João Cobú, o pai-velho ou Pai João, explica no livro LEGIÃO (Robson Pinheiro/Ângelo Inácio) que nas experiências relatadas no Evangelho, vemos duas categorias de pessoas que davam sua colaboração ao trabalho do Mestre. De um lado os chamados discípulos, ou aqueles que foram chamados a servir como aprendizes da escola espiritual que o Cristo coordenou, tal qual um professor ou rabi. A essa classe numerosa eram dados ensinamentos espirituais compatíveis com sua experiência e sua capacidade de entendimento.
De outro lado havia o apostolado que foi conferido apenas a uns poucos. Aqueles que dele usufruíram foram eleitos pelo Mestre devido o seu currículo espiritual, no qual certamente se registrava uma ficha de serviço mais intensa e ininterrupta.
O apostolado pode ser entendido como uma convocação ou uma outorga divina para tarefas que exigem pessoas mais experientes ou com maturidade maior que os demais, em determinado contexto. Por essa razão vemos nas páginas do Evangelho muitos discípulos e poucos apóstolos. Aos últimos eram conferidos ensinamentos mais amplos e detalhados, que exploravam ideias expressas aos demais apenas através de imagens fortes e parábolas. Em contrapartida, exigia-se dos apóstolos atitudes condizentes com a importância da tarefa que lhes fora confiada.
Ao transpormos para o campo mediúnico (lembrar que todos nós somos médiuns) tais observações, notaremos que muitos recebem o chamado da mediunidade como discípulos do Mestre, porém, como médiuns não dão respostas em suas vidas e atitudes com a intensidade que o serviço apostolar exige. São apenas discípulos. No entanto, há aqueles poucos que traduzem sua tarefa em obras de verdadeiro heroísmo espiritual, deixando suas marcas por onde passam. É inegável que estes médiuns receberam uma outorga divina e que trazem do seu passado larga experiência no trato com as questões espirituais, o que lhes impõe inclusive certa conduta, certo ritmo. Constroem sua obra espiritual e, à medida que avançam, vão arregimentando outros, discípulos do Mestre, que caminham tendo nesses servidores uma espécie de referência para seu roteiro de vida em busca da espiritualidade.
Esse serviço do apóstolo moderno, que pode ser denominado mediunato, é algo que não pode ser negado. Os frutos desse chamado divino são percebidos de forma ostensiva, e a autoridade moral do medianeiro ou daquele que recebeu o chamado do direto do Alto salta aos olhos nas ações que empreendem no dia a dia. Mas nem todos os médiuns são assim; aliás, são poucos os que são chamados diretamente para uma tarefa específica, o que nos faz relembrar as palavras de Nosso Senhor: “Pois muitos são chamados (discípulos), mas poucos escolhidos (apóstolos).
Fiquei a meditar nesses comentários do pai-velho João Cobú fazendo um paralelo com minha vida. Sei que estou integrado aos trabalhos do Cristo e que a minha mediunidade é intuitiva. Tenho forte convicção que recebi uma missão dada pelo Pai, de aplicar o Amor Incondicional em todos os aspectos da minha vida, tendo como base as lições do Mestre Jesus. Em função disso alterei todo o projeto de vida que eu nutria desde a adolescência, assumi uma nova conduta na vida que vai de encontro as normas culturais, mas que observo pleno encaixe na Lei de Deus. Sofro as consequências desse comportamento, moro só, as pessoas que amo geralmente estão me expulsando de suas presenças, pois querem um outro tipo de comportamento, um outro tipo de amor. Sinto a necessidade de deixar mais explícito na comunidade essa forma de pensar e de agir, de ser um ativo motivador e construtor do Reino de Deus. Chego agora perto de uma conclusão com certo receio... Será que eu sou um espírito tão amadurecido, capaz de levar adiante um projeto tão amplo e importante como este? Mas por que eu, já com o dobro da idade que Jesus tinha quando começou o Seu ministério, até agora não consegui divulgar tão amplamente o meu pensamento como Ele fez com o dEle? Será que sou um discípulo melhorado ou um apóstolo imperfeito?
