Continuando a ler o livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus”, a história de São Paulo (Editora Record, São Paulo/Rio de Janeiro, 2005 - 22ª edição, pp 234-238), deparei-me com o seguinte trecho que reproduzo abaixo, o diálogo de dois soldados romanos, pai e filho, falando de Roma da época de Jesus, que lembrou-me de imediato a situação do Brasil de hoje:
“Milo discutiu reservadamente com o pai as condições da Roma moderna e seu rosto tornou-se progressivamente sombrio à medida que se dirigiam sem parar para a Porta de Joppa.
- Já falamos nisso, pai – disse Milo -, e não chegamos a uma conclusão, a não ser que Roma, como é agora, não pode continuar, a menos que os bons cidadãos sejam cada vez mais oprimidos e finalmente escravizados a serviço dos inferiores. Sabemos que as crianças recém-nascidas não podem mais ser sustentadas pelos pais, antigamente chamados de ‘homens novos’, a classe média, e estão sendo expostos de maneira a que devam morrer. A cada dia que passa, mais impostos onerosos são descarregados nas costas dos homens laboriosos, respeitosos e produtores, para o realce de uma corte dissipadora, financiamento de fazendeiros, cobiça dos políticos, abrigos gratuitos construídos para a ralé preguiçosa, indolente, estúpida e degenerada, divertimento livre para esse mesmo populacho, construção de enormes edifícios governamentais para abrigar o sempre crescente e cobiçado exército de burocratas e outros funcionários insignificantes, celeiros que fornecem comida gratuita à malta, e os sonhos ambiciosos dos filhos de escravos libertos de transformar as ruas, becos, estradas, casas, vilas e os subúrbios de Roma numa grandiosa ‘cidade de alabastro’! Então, há as guerras para alimentar as oficinas que fabricam armamentos e cobertores para os mercenários, que esgotam a bolsa pública, agora quase vazia. Tibério César começou com um propósito nobre: restaurar o Tesouro, pagar a dívida pública, encorajar a frugalidade e punir o ócio. Mas ele também sucumbiu às pressões estabelecidas por Júlio César, que pagava a ralé para apoiá-lo.
- Nenhuma nação – disse Aulo, que havia estudado história – toma esse caminho sem sucumbir. Assim, Roma deve sucumbir.
Seu rosto contorceu-se de dor.
- Durante nossa vida – falou Milo – devemos viver virtuosamente e com vigor, desprezando os fracos e depravados, detestando os concupiscentes, exaltando nossos deuses, pagando nossas dívidas. – Sorriu. – E nossos impostos... quando seus sanguinários cobradores nos pegam.
- Se todos os bons cidadãos romanos recusarem-se a pagar os impostos, que pode então um governo tirânico fazer? – perguntou Aulo, com um olhar ansioso ao filho, mistura de humor e malícia.
Milo riu, contendo seu enorme cavalo negro para evitar atropelar um garoto imprudente. Depois, ficou sério.
- Pensa que a populaça lúbrica, os ricaços, decadentes, abandonados, preguiçosos, vis, não lutariam por seu sustento, vindo das bolsas dos orgulhosos? Garanto-lhe que César viraria a ralé contra os bons romanos, deixando-a saquear, queimar, destruir e matar à vontade, até Roma ser transformada num rio de sangue e os cidadãos úteis reduzidos à mendicância e escravidão. Lembre-se de que Catilina tentou isso, mas teve que enfrentar Cícero, que se opôs a ele e finalmente derrotou-o. Mas agora não temos um Cícero, nenhuma forte voz patriótica, infelizmente, e restam poucos romanos para lutar pela pátria, pelo respeito aos deuses, pelas cinzas dos pais e pelo orgulho heroico.
