Como eu precisava fazer exercício para forçar o meu corpo a perder o excesso de peso, resolvi fazer uma carreira de onde moro, Praia do Meio, até Ponta Negra. Sabia que a tarefa não iria ser fácil, pois não faço exercício há cerca de seis meses. Vesti apenas o calção de banho, pois pretendia chegar ao fim, parar na areia da praia, tomar banho de mar e fazer os exercícios complementares. Coloquei uma camisa pólo e uma nota de cinco reais dentro do calção, talvez para uma água de coco no retorno.
Comecei a correr pela beira mar, já que eu estava descalço, com prudência, sabia que minha resistência física não suportaria excessos. Além da corrida eu fazia contagem dos passos e ao chegar no passo duplo 75 eu fazia exercícios complementares em número de 10, aproveitando a corrida, sem deitar o corpo. Logo eu desisti de contar, pois surgiam em minha mente idéias para desenvolver textos e que se eu ficasse concentrado nessa contagem eu não iria lembrar. E eram várias das quais eu tentava fixar uma pequena palavra para lembrá-las depois: o atirador, a paranóica, modelo de casamento, negociação evangélica, turismo cristão, natureza da fraternidade, a lição das pedras... sabia que eu podia esquecer, por isso decidi usar os cinco reais que levava quando chegasse em Ponta Negra com a compra de um bloquinho e caneta.
Eu já tinha corrido uma hora e a cada 15 minutos eu fazia a observação para manter os exercícios complementares. A praia tinha pouca gente nesse horário, apenas alguns hóspedes dos hotéis da Via Costeira que decidiram encontrar o sol na caminhada pela areia. O cansaço era cada vez mais evidente e na minha consciência eu sentia que não podia mais alcançar a meta e voltar andando como havia cogitado no início. O máximo que eu poderia fazer era comprar o bloquinho, fazer a anotações para não se perder na memória e ir andando até o Morro do Careca. De lá eu pegaria um táxi para voltar para casa.
Cheguei no início do calçadão de Ponta Negra e já havia diversas pessoas em atividade física nesse momento. Já faziam 2:30h que eu tinha saído de casa e não tinha a dimensão do problema que isso podia causar. Eu já havia feito esse percurso antes, tinha gasto um tempo semelhante, mas antes eu não tinha ninguém a me esperar em casa. Vi que o próprio ato de andar, de colocar uma perna na frente da outra já era dolorido quanto mais o movimento das articulações e dos pés socando as diminutas pedras do calçamento. Tinha que desistir da meta do Morro do Careca, da compra do bloquinho, do lápis... o que eu precisava encontrar agora era um táxi e negociar com o motorista o preço para me levar para casa.
O primeiro taxi que vi estava localizado no topo de uma ladeira. Mas era o mais próximo e eu tinha que alcançá-lo. Então reuni todas as forças e fui colocando pé ante pé até chegar no primeiro motorista, que por estar no fim da fila estava dormindo. Resolvi ir mais adiante e falar com o primeiro da fila. Assim que me aproximei do senhor que parecia ter adivinhado minhas intenções e estava na expectativa, vi que parou ao lado o coletivo com destino a Praça Cívica, um local que ficava próximo do meu apartamento. Então foi intuitivo, imaginei que não existem coincidências e que se esse ônibus chegou exatamente no momento que eu ia pegar o táxi era porque Deus assim o queria. Embarquei, sentei e minhas pernas e pés agradeceram de imediato, aliviando a dor que eu sentia.
Ao chegar no ponto mais próximo do apartamento desci e voltei a caminhada, dolorida, mas não tanto quanto antes. Ainda tinha que subir e descer ladeiras antes de chegar em casa, mas já via o apartamento ao longe e isso me deixava feliz e revigorado. Pensava em comprar coco verde com o troco do coletivo para levar e tomar em casa, mas comecei a perceber que minha companheira devia estar um pouco preocupada com minha demora.
Eu estava certo quanto a preocupação, mas errado quanto a intensidade. Logo a vi parada na portaria do prédio, celular na mão, com o rosto banhado em lágrimas, com o porteiro como um apoiador. Disse que já havia ligado para todos os meus parentes e amigos e que minha irmã já estava vindo para comandar a busca pela beira da praia. Pensou até em ligar para a minha outra companheira com a qual tem enormes dificuldades de relacionamento para ajudar de alguma forma. Só não o fez porque não tinha o número do celular. Depois de pedir com a voz entrecortada que eu não fizesse mais isso, ligou para minha irmã e disse que eu já havia chegado e eu falei no celular um pouco sobre o que havia acontecido.
