A ideologia de gênero defendida pelos partidos de esquerda, foi criticada pelo maior expoente da doutrina espirita no Brasil e provavelmente no mundo, o médium Divaldo Franco. Vejamos o que ele disse quando provocado num programa de auditório.
- Qual é a pergunta que você tem para o baiano mais querido?
- O que dizer sobre a ideologia de gênero?
- Obrigado pelo pinga-fogo. Eu diria em frase muito breve que é o momento de alucinação psicológica da sociedade. Em uma entrevista que recomendamos, do centro espírita Joana de Angelis da Barra da Tijuca, que entrevistou nosso Haroldo a esse respeito e as respostas como as perguntas muito bem elaboradas, propiciaram Haroldo abordar a questão do ponto de vista legal e moral, espírita e social. Vale a pena, portanto, procurar na internet esse encontro com Haroldo Dutra.
‘Haroldo diz em síntese, e eu peço licença a ele, que se trata de um momento muito grave da cultura social da terra e que naturalmente é algo que devemos examinar em profundidade. Mesmo porque nós vamos olhar a criança graças à sua anatomia como sendo o tipo ideal. E a criança nesse período não tem discernimento sobre o sexo. A tese é profundamente comunista e ela foi lançada por Marx sobre outras condições. Que a melhor maneira de se manter um povo não é escraviza-lo economicamente, é escraviza-lo moralmente.
‘Como nós vemos através de vários recursos que sem sido aplicados no Brasil nos últimos 9 a 10 anos em que o poder central tem feito todo esforço para tornar-se patrão de uma sociedade em plena miséria econômica e moral porque os exemplos de algumas dessas personalidades são tão aviltante e tão agressivo que se constituíram legais e por lei nunca morais.
‘Todas essas manifestações que estamos vendo, são graças à república de Curitiba cujo presidente, o doutor Moro, e deve-se o desnudar da hipocrisia e da criminalidade. Aliás, o evangelho recomenda que não devemos provocar o escândalo e o nosso venerando juiz não provocou escândalo, atendeu a uma denúncia muito singela e no entanto levantou o véu que ocultava crimes hediondos, profundos desvios de dinheiro que poderia acabar no Brasil. Quando penso nas enfermidades que vem atacando recentemente, que poderia educar toda a população e dar o que a nossa constituição exige: trabalho, repouso, dignidade, cidadania. Mas, determinados comportamentos de alguns do passado, são muito próximos para estabelecer o marxismo disfarçado e à corrupção sob qualquer aspecto, como princípio ético.
‘A teoria de gênero é para criar na criança, no futuro cidadão, a ausência de qualquer princípio moral. Uma criança não sabe discernir, somente têm curiosidade. No mesmo banheiro, um menino e uma menina vão se olhar biologicamente, sorrindo, e perguntar o de que se tratava aquele aparelho genérico que é desconhecido. Então nós devemos repudiar de imediato e apelar para aqueles em quem nós votamos, que somos responsáveis e gritar para ele que somos contra, totalmente contra essa imoralidade.
Como adultos espíritas, somos muito omissos no nome falso, na capa da humildade. Achamos que tudo está bem mas, nem tudo está bem. É necessário que nós tenhamos voz. O apóstolo Paulo jamais silenciou o crime, a imoralidade. Com Jesus muito menos. Ele deu a certeza que era de paz, mas não deixou de dar a Deus o que é de Deus.
Com muitas aberrações nós silenciamos, afinal, disfarçadamente, vivemos numa República Democrática e os nossos representantes lá chegam pelo nosso voto. Já está na hora de acabar com isso, para votar por uma pessoa apta. Já está na hora de não votar por causa do emprego que se vai dar ao nosso filho. Devemos pensar na comunidade, uma comunidade justa, onde não faltará emprego para todos. Uma sociedade justa de homens de bem, de mulheres dignas.