- O desespero – disse Aulo – não é um mal. É uma virtude e pode inspirar homens a restaurar a grandeza de sua nação, sua virtude, esforço e orgulho. Mas os vis eliminaram o desespero dos corações dos homens, deixando apenas vermes e Circes sedutoras, que dizem ser tudo em vão, que é suficiente enfrentar o dia e sobreviver, deixando que o amanhã se arranje. Assim, os homens que devem vigiar as muralhas e guardar as portas, olham as mulheres e filhos, encolhem desencorajados os ombros e não se desesperam. O desespero os abandonou há muito, quando os mentirosos disseram-lhes que era inútil opor-se ao governo tirânico que declarava amar a ralé e instilara nela a inveja, a cobiça, a luxúria, e a informara de que os que trabalhavam pelo pão eram seus ‘inimigos naturais’, que deviam ser arrasados pelos impostos. Se eu ousasse – prosseguiu Aulo -, ergueria um templo para a deusa do Desespero, vestindo-a com uma armadura flamejante, dando-lhe uma reluzente espada vingadora, e implorava-lhe que destruísse as criaturas corrompidas que estão comendo meu país vivo, devorando suas entranhas e bebendo seu sangue dourado!
- Como diria minha mãe, ‘Amém’ – falou Tito Milo Platônio. – Os judeus não dizem, ‘o que não trabalha não deve comer’? Amém. Amém. Roma já foi aconselhada, mas não é mais. Todavia, como disse Cícero, cada povo tem o governo e o destino que merece. É verdade.
Tinham chegado a um cruzamento. Milo e o pai sofrearam seus cavalos, fazendo com que sua comitiva também parasse. Uma multidão barulhenta e brutal estava reunida, erguendo porretes e assentando-os furiosamente nas cabeças e corpos de meia dúzia de homens no meio, praguejando e insultando-os. Os homens haviam caído de joelhos, protegendo as cabeças com os braços e implorando misericórdia. À sua volta havia livros, papéis e canetas espalhados; a ralé pisoteava-os, espalhava-os e cuspia neles.
Milo ergueu a mão encouraçada e um soldado aproximou-se a cavalo.
- Pergunte, se possível, o que está causando esse distúrbio inconveniente – disse.
Aulo franziu o cenho.
- É meu dever, como centurião, manter a ordem.
- É verdade – retrucou Milo e tornou a esboçar um sorriso. – Mas acho que, neste assunto, o senhor preferirá virar os olhos para o outro lado.
O soldado voltou, fazendo continência.
- Senhor – disse -, os homens estão espancando os coletores de impostos e, ao que parece, não querem apenas seu sangue, mas suas vidas.
Aulo preparou-se para avançar, porém Milo segurou o pescoço do cavalo do pai. Ergueu os olhos serenamente para o imenso céu azul.
- Este é um dia agradável e estou usufruindo a primeira parte da minha viagem – falou. – Vamos entrar por esta rua, que está muito tranquila.
Virou o cavalo rapidamente para aquele lado.
Aulo olhou-o, aturdido, e franziu ainda mais o cenho.
- Os coletores de impostos são nossos empregados. Estão cumprindo seu dever.
- E com satisfação – disse Milo. – Oprimem seu próprio povo, porque são uns tipinhos mesquinhos e malvados que sentem prazer à visão da dor e da aflição. Portanto, deixemos que provem o que fazem com os outros. Em proporção menor, é nossa única vingança contra os coletores de impostos de Roma, e desejemos que os romanos tenham o espírito desses pobres e maltratados judeus! Por uma vez, deixemos a deusa Justiça se satisfazer.
Aulo sorriu interiormente e a comitiva entrou na rua tranquila, afastando-se dos gritos e do tumulto, até não mais ouvirem nada.
Fui negligente, pensou Aulo. Meu dever era claro. Mas não é uma coisa horrível quando o dever de alguém é a tirania, a proteção de seres abomináveis e o castigo dos que tinham razão no seu desespero e ira? Quando deve a manutenção da lei e da ordem descer à fossa da opressão?
As suas costas, ouviu as risadas dos soldados de Milo e esperou que estivessem rindo com pensamentos semelhantes aos que estavam atravessando sua mente.
