CAOS. 2. E a Terra estava desolada e vazia; e a escuridão estava sobre a face do abismo. (Deus não criou a Terra originalmente desolada e vazia; chegou a ser assim depois de um acontecimento catastrófico; este acontecimento foi o resultado da rebelião de Lúcifer contra Deus, o qual teve lugar nalgum tempo da eternidade passada). O texto bíblico coloca uma situação que a nossa consciência, aliada aos modernos avanços da ciência, pode compreender como sintonizado com o processo evolutivo. A explosão original (Big-Bang) deu início a um processo de formação e evolução material que justifica entender que a Terra estava em determinado momento da sua recente existência, desolada e vazia e a escuridão estava na face do abismo, isto é, o lado que não estivesse iluminado pelo sol, no momento da rotação do planeta sobre si mesmo, estava voltado para o abismo, que poderia sinalizar, no futuro, a presença de tantos corpos cósmicos. Agora, dizer que este acontecimento foi devido a rebelião de Lúcifer contra Deus, entra em forte contradição. Como justificar que Lúcifer, um anjo de Luz bem próximo de Deus por seu grau de pureza, de repente sofra uma crise emocional querendo suplantar o próprio Criador. Como aceitar que ele, depois de tanto evoluir e tão alto chegar, tenha sofrido tamanha falha em ser desobediente a Deus e comandar uma rebelião para destituí-lo do comando celestial. E o Espírito de Deus (o Espírito Santo) movia-se sobre a superfície das águas (significa o mover do Espírito Santo e o começo da vida). O começo da vida, segundo os estudos modernos da cosmologia e biologia, teve início a partir do Big-Bang, considerando que a partir daí é que surgiu a matéria que constitui os elementos da vida. Ao longo dos bilhões de anos de evolução, esses elementos chegam a formar corpos sólidos, como planetas e sóis, em todos os pontos do universo, e em cada um deles ocorria a aglutinação de elementos materiais até chegar à condição de corpos orgânicos, seres capazes de se reproduzirem e construir a vida. O Espírito de Deus permanece presente em cada ponto de sua criação, por minúsculo que seja. Podemos agora dizer que “o Espírito de Deus se move sobre sua criação”. A minha consciência, tão minúscula, talvez não possa dimensionar convenientemente tal situação, o Espírito Divino movendo-se sobre meu corpo, minhas células, meus neurônios, sabendo automaticamente o que estou pensando, intuindo e tencionando,,, a mesma coisa acontece com cada ser humano, cada ser vivo, cada ser inerte, cada planeta, galáxia, universos... chega o momento que devemos fazer essa sintonia com a energia divina, criadora, de forma mais racional, sem tanto misticismo, saber que ela está ao redor, dentro de nós e em qualquer ponto da Natureza, por diminuto ou gigantesco que seja... que nossa consciência seja capaz de sintoniza-la, incorpora-la e direcioná-la... este é o desejo do Criador!
Costumamos centrar nossa atenção no trabalho que é realizado, no que deve ser feito, mas pouca atenção vai para o repouso que também é necessário.
As tarefas podem se tornar pesadas e levar à estafa. Devemos examinar os compromissos à nossa frente que nos assoberbam e fazer uma seleção, por em ordem o que devemos executar, aproveitando bem o tempo, e disciplinar as realizações, trabalhando com otimismo.
O trabalho que leva ao enfado, termina por levar também à depressão. Há trabalhos que podemos e devemos fazer, e há haveres que outros podem executar. Muito parecido com um time de futebol. Cada atleta tem uma posição para garantir o melhor desempenho do time. Se um jogador quer atuar em cada posição, logo ficará cansado e não renderá o que poderia fazer.
Há serviços de superfície, que não são tão importantes, mas que tem o potencial de absorver e até desesperar, porquanto se multiplicam sem cessar. Por outro lado, devemos fazer uma boa distinção do trabalho que temos à frente, pois fugir do que é necessário fazer, significa transferência de luta para tempo e espaço posterior.
Por outro lado, o trabalho pode ser buscado para vencer a ansiedade, e isso é um perigo. Corresponde ao fazer uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, como cocaína, maconha, álcool, entre outros, para fugir de um tormento e cair em outro.
A doutrina que consta nos Evangelhos cristãos nos ajuda a iluminar a mente, a dissecar os dramas que assolam nossas almas, libertando-nos dos falsos problemas e corrigindo as indisciplinas do nosso Espírito ainda muito imperfeito.