Volto novamente a Salomão em duas citações que ele faz na Bíblia em Provérbio: “Melhor é habitar num canto do terraço do que conviver com uma mulher impertinente. (21:9)” e “Melhor é habitar no deserto do que com uma mulher impertinente e intrigante. (21:19)”
Salomão demonstra uma grande preocupação com a mulher, chega a citar aspectos da convivência duas vezes no mesmo capítulo. O que a Bíblia diz sobre essa relação de Salomão com as mulheres? Observamos no livro de I Reis, no capítulo 11, o seguinte: 1 O rei Salomão, além da filha do faraó, amou muitas mulheres estrangeiras: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hitéias, 2 pertencentes às nações das quais o Senhor dissera aos israelitas: “Não tereis relações com elas, nem elas tampouco convosco, porque certamente vos seduziriam os corações arrastando-os para os seus deuses.” 3 A estas nações uniu-se Salomão por seus amores. Teve setecentas esposas de classe principesca e trezentas concubinas. E suas mulheres perverteram-lhe o coração.
Então é mais do que justa a preocupação de Salomão com a convivência com as mulheres, afinal ele tinha intimidades com mil mulheres com as quais diluía o seu amor. É natural que ele tenha encontrado a impertinência em algumas delas.
Fico curioso e vou à busca do significado completo do que seja impertinente. No dicionário online de português encontro o seguinte: Significado de Impertinente - adj. Que não pode ou não consegue ser pertinente; que não tem pertinência; que não faz relação com o tópico em questão; inadequado ou descabido: sua colocação, neste caso, é impertinente. Diz-se da pessoa que age sem pertinência; que se comporta de uma maneira descabida ou despropositada; que é inconveniente; insolente: seus comportamentos sempre são impertinentes. Diz-se da pessoa que implica com tudo; que demonstra rabugice; rabugento ou implicante. s.m. e s.f. Pessoa rabugenta, mau humorada, ranzinza. (Etm. do latim: impertinens.entis)
Vejo que Salomão desobedeceu ao Senhor e se relacionou com mulheres que Ele não permitia, porque sabia que o seu coração seria seduzido e sairia do caminho previsto. Certamente a impertinência foi uma das armas dessas mulheres alcançarem os seus objetivos, de desviar Salomão do caminho, ele que buscava a harmonia e se defrontava com a rabugice.
Corro o mesmo risco de Salomão, afinal a minha forma de agir com as mulheres, obedecendo aos meus princípios do Amor Incondicional, com inclusividade no amor, permite a relação com várias ao mesmo tempo. Procuro esclarecer o máximo às mulheres que querem se relacionar comigo, qual a minha forma de agir, dos meus paradigmas, de qual é o meu caminho nesta vida. Obedeço a lei de Deus colocada na minha consciência na forma de cumprir o Amor Incondicional em todos os meus relacionamentos, principalmente os afetivos, os íntimos. Amo Deus acima de todas as coisas, o Deus que está representado em todas as formas da Natureza, principalmente na forma de amor ao próximo. A minha forma de amar não rejeita ninguém, nem aos inimigos, não exige cobranças, não tem exclusividade. A pessoa que apresentar as características de amar ao próximo como a si mesmo, de vencer o ciúme e a exclusividade próprios do amor romântico, de ser capaz de amar as amantes do seu amado, são as melhores credenciais para ficar o mais próximo de mim. Estes são os diversos tópicos do meu paradigma de vida, do meu caminho em direção ao Senhor. A mulher que sabendo de tudo isso e deseja ficar ao meu lado, deve ponderar a carga de sofrimento que irá passar com a crítica de seus parentes, amigos ou da comunidade em geral, já que esse é um padrão anômalo dentro da cultura local. Deve ponderar também o seu próprio grau de resiliência em resistir e se adaptar as mudanças necessárias no modo de pensar, falar e agir. Se faz toda essa avaliação profunda e acredita ter condições de conviver dentro desse contexto, deve agora ter coerência em toda suas ações. Caso isso não aconteça e deixe de fazer a relação do seu comportamento com os tópicos do meu comportamento tão cuidadosamente esclarecidos, se torna ranzinza, inadequada ou descabida. Suas colocações e ações passam a ser impertinentes, implica com tudo, demonstra rabugice e mau humor.