Naturalmente se estabelecerá as leis de justiça e de equidade. Então nós poderemos evitar essas aberrações, um aborto provocado, esse crime hediondo que está sendo tentado tornar-se legal, por mais que seja legal nunca será moral. Não somos contra quem aborta por esta ou aquela razão, falamos em tese, matar é crime, seja qual for a pálida justificativa. E agora com a tese de gênero, estamos ficando indiferentes e de um momento para outro, pela madrugada, os nossos dignos representantes adotam falácias, a respeito de cartilhas do ministério da educação, depravadas, para corromper as crianças. Por isso as escolas estão devolvendo ao ministério da educação. Os pais devem vigiar os livros de seus filhos e naturalmente recusarem. Nós temos o direito de recusar, nós temos o dever de recusar. Victor Hugo já nos falava que um grande pecado é a omissão. Kardec nos falou que não era nobre apenas não fazer o mal por que não fazer o bem é um crime muito grande. Então precisamos ser mais audaciosos, espíritas definidos, ter na sua opinião o que a doutrina nos ensina. Para os jovens, o direito é uma ética libertadora; poderemos exercer o sexo, é uma função do corpo e também na alma, mas com respeito e com a presença do amor, portanto a ideologia de gênero jamais.
Pode ter havido troca de algumas palavras durante a transcrição, porém essa é a essência do pensamento e ao qual nós nos associamos.
Senti a vontade de interpretar a letra de uma canção, “O amor e o poder (The Power of Love), ou “Como uma deusa” de Rosanah Fienngo. Vejamos.
A música na sombra,
O ritmo no ar
Um animal que ronda
No véu do luar
Evocação do amor romântico, como sempre acontece com as letras das músicas populares brasileiras. Cita a música como o pano de fundo do que vai acontecer, ela está na sombra, no ar, como um animal que ronda o que vai acontecer. Mas a cena romântica está preparada com a participação alcoviteira do luar.
Eu saio dos seus olhos
Eu rolo pelo chão
Feito um amor que queima
Magia negra
Sedução
Bela imagem de um amor platônico. A pessoa sente o olhar romântico que a atinge, um amor que não lhe deixa indiferente, que mesmo fugindo a esse olhar permanece sentindo seus efeitos com muita intensidade, que não consegue se livrar, mesmo rolando pelo chão sente o calor das labaredas. Está sendo queimada por esse fogo invisível que parece magia negra. Mas reconhece que é uma sedução que como magia negra a está deixando tão afetada. Melhor seria dizer Magia Branca, pois traz nela o bem, não o mal.
Como uma deusa
Você me mantém
E as coisas que você me diz
Me levam além
Aqui a pessoa se identifica como mulher. Aquele olhar de sedução que funciona como magia, queimando o seu corpo, despertando seus desejos, funciona como a ação de um crente frente á sua deusa. É nesta posição que o enamorado a mantém, como uma deusa. As coisas que ele diz para ela conduzem a sua alma para espaços paradisíacos, inesperados, inesquecíveis.
Aqui nesse lugar
Não há rainha ou rei
Há uma mulher e um homem
Trocando sonhos fora da lei
Por um instante ela foge desse sonho de realeza e tem a consciência que onde estão não há espaço para rainha ou rei, ou vassalo, súdito. O que existe é um homem e uma mulher trocando sonhos, com olhares e palavras de sentido embutido. Por que embutido? Porque são sonhos de romance fora da lei, que não podem ser explícitos. Eles existem na imaginação de cada um e que nem ao menos podem ser confessados de um para o outro. Ambos podem estar construindo um sonho que já nasce preso pelos padrões culturais, sob a vigilância carcereira da consciência, de não fazer o mal a ninguém, principalmente quem se quer bem.
Como uma deusa
Você me mantém
E as coisas que você me diz
Me levam além
Mas como é boa a sensação de divindade. Mesmo sabendo da realidade em que vive, se permite viver esse sonho de deusa, pois afinal o que o sonho não manifestado pode fazer de mal? Os enamorados nessa plataforma platônica curtem o sonho cada um á sua maneira. Ela é a deusa, ele é o devoto.
Tão perto das lendas,
Tão longe do fim
A fim de dividir
No fundo do prazer
O amor e o poder
Ela sente que vive na intimidade um mundo de fantasia, mas com um pé dentro da realidade. Vive a construção de uma lenda que está longe de ter fim, pois cada vez mais se fortalece a sensação de prazer. Tem a intuição de que este sonho é dividido e que ela é a fonte desse poder que evocou a força do amor romântico, que provoca a magia a sedução, toda energia capaz de construir deusas e realezas.