O aluno do Cristo deve sempre estar preparado para executar bem o seu trabalho. Deve estar capacitado com os valores que iluminem para a Paz legítima, a fim de adquirir alegria nas realizações, desintoxicando-se da estava que irrita, entorpece e predispõe ao mal. Devemos estar sempre prontos a ser usados pelo Senhor.
Procuremos desenvolver as atitudes cristãs, meditando nas horas vagas, cultivando a leitura edificante como forma de aprendizagem, conhecer a sutileza dos adversários ocultos dos olhos materiais, obsessores espirituais; promover o autoconhecimento e a auto iluminação, desenvolver o hábito de ler e estudar, pois o estudo também é trabalho.
Paulo de Tarso, o apóstolo que não conheceu Cristo, desenvolveu alguns critérios para caracterizar um bom trabalhador cristão: ter boas condições pessoais (mente sã em corpo são), compromisso com a tarefa, formação cristã inicial e continuada, ampliação das próprias possibilidades, trabalho em equipe e formação de novos trabalhadores.
Desenvolvendo bem o trabalho, entraremos no merecimento de ter o esforço físico compensado, a renovação íntima, o refazimento das forças utilizadas através do repouso coerente; não entrar num sono entorpecente, nem praticar ação devastadora, espoliando o corpo. O repouso pode ser também entendido como higiene mental.
As atividades espirituais devem ter prioridade, pois trazem serenidade. Temos o trabalho de semear, mas também devemos ter o trabalho de cuidar, para evitar parasitos, insetos e ervas daninhas. Se queremos plantar, devemos estar conscientes que também devemos zelar. Isso significa levantar o caído e andar um pouco com ele, para que ele possa aprender ou reaprender a dar novos passos. Vamos ajudar o necessitado, mas também animá-lo um pouco mais.
Voltemos novamente a atenção para nosso Mestre. Após trabalho exaustivo junto ao povo, Jesus buscava orar em profundo silêncio, meditar em demorados solilóquios, e recuperar assim as energias.
Aproveitando o tema canino abordado no dia anterior, colocarei mais uma história das muitas de Chico Xavier, para alimentar nossas reflexões de como nos corrigir para nos capacitar a ser cidadãos do Reino de Deus. Vamos ver um dos “Lindos casos de Chico Xavier”.
A MÁGOA
Há muitos anos, Chico possuía um cachorro deficiente. Esse animal lhe dava um trabalho muito grande. Quando chegava em casa de madrugada, após o trabalho no Centro Espírita, tinha que limpar todo o quarto. Comprava, com seu diminuto ordenado, uma coberta que não chegava a durar um mês. Assim foi durante muito tempo. Certo dia, quando ele chegou, o cachorro estava morrendo. – Parecia que ele estava me esperando... – disse com tristeza – Olhou-me demoradamente de uma maneira muito terna, fez um gesto com a cauda, e morreu.
Enterramo-lo no fundo do quintal, não sem antes derramar muitas lágrimas. Passaram-se alguns meses e uma de suas irmãs lhe disse: - Chico, você se lembra daquele cachorro aleijado? – Claro, como poderia esquecê-lo? – Olha, vou contar uma coisa. Ele não morreu naturalmente não. Dona Fulana tinha pena de ver você chegar todo dia de madrugada e ter tanto trabalho. Então, querendo aliviá-lo, deu veneno para o cão.
- Ah, meu Deus! Não me diga uma coisa dessas!
- É verdade, Chico. Ele não sentiu raiva, pois em seu coração não havia espaço para isso. Mas uma tristeza invadiu-lhe a alma e uma sombra começou a envolver-lhe o coração. Passados alguns dias, o Espírito Emmanuel lhe disse:
- Chico, essa mágoa que você asila no coração está atrapalhando o trabalho dos Bons Espíritos. Você precisa se livrar dela.
- Não consigo esquecer... – disse-lhe Chico amargurado. – Mas é preciso. Como fazer?
- Você precisa dar uma grande alegria a ela.
- Eu dar alegria a ela?! O ofendido fui eu!
- A receita não é minha... É de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Fazei bem aos que vos aborrecem.” Leia o Evangelho.
Obediente e resignado, Chico procurou descobrir o que a pessoa gostaria de ter e não tinha. Era uma máquina de costura.