Avalio pelo que está escrito na Bíblia, que Salomão fracassou no seu projeto de amor, as mulheres perverteram-lhe o coração. Acredito que eu, apesar de correr o mesmo risco, não deixarei que o meu coração seja pervertido. Não deixarei de cumprir a ordem do Senhor, de aplicar o Amor Incondicional em toda a minha vida, mesmo que eu seja expulso como um marginal da casa de minhas amadas, que eu seja criticado, injuriado, condenado como um herege, que não tenha nem o direito do amor e do respeito dos filhos que ajudei a vir ao mundo. Nem que eu seja afetado pela mais profunda paixão por uma mulher, sempre o meu amor a Deus será maior, e por Ele eu não perverterei o coração por lágrimas ou injúrias de qualquer pessoa. Fugirei da mulher impertinente, como o próprio Salomão aconselha, habitando num canto do terraço ou no deserto, mas não deixarei que a rabugice de nenhuma delas me desvie do caminho que o Pai orientou para mim.
Há 500 anos tivemos a descoberta do Novo Mundo, as Américas. Apesar de indícios anteriores de sua existência, foi a descoberta de Cristóvão Colombo e Pedro Álvares Cabral que oficializou a existência das novas pátrias.
Talvez seja chegado o momento de oficializarmos também a existência do Novíssimo Mundo, a pátria espiritual. Apesar dos muitos indícios de sua existência, continuamos a nos comportar academicamente como se só existisse a matéria, que a nossa mente, alma, espírito, livre arbítrio fosse tudo produto dos neurônios organizados e funcionando através de neurotransmissores em nossos cérebros; que depois da falência desse órgão nada mais permanecerá da nossa existência. Infelizmente essa ainda é a posição assumida majoritariamente nos meios científicos, pelo menos na forma de expressão e de condução dos diversos argumentos que assumem o materialismo como única realidade.
Vejamos assim o posicionamento de alguns pensadores atuais que conduzem com maestria essa forma de pensamento, a crença em que toda a vida, inclusive a humana, é apenas o produto das forças cegas da natureza, que atua como um “relojoeiro cego”, segundo um deles, o zoólogo Richard Dawkins. Esse relojoeiro seria a Seleção Natural, o processo automático, cego, inconsciente, que Darwin descobriu, e que agora sabemos que é a explicação para a existência e aparentemente para toda forma de vida, não tem qualquer propósito em mente. Não tem qualquer mente ou qualquer olho da mente. Não planeja o futuro. Não tem sequer visão, previsão, vista. Pode-se dizer que desempenha a função do relojoeiro na natureza, é o relojoeiro cego (O relojoeiro cego, Cia da Letras, 2008; publicado pela primeira vez em 1986, p. 5)
O americano Daniel Dennett, filósofo da mente conhecido no mundo todo é o preferido de quem pensa que os computadores podem simular processos mentais humanos. Ele diz que Darwin fundamentou a vida com firmeza no materialismo e que nós, seres humanos, somos grandes e luxuosos robôs. Diz ainda que, se você tem o tipo certo de processo e tempo suficiente, pode criar coisas grandes e luxuosas, até coisas com mentes, a partir de processos individualmente estúpidos, impensados e simples. Simplesmente uma grande quantidade de pequenos fenômenos ocorrendo ao longo de bilhões de anos pode criar não apenas ordem, mas desígnio, e não apenas desígnio, mas mentes, olhos e cérebros (entrevista a Alan Alda em Scientific American Frontiers, transcrição online em www.bps.org/saf/1103/features/dennett.htm. Dennett insiste em que não existem alma nem espírito associados ao cérebro humano, nem qualquer elemento sobrenatural, nem vida após a morte. O foco de sua carreira foi a explicação de que “sentido, função e propósito podem passar a existir num mundo intrinsecamente sem sentido e sem função”.
