O céu, enigmático, se cobre de nuvens acinzentadas que impedem o brilho dos primeiros raios do sol. Não há pássaros cantando, não há brisa fazendo bailar os ramos das árvores verdejantes com suas folhas suadas pelo sereno da madrugada.
Assim também desperta o meu espírito dentro do meu corpo material, biologia fornecida pelo Pai para a minha progressão, para aprender a amar. Mas, a luz do meu espírito ainda não consegue iluminar as trevas do meu instinto animal. Sinto as lágrimas molharem cada célula do meu corpo, como o sereno molha cada folha da floresta. Meu espírito espalha amor ao redor, amo as criaturas, principalmente as femininas que conjugam comigo a simbiose dos corpos, mas meus instintos animais exigem o amor de volta, exigem que eu receba a mesma intensidade do amor que eu dedico. Quimera! Jamais recebi tal amor, o amor que ofereço como se fosse refletido num espelho. Recolho apenas migalhas de um amor que tanto sonho.
Mas, apesar do meu corpo sofrer, de querer sentir o afago nos momentos tristes, um murmúrio de acalanto, um olhar de compreensão, um beijo de confiança, só recebo desconfiança e o manto frio da solidão.
Tudo isso por meu amor não ser feito para a escravidão, não pode estar algemado a nenhuma pessoa, não pode usar viseira para não poder olhar para os lados, não posso correr em canaletas sem adubar as margens, sou como o delta do Nilo, que nos momentos de paixão inunda toda a região.
Porém, consigo sobreviver. Sempre acontece do arco-íris surgir, uma pessoa que faz o meu amor se espraiar por diversas cores e enquanto ela não tenta me aprisionar, meus sentimentos correm como cataratas, fortes e imponentes, belas e envolventes, e o prazer que eu dou é o mesmo prazer que eu sinto.
Aprendi que o amor que eu entrego ao próximo, seja em que dimensão for, é isso que alimenta a minha alma. É como o amor que recebo de Deus deva fluir para o próximo, sem preconceitos, sem nenhum tipo de barreiras. Isso deixa o amor acima de todas as outras coisas, que pode se aprofundar da forma que sinta ser conveniente para o processo evolutivo de todos os envolvidos, principalmente daqueles que estejam mais próximos.
Por esses motivos, é importante que a natureza animal associada a biologia que ganhamos do Criador, esteja hierarquicamente subordinada aos sentimentos superiores que emergem da alma
Os templos religiosos cristãos costumam ensinar que Jesus virá, coberto de glória, pronto para julgar nossos pecados. Reconheço que tenho muitos pecados, e dentre eles o pecado da ira, da raiva, da vingança. Fui traída por meu marido e desde o momento que descobri, que vozes do aquém e do além me advertiram sobre isso, que encontrei provas incontestáveis do ato, meu coração em bronze se tornou. Esqueci tudo o que ele de bom fez nos dias de nossas vidas, para mim e para nossas filhas, e deixei ficar reverberando em meu cérebro apenas o ato imaginativo dele namorando e prevaricando com aquela “puta”. Qualquer estímulo que sinto e que tenha associado com essa situação desperta em minha mente toda a imaginação pútrida e corrosiva que me deteriora os dias.
Agora, chega no meu coração, através das vias da intuição, a informação que Jesus está chegando, que ele virá me visitar nesta noite, irá entrar em minha humilde casa. Isso até nem me preocupa, mas preocupa-me o fato do meu coração está tão imundo, tão cheio de raiva e sentimento de vingança, e que eu não sei como limpar. Mas eu tenho que esperar o Mestre, o qual eu tanto respeito pelo tanto que tenho aprendido nas igrejas. Sei que foi a participação dEle que me salvou a vida nas ocasiões em que eu revoltada e deprimida tive a intenção de acabar com a minha existência. Agora Ele vai chegar, e certamente irá me julgar. Não posso me esconder, tenho que ter coragem e me preparar.
Minhas filhas estavam dormindo, eu estava lendo para o sono chegar, quando ouvi um soluço abafado vindo do lado de fora. Apesar do medo, minha curiosidade venceu, e abri a porta para ver o que estava acontecendo. Vi um vulto encolhido sobre si mesmo, sentado na calçada, como se tivesse tremendo de frio. Reconheci que era uma mulher, mais jovem do que eu, e que estava sozinha, no meio daquela rua, frágil, exposta aos perigos da vida. Não sei como tive a coragem de me aproximar e pedir para ela entrar, se proteger e se aquecer. Ela aceitou o convite, mas disse que não se incomodava em morrer, de ser assassinada, pois se ela não fosse tão covarde, ela mesma se mataria.