Vinte e cinco cobradores de impostos judeus haviam sido atacados naquele dia nas ruas de Jerusalém por gente desesperada e dez morreram dos ferimentos. Depois disso, durante um certo tempo, os coletores de impostos, apesar de protegidos pelos romanos, andaram com cuidado, sem roubar, extorquir, torturar, se apropriar de coisas nem convocar os guardas para efetuarem prisões. Sabiam do ódio que sua própria gente lhes dedicava e do desejo de vingança em seu íntimo, fazendo com que nada os provocasse durante algum tempo, agindo circunspectamente. Os romanos nem sempre estavam presentes.
Isso foi em parte devido a intervenção de Aulo Platônio, que publicou uma ordem determinando que qualquer coletor de impostos apanhado num ato desonesto fosse executado. O coletor devia agir clara e escrupulosamente, sem ameaças e sugestões de castigo, não devia mais extorquir, nem tirar o pão da boca de crianças ou o teto de alguém. Caso contrário, morreria publicamente, como exemplo para outros criminosos.
Uma ‘prisão e detenção’ de caráter geral fora determinada por Aulo contra os desesperados que tinham mutilado e morto os coletores de impostos, mas por qualquer motivo inexplicável nenhum jamais foi preso.
- Afinal de contas – disse Aulo de modo virtuoso aos seus colegas de farda -, na verdade não é da nossa conta. Empregamos os coletores, isso é verdade. Mas se são criminosos, que o seu próprio povo lhes faça sua rude justiça. Não dissemos a todas as nações que tínhamos trazido a Paz Romana? Acima de tudo, desejamos a paz.
Com menos ironia, porém com virtude ainda maior, o saduceu Shebua ben Abraão disse:
- É monstruoso que agentes e funcionários do governo não possam executar suas tarefas e deveres sem serem ameaçados por gente rebelde, que não respeita a lei e a ordem.
Mas então, Shebua, graças à sua amizade com Herodes e Pôncio Pilatos, pagava poucos impostos e a maior parte dos seus lucros era reservadamente depositada em Roma e Atenas, aos cuidados dos banqueiros mais discretos, que fingiam não conhecer os nomes verdadeiros de seus clientes. Os amigos de César não sofriam privações nem passavam necessidades, orgulhando-se da sua segurança e devoção à lei, ninguém ameaçava seus lares, tomava suas propriedades, inflamava seus corações velhacos com o ódio, nem diminuía suas fortunas. Também não olhavam os conquistadores do seu povo com raiva e ira, pois não tinham orgulho e o amor a Deus e à pátria não mais existia neles ou nunca tinha existido.”
Não poderia essa fala da autora, reproduzindo o que se passava na Roma antiga ser mais parecido com o que acontece no Brasil atual. A tirania exercida com a máscara da democracia usando a lei como forma de escravidão na forma de impostos, obrigando o cidadão trabalhar exageradamente para manter o sistema perverso e ganancioso em funcionamento com tendências expansionistas. Os cidadãos com perda da capacidade de se desesperarem, se deixam consumirem suas energias em fogo brando, e a terrível frase de Cícero termina por carimbar nossa fronte servil: “Cada povo tem o governo que merece”!
Escreveu Marcos no seu evangelho (1, 14-20) que depois que João foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho (Boa Nova) de Deus, e dizia: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho”.
Já são passados quase 2000 anos dessa pregação de Jesus e o Reino de Deus que Ele anunciava como próximo ainda não foi realizado. Ele disse, se Marcos não se enganou, que o tempo havia sido completado, que era preciso fazer penitência e crer no Evangelho. Isso implica numa conversão, dos prazeres efêmeros do mundo material aos valores eternos do Reino de Deus. Mostrava que era urgente anunciar a Boa Nova e convocar os discípulos.
