O SEGUNDO DIA – 6. E disse Deus: Haja um firmamento no meio das águas (refere-se a uma expansão entre as águas por assim dizer, chamada “atmosfera”), para que separe as águas das águas (a água das chuvas nas nuvens e a água na Terra).
7. E fez Deus o firmamento (há uma diferença entre “fez” e “criou”: “fez” se refere a algo já criado, mas devolvido a uma existência útil), e separou as águas que estavam debaixo do firmamento (os oceanos, os rios, os mares, etc.) das águas que estavam sobre a expansão (água nas nuvens que cai sobre a Terra): e assim foi.
8. E chamou Deus a expansão (a palavra tal como se usa aqui se refere a atmosfera ao redor da Terra). E foi a tarde e a manhã o segundo dia (um período de tempo de 24 horas)
Toda essa argumentação está colocada como se a Terra fosse o centro da criação, por esse motivo, durante muito tempo, essa ideia prevalecia no meio cristão. Entra outra observação: se a Bíblia é realmente a palavra de Deus, é Deus quem está escrevendo através de um sensitivo, um profeta ou algo parecido, a linguagem deveria ser em primeira pessoa, e não em terceira. No texto está escrito: “E disse Deus...”, “E fez Deus...”, “E chamou Deus...”, é como se o escritor estivesse vendo ou intuindo os acontecimentos, portanto, é uma prova que o conteúdo escrito passa pela mente humana e consequentemente passa todos os interesses que esse humano possa ter. A narrativa que é desenvolvida está coerente com os conhecimentos do escritor, não tinha a mínima ideia do tempo necessário para a formação corpos celestes, da formação da vida. Como o pastor justifica em seus comentários: “um período de tempo de 24 horas”.
Com esse raciocínio, posso também elaborar uma nova narrativa. Um povo que desenvolveu a ideia de um Deus único e que este tinha como propósito proteger este seu povo de qualquer obstáculo pela frente, mesmo que isso significasse a destruição de outros povos, com a alegação que glorificava outro ou outros deuses. Então esse povo especialmente protegido, começou a redigir o que entendiam pela formação do mundo, a partir do planeta que não sabiam, era apenas uma partícula de pó insignificante frente a dimensão do Universo em expansão.
Sei que a minha narrativa ainda é muito simplória, devido a insuficiência de fatos e circunstâncias da verdade da existência, mesmo assim é muito mais ampla e completa do que essa argumentação simplista da criação do mundo existente na Bíblia. Esta, como é considerada a palavra de Deus, deveria ter sido escrita em primeira pessoa do singular: “Eu tenho dito...”, “Eu fiz...”, e “Chamei...”.
Finalmente, compreendo a Bíblia não como a palavra de Deus, mas a interpretação que o povo judeu tinha sobre Deus e da sua proteção que eles imaginavam ter dEle.
O PRIMEIRO DIA – 3. E disse Deus (expressa a maneira pela qual a criação ou a nova criação foi efetuada; esta frase é utilizada dez vezes, e de maneira exata, com exceção da última vez, onde diz, “E o Senhor Deus disse ‘Gn 2:18’): Haja a luz; e houve a luz (Deus é a essência da luz ‘Jo. 1:4-9’: a Palavra de Deus é de tal magnitude que a luz continua alargando-se no universo a razão de 299.460 quilômetros ‘186.000 milhas’ por segundo). Isso corresponde à expansão que ocorre com a matéria desde o teórico Big Bang. Parece que essa matéria, explodida em determinado ponto, continua com sua expansão, como se a origem de onde veio continuasse a produzir diuturnamente através dos milênios a matéria que se expande. Poderíamos fazer o caminho inverso e ir em direção a esse foco explosivo que continua gerando matéria e energia e jogando-os no vazio cósmico? Não haveria energia suficiente entre as criaturas para executar tal tarefa. Nem podemos ir à origem dos fenômenos, nem aos limites da sua expansão, pelo menos é isso que a minha consciência diminuta avalia.