Depois de tudo eu tinha que ir a Ceará Mirim fazer um trabalho com ela. Estava preocupada que eu voltasse sozinho. Pensou em levar minha filha foi quando eu falei da possibilidade de levar também a mãe dela, a outra companheira. Foi quando eu percebi a estratégia de Deus. Ele sabe que estou determinado em cumprir a Sua vontade, mas que não posso fazer isso sozinho. Tenho que ter no mínimo duas companheiras, pois uma só caracteriza uma relação tradicional. Existe uma dificuldade enorme das duas se relacionarem fraternalmente e da qual já me considero impotente pra resolver. Deixei nas mãos de Deus. Então Ele resolveu agir. Fez eu pegar o trajeto maior para cumprir o trato de perder peso que eu fiz com Ele e rompi ao tomar duas bolas de sorvete e dois dindins na noite anterior. Então o trajeto extenso da corrida, pegar o ônibus ao invés do táxi, tudo contribuiu para criar um clima de extrema angústia pelo meu bem estar que com certeza mobilizaria e tornaria as duas como colaboradoras de uma mesma causa. Percebi aí a sutileza de Deus, mostrar que o meu bem estar implica em cumprir a Sua vontade e que eu dependo da fraternidade delas como companheiras para que eu alcance isso. Esse foi um dia que ficou marcado para minhas atuais companheiras e Deus assim mostra Sua força na sabedoria das circunstâncias. Eu contemplo o Seu poder extasiado, vejo as Suas ações constantemente ao meu redor e que eu só devo seguir a opção que mais se aproxima da Sua essência, que é o Amor Incondicional. Da mesma forma devem agir todos os Seus filhos que querem fazer a Sua vontade, pois caso contrário saem do caminho reto e entram em desvios outros.
O Escritor Paul Salopek da National Geographic resolveu andar durante sete anos, 33 mil quilômetros da África à Terra do Fogo, no Chile. Ele pretende reproduzir o trajeto que o Homo sapiens fez quando iniciou a exploração da Terra há 60 mil anos. Começou a caminhada em 10-01-13 no sítio arqueológico de Herto Bouri, Etiópia, no que chamou de “marco zero da humanidade” até o ponto extremo no Chile. Os achados fósseis e conhecimentos genéticos definirão a rota.
Esse sítio é o famoso local em que foram achados alguns dos mais antigos fosseis humanos, Homo sapiens idaltu, extinto há 160 mil anos. Um ancestral de ossos largos, uma versão inicial dos humanos. Foi na Etiópia descoberto muitos fosseis importantes de hominídeos, entre os quais o Ardipithecus ramidus, um bípede de 4,4 milhões de idade.
Nesse início de viagem Paul reconhece que o mundo é bem diferente quando se está com sede. Ele encolhe, perde toda profundidade. São 32 quilômetros sob calor opressivo. Foi nessas perambulações que nossos antepassados há 60 mil anos ou mais, toparam com outras espécies de hominídeos. Na época o mundo estava cheio desses primos estranhos: Homo neanderthalensis, Homo florensiensis, os denisovanos e talvez outros povos. Será que os encontramos numa situação parecida com essa? Que compartilhamos nossa reserva de água ou nos acasalamos uns com os outros, pacificamente, como sugerem alguns geneticistas? Ou será que violentamos e massacramos inaugurando a longa e terrível história de genocídio que marca a nossa espécie?
Neste início de viagem o que me deixou sensibilizado foi a descoberta de diversos cadáveres que se espalhavam pelo campo de lava de Ardoukoba, Djibuti. Eram dezenas de cadáveres vistos ao longo do trajeto, todos africanos mortos na tentativa de atravessar o deserto brutal, movidos pelo sonho de encontrar trabalho no Oriente Médio. Imaginei o sofrimento dessas pessoas caminhando em busca de um objetivo tão simples e no qual perdem suas vidas de forma tão dolorosa.
Com esse sentimento que para mim foi tão forte e puro, de empatias por aquelas frágeis criaturas, acredito que Deus tenha querido colaborar comigo no sentido de eu sentir no corpo pelo menos uma pequeníssima fração do que eles devem ter sofrido naquela travessia frustrada do deserto.