A conversão é uma condição necessária para participar do Reino de Deus. E, para pregar a conversão, precisamos primeiro estar convertidos. Fazer como os apóstolos que tudo deixaram para segui-lo. Essa é a parte mais difícil. O próprio Jesus deve ter percebido essa dificuldade. Apesar deles terem seguido o Mestre, impressionados com sua força moral, inteligência e milagres, eram confusos, covardes, interesseiros, e não chegaram a compreender o Reino de Deus que Jesus sempre ensinava. Chegaram a acompanhar o Mestre com fidelidade, até mesmo amor, mas nunca com a consciência sintonizada no que o Mestre ensinava. E Ele era o Mestre! Talvez por isso até hoje o Reino que devia ser construído não se concretizou. Até hoje, os novos apóstolos, como ontem, não conseguem aplicar na prática o Amor Incondicional nos relacionamentos, tirar a prioridade do amor romântico na construção das famílias nucleares, para construir as famílias ampliadas, universais... Não, os novos apóstolos, como os de ontem, apenas se voltam para mitigar o sofrimento dos pecadores, de curar suas doenças, de ensinar o Evangelho dessa forma, sem atacar o egoísmo que está entrincheirado dentro das famílias nucleares, com a perpetuação do egoísmo que se mascara na forma de fraternidade evangélica, que sobe aos púlpitos das Igrejas ou cátedras das academias.
Jesus também não podia ensinar tudo. Ele tinha que ensinar primeiro as primeiras coisas. Ele não podia construir relacionamentos afetivos com base no amor incondicional, que pudesse incluir a todas e todos sem preconceitos dentro da construção da família universal. Ele devia fazer, como fez, primeiro ensinar o que era o Amor Incondicional e confrontá-lo com o amor condicionado aos interesses egoístas do mundo material. Mas agora temos que aplicar o amor que Ele ensinou nos diversos tipos de relacionamento, principalmente os relacionamentos íntimos que constroem as famílias através da força reprodutiva. Se conseguirmos sucesso nessa empreitada, colocando a força do instinto sexual a serviço do Amor Incondicional e não do amor romântico, construiremos uma sociedade que não necessitará da caridade pública, pois todos viverão harmonicamente como irmãos, com justiça, solidariedade e abnegação.
O pré-requisito para essa conversão acontecer e a prática do Amor Incondicional ser aplicada é a fé nas lições que o Cristo ensinou e no Reino que Ele anunciou, pois ninguém irá sacrificar seus ídolos mundanos e vícios prazerosos se não estiver convencido de que os valores do Reino estão acima de qualquer bem deste mundo.
Acredito que eu tenha atingido esse nível. Vejo que é importante a evangelização das pessoas, principalmente aquelas que ainda não conhecem Jesus, mas considero ainda mais importante aplicar o Amor Incondicional nos relacionamentos, mesmo que assim fazendo eu detone o meu potencial de crescimento material, que não consiga acumular recursos financeiros para o meu prazer e da minha descendência biológica. Passo a considerar todos os bens materiais que recebo como uma dádiva dos bens de Deus que ele coloca à minha disposição, que devo utilizá-los de acordo com a sua vontade, pois pertencem a Ele e não a mim.
Assim, hoje me sinto convertido pelas lições e promessas do Cristo, pela lógica de Suas palavras e pelo Amor que sinto brotar de Seu coração. Hoje estou afastado dEle pelo tempo, mas me sinto muito mais próximo do Mestre do que os discípulos que caminharam com Ele, pois, sem falsa modéstia, acredito que tenho uma compreensão do Reino que Ele ensinou e anunciou com maior precisão.
Falta agora só a coragem e inteligência para implementar aquilo que sei!
