Conforme compromisso assumido ontem com o sonho que foi a raiz de minhas convicções, vou esclarecer mais uma vez o projeto de vida que o Pai incutiu na minha mente e ao qual associo a minha vontade e determinação. Isso parece que obedece a uma cronologia que está acima das minhas elucubrações, pois hoje começa a Quaresma, período em que pretendo entrar numa espécie de “deserto psicológico” onde eu possa ficar bem mais próximo do Pai e seguindo as lições de Jesus. Nada mais apropriado do que eu passar em revista os momentos e cognições que fizeram eu me afastar da pratica mundana, cultural, e me aproximar do mundo espiritual e colocar os seus valores associados ao Amor Incondicional como prioridade em minha vida.
Lembro que antes eu era uma pessoa como qualquer outra pessoa, com desejos e vontades de montar uma família nuclear e viver com fidelidade a esse projeto até o fim da minha vida, junto a minha companheira na saúde e na doença como havíamos jurado perante o altar. As circunstâncias da vida começaram a forçar a minha compreensão no sentido da minha mente e racionalidade alcançar um nível de compreensão onde o Amor Incondicional fosse superior ao amor romântico e todos os condicionamentos que ele exige. A força do instinto sexual criado por Deus dentro de nós fez com que fosse criado um clima de simpatia entre mim e uma colega de trabalho. Logo começaram os convites que ela fazia para aprofundarmos o afeto que nós sentíamos na intimidade sexual, sem qualquer tipo de compromisso a não ser gozarmos do prazer que isso iria nos trazer. Tanto eu como ela sabíamos de nossa atual situação familiar e não existia nenhuma proposta de mudar isso. Era simplesmente aprofundar o afeto que desenvolvemos na base da simpatia, desejo e que poderia fortalecer o Amor... Amor Incondicional, que estaria sendo feito sem condicionamento de qualquer espécie.
Relutei muito a fazer isso, pois entendia que estava traindo a minha esposa. Por outro lado eu não via o mal que isso poderia causar a ela, se o que estava sendo proposto dizia respeito apenas a mim e a minha colega. Claro, podia acontecer algum tipo de acidente, como um filho, alguém que nos descobre e vai denunciar algo que ele também considera incorreto, e assim por diante. Mas na hipótese de que nenhum acidente desse tipo aconteça, eu não via nenhum prejuízo que estaria causando em terceiros por causa dessa minha interação sexual que eu poderia fazer com minha colega, com todos os cuidados para evitar acidente.
Foi este raciocínio que terminou prevalecendo e serviu como gatilho para disparar toda uma sequência comportamental que deveria ser seguida em obediência a lógica, a coerência e a justiça. Primeiro e o mais importante, a minha esposa poderia também ter a mesma experiência que agora eu estava aceitando para mim. A simpatia, afeto, desejo, amor que eu estava desenvolvendo por outra pessoa agora, ela poderia também sofrer o mesmo processo e, portanto, deveria ter o mesmo direito que agora eu estava defendendo e praticando.
Essa situação no início tinha a força maciça do instinto sexual, que era disciplinado dentro de mim pelo senso da justiça. Com o passar do tempo fui percebendo com clareza a diferença entre o amor romântico, fortemente ligado a sexualidade e cheio de condicionamentos, com o Amor Incondicional, influenciado pelo instinto sexual, mas não se submetendo a ele, se mantendo como prioridade no campo comportamental. Dessa forma destruiu a família nuclear que eu havia formado e comecei a construir uma família ampliada que eu sentia muito mais próxima do amor Incondicional, muito mais parecida com a família universal que Jesus ensinou que deveria construir o reino de Deus.
Assim foi que, se as circunstâncias favorecem, é permitido que junto de mim existam mais de uma companheira e que assim possamos formar uma família ampliada, mesmo que por força dos condicionamentos e pressão cultural, tenhamos que morar em casas separadas. Isso não implica que junto de mim possam existir apenas companheiros, pois como as mulheres tem o mesmo direito e sentimentos que eu tenho, elas podem também em alguma ocasião incluir um companheiro dentro do seu campo de interação e que se junta à família ampliada.