O sociobiólogo Edward O. Wilson também fala na mesma direção, que o cérebro e suas glândulas satélites já foram esquadrinhados a ponto de não restar lugar algum que possa ser racionalmente concebido como refúgio de uma mente não física.
O cientista cognitivo Steven Pinker reforça o coro, pergunta por que as pessoas acreditam que há implicações perigosas na ideia de que a mente é um produto do cérebro, de que parte do cérebro é organizada pelo genoma, e de que o genoma foi moldado pela seleção natural?
O crítico de cultura americana Tom Wolfe resumiu a questão num ensaio publicado em 1966: “Lamento, mas sua alma acabou de morrer”, esclarecendo a “visão neurocientífica da vida”. Ele escreveu sobre as novas técnicas de imagens que permitem aos neurocientistas ver o que ocorre no cérebro quando você tem um pensamento ou emoção. Ele diz assim: Uma vez que a consciência e o pensamento são inteiramente produtos físicos do cérebro e do sistema nervoso – e visto que o cérebro chegou totalmente impresso no nascimento -, o que o faz pensar que tem livre-arbítrio? De onde viria isso? Que “fantasma”, que “mente”, que “eu”, que “alma”, que qualquer outra coisa que não seja logo agarrada por essas desdenhosas aspas fará borbulhar o tronco encefálico para dá-lo a você? Eu soube que os neurocientistas teorizam que, de posse de computadores e sofisticação suficientes, será possível prever o curso da vida de qualquer ser humano momento a momento, incluindo o fato de que o pobre diabo estava prestes a balançar a cabeça em descrédito diante da ideia em si.
Apesar de todas essas considerações de alto crédito acadêmico, fica uma pergunta que não quer calar: Se o materialismo é verdadeiro, por que a maioria das pessoas não acredita nele?
Temos entre nós uma personalidade desbravadora desse novíssimo mundo, Allan Kardec. Ele entrevistou diversas inteligências da pátria espiritual, do novíssimo mundo e deixou registrado para nós antes de partir para lá, livros com a orientação filosófica, científica e religiosa, para que pudéssemos adquirir a cidadania nesse novíssimo mundo. As pesquisas foram realizadas e o mundo espiritual foi entendido como mais um aspecto da natureza, que acreditemos ou não. Nada existe de sobrenatural, apenas ignorância de quem ainda não encontrou ou não quer encontrar a forma certa de estudar a dimensão espiritual. Jamais a encontrará sob um microscópio ou no corte do bisturi. Assim como os micróbios pululam ao nosso redor sem que os nossos cinco sentidos consigam os captar, assim é o mundo espiritual que convive vibracionalmente ao nosso lado.
Também sou um neurocientista, fiz medicina, psiquiatria e doutorado em psicofarmacologia. Mas não perco meu tempo como alguns dos meus colegas, de procurar a alma ou o espírito nos recôncavos do cérebro, na fisiologia dos neurônios ou na química dos neurotransmissores. Compreendo que tudo isso é a maquinaria biológica, submetida as leis da evolução material, lei essa que pode até levar trilhões de anos para formar um olho na tentativa e erro, mas que a essência da consciência viva não está originada aí. Deixemos o mundo material com suas formas efêmeras e vamos em direção ao mundo espiritual procurar entendê-lo com mais precisão através de inteligências como as nossas que estão por lá e que se interessam por esse intercâmbio. Assim poderemos esclarecer como é que a alma ou espírito utiliza esses recursos biológicos para se expressar no seu livre arbítrio através da mente e escapar da condição de robô
Novamente, se me permitem, vejo incoerência nas palavras do rei Salomão. Ele diz o seguinte, na Bíblia, em Provérbio: “Ter dois pesos e duas medidas é objeto de abominação para o Senhor.” (20:10); e “Ter dois pesos é abominação para o Senhor; uma balança falsa não é coisa boa.” (20:23).