4. E viu Deus que a luz era boa (fez o que foi projetado a fazer); e Deus separou a luz das trevas (e se refere ao fato de que já houve períodos de luz e escuridão; a escuridão é simplesmente ausência de luz). Mais uma falha da narrativa. Sendo Deus onipotente, onisciente, sabedoria máxima, seria incapaz de cometer qualquer erro, portanto, não era necessário verificar se o que fez era bom. Podemos contrapor com a criação do homem. Não é um ser imperfeito e muitas vezes mal? Mas o homem foi criado desde o início simples e ignorante. Não era ideia de Deus a criação de um Espírito perfeito, à sua semelhança. Deus queria que uma parte de sua criação tivesse autonomia para evoluir dentro de suas próprias potencialidades e oportunidades e chegasse o mais próximo possível de Sua individualidade por méritos próprio. Portanto, mesmo com o espírito do homem sendo criado de forma imperfeita, Deus não falhou, nem achou que Esta Sua criação humana não era boa.
5. E chamou Deus à luz “Dia” (uma descrição do caráter), e as trevas chamou “Noite” (tem que ver com a revolução da Terra). E foi a tarde e a manhã do primeiro dia (dias de 24 horas literais). Uma questão inicial de convenção, pois poderia ser o inverso, a luz poderia ter sido chamada noite, e as trevas dia. Nos acostumaríamos como hoje estamos acostumados com os conceitos de noite e dia, referente as trevas e à luz.
CAOS. 2. E a Terra estava desolada e vazia; e a escuridão estava sobre a face do abismo. (Deus não criou a Terra originalmente desolada e vazia; chegou a ser assim depois de um acontecimento catastrófico; este acontecimento foi o resultado da rebelião de Lúcifer contra Deus, o qual teve lugar nalgum tempo da eternidade passada). O texto bíblico coloca uma situação que a nossa consciência, aliada aos modernos avanços da ciência, pode compreender como sintonizado com o processo evolutivo. A explosão original (Big-Bang) deu início a um processo de formação e evolução material que justifica entender que a Terra estava em determinado momento da sua recente existência, desolada e vazia e a escuridão estava na face do abismo, isto é, o lado que não estivesse iluminado pelo sol, no momento da rotação do planeta sobre si mesmo, estava voltado para o abismo, que poderia sinalizar, no futuro, a presença de tantos corpos cósmicos. Agora, dizer que este acontecimento foi devido a rebelião de Lúcifer contra Deus, entra em forte contradição. Como justificar que Lúcifer, um anjo de Luz bem próximo de Deus por seu grau de pureza, de repente sofra uma crise emocional querendo suplantar o próprio Criador. Como aceitar que ele, depois de tanto evoluir e tão alto chegar, tenha sofrido tamanha falha em ser desobediente a Deus e comandar uma rebelião para destituí-lo do comando celestial. E o Espírito de Deus (o Espírito Santo) movia-se sobre a superfície das águas (significa o mover do Espírito Santo e o começo da vida). O começo da vida, segundo os estudos modernos da cosmologia e biologia, teve início a partir do Big-Bang, considerando que a partir daí é que surgiu a matéria que constitui os elementos da vida. Ao longo dos bilhões de anos de evolução, esses elementos chegam a formar corpos sólidos, como planetas e sóis, em todos os pontos do universo, e em cada um deles ocorria a aglutinação de elementos materiais até chegar à condição de corpos orgânicos, seres capazes de se reproduzirem e construir a vida. O Espírito de Deus permanece presente em cada ponto de sua criação, por minúsculo que seja. Podemos agora dizer que “o Espírito de Deus se move sobre sua criação”. A minha consciência, tão minúscula, talvez não possa dimensionar convenientemente tal situação, o Espírito Divino movendo-se sobre meu corpo, minhas células, meus neurônios, sabendo automaticamente o que estou pensando, intuindo e tencionando,,, a mesma coisa acontece com cada ser humano, cada ser vivo, cada ser inerte, cada planeta, galáxia, universos... chega o momento que devemos fazer essa sintonia com a energia divina, criadora, de forma mais racional, sem tanto misticismo, saber que ela está ao redor, dentro de nós e em qualquer ponto da Natureza, por diminuto ou gigantesco que seja... que nossa consciência seja capaz de sintoniza-la, incorpora-la e direcioná-la... este é o desejo do Criador!