Procurei saber o motivo de tamanha desventura, e ela disse que se envolvera com um homem casado e que os seus pais a expulsaram de casa alegando a honra ferida e a destruição que ela estava causando em outro lar. Ela reconhecia a verdade que os pais alegavam, mas o que fazer de um sentimento que surgiu e que nem ela nem ele, o homem casado que se tornou seu amante, conseguiram controlar?
Enquanto ouvia essa história, revivia na minha mente a minha própria história, da vontade que eu tive e ainda tenho de expulsar o covarde traidor que mora comigo, que não tem nem a coragem de assumir a traição que não tem como ser oculta. A jovem, que ainda não dissera seu nome, percebeu minha mudança de semblante e perguntou se eu estava bem. Respondi, laconicamente, que sim, apenas que o passado viera me visitar. Dei a ela uma sopa quente e uns trocados que sempre tenho guardado para emergências, orientando para ela alugar uma kitnet por alguns dias enquanto avalia o que pode ser feito.
Ela recebeu o donativo com lágrimas nos olhos, e disse com voz embargada, que aquele gesto estava lhe salvando, pois ela não sabia para onde ir, com quem conversar, pois todos a tinham como uma “puta”, pervertida pela orgia dos sentidos. Antes de sair, no outro dia pela manhã, repousada e alimentada, ela disse: “você é uma boa mulher”.
Eu a vi se afastar, cabisbaixa, pelas ruas que começavam a se agitar com o vai-e-vem das pessoas. Foi aí que lembrei, ontem era o dia que eu esperava Jesus, o filho de Deus que viria nos julgar para sempre, com seu manto de luz resplandecente, arrodeado de anjos, com os céus se abrindo, e empurrando para o inferno pessoas como eu, que tinha o coração sujo e não sabia como limpar.
Foi aí que percebi toda a beleza da sabedoria de Deus, nosso Pai, que envia seus filhos constantemente em nossa direção para nos ensinar lições, com Mestres tão sábios como Jesus, o seu filho bem-amado, mas também pode enviar qualquer outro filho bem menos sábio. Pois aquela jovem, tão pecadora quanto sofredora, foi a vinda que eu estava esperando. O Pai sabia que não era preciso Jesus vir falar tudo aquilo que eu já ouvira ou lera nos Evangelhos, era preciso que viesse uma pessoa tão sofredora quanto eu, por motivos inversos, para que suas lágrimas lavassem a sujeira do meu coração.
Agora, ao ver aquelas prostitutas que antes tanta raiva causava em meu íntimo, não sinto mais o sentimento de vingança pelo que sofri, e sim, um sentimento de solidariedade por cada pessoa dessas que tentam sobreviver com os seus sofrimentos que não consigo mais julgar, mas sei que podem ser bem maiores que os meus. Talvez o Pai permita que pessoas como o meu marido cheguem até próximo delas para levar algum tipo de benefício que não sei ainda bem qual é, mas sei que é benéfico para todos, pois todos somos os seus filhos e que somos amados por Ele. Consigo olhar agora para meu marido, não como um traidor, mas como um instrumento nas mãos de Deus para que o Bem surja de alguma forma, pois o Pai pode escrever certo por linhas incertas.
“Se sabeis fazer estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” – Jesus (João, 13:17)
Entre saber e fazer existe singular diferença. Quase todos sabem, poucos fazem. Todas as seitas religiosas, de modo geral, somente ensinam o que constitui o bem. Todas possuem serventuários, crentes e propagandistas, mas os apóstolos de cada uma escasseiam cada vez mais.
Há sempre vozes habilitadas a indicar caminhos. É a palavra dos que sabem.
Raras criaturas penetram valorosamente a vereda, muita vez em silêncio, abandonadas e incompreendidas. É o esforço supremo dos que fazem.
Jesus compreendeu a indecisão dos filhos da Terra e, transmitindo-lhes a palavra da verdade e da vida, fez a exemplificação máxima, através de sacrifícios culminantes.
A existência de uma teoria elevada envolve a necessidade de experiência e trabalho. Se a ação edificante fosse desnecessária, a mais humilde tese do bem deixaria de existir por inútil.