Sai de casa às 4:45h para fazer exercício. Resolvi correr de onde moro, Praia do Meio, até Ponta Negra, pela beira da praia, já que eu estava descalço, sem levar nada a não ser o calção de banho, uma camisa pólo e cinco reais. Farei uma crônica mais completa dessa aventura mais adiante.
Pois bem, não consegui atingir minha meta de ir até o Morro do Careca, local famoso de Ponta Negra e de Natal e que estava bem dentro do meu foco visual. Quando cheguei no calçadão de Ponta Negra já não conseguia correr, mesmo no trotezinho que eu vinha. Até o ato de andar era muito doloroso em cada movimento dos músculos e das articulações, principalmente das pernas e pés, e ainda mais quando meus pés descalços encontravam as pequeninas pedras do calçamento. Nem sobre a grama da calçada dos hotéis eu podia andar, pois estava cheio de placas dizendo que era proibido. Foi nessa situação que depois eu entendi o quanto havia sofrido meus irmãos da África que se deslocavam em busca de dias melhores.
Essa aventura de Paul Salopek que procurarei acompanhar deve servir para me dar boas inspirações sobre o nosso passado e como está o nosso atual comportamento, que mesmo com toda a mudança radical que a ciência e tecnologia nos trouxeram ainda se move dentro do barbarismo animal. E como fazer para conseguir aplicar a construção do Reino de Deus como Jesus ensinou e assim sairmos desse barbarismo é a minha principal meta nesta existência. Talvez parecido com a meta dos irmãos africanos que tombaram exaustos no deserto. Será que eu terei esse mesmo fim? Será que eu tombarei exausto sem ter atingido a minha meta? Esta experiência da corrida não foi alvissareira, não consegui atingir a minha meta de chegar até o Morro do Careca. Resta agora a meta espiritual, será que conseguirei aplicar e exemplificar a construção do Reino de Deus assim como Jesus ensinou?
O capítulo de Eclesiástico (Bíblia Sagrada) com esse título traz uma mensagem importante para que possamos nos conduzir nos diversos relacionamentos. Diz o seguinte:
19 Meu filho, faze o que fazes com doçura, e mais do que estima dos homens, ganharás o afeto deles.
20 Quanto mais fores elevado, mais te humilharás em tudo, e perante Deus achará misericórdia,
21 porque só a Deus pertence a onipotência, e é pelos humildes que ele é (verdadeiramente) honrado.
22 Não procures o que é elevado demais para ti; não procures o que é elevado demais para ti. Mas pensa sempre no que Deus te ordenou. Não tenhas a curiosidade de conhecer um número elevado demais de suas obras,
23 pois não é preciso que vejas com teus olhos os seus segredos.
24 Acautela-te de uma busca exagerada de coisas inúteis, e de uma curiosidade excessiva nas numerosas obras de Deus,
25 pois a ti foram reveladas muitas coisas, que ultrapassam o alcance do espírito humano.
26 Muitos foram enganados pelas próprias opiniões. Seu sentido os reteve na vaidade.
Excelentes conselhos práticos. Confesso que eu já os procuro seguir, mas não os entendia assim com tanta profundidade e ligação com Deus. Vejo que muitas pessoas que tem dificuldades com outras, de se aproximar, de dialogar, de ter empatia, se fizessem o esforço de se comportar conforme aconselha Eclesiástico, veria que a capacidade de tolerar, compreender e perdoar seria mais fácil.
O que eu tenho que observar com mais cuidado é a minha tendência de querer aprender muito, talvez já esteja demasiado. Mas como sempre estou associando tudo que aprendo com minha missão, acredito que ainda não esteja no exagero que Eclesiástico adverte.
Ramatis responde no capítulo 12 de “O Evangelho à luz do Cosmo” (Ed. Conhecimento, 1974) o seguinte:
Em verdade, esse temário evangélico do Mestre Jesus refere-se, precipuamente, a essência da vida espiritual do homem, pois abrange as causas e os efeitos fundamentais de suas vidas sucessivas sob o processo implacável e justo da Lei do Carma. Daí certa semelhança entre os vários conceitos evangélicos sob a mesma concepção aforística, em que o Mestre Divino diz: “Com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos”, “Aquele que não tiver pecado, que atire a primeira pedra”, “A cada um será dado segundo as suas obras”, “Quem com ferro fere, com ferro será ferido” ou, numa síntese significativa, que assim adverte: “A semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”.