A jovem auxiliar de enfermagem que conheci há 35 anos, quando eu era recém-formado em medicina e dava plantão em hospital, e ela sempre ficava a me convidar para sairmos e namorar, mesmo sabendo que eu era casado, que amava minha esposa e não queria compromisso com ninguém, e mesmo assim insistiu até que eu mudei minha forma de pensar e saí com ela... voltou a me procurar. Nada no corpo dessa mulher envelhecida, assim como eu, lembrava aquela jovem sensual que com seus seios tentadores e corpo escultural fez a mudança radical nos meus paradigmas de vida. Resolvi sair com ela para namorar, mas sem agredir a Verdade ou a Justiça. Naquela época eu não sabia ainda, mas acredito que foi o meu primeiro ato de Amor Incondicional que a partir daquele momento iria se desvencilhando do amor romântico. Saí com ela com discrição, para trocarmos os afetos que nossos corações e desejos pediam, sem o objetivo de prejudicar a ninguém, pelo contrário, trouxe um grande benefício à minha “qualidade de vida” que refletia na relação com minha esposa da época. Depois da primeira vez, saímos outras vezes, sempre com o desejo de ambos sendo atendidos, o coração satisfeito e sem sentimentos de culpa. Eu já incorporara na minha consciência que esse prazer que eu estava obtendo, a minha esposa poderia também obter, se assim fosse do interesse dela. Eu havia me libertado do sentimento machista de querer a minha mulher com exclusividade pra mim, se eu queria obter aquele prazer que agora estava tendo, ela deveria ter também o mesmo direito.
Enfim, foi essa pessoa que teve tão grande importância em minha vida, pois ao mudar meus paradigmas para longe do amor romântico, eu me aproximei cada vez mais do Amor Incondicional, até identificá-lo com Deus e compreender que era esse o caminho que Ele queria para mim. Aquela jovem foi apenas um dos primeiros instrumentos de Deus para eu entrar nos caminhos que Ele, o Pai, estava colocando na minha frente para eu seguir.
Hoje ela estava no meu consultório com o seu filho, casado e profissional, precisando da minha ajuda médica. Fiz tudo que era preciso fazer: medicamentos, atestado, orientação de procurar o INSS para buscar benefícios. O filho disse que iria ficar mais próximo dela, já que ela prefere morar sozinha, ela diz que não quer perturbar a minha vida de casado, explica ele.
Após ter feito o atendimento com um carinho todo especial, o filho disse ao se despedir que era profissional da área de serviços, que trabalhava com pintura, com eletricidade, gesso, etc. disse que tinha uma equipe que trabalhava nessa área e que eu podia ligar para ele se fosse preciso para qualquer serviço. Notei o esforço que ele estava fazendo para compensar um atendimento tão especial que a mãe estava tendo em forma de cortesia, não estavam pagando nada. Agradeci e notei o telefone dele como ele fez questão que eu anotasse.
Depois de tudo isso fiquei a refletir. Apesar dela não ter mencionado, sei que ela lembra do nosso passado, dos momentos agradáveis que passamos juntos. Ela foi uma espécie de Eva que com sua tentação me tirou do “paraíso” do casamento tradicional, exclusivista. Ela não sabe que foi o instrumento de Deus para me colocar dentro de um caminho onde o Amor Incondicional tornou-se o meu principal foco de vida. Que todas as mulheres que Deus colocou no meu caminho e que acionou os mecanismos instintivos da sexualidade, e que permitiu que nossas consciências aprovassem a intimidade do ato sexual, com a mistura da carne, do sangue, das secreções, também formassem um amálgama de nossas almas com todas as outras que assim também procederam. O instinto sexual pode ter sido o gatilho para essa comunhão, mas é a energia do Amor que mantém o respeito, a harmonia e o equilíbrio entre nossos desejos e a responsabilidade com a moral e a ética, de não fazer a ninguém o que não queremos para nós. Dentro desse contexto, jamais ninguém é abandonado, todos são considerados como irmãos mais especiais do que os outros, pois participam desse amálgama de almas, mesmo que essas relações íntimas não sejam explícitas, como deveriam ser, por causa ainda do atraso conceitual e preconceituoso que ainda domina a mente de muitas pessoas, inclusive de quem se relaciona comigo, muito envolvidas ainda com o amor romântico.