A música na sombra
O ritmo no ar
Um animal que ronda
No véu do luar
Tão perto das lendas,
Tão longe do fim
A fim…
Ela continua ouvindo a música sedutora nas sombras dos padrões culturais em que vive. Mas o ritmo do amor imprimido pelo olhar continua fortemente no ar. Tudo conspira a favor: a luz do luar, mesmo não sendo possível aproveitá-la integralmente dentro do romance; a construção de uma lenda que talvez um dia possa vir á lume; e a perspectiva de durabilidade dessa experiência que se fortalece a cada dia pela força energética do amor romântico e supervisão do amor incondicional.
Dentro de nossa alma existe a centelha divina que mesmo adormecida pelos instintos da natureza animal sempre tem o potencial de brilhar com menor ou maior força, dependendo da pessoa e das circunstâncias.
Vou relatar o caso que encontrei no livro “Francisco Julião – Uma Biografia”, de Cláudio Aguiar.
Francisco Julião, parlamentar do Partido Socialista Brasileiro (PSB), denunciava com coragem os crimes cometidos contra os camponeses que se associavam ás Ligas Camponesas.
Dias depois, por causa de um incidente entre um senhor de terras e a família de camponeses que acabaram de se associar á Liga Camponesa, a polícia, comandada por um sargento, invadiu o sítio do velho Mata, que nenhuma relação ele tinha com o caso.
A segunda parte dessa tragédia foi denunciada no Plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco, sob o choro e pesada emoção da mãe dos filhos sacrificados, dona Maria Mata, que se encontrava nas galerias, pois Julião costumava levar os camponeses agredidos pela polícia ou pelos capangas para serem vistos na Assembleia, pela imprensa e pelo público presente.
Este é o relato do Julião.
A polícia entra pelo oitão, viola a camarinha, joga os trastes de pernas para o ar, quebra os potes e as panelas de barro a coronhadas, criva as portas e as paredes de balas de fuzil, interroga, aterroriza, espanca, mata as crias miúdas do terreiro. Vai além. Agarra um dos filhos do velho Manuel, passa-lhe pela cintura um laço de corda de agave e o prende á traseira do jipe, que se põe em marcha. A velha mãe de Manuel, neta de índio, de caboclo do mato, paciente, estoica, habituada ao sofrimento, precipita-se atrás do filho, pede, grita, implora, tenta segurá-lo, mas nunca o alcança, porque o jipe aumenta a marcha cada vez mais, até que ela perde as forças e se deixa ficar de joelhos com as mãos para o alto clamando pela Virgem. Manuel tem de aumentar o passo, de correr, de pular, equilibrando-se para não cair, mas, finalmente, cai, e é arrastado por cima de pau e pedra. A roupa se rasga, a pele se esfola, o sangue começa a minar das pernas dos braços, do peito, da cara, mas da sua garganta não sai uma palavra, nem se ouve um gemido. Nada. O sargento, o cabo e o soldado se divertem com a carreira, os saltos e tombos de Manuel, que não resiste mais e perde os sentidos. Não passa agora, de uma posta de sangue, que rola desgovernada por baixo da poeira que o jipe vai levantando pelo caminho afora. Três quilômetros durou o suplício de Manuel. Um soldado, a mando do sargento, cortou de facão a corda e o jipe disparou para a cidade. A missão fora cumprida. Quem iria queixar-se ao delegado se o delegado era o sargento? Veio o velho Mata com os filhos e levaram Manuel numa rede para casa.
Quando voltou a si estava deitado num leito de folhas verdes de bananeira e trazia as feridas curadas com leite de mangará, que estanca rapidamente o sangue. Mas daí por diante Manuel deixara de ser o mesmo homem. Sararam as feridas e enfermou-se da mente. Mais uma denúncia. Mais um inquérito. O retrato do velho Mata e da família na imprensa. Como sempre, a crônica policial, que é a página social do camponês. E tudo acaba em nada.
Pela primeira vez tenho diante de mim a velha Maria Mata, como um bronze vivo, que diz tudo pelos olhos e quase nada pela boca. Manuel, porém, não viu nascer o sétimo filho que tomou o seu nome. A Liga levantou para ele uma casa noutras terras. Mas no dia que teve a família agasalhada, foi até o local que dava para a estrada, onde a Liga se reúne, sentou-se, tomou a peixeira e, de repente, abriu a barriga de um lado para o outro, tirou de dentro os intestinos e cortou em pedaços que atirava para longe, até cair sem dar um gemido. Conduzido ás pressas para um hospital, o coração de Manuel deixou de bater na sala de cirurgia (Julião, 1975: 166-167).