Chico comprou, então, uma máquina de costura, a pagar em longas prestações.
Quando foi visita-la, a pessoa estava tão feliz, tão feliz, que quando viu o Chico chegando, correu para ele e lhe abraçou com tanto amor, que uma luz intensa se desprendeu dela e o envolveu da cabeça aos pés. Quando ela soltou o abraço, a sombra havia desaparecido.
Eis aí uma receita para quem ainda carrega mágoas no coração. E você, já deu sua máquina de costura hoje?
É um caso interessante. A mulher quer fazer um bem ao Chico envenenando o cachorro que lhe dava muito trabalho. Na mente da mulher foi um bem. Na mente do Chico foi um agravo. Para o cão pode ter sido um bem, afinal ele estava sofrendo, não aproveitava bem a vida. O Chico apesar de ser uma alma evoluída, desenvolveu mágoa. A mulher foi beneficiada por orientação dos Bons Espíritos, devido a mágoa que o Chico criou. Então, a mulher foi beneficiada materialmente e o Chico beneficiado espiritualmente. O cão também foi beneficiado. Todos foram beneficiados. Se o Chico não tivesse sido avisado do envenenamento, não haveria desarmonia no relacionamento. O Chico não teria desenvolvido mágoa; a mulher não teria ganho a sua máquina de costura.
Fica a lição para nós, candidatos a cidadania do Reino de Deus: não podemos nos apresentar com nossa roupa perispiritual manchada pela mágoa.
A grande missão de Jesus Cristo na sua vinda à Terra, encarnando entre nós, foi ensinar sobre o Amor Incondicional, como formar a família Universal e construir o Reino de Deus. Essas lições apesar de ouvidas, registradas nos Evangelhos, ensinadas nas igrejas, até hoje não foram bem assimiladas. Continuamos a viver mergulhados no egoísmo, mesmo que construamos templos suntuosos que ensina a fé e a importância das lições do Amor. A prática está muito distante.
Mas uma cadela parece que teve muito sucesso em despertar nas pessoas ao redor esse clima de solidariedade que é característica da Família Universal. Vejamos essa reportagem abaixo.
Uma cadela que vive nas ruas de Tanquinho, que é ali no interior da Bahia, é a grande atração da cidade. Esse animal já foi adotado por todos os moradores e por um motivo religioso. Esse animal não perde uma missa, Sandra.
- Quem conta essa história é o repórter José Raimundo...
- (Repórter) Toda vez que os sinos tocam, ela sai de onde estiver e pega o caminho da igreja. Entra com os fiéis e procura um lugar onde possa acompanhar a missa sossegada. Geralmente embaixo de um banco, mas diante do altar. Sempre atenta e de olho no padre, um dos protetores, padrinho.
- (Padre) Se eu celebro três missas aqui num dia, ela sempre está presente em todas.
- (Repórter) De tanto frequentar a igreja a cadela conquistou a admiração não só dos católicos. Menina, como é conhecida, é o xodó de todos os moradores de Tanquinho, uma pequena cidade do sertão da Bahia.
- (Morador) Menina, é nosso patrimônio, mexeu com ela, mexeu com a gente.
- (Moradora) Todo mundo teria vontade, eu mesma teria vontade de leva-la, mas se levar vai gerar ciúmes.
- (Repórter) Ela é tão querida que tem liberdade para entrar em qualquer casa e há sempre um vaso cheio d’água para matar a sede.
- (Morador) É mais fácil faltar água na geladeira do que pra cadela.
- (Repórter) E na hora de comer, ela aparece em alguma cozinha e é bem recebida onde chega.
- (Moradora) Oh, meu amor! Já vai viu?
- (Repórter) O que ela come?
- (Moradora) Come frango, arroz, come tudo que a gente vai comendo...
- (Repórter) Comida, carinho, cuidados... nada falta pra ela. Mas antes, não era bem assim. A cadela morava numa casa, mas a família foi embora da cidade e ela passou a viver nas ruas. Seria a sensação de abandono o motivo que a tornou tão católica? Disso ninguém sabe, e nunca vai saber. Mas essa Menina é de uma solidariedade... quando morre alguém, acompanha o enterro até o cemitério.
- (Moradora) A tristeza da família é grande, mas quando a gente olha pra Menina a gente sente um grande conforto.