Costumamos centrar nossa atenção no trabalho que é realizado, no que deve ser feito, mas pouca atenção vai para o repouso que também é necessário.
As tarefas podem se tornar pesadas e levar à estafa. Devemos examinar os compromissos à nossa frente que nos assoberbam e fazer uma seleção, por em ordem o que devemos executar, aproveitando bem o tempo, e disciplinar as realizações, trabalhando com otimismo.
O trabalho que leva ao enfado, termina por levar também à depressão. Há trabalhos que podemos e devemos fazer, e há haveres que outros podem executar. Muito parecido com um time de futebol. Cada atleta tem uma posição para garantir o melhor desempenho do time. Se um jogador quer atuar em cada posição, logo ficará cansado e não renderá o que poderia fazer.
Há serviços de superfície, que não são tão importantes, mas que tem o potencial de absorver e até desesperar, porquanto se multiplicam sem cessar. Por outro lado, devemos fazer uma boa distinção do trabalho que temos à frente, pois fugir do que é necessário fazer, significa transferência de luta para tempo e espaço posterior.
Por outro lado, o trabalho pode ser buscado para vencer a ansiedade, e isso é um perigo. Corresponde ao fazer uso abusivo de drogas lícitas e ilícitas, como cocaína, maconha, álcool, entre outros, para fugir de um tormento e cair em outro.
A doutrina que consta nos Evangelhos cristãos nos ajuda a iluminar a mente, a dissecar os dramas que assolam nossas almas, libertando-nos dos falsos problemas e corrigindo as indisciplinas do nosso Espírito ainda muito imperfeito.
O aluno do Cristo deve sempre estar preparado para executar bem o seu trabalho. Deve estar capacitado com os valores que iluminem para a Paz legítima, a fim de adquirir alegria nas realizações, desintoxicando-se da estava que irrita, entorpece e predispõe ao mal. Devemos estar sempre prontos a ser usados pelo Senhor.
Procuremos desenvolver as atitudes cristãs, meditando nas horas vagas, cultivando a leitura edificante como forma de aprendizagem, conhecer a sutileza dos adversários ocultos dos olhos materiais, obsessores espirituais; promover o autoconhecimento e a auto iluminação, desenvolver o hábito de ler e estudar, pois o estudo também é trabalho.
Paulo de Tarso, o apóstolo que não conheceu Cristo, desenvolveu alguns critérios para caracterizar um bom trabalhador cristão: ter boas condições pessoais (mente sã em corpo são), compromisso com a tarefa, formação cristã inicial e continuada, ampliação das próprias possibilidades, trabalho em equipe e formação de novos trabalhadores.
Desenvolvendo bem o trabalho, entraremos no merecimento de ter o esforço físico compensado, a renovação íntima, o refazimento das forças utilizadas através do repouso coerente; não entrar num sono entorpecente, nem praticar ação devastadora, espoliando o corpo. O repouso pode ser também entendido como higiene mental.
As atividades espirituais devem ter prioridade, pois trazem serenidade. Temos o trabalho de semear, mas também devemos ter o trabalho de cuidar, para evitar parasitos, insetos e ervas daninhas. Se queremos plantar, devemos estar conscientes que também devemos zelar. Isso significa levantar o caído e andar um pouco com ele, para que ele possa aprender ou reaprender a dar novos passos. Vamos ajudar o necessitado, mas também animá-lo um pouco mais.