O filho da minha amiga, que não sabe que poderia ter sido meu filho, termina por agir como meu filho, quando viu que eu tratei a sua mãe com tanta dignidade. Isso mostra um reflexo da família universal que um dia construiremos para formar o Reino de Deus, onde o amor flui sem nenhuma barreira de qualquer espécie, onde cada filho gerado pode ser amparado por qualquer pessoa, pois qualquer pessoa pode ser o seu pai, e qualquer mulher pode ser uma mãe substituta para o filho do homem que ela ama, que com ela se tornou carne da mesma carne.
Santo Optato de Mileva, que viveu no século IV, ardoroso pregador da catolicidade da Igreja, afirmava que: “Cristão é meu nome, e católico o meu sobrenome; um me distingue, o outro me designa.” Combateu corajosamente, seja como bispo e pastor, seja como escritor, as heresias que ameaçavam reduzir a Igreja a uma mera seita e limitando-a a circunscrições geográficas: “Para que a Igreja não se reduza a vós e se limite ao canto da África onde estais, é preciso que esteja somente na outra parte da África onde estamos nós, mas esteja na Espanha, na Gália, na Itália, nas três Panônias... Por que estabeleceis limites ao império do Filho, depois que Seu Pai lhe prometeu toda a Terra, sem excetuar parte alguma?”
Católico ou catolicismo é um termo que quer dizer que o ensinamento cristão deve ser universal. Porém o sentido do termo Universal se perdeu dentro do termo “Igreja Católica Apostólica Romana” e hoje quando falamos “Católico” vem a mente uma Igreja fechada cheia de preconceitos no passado e que mantém dogmas inalcançáveis pela lógica e defendidas pelo autoritarismo eclesiástico. Deveria eu responder quando me perguntassem sobre a minha religião, que sou Católico, atenderia assim ao que acredito que devo seguir, pois já tenho a compreensão do termo no sentido amplo. Porém quem me ouve, irá me colocar dentro de uma Igreja cheia de rituais, impermeável ao estudo transformador e evolutivo da consciência em direção a Verdade. Portanto, respondo muitas vezes com a tradução do que quero que entendam, “sou cristão universalista” e com um sentido ainda mais amplo do que o simples termo quer explicitar, o sentido não de colocar minha religião somente dentro de um universo, mas sim dentro de quantos universos possam existir dentro da Natureza que ainda não conheço na totalidade.
Essa minha resposta mostra o sentido de independência que ela transporta, que eu, enquanto indivíduo, tenho formulado em minha mente um tipo de religião própria para minhas necessidades, que mesmo sendo igual ao termo que outras pessoas possam dizer que também acompanham, jamais será igual a nenhuma outra nos seus mais diversos detalhes. Assim como a simples impressão digital de uma pessoa, um pequeno espaço marcado por sulcos, nunca é igual a nenhuma das outras impressões digitais dos bilhões de seres humanos que existem ao redor do mundo. Quanto mais uma impressão paradigmática na consciência sobre determinada forma de se relacionar e de se entender com Deus.
Assim explico o que quero dizer quando me identifico como cristão universalista. Quero dizer que respeito o Mestre Jesus como a personalidade mais evoluída que já veio a este planeta, concordando com a opinião dos Espíritos evoluídos e que também seguem as suas lições. Quero dizer que respeito e procuro seguir a bússola comportamental que Ele nos deixou, de “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo”, e que para usar essa bússola de forma conveniente, honesta e com precisão, devo usar sempre a energia do Amor Incondicional, que se confunde com o próprio Deus e que tem Sua representação em qualquer aspecto da Natureza.
Estou consciente de que ao fazer assim, irei me defrontar com os costumes praticados na minha comunidade, onde o amor está contaminado pelo romantismo, pelo exclusivismo e constrói as unidades familiares de forma exclusiva, de base egoísta. Estou consciente que deverei ser habilidoso para não entrar em conflitos desnecessários e improdutivos com quem não entende essa forma de pensar e agir, sem me desviar do caminho que dessa forma passo a entender como a vontade de Deus em minha vida.