Portanto, longe do que muitos pensam que estou construindo um harém no formato do oriente, onde um homem (sultão) tem varias mulheres (odaliscas) esta família ampliada não deve exigir a exclusividade de um único homem, pelo contrário, é a existência de outros homens dentro da família ampliada baseada no amor Incondicional, que irá dar a característica de família universal com o devido respeito, fraternidade, solidariedade e capaz de acabar com o egoísmo preponderante hoje dentro da humanidade, da cultura, e nas diversas relações sociais. Teremos assim alcançado o Reino de Deus.
Então, esta foi a reflexão que o Pai exigiu que eu fizesse para entrar no período da Quaresma, onde eu vou estar mais próximo dEle, e com certeza Ele que ouvir de mim o que vai no meu coração, nos meus pensamentos e nas minhas ações.
Acordei hoje as 4h da madrugada com a lembrança de um sonho vívido na minha mente. Acredito que pelos efeitos retardados ainda das atividades ritualistas do Novo Paganismo, da Wicca, no encontro da Nova Consciência em Campina Grande, onde ao som do tambor deixei a minha alma expressar a natureza do meu ser. Este ser é ligado a natureza do ar, conforme meu signo zodiacal, virgem. Os meus três eus (racional, emocional e divino) entraram em contato durante o sono e formataram um “teatro” para que o meu “eu racional” conseguisse ao acordar fazer a reflexão que pretendo fazer agora.
Durante o sonho o Sr. X, marido da minha amiga, Dra. Y, me aborda fazendo a seguinte pergunta:
- É verdade que você se relaciona com mais de uma pessoa na condição de companheira?
Sim, respondi que era verdade, mesmo que tivesse notado o seu cenho franzido, numa postura de reprovação. Mas o meu compromisso com a verdade impedia que eu negasse o que fazia, principalmente quando eu era provocado com uma pergunta direta como ele fez. Mesmo que durante o nosso relacionamento que foi feito através da sua esposa que é minha colega de profissão e amiga, ele nunca tenha sabido desta minha nuance comportamental, eu nunca tenha chegado para ele e falado sobre isso, ou ele tenha sabido de forma escandalosa por terceiros que tenham se sentidos prejudicados.
- Voce está fazendo uma coisa muito errada, está abominando a lei de Deus e escandalizado a comunidade!
Tentei me defender dizendo que estava procurando cumprir com integridade a lei de Deus e que não procuro com este comportamento escandalizar a sociedade, pois não fico expondo a todos de forma gratuita o que faço na intimidade. Mas senti que minhas respostas não alcançavam o seu raciocínio, incendiado que estava pelas forças emocionais incendiadas pela raiva e talvez medo e frustração. Medo por saber que sua esposa se relaciona com muito afeto comigo, e frustração por me ter na conta de uma pessoa muito especial e de repente descobre que eu violo os seus princípios mais importantes: os sacramentos do casamento.
Deixei ele se afastar raivoso e reclamante daquela confirmação que teve sobre meu comportamento, talvez esperasse saber que tudo não passava de uma brincadeira. A minha característica de desenvolver empatia com as pessoas, tentei ficar no lugar do meu interlocutor que se afastava à passos rápidos.
Provavelmente ele estaria agora a pensar que eu era um depravado e que na surdina estava a enganar as mulheres para atender os meus desejos mais impuros de sexo diversificado. Talvez a sua esposa tivesse sofrido esse “ataque” psicológico, e se ela tivesse cedido? Não acreditaria, ele sabia que sua esposa era digna da maior confiança e se ela mantinha amizade comigo em nível tão espiritualizado era porque também estava sendo enganada. Mas como é que pode uma pessoa tão correta na aparência, principalmente na relação com Deus, ser uma pessoa tão depravada na vida íntima?
Foi essa racionalização que me motivou a escrever amanhã, na quarta-feira de cinzas, a explicação detalhada para mostrar que eu fazendo assim estou obedecendo ao próprio Deus que colocou na minha consciência essa missão, que muito mais além do sexo que me é permitido eu carrego comigo as dores que provoco na alma de quem se aproxima de mim e que estão condicionados a outra forma de comportamento, muito diferente da que agora estou praticando.