Voltemos novamente a atenção para nosso Mestre. Após trabalho exaustivo junto ao povo, Jesus buscava orar em profundo silêncio, meditar em demorados solilóquios, e recuperar assim as energias.
Aproveitando o tema canino abordado no dia anterior, colocarei mais uma história das muitas de Chico Xavier, para alimentar nossas reflexões de como nos corrigir para nos capacitar a ser cidadãos do Reino de Deus. Vamos ver um dos “Lindos casos de Chico Xavier”.
A MÁGOA
Há muitos anos, Chico possuía um cachorro deficiente. Esse animal lhe dava um trabalho muito grande. Quando chegava em casa de madrugada, após o trabalho no Centro Espírita, tinha que limpar todo o quarto. Comprava, com seu diminuto ordenado, uma coberta que não chegava a durar um mês. Assim foi durante muito tempo. Certo dia, quando ele chegou, o cachorro estava morrendo. – Parecia que ele estava me esperando... – disse com tristeza – Olhou-me demoradamente de uma maneira muito terna, fez um gesto com a cauda, e morreu.
Enterramo-lo no fundo do quintal, não sem antes derramar muitas lágrimas. Passaram-se alguns meses e uma de suas irmãs lhe disse: - Chico, você se lembra daquele cachorro aleijado? – Claro, como poderia esquecê-lo? – Olha, vou contar uma coisa. Ele não morreu naturalmente não. Dona Fulana tinha pena de ver você chegar todo dia de madrugada e ter tanto trabalho. Então, querendo aliviá-lo, deu veneno para o cão.
- Ah, meu Deus! Não me diga uma coisa dessas!
- É verdade, Chico. Ele não sentiu raiva, pois em seu coração não havia espaço para isso. Mas uma tristeza invadiu-lhe a alma e uma sombra começou a envolver-lhe o coração. Passados alguns dias, o Espírito Emmanuel lhe disse:
- Chico, essa mágoa que você asila no coração está atrapalhando o trabalho dos Bons Espíritos. Você precisa se livrar dela.
- Não consigo esquecer... – disse-lhe Chico amargurado. – Mas é preciso. Como fazer?
- Você precisa dar uma grande alegria a ela.
- Eu dar alegria a ela?! O ofendido fui eu!
- A receita não é minha... É de Nosso Senhor Jesus Cristo. “Fazei bem aos que vos aborrecem.” Leia o Evangelho.
Obediente e resignado, Chico procurou descobrir o que a pessoa gostaria de ter e não tinha. Era uma máquina de costura.
Chico comprou, então, uma máquina de costura, a pagar em longas prestações.
Quando foi visita-la, a pessoa estava tão feliz, tão feliz, que quando viu o Chico chegando, correu para ele e lhe abraçou com tanto amor, que uma luz intensa se desprendeu dela e o envolveu da cabeça aos pés. Quando ela soltou o abraço, a sombra havia desaparecido.
Eis aí uma receita para quem ainda carrega mágoas no coração. E você, já deu sua máquina de costura hoje?
É um caso interessante. A mulher quer fazer um bem ao Chico envenenando o cachorro que lhe dava muito trabalho. Na mente da mulher foi um bem. Na mente do Chico foi um agravo. Para o cão pode ter sido um bem, afinal ele estava sofrendo, não aproveitava bem a vida. O Chico apesar de ser uma alma evoluída, desenvolveu mágoa. A mulher foi beneficiada por orientação dos Bons Espíritos, devido a mágoa que o Chico criou. Então, a mulher foi beneficiada materialmente e o Chico beneficiado espiritualmente. O cão também foi beneficiado. Todos foram beneficiados. Se o Chico não tivesse sido avisado do envenenamento, não haveria desarmonia no relacionamento. O Chico não teria desenvolvido mágoa; a mulher não teria ganho a sua máquina de costura.
Fica a lição para nós, candidatos a cidadania do Reino de Deus: não podemos nos apresentar com nossa roupa perispiritual manchada pela mágoa.