João assinalou a lição do Mestre com sabedoria. Demonstra o versículo que somente os que concretizam os ensinamentos do Senhor podem ser bem-aventurados. Aí reside, no campo de serviço cristão, a diferença entre a cultura e a prática, entre saber e fazer.
ATA DA REUNIÃO DA AMA
No dia 13-06-18, as 19h, foi iniciada mais uma reunião na praça da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, com a presença das seguintes pessoas: 01. Francisco Rodrigues; 02. Paulo Henrique; 03. Balaio; 04. Edinólia; 05. Juliano; 06. Jaqueline; 07. Marijane; 08. Marize; 09. Maia; 10. Lavoisier (artes plásticas); 11. Adriana; 12. Radha; 13. Ericka; 14. Antônio (condomínio Santa Júlia); 15. César Formiga (Urbana – encarregado geral); 16. Nicolas; 17. Cláudio Roberto (Urbana – encarregado Zona Leste);
18. Herbert (Urbana); 19. Juciê; 20. Francisca; 21. José (fiscal voluntário da praça); 22. Genilson; 23. Divaneide (condomínio Santa Júlia); 24. Nivaldo; 25. Nélia; e 26. Ezequiel.
Após os 30 minutos iniciais de conversa livre, a reunião formal foi dada início de forma diferente. Não foi lida a reflexão evangélica, a prestação de contas nem a ata da reunião anterior, devido ao grande número de participantes e a reunião está sendo realizada em local aberto cheio de barulhos secundários. Cada um dos presentes se identificou, devido o grande número de pessoas que estava vindo a reunião devido ao motivo específico da reunião: lixo jogado na praça. Contamos com 3 representantes da Urbana e várias pessoas que se sentem incomodadas pelo lixo jogado na praça. Depois de cada um terem colocado as suas opiniões, ficou encaminhado os próximos passos da seguinte forma: 1) A Urbana cederá os regulamentos quanto a coleta e destinação do lixo para finalidade educativa; 2) A AMA-PM construirá panfletos com o teor informativo aos moradores, principalmente aqueles do entorno da praça; e 3) Será agendada uma reunião dentro de 30 dias, dentro da quadra, ampliada com os jogadores que praticam futebol, para consolidar uma atitude de limpeza na comunidade. As 20h40 minutos a reunião foi encerrada, 10 minutos além do tempo previsto, devido as várias opiniões que foram colocadas sobre o tema. Fizemos a foto oficial e todos degustamos chá com biscoitos.
Existe uma compreensão, parece majoritária, nos meios espiritualistas, cristãos, que devemos amar ao próximo como Jesus ensinou, até o extremo de sermos vítimas de um assassinato, sem apresentar defesa à altura. Este assunto já foi debatido neste espaço, mas como voltei a ser criticado em reunião espiritualista por ter defendido a ideia que eu seria capaz de matar o meu provável assassino para salvar minha vida, volto a colocar minha opinião e esperar uma reflexão mais ampla por parte dos meus leitores.
Essa questão de não oferecer resistência a um assassino que vem disposto a matar a pessoa me parece um grande equívoco, mesmo analisando a lição do Cristo: “Amai ao próximo como a si mesmo.” Ficou bem claro que tem um limite para esse amor ao próximo. Se esse próximo se aproxima de mim com a intenção de me destruir, não deverei ficar inerte e deixar ele praticar sua criminosa intenção contra mim. Estaria assim amando mais a ele do que a mim, e isso não está coerente com a lição do Cristo.
Concordo que se eu vivesse num mundo de regeneração, onde o bem supera o mal, claro que eu não teria a intenção de andar armado para defender a minha vida, pois isso poderia ser uma possibilidade muito remota.
Acontece que eu vivo num planeta de provas e expiações onde o mal supera o bem, onde pessoas se comportam como animais, sem nenhuma compaixão pela vida humana. Da mesma forma que eu entro numa floresta armado para me defender dos ataques de feras selvagens, que buscam me destruir para garantir a própria subsistência, sem nenhuma característica humanitária, devo ter o mesmo comportamento na selva de pedra que caracteriza nossas cidades, infestadas de feras com a roupagem de seres humanos.
Sei das lições que o Cristo deixou e que foi registrado nos Evangelhos por seus discípulos, da disposição de morrerem como mártires nos circos romanos, como aconteceu muito frequentemente. Essa prova de fidelidade à fé cristã tem a sua importância, pois isso ajudou a consolidar a confiança que se deve ter nos desígnios de Deus. Mas chegamos num estágio que a nossa compreensão deve entender que o importante é o comportamento que devemos ter na aplicação prática desses ensinamentos, incluindo nesse contexto a evangelização, o ensino teórico aos desconhecedores da vida e missão do cristo.