Ontem mesmo ao abordar o “dom de Deus” que ele considerava quando achava uma mulher, eu já identificava esse problema, dele estar usando dois pesos e duas medidas com as suas centenas de esposas e concubinas. Hoje ele foi claro a condenar esse comportamento, certamente não tinha consciência que o fazia. Como isso pode ter acontecido?
Salomão reinava naquela época sob a Lei de Moisés, aquela que emanava dos dez mandamentos e que orientava o “olho por olho e dente por dente”, como a essência da justiça. As relações interpessoais estavam firmemente amarradas no decálogo e nas instituições e nos compromissos assumidos dentro da coletividade, com pouca margem de variabilidade comportamental. Então, ele era o Rei, possuía a autoridade real e a instituição, o palácio, que devia preservar dentro da cultura machista da época, quando o homem era um ser superior a mulher em diversas facetas da vida, doméstica, política, religiosa. Nada mais natural do que ter as mulheres que pudesse manter, sem pedir a elas nenhuma consideração. Se estava dentro da lei de Moisés e obedecia aos padrões culturais, então não via que podia estar usando dois pesos e duas medidas, que estava usando uma balança falsa com as mulheres.
Com a vinda de Jesus essa Lei de Moisés foi sutilmente retificada, mas com forte repercussão nos relacionamentos. Agora Jesus aconselhava o perdão e até o amor aos inimigos, e não o olho por olho e dente por dente; agora Jesus ensinava que o maior item da Lei e que resume todos os outros, é amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo com a si mesmo. E o próximo pode ser uma mulher! Eu não posso querer para ela algo que eu não quero para mim. Eu só posso querer para ela aquilo que desejo para mim. Caso Salomão vivesse hoje e fosse guiado pelas instruções de Cristo, como ele já tinha a sabedoria de que não podia usar dois pesos e duas medidas, nem qualquer balança falsa, permitiria que suas centenas de mulheres tivessem os companheiros que também tivessem o dom de encontrar sob a influência de Deus, como acontecia com ele, para dividir afetos e intimidades. Dispensaria todos os eunucos e o palácio poderia ser transformado num modelo da família universal que deve ser a célula mater do Reino de Deus.
Com a nova orientação de amar ao próximo como a si mesmo, também se abriu várias opções de condutas pessoais, já que nossos desejos são múltiplos dentro de nossa consciência. Se quisermos ajustar esses desejos à Lei de Deus, conforme Jesus orientou, devemos nos comportar sempre visando o bem estar do próximo, sem deixar que os nossos desejos o prejudique de qualquer forma que não queiramos para nós. Então, se eu desejo para mim o relacionamento com diversas mulheres, devo também considerar e permitir que essa mulher também deseje e tenha direito de ter diversos homens. Este é o ajustamento da balança que Jesus permitiu. Não podemos ser hipócritas, dizer que aceitamos a orientação de Jesus e manter relacionamentos, por exemplo, monogâmicos, onde apenas o homem tem o direito de se relacionar com outras mulheres, com toda a permissividade cultural.
Eu, que sou cristão, que procuro seguir a lição de amar ao próximo como a mim mesmo como uma bússola na condução dos meus relacionamentos interpessoais até o limite da intimidade, tive que fazer mudanças radicais na forma de ver a vida, nos meus paradigmas mais profundos. Hoje tenho, como Salomão, o desejo de me relacionar com as várias mulheres que o Senhor permitiu o dom de perceber e amar, mas sempre procurando sentir o que faço de positivo ou de negativo, para trazer sempre o bem estar a essa pessoa, para favorecer o seu crescimento individual, os seus desejos mais íntimos, até o ponto de aceitar os relacionamentos que ela deseje praticar com outras pessoas. Mesmo que agindo assim eu saiba que me torno o patinho feio da cultura tradicional; que até mesmo as minhas companheiras tenham dificuldade de aceitar esse direito que nós temos de ficar com os companheiros que desejamos, sem críticas ou cobranças; de em consequência disso eu ter que morar sozinho e viver assim o grande paradoxo da minha vida: tanto amor ao meu redor e viver sem ninguém ao meu lado!