Sob o invólucro dessas sentenças e aforismos cristãos, permanece sempre o inalterável conteúdo evangélico, que esclarece quanto a mesma lei cármica de ação e reação, atuando em todos esses casos algo semelhantes. Não se trata apenas de advertência, censura ou sentença moral, porém, é referência indiscutível a uma lei ou princípio específico, que age num determinado ângulo do Cosmo, visando sempre a harmonia e o equilíbrio criativo da vida. É Lei que corrige e cerceia a causa, a fim de eliminar o efeito, mas proporciona um resultado educativo. No âmago desses ensinamentos o Mestre Jesus adverte e esclarece quanto aos prejuízos e a leviandade do espírito que, julgando-se santificado diante de algum delinqüente, muitas vezes condena os mesmos pecados que já cometeu alhures, ou que ainda poderá cometer na atual e em existências futuras. Quanto mais o espírito se integra no conceito de justiça suprema e desenvolve o Amor, ele deixa de julgar os seus irmãos menos credenciados, livrando-se mais cedo da implacabilidade da Lei do Carma, que atua na sua função impessoal e, exclusivamente, para a retificação espiritual.
Assim, conforme o procedimento que alhures tivemos em vidas pregressas, poderemos julgar o alheio, mas sem desmentirmos o conceito de “amar o próximo como a nós mesmos” ou “fazermos aos outros o que queremos que nos façam”. Sob a rigorosa justiça com que julgarmos os demais espíritos, nós seremos rigorosamente julgados. Todas as máximas evangélicas são correlatas entre si, porque se derivam da mesma Lei Cósmica panorâmica, que mantém a coesão entre os astros, a afinidade entre as substâncias e o Amor entre os homens. Malgrado certas regras e enunciações familiares, que limitam a vida humana, na sua intimidade sempre vibra a chama criadora.
Deste modo, quem julgar o próximo com o mesmo Amor e boa intenção com que julga a si mesmo, salva-se, porque, então, revela um elevado princípio de honestidade espiritual, uma vez que julga e condena o próximo ao mesmo nível de culpa e penalidade que desejaria para si próprio.
Perfeito esse pensamento de Ramatis. O reproduzi na íntegra, apenas coloquei em letra maiúscula a inicial de Amor, pois entendo ser equivalente a força do Criador.
Como a temática circula em torno da justiça e como esse é um tema principal em meus paradigmas, avaliei com muito cuidado para ver se eu estou realmente o cumprindo. À primeira vista parece que sim, mas não eu não posso ser tão pretensioso, pois a cada momento estamos dando opiniões sobre terceiros e que não deixam de expressar um julgamento. Talvez nas grandes ocorrências da vida, com pessoas com estão distantes do meu entorno, eu tenha maior facilidade em aplicar essa justiça e fidelidade espiritual nas minhas colocações. Porém nos fatos da vida cotidiana eu lembro de momentos aqui e acolá que fui falho com a Lei. Sei que foram coisas pequenas, comportamentos até triviais que emitimos opinião e julgamento, mas sei que foram carregados de autoridade e que se fossem aplicados a mim não seriam tão severos assim. Tenho que ficar mais atento a esses deslizes, ficar na vigia como o Mestre advertiu, a estrada é cheia de desvios da Lei do Amor e por qualquer sentimento negativo de medo, ciúme, raiva, ressentimento, antipatia, eu posso gerar Carma negativo em minha vida.
Outro aspecto importante que devo ter em mente como responsabilidade pessoal, é na educação cristã de quem está no meu entorno. Faz parte da caridade distribuir o ensinamento recebido da forma mais humilde possível para orientar os irmãos que estão em caminhos desviados da Lei do Amor, da justiça divina. Lembrar outra máxima que Jesus nos ensinou que é fundamental para esse aprendizado, tanto de quem ensina para quem precisa aprender: “Os humilhados serão exaltados”. Geralmente surge a vergonha em quem tem necessidade de aprender e a arrogância em quem tem o dever de ensinar. Esses dois monstros só podem ser domesticados pela humildade. Dessa forma, quem agiu com humildade frente ao seu irmão, seu próximo, seja na condição de aprendiz ou de professor, sempre será exaltado pelo Mestre e tem a sua cidadania garantida no Reino de Deus
Mike Wittmer (Pão Diário, 1914) diz que “A imaginação estabelece os horizontes da vida e descortina o que é possível. As pessoas sem imaginação estão despreparadas para enfrentar o futuro. O povo americano estava cego em 11 de setembro, pois sequer imaginavam que os terroristas atirariam aviões contra edifícios. A economia mundial sofreu um declínio porque os líderes financeiros não foram capazes de conceber que os valores das moradias pudessem cair ou que instituições lendárias pudessem falir. E a mulher agnóstica ao meu lado em nosso vôo transatlântico se dirige à eternidade sem Deus, pois em suas palavras, “não consegue imaginar que existe um ser por trás das forças da Natureza”.