Como ficar insensível a uma situação dessa? Quem está se beneficiando dessa condição macabra de tão perversa? São essas circunstâncias que fizeram eu defender as bandeiras políticas das esquerdas, na minha fase de adolescente e adulto jovem, até agora a maturidade. Uma situação que merece a luta em defesa da dignidade humana, mas o passo seguinte não podemos observar com tanta clareza. Os movimentos socialistas/comunistas conquistam o poder com base nessa luta, muitas vezes com revoluções regadas a muito sangue, e se tornam mais sanguinários que os regimes anteriores.Por isso, conhecendo melhor a realidade, resolvi me tornar um soldado do Cristo, um cidadão do Reino dos Céus, onde não há corrupção ou genocídio na liderança do Cristo.
O livro de Roberto Shinyashiki, “A Carícia Essencial”, traz importantes elucubrações sobre uma forma de fazer terapia. Começa citando Eric Berne, um psiquiatra canadense que desenvolveu o conceito de strokes, que significa carícia, toque, estímulo e reconhecimento.
A introdução feita pelo psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, afirma que “é preciso começar a trocar carícias, a proporcionar prazer, a fazer com o outro todas as coisas boas que a gente tem vontade de fazer e não faz, porque ‘não fica bem’ mostrar bons sentimentos”.
A citação de Sigmund Freud coloca mais ênfase na forma de fazer terapia com mais afeto, pois diz que ele ajudou a atrapalhar mostrando o quanto nós escondemos de ruim. Porém, não é só coisas ruins que colocamos dentro da chamada Caixa Preta. Também escondemos dentro dela o que é bom em nós, a ternura, o encantamento, a alegria, o romantismo, a poesia, sobretudo o brincar com o outro.
Por que tudo tem que ser tão sério, respeitável, comedido, contido, fúnebre, chato, restritivo? Por que o desejo, mesmo tendo sintonia com o Amor Incondicional deva ser reprimido? Até porque o desejo tem a ver com o sideral, com as estrelas. Seguir o desejo é seguir a estrela, estar orientado, saber para onde se vai, conhecer a direção.
A gama de preconceitos em nossa cultura não deve impedir de tomarmos a direção correta, seguir o desejo compatível com o Amor Incondicional, principalmente em terapia, quando o outro que está ao meu lado merece ter todos os recursos, os mais apropriados para a melhora de sua condição afetada.
Nesse contexto, o medo é nosso maior inimigo, pois o outro está sempre observando atentamente tudo que fazemos e que não pode sofrer desvios do padrão cultural estabelecido. Assim, criamos mentalmente uma prisão sem grades para o nosso comportamento. Vivemos sob vigilância mútua, todos contra todos, observando, criticando, comentando.
Quem tem coragem e quebra essas algemas mentais e faz o que dita a sua consciência, logo vai para a fogueira moderna queimar nas labaredas da maledicência até voltar a ser pequenos, insignificantes, imperceptíveis, uma espécie de normopatia.
O corajoso que assume abrir sua Caixa Preta e assumir qualquer conduta que não se afasta do Amor Incondicional, pode ser considerado um iluminado, apesar de todos o considerar um louco delirante que faz tudo diferente de todos. Interessante é que fazendo assim, o corajoso mostra um alto senso de dignidade humana, o que faz ele se tornar insuportável para todos os outros, que são indignos.
Amar ao próximo deixa de ser um idealismo místico de alguns poucos espiritualistas honestos. Iremos observar que a união na sintonia do Amor nos transfere sua força. Iremos, afinal, construir o Reino de Deus, recuperando nossos irmãos com afetos em primeiro plano.
Mesmo sabendo da importância da oração, sempre tenho dificuldade de realiza-la, por esquecimento mesmo. Isso é uma prova que não dou a importância devida. Mas aconteceu um caso comigo em Caicó onde a oração de repente assumiu a sua relevância.
Sempre corto o cabelo com um senhor idoso, quando tenho necessidade. Neste dia não havia tanta necessidade, mas como meu trabalho terminou cedo, resolvi entrar na barbearia e fazer o cabelo. Resolvi também, por curiosidade, fazer a barba. Não havia também a necessidade. Mas a curiosidade venceu a prudência. Podia muito bem ter esperado e fazer a barba quando chegasse em Natal.