Na Bíblia, onde consta as palavras de Deus segundo os líderes religiosos, encontramos em Provérbios 18:22, escrito por Salomão, o seguinte: “Aquele que acha uma mulher, acha a felicidade: é um dom recebido do Senhor.”
É conhecido que Salomão foi um dos homens mais sábios que existiu e protegido do Senhor. Possuía centenas de mulheres, entre esposas e concubinas e que viviam em seu palácio. Ao escrever esse trecho eu acredito que ele sentia a permissão do Senhor em possuir tantas mulheres, e o Senhor não o desaprovava, pois ele permanecia sendo o homem mais sábio do seu tempo, com o beneplácito dEle.
O que mudou de ontem para hoje? Pois Salomão também vivia sob a lei de Moisés. Foi a nova orientação que Jesus trouxe para nós? De reorientar a lei de Moisés dizendo que os artigos maiores da lei e que estavam acima de qualquer outro era “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”? Nesse ponto eu vejo que em relação ao próximo, foi que Jesus trouxe a presença da balança da justiça e advertiu para que não se usasse dois pesos ou duas medidas. Sem condenações ou preconceitos a ninguém na sua forma de se relacionar com o próximo. Eu não posso dar ao próximo o que não quero para mim. Com essa nova orientação eu posso reavaliar a conduta ética de Salomão. Se antes dentro da lei de Moisés era permitido que ele conseguisse aumentar o seu poder, felicidade e sabedoria a cada mulher que achava, como um dom recebido de Deus, mesmo que a mulher não ficasse tão satisfeita com essa condição de ser mais uma esposa entre centenas. Agora com a orientação de Jesus eu preciso saber se essa mulher está satisfeita com essa condição. Se ela aceita vir morar no palácio do Rei, com todos os benefícios que isso lhe trará, mas terá que dividir a atenção de seu marido com centenas de outras esposas, eu não vejo pecado. Ele a aceitou dentro dos seus interesses; ela o aceitou dentro dos seus interesses. Cumpriu a orientação de Jesus!
No entanto, o grande pecado comete agora essa mulher, que sai de sua cultura monogâmica, aceita as condições poligâmicas do rei e dentro do palácio, passa a criticar a situação em que se encontra e a se maldizer dentro do seu circulo de amizades do quanto sofre em suportar a situação em que se encontra... Ora, ela não foi livre para entrar e é livre para sair? Não foi devidamente informada de toda situação para uma tomada de posição esclarecida? Se o rei se comporta dessa forma gentil e esclarecedora, tanto cumpria a lei de Moisés ontem, como a reorientação de Jesus hoje. Vejo que a mulher que aceitasse essa condição hoje de viver ao lado de Salomão era como as jovens que aceitam a condição de entrar para um convento onde todas se tornam esposas de um único marido.
Eu vou um pouco mais além e advogo que Salomão poderia até contribuir para a formação do Reino de Deus, se ele praticasse a fraternidade e a inclusividade de forma ampla e não em uma só direção. No sentido de que ele poderia ter centenas de mulheres, mas a mulher só poderia ter a ele. Todas eram protegidas por eunucos para que outros homens não participassem dessa rede de afetos. Caso não houvesse essa restrição e cada mulher, de acordo com suas necessidades, pudessem se relacionar afetivamente com outros homens, da mesma forma respeitosa e justa, então Salomão teria sido o primeiro homem a construir efetivamente o Reino de Deus neste mundo material. Então esse dom de Deus de achar mulheres seria muito melhor aproveitado!