Dessa forma, posso seguir qualquer religião, ou mesmo ser ateu, mas se o meu comportamento está dentro dos paradigmas do Evangelho, então estou seguindo o caminho que o Cristo ensinou de aproximação ao Pai, mesmo que eu não saiba que isto esteja acontecendo.
Portanto, a conclusão que chego após toda esta reflexão, é que devo ter a força moral de caminhar nesta vida ajudando ao próximo, amando ao próximo, mas tendo como referência o amor que devo ter a mim mesmo. Se alguém vem com o intuito de me destruir, minha consciência libera o meu comportamento de defesa, chegando inclusive a matar este oponente, se assim for necessário.
Um desdobramento desse tipo de posicionamento, é a defesa que faço ao movimento contra o desarmamento, por entender que o desarmamento da população de bem vai permitir com mais facilidade aramas apenas nas mãos dos bandidos, pois esses não se incomodam de burlar a lei em favor dos seus nefandos propósitos.
Enfim, iremos refletir sobre o último trecho da carta do espírito José do Patrocínio, escrito através da mediunidade de Robson Pinheiro.
... Jesus proclamou os princípios do Reino, da política divina, ao proferir o Sermão da Montanha. Em seus atos demonstrou preocupar-se com os destinos da sociedade, envolveu-se com o povo, e sua trajetória sintetiza uma proposta de vida que revolucionou o mundo depois dele. Não podemos nos calar, impassíveis, diante da necessidade do povo! Não estamos mortos, mas vivos na imensidade, interessados no progresso da nação e do planeta, bem como na felicidade de toda a gente. Que a família brasileira se congregue em torno da superação das barreiras da discórdia e do repúdio às atitudes irresponsáveis, levianas e crimino
sas patrocinadas pelas forças das trevas; que se una na construção de um mundo melhor, de uma nação mais robusta, regida por ideais nobres, que sempre foram o esteio do país. Urge fazer do Brasil a grande nação a qual o país foi destinado a se tornar.
Abençoada gente brasileira, que deveria se orgulhar de saber fazer samba com as próprias dores e os desafios, que enfrenta as lutas com o som do pandeiro e a cantiga do povo a embalar aa noites, não raro com musicalidade festiva do povo a bailar. Abençoado país que sabe conviver com os opostos – apesar dos que intentam estabelecer o contrário – e é capaz de unir povos e credos como nenhum outro, empregando a voz do sentimento, a qual se sobrepõe às diferenças de variada ordem.
Uma nação de dimensões continentais, mas que sabe unir pela palavra, pela cultura e pela fraternidade todos os sotaques, todos os trejeitos de povos diferentes, que fizeram e fazem desta terra o recanto abençoado de suas peregrinações. É uma terra tão bendita que oferta a todos os povos que para aqui vêm, a cada um, o clima propício para se desenvolver, para conviver e transformar desafios em canção, em poesia, em sementes de evolução.
Abençoado recanto onde se reuniram seres especiais, como Irmã Dulce, Padre Damião, Chico Xavier e tantos outros, anônimos ou não; onde canta o coração da fé de tantas crianças, que esperam de vocês a união e o apoio para prosseguir crescendo e levando esta terra em seu coração e em suas almas.
Por tudo isso e muito mais, cultivemos o otimismo, mesmo diante dos ventos que fazem bailar os salgueiros, que ameaçam tanto a casa pequenina sobre a rocha quanto a mansão ou a cobertura às margens do mar do Leblon ou de Copacabana. Observando o Redentor lá no alto daquele monte, de braços abertos, abençoando não somente a cidade, como também o país, descruzemos nossos braços e trabalhemos um pouco mais, pois, após a tempestade e o vendaval, surgem a bonança e a calmaria, de modo que os brasileiros, o povo da terra do Cruzeiro do Sul, possam se refazer, construir seu futuro sobre bases mais sólidas e legítimas de verdadeira fraternidade.
Ficamos assim conhecendo o Estatuto da Política Divina, escrito no Sermão da Montanha. Sabemos assim como deverá ser o nosso comportamento político, mesmo que estejamos inscritos em quaisquer partidos que tenha o mínimo de coerência com o Evangelho.