A imaginação não significa fazer de conta. Embora muito do que as pessoas imaginam seja fictício, os cristãos são chamados a imaginar – formar uma imagem mental – sobre o que Deus prometeu.
E o que é isso? Diferente da letra musical de John Lennon, “Imagine que não existe céu, é fácil se você tentar”, as Escrituras prometem que viveremos eternamente numa nova terra (Isaias 65: 17-25; Apocalipse 21:1-4). Jesus retornará um dia, para restaurar Sua criação, ressuscitará dos mortos e julgará os maus e viverá conosco.
Lennon deseja na canção Imagine – “Todas as pessoas compartilhando o mundo todo” e “vivendo a vida em paz” – isto acontecerá pela descida do céu à terra (Apocalipse 21:1-1), não por desejarmos mudanças em nosso mundo.
Um descrente em debate com um teólogo cristão afirmou ser incapaz de crer ser verdade o que a Bíblia diz sobre a nossa ressurreição e a terra restaurada. O teólogo respondeu que o problema não é a Bíblia, mas a imaginação deste.
As Escrituras prometem um futuro perene de paz terrena e deleite na presença de Deus. Como canta Lennon, então “o mundo viverá em unidade”. Imagine isso.
Esse texto de Mike mostra com muita clareza a forma como criamos as imagens mentais. Tudo está baseado nos paradigmas que tenhamos criado e que orientamos a vida por eles. Tanto eu como ele acreditamos no mesmo Deus, mas nossas imagens mentais são muito diferentes, pois acreditamos em coisas diferentes, temos paradigmas diferentes.
Primeiro, ele imagina que exista um “ser” que eu entendo que ele quis se referir a uma figura antropomorfizada. Esse Deus que ele acredita de forma humana, eu já imagino como uma força expressa pela inteligência, sabedoria e amor, que cria e se inclui em toda a Natureza.
Quando ele coloca a letra de Lennon para contrapor a crença da existência que ele tem do céu, eu vejo que tanto um quanto outro tem razão, pois o céu pode ser construído aqui na Terra da mesma forma que existe nos mundos superiores. Ele cita Isaías e Apocalipse para justificar sua crença e imaginação. É uma crença que aceita o sentido literal do que está escrito, mas do meu ponto de vista essa é mais uma alegoria das quais a Bíblia está repleta, desde a formação do mundo em 6 dias até a origem da humanidade a partir de um único casal.
No debate com o agnóstico ele fica surpreso porque o outro não consegue imaginar a ressurreição e a Terra restaurada como a Bíblia diz. Mas eu que acredito no mesmo Deus, mesmo que não tenha a mesma forma com a qual ele pensa, também não imagino essa descida do céu à Terra e nem na ressurreição de todos. A minha imagem mental concebe o aperfeiçoamento da Terra a partir da minha transformação moral, e de cada um de nós, e a evolução do meu espírito imortal, pois o meu corpo há muito deve ter sido decomposto pela Natureza e ajudado a criar novos corpos. Talvez até mesmo um corpo que eu venha a utilizar, com a integração de novos elementos.
Ele acredita que a harmonia e paz mundial só acontecerá pela descida do céu a Terra, como está escrito em Apocalipse. Já a minha imagem mental fica mais próxima da que John Lennon cantou, que nós é que iremos construir esse Reino de Deus com a nossa reforma íntima, cada um fazendo a faxina do egoísmo de dentro do coração e construindo a família universal.
Assim, cada um tem a forma de criar sua imagens mentais que tem o objetivo de construir a verdade. Como só existe uma só verdade, mas com diversos caminhos para se chegar até ela, quem estiver no caminho mais distorcido, lá na frente vai observar as incoerências e corrigir o que a razão lhe indicar. Esse é o nosso processo evolutivo, e não devemos ficar preocupados, pois o caminho evolutivo de todos vai em direção à Deus, e tudo conspira no Universo para que sejamos vitoriosos em nossa trajetória.