Amanhã também será um dia especial, pois sendo a quarta-feira de cinzas, evoca o meu animal do poder, a Fênix, que dormita dentro de mim. Também descobri que este era meu animal do poder dentro de uma atividade deste mesmo grupo em outro encontro da Nova Consciência em Campina Grande, há cerca de 4 anos. A Fênix é um pássaro da mitologia grega que morria em combustão depois de algum tempo e renascia das próprias cinzas. Possuía uma grande força capaz de carregar pesadas cargas durante o seu voo, chegando ao ponto de carregar até elefantes. Certamente para simbolizar que a carga que eu iria carregar no meio de pessoas tão fortemente condicionadas pelo amor condicional iria ser muito grande. Também suas lágrimas tem o poder curativo, talvez simbolizando que apesar de eu ser médico e treinado em cuidar das pessoas pelas técnicas científicas, são as minhas lágrimas provenientes do meu sofrimento das incompreensões que sofro, do trabalho exagerado que pratico, o melhor recurso terapêutico que possuo. Tudo isso simboliza no conjunto a força que devo ter para tocar esse projeto de característica imortal, que depois de mim outros irão praticar até o renascimento do paraíso perdido, do Reino de Deus.
Fui ao encontro do grupo do Novo Paganismo que estavam se reunindo no Cine São José, em Campina Grande-PB. A palestra que deveria ser seguida de uma prática, estava sendo feita por Claudiney Prieto, um estudioso e praticante dessa antiga religião, residente em São Paulo.
Ele iniciou a palestra falando do poder psíquico que todos nós possuímos enquanto filhos da Natureza e da estrutura trina do ser: físico, mental/emocional e espiritual. Falou dos sete chacras que representam os principais vórtices de captação e distribuição de energia do universo para o corpo. O nosso psiquismo pode captar os estímulos através dos cinco canais sensoriais, como é comum ser observado, e também pela capacidade de captar as energias mais sutis, que não impressionam os órgãos dos sentidos. Tudo isso pode ser observado porque tudo faz parte da Natureza e devemos apenas aprender e desenvolver os canais que já possuímos para a percepção dessas energias sutis.
São essas práticas do grupo da Wicca ligadas ao coração da Terra que evocam no nosso psiquismo a força da Natureza que reside dentro de nós. A primeira prática foi para passar as mãos abertas, depois de friccionadas pelas áreas frontais dos sete chacras e procurar perceber onde existem alterações de calor, frio ou formigamento frente a cada um dos vórtices. Todos os praticantes perceberam algum tipo de alteração como previsto em chacras diferenciados. O teste seguinte era mais complexo, pois era para uma pessoa colocar a mão direita sobre a mão esquerda outra pessoa e tentar visualizar e descrever simultaneamente fatos da vida da pessoa. todos também tiveram algum nível de sucesso, incluindo a mim e a meu parceiro.
A outra prática foi realizada na parte da tarde. Consistia de uma dança onde os participantes foram agrupados de acordo com a natureza do signo: terra, fogo, ar e água. Fiquei no grupo de ar, devido meu signo ser Libra. Cada pessoa devia se movimentar reproduzindo a natureza do seu signo ao som rítmico de um tambor que dava as coordenadas de rapidez ou lentidão. A terra teria assim movimentos pesados enquanto o ar teria movimentos suaves, livres. Depois todos iam se agrupando lentamente ao redor de um tapete com diversos instrumentos musicais e apetrechos de ligação do ser com a Terra. A terra iniciou no centro, seguida pelo fogo que dançava em torno, depois a água e por fim o ar. Ficavam todos dançando de forma concêntrica e cada vez mais rápidos.
Consegui uma boa sintonia dos movimentos do meu corpo com a natureza do meu signo e as energias fluíam pelo corpo de forma muito agradável. Minha companheira E não conseguiu suportar a pressão e desabou num pranto sem justificativas. Foi necessário o instrutor chegar próximo dela, abraçá-la e acolher aquela intensa emoção.