- (Repórter) Até os velórios ela costuma ir, dizem os moradores. Vai também às procissões, nunca falta as celebrações da igreja... uma beata...
- (Padre) Não é uma beata no sentido religioso, mas pode ser uma beata no mundo animal.
Estas são as atitudes que teremos com o próximo, com o nosso irmão, humano como nós, que por um motivo ou outro passa a ficar desamparado pelas ruas, não importa o sexo ou a idade. Hoje ainda vemos essas pessoas formarem favelas desestruturadas, dormirem nas calçadas ou embaixo de pontes e viadutos e mendigarem nas ruas... para nós são pessoas invisíveis que o Evangelho que conhecemos não sintoniza com elas.
Talvez tenhamos que ir para Tanquinho, na Bahia, e receber lições de reforço de Menina...
Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas.
Este primeiro passo corresponde ao ingresso do alcoólico na irmandade de Alcoólicos Anônimos. Sabemos do sucesso da recuperação do alcoólico que chega ao A.A., desde que ele permaneça comparecendo aos grupos, que cumpra os passos e tradições. Esse sucesso é até maior que as diversas técnicas científicas dentro da medicina para cuidar da doença. Mas, porque tantos alcoólicos resistem em ir até a irmandade e salvar a sua vida que já estar bastante comprometida com a cronicidade da doença?
Para entender esse paradoxo, é importante que saibamos que o álcool é uma droga depressora, e também um ótimo detergente para limpar ambientes gordurosos. O álcool para exercer seus efeitos tem que chegar ao cérebro e deprimir, inibir os neurônios, principalmente aqueles responsáveis pelo juízo crítico. Como estes neurônios são protegidos por uma membrana formada por gorduras e proteínas, o álcool limpando a gordura termina por destruí-los. Isso leva ao prejuízo das funções mentais superiores, como memória e juízo crítico. Surgem os esquecimentos que cada vez ficam mais frequentes e intensos, e o juízo critico vai se perdendo, a pessoa se torna incapaz de fazer prognósticos sobre o rumo da sua vida, do que ele faz e que traz benefícios ou prejuízos. Nesse contexto está o uso do álcool para quem já tem uma dependência física e psicológica instalada. A pessoa já não é capaz de no primeiro momento identificar os efeitos deletérios do álcool.
Este é o momento crítico onde o alcoolista está posto. Conselhos de amigos e visitas aos grupos de Alcoólicos Anônimos não são fortes o suficiente para mudar as intenções dos alcoólicos, amparados na sua motivação dependente. Como fazer esse enfrentamento? Temos que encontrar novas motivações para apresentar ao alcoólico. No trabalho, na família, na igreja, com os amigos... a irmandade está pronta e sempre alerta para passar a mensagem, a experiência de vida de cada um
Vamos avaliar o necessário para o alcoólico dar esse primeiro passo. O A.A. está fazendo a sua parte, levando a mensagem em todos os lugares, mantendo grupos autônomos com reuniões regulares disseminados pela comunidade. Resta agora ver as motivações extras que podem vencer a resistência, a negação, a perda do juízo crítico do alcoólico.
A família é o principal argumento de controle e ajuda. Alguém está disposto a dar essa ajuda, a dar motivos que sejam mais recompensadores, que possam mostrar os prejuízos que o álcool causou e a possibilidade de recuperação?
No trabalho, existe o apoio dos patrões, dos colegas, para que o alcoólico enfrente o desconforto de começar o comportamento de recuperação?
Na igreja, os irmãos reconhecem a sua doença, levam conforto espiritual e também motivam para fazer o tratamento enquanto o juízo crítico ainda funciona adequadamente?
Os terapeutas reconhecem o grande número de recaídas dentro de suas diversas técnicas, psicológicas e farmacológicas, conhecem a irmandade de Alcoólicos Anônimos e fazem o encaminhamento, dão as devidas motivações para a visita a algum grupo e o estudo de sua literatura?
É importante que o terapeuta reconheça a importância do 1º passo para o ingresso em A.A., e encontre formas de potencializar os diversos recursos que podem ajudar o alcoólico reconhecer sua impotência, mesmo que não tenha atingido o fundo do poço. Fazer o fundo do poço dos outros alcançar o alcoólico é tarefa dos membros de A.A. nos seus constantes depoimentos; fazer a consciência do alcoólico aceitar a sua impotência é tarefa dos terapeutas.