O drama começou cedo, quando o idoso barbeiro terminou o cabelo e começou a barba. Ao sentir a proximidade daquela navalha afiada no meu pescoço, de imediato veio á minha mente a necessidade de fazer a oração. Sempre tenho vontade de fazer orações regulares com palavras bem concatenadas dirigidas ao Pai. Nunca consegui fazer isso a contento e muito menos nessa ocasião. Ai foi que a minha mente não encontrava palavras. Só vinha na minha mente as pequenas frases... “Pai, me ajuda!”, “Pai, me socorre!”.
Sentia a lâmina desfilar pelas áreas frágeis do meu pescoço e ficava a pensar: tenho um cachorro idoso em casa, que treme frequentemente devido a idade, e se esse barbeiro idoso também tremer e me cortar? Mas, ainda vinham pensamentos piores: sei que tem gente que sem motivos aparentes entra em surto psicótico e machuca quem está perto. E se o barbeiro entrasse em surto? Mas, ainda vinha pensamento pior do que estes: sei que a mente pode captar pensamentos pela telepatia e o pensamento de uma pessoa pode influenciar outra pela hipnose. E se esses meus pensamentos influenciassem a mente do barbeiro para ele fazer aquilo que eu temia, dar um simples corte na minha garganta e, com certeza, eu não levantaria jamais daquela cadeira.
Enquanto a minha mente fervilhava com esses pensamentos misturados com os fragmentos de oração, o meu corpo queria responder com rigidez. Não podia deixar essa minha contração muscular ser aparente, pois sei que os cachorros quando percebem que uma pessoa estar com medo aí é que eles ficam mais valentes.
O coração queria acelerar, mas também aceleraria a respiração, e assim o barbeiro perceberia minha situação emocional. Precisava controlar os pensamentos catastróficos para não influenciar no ritmo do coração, mas tinha que fazer a oração que era a minha única tábua de salvação.
A aflição se desenvolvia na minha mente e corpo enquanto a navalha persistente passeava por minha face, sentia mais arranhar do que alisar, muito diferente do alisar do meu estojo de barbear. Foi ai que eu senti a força do arrependimento e a extrema necessidade da prece.
Comecei a ficar mais aliviado quando percebi os movimentos finais do trabalho. Mas ainda tinha uma surpresa que eu não esperava. Ele molhou as mãos com um liquido, possivelmente contendo álcool, e alisou o meu rosto com ele. Parecia um lança-chamas incendiando meu rosto. Mais uma vez fiz outra acrobacia física e mental para controlar a rigidez do meu corpo, a contenção de lágrimas e até um grito preso na garganta.
Finalmente terminou a tortura. Posso não ter sido competente com a oração mais uma vez, mas fui muito competente com meus controles internos, pois o barbeiro comentou satisfeito: aproveitou bem o momento que chegou a dormir, né? Não iria destruir minha performance contando a verdade, dei simplesmente um sorriso desbotado de alegria, paguei, recebi o troco e sai em direção do mercado, com o rosto ainda afogueado pela brisa que lhe tocava.
Querendo aliviar a intensa pressão que acabava de sofrer, aceitei o convite de um senhor para sentar no seu banco para ele engraxar meu sapato, na frente do mercado. Foi quando passou um transeunte e procurou me fazer um favor, pois eu estava com uma camisa branca e iria sujar, dizia ele, o meu rosto estava manchado de sangue. Perguntou se eu tinha feito a barba com o referido barbeiro e confirmei, com o já tradicional sorriso amarelo, que talvez tivesse também vermelho. Ele disse que aquele profissional já era conhecido em retalhar o rosto de quem ia fazer a barba, e certamente eu não era da cidade para ter ido lá. Não quis prolongar a conversa, pois afinal de conta eu até gostava do tal barbeiro, pois sempre me dava um desconto sem eu pedir, quando fazia meu cabelo, alegando que não tinha o que cortar, com muita justiça, por causa da minha careca.
Agora que estou digitando essa história, vejo como sou resistente com relação a oração. Fiz a oração, desesperado, durante a aflição, mas depois, não mais voltei a orar e agradecer ao Pai por ter saído vivo.