, e Ele enviará para vós outros consoladores, que ficarão com todos no alinho da eternidade, como sendo eu em vós e vós em mim, e eu em Deus.
A João parecia que tinha se acendido uma lâmpada em seu coração.
Pai, sinto cada vez mais o quanto estamos mergulhados em dores e sofrimentos neste planeta de provas e expiações. O egoísmo campeia pelas mentes sofisticadas, a ignorância é a tônica da massa que tenta sobreviver, pensando que tudo termina com a morte.
Vejo o meu país sucateado por uma quadrilha que se apossou do poder; a justiça tenta prender e recuperar parte dos bens surrupiados, mas os beneficiados pelas iniquidades não conseguem ver o crime cometido, se envolvem em falsas narrativas que tendem a dominar o cenário do debate.
Somente o Cristo pode nos levar por caminhos da vida, com a verdade na frente, atropelando toda a mentira que surja, tanto à direita quanto à esquerda.
Sei que esta é a Tua vontade, Pai, que reneguemos a mentira, estratégia do mal. Sei que Tua vontade é ordem para quem Te reconhece como Pai.
Sei que enviastes o Cristo para ser o nosso pastor, para nos conduzir nessas estradas sombrias cheias de iniquidades, onde o nosso irmão não reconhece o Senhor como Pai comum e se comporta como um animal predador, bestial, destrutivo. Muitas vezes para nos salvar temos que o destruir.
Cada vez mais, Pai, tenho clareza da Tua vontade, do caminho a seguir. Cada vez mais assumo tarefas, aumenta a responsabilidade. O lazer fica cada vez mais raro, os compromissos com Tua vontade cada vez mais amplos.
Vejo a trilha da Família cada vez se alargando, da nuclear para a ampliada e daí para a universal. Vejo que intuitivamente Tu me colocaste nessa trilha, construí os alicerces sem nem ao menos saber que era isso que Tu querias. Certamente minha memória já tinha registrado no inconsciente essa responsabilidade. Tenho vários focos de família que se mantém agregados à minha personalidade, apesar dos muitos preconceitos e barreiras que surgem, mas com a energia do amor elas são dissipadas, mesmo que permaneçam as ruinas a atrapalhar nossos passos.
Mas a mensagem está se consolidando na matéria, com os aliados que Tu me envia, reconheço, com as energias do amor de toda a natureza, mas todas subordinadas ao amor incondicional.
Sei que a carcaça biológica começa a entrar em declínio, mas a consciência espiritual começa a ficar mais forte e gerencia com mais competência os diversos interesses que surgem no entorno.
Sim, Pai, estou com a consciência tranquila que sigo fazendo a Tua vontade, mesmo que seja em muitas ocasiões com pouca competência. Mas isso é devido ainda a minha inferioridade espiritual, que sei será resolvido com o tempo e o trabalho bem direcionado.