Saímos para jantar e em seguida ir ao auditório do SESC onde iria ser realizado um teatro, “O rapto de Perséfone” e depois teria uma mesa redonda com o tema de religiões antigas. Também estava previsto uma dança espiral na área externa, numa pracinha, que serve segundo os povos antigos para trazer chuva, mas meus companheiros se mostravam cansados e resolvemos voltar para o hotel.
Terminamos o dia cansados, pois tivemos muitas atividades e a cama estava nos esperando.
Tenho uma paciente, MAC, que separou do marido e encontrou um namorado, casado, e que se relacionam, aparentemente, de forma harmônica. Esse caso despertou minha atenção, pois ela se trata comigo devido a depressão e percebo que ela está muito melhor, apesar da medicação que faz uso. Acredito que essa relação esteja trazendo benéficos para ela e procurei aprofundar a investigação:
- Como vai voce na relação com seu namorado?
- Está bem, eu me sinto bem.
- Não lhe incomoda o fato dele ser casado?
- Incomodava mais no começo, mas agora eu estou mais tranquila.
- Vocês vão a igreja juntos?
- Não podemos... por ele ser casado a nossa relação tem que ser discreta, ninguém pode nos ver juntos, saber de nossa relação. Isso me deixa triste, pois eu queria sair para qualquer lugar com ele. Por isso eu não queria namorar com ele, pois sabia que ele sendo casado não iria ter uma relação transparente comigo. Meu filho também combateu muito esse relacionamento no início, mas agora ele não demonstra se interessar pelo caso. Também tem o caso do meu ex-marido que sabe dessa relação e apesar de me ajudar financeiramente e de ainda ser o meu marido na forma da lei, não se incomoda com isso e até incentiva, se isso me deixa feliz. Ele demonstra ser uma boa pessoa.
- E quanto a esposa do seu amante?
- Ela é uma pessoa doente, tem câncer no seio e eles não se relacionam sexualmente. Ele convive com ela para cuidar.
- Voce se sente bem no relacionamento, inclusive o sexual?
- Sim, eu me sinto muito bem, cuidada... só o que me incomoda é porque sei que isso é um pecado, está escrito na Bíblia, participo de um adultério.
- Voce deve ponderar que a Bíblia está cheia de incoerências e que devemos nos preocupar a cumprir a principal lei que Ele, Jesus, nos deixou: “Amar ao próximo como a si mesmo”. Assim o que é mais importante é aplicar a lei do Amor Incondicional.
- Sei disso meu namorado também fala dessa forma. Diz que não estamos pecando, pois não estamos fazendo mal a ninguém.
Esse caso me fez refletir na importância da família ampliada, pois a inclusão de MAC poderia fazer-se nessa família de forma natural. A esposa doente teria mais uma cuidadora ao seu lado, seu marido teria uma pessoa para compartilhar a vida e os impulsos sexuais sem gerar ciúmes ou destruição de relações antigas. Vi que os integrantes dessa história tinham um bom perfil psicológico, inclusive com bom conhecimento evangélico. Apenas os preconceitos alicerçados sobre o amor romântico que formam a família nuclear e os paradigmas culturais servem como bloqueio para isso se realizar.
Dessa forma eu vejo que o meu trabalho de construir essa família ampliada e divulgar a sua existência, explicando o funcionamento e a superioridade tem realmente um grande potencial de harmonização na comunidade e de assim se tornar a base para a construção do Reino de Deus.
Jesus é batizado por João Batista para identificar-se com o povo. Através do batismo Ele compartilha conosco da nossa condição humana, lavando como os outros os pecados, pecados que Ele não tinha. Ele era o filho de Deus mais perfeito entre nós, capaz de realizar um batismo maior, o batismo com o fogo consciencial do Espírito Santo para lavar da mente e do coração os nossos defeitos originais e adquiridos. Era o ser habilitado para pregar a Boa Nova do Reino de Deus a partir da aplicação do Amor Incondicional em todos nossos relacionamentos. Isso vai além de qualquer mensagem religiosa anunciada antes dEle, inclusive por João.
O batismo é um símbolo da identidade de Jesus que justifica aos homens o sentido de Sua missão. Esse ensinamento fez com que fosse impregnada a cultura e nossos pais ficassem motivados para nos batizar desde criança de colo acelerando esse