Dessa forma, parecido com Santo Optato, estou identificado designado como cristão e designado para aplicar o Amor Incondicional em todos os meus relacionamentos, colaborando para a família universal e construção do reino de Deus.
Ora, falar com Deus! Como isso é possível? Como uma mente lógica de tendências acadêmicas materialistas pode se envolver com essa atitude, conversar com um ser que não tem comprovação perceptiva, pelos imediatos sensores distribuídos pelo corpo em cinco diferentes modalidades? Tato, sabor, cheiro, visão e audição? No entanto, além dos sentidos materiais usei o raciocínio lógico e penetrei no mundo espiritual sem nunca dele ter tido uma percepção sensorial.
Agora, lembrando o que ouvi do áudio livro que acabei de ouvir e de descrever um resumo no texto anterior, verifico que o sacerdote, pai de Tamar, tinha os seus momentos de recolhimento para falar com Deus, fazia parte de seus compromissos eclesiásticos. Era um homem de fé e a comunidade tinha grande respeito a ele devido essa proximidade que Ele tinha com Deus. A tendência que tenho de imediato é a de refutar tal atitude como falsa, que ele está fingindo, ou na melhor das hipóteses, está sendo auto-hipnotizado no desempenho desse papel sacerdotal.
Por outro lado, quando percebo a minha condição psicológica atual, de crente, ou melhor, conhecedor da realidade do mundo espiritual e da necessária evolução que ocorre simultaneamente nos dois mundos, espiritual e material, vejo que aquele sacerdote pode realmente ter falado com Deus como forma de seu aprendizado e profissão.
Da mesma forma que o sacerdote judeu acredita num Deus único, eu também acredito. Nunca da mesma forma, pois o meu Deus é uma forma de energia criadora e inteligente que permeia todo o Universo que criou e até hoje continua a fazer isso. Então, da mesma forma que Ele consegue falar com Deus, ser ouvido e merecer resposta, eu também devo ser digno disso. Certamente não pelo mesmo canal perceptivo.
O meu canal perceptivo e que eu devo usar para falar com Deus é a intuição. Isso inclui a mensagem ser repassada por diversos meios, principalmente pela leitura de livros e qualquer forma de expressão do pensamento humano, seja esse inspirado ou não. Foi isso que aconteceu nos dois textos anteriores postados neste espaço.
Não devo achar estranha essa forma de falar com Deus. Devo me conscientizar e afastar qualquer tipo de dúvida, pois tudo que acontece de significativo com essas leituras, é que tem dentro delas todo um sentido que tem uma explicação coerente com todas as circunstâncias e motivos que estou atravessando.
Não posso ser tão ostensivo nessa forma de comunicação minha com Deus, pois o mundo ainda é muito perverso e materialista. Facilmente podem me considerar tomado por um tipo de loucura que certamente irá ser encontrada na CID – Classificação Internacional das Doenças. Não tenho comigo a profissão de sacerdote, pois ao contrário de mim, dessas pessoas todos esperam esse tipo de comunicação com Deus.
Já comecei há algum tempo a suspeitar dessa forma de comunicação de Deus para comigo, apesar de eu ter a maior dificuldade de orar, de conversar com Ele. hoje, cada vez mais consigo absorver essa ideia que já passo a considerar como fato em tudo que acontece na minha vida, não só com as leituras que sempre estou fazendo. O que devo fazer para que essa conversa permaneça, é publicar o meu pensamento como estou fazendo agora, com o sentido de despertar as pessoas que ainda não acreditam na existência dessa inteligência e força superior, que não podemos alcançar uma verdade muito mais profunda com uma inteligência ainda incipiente, mas que está dentro dos processos evolutivos e que certamente, chegará um momento que estarei bem mais próximo de Deus, com uma compreensão bem melhor sobre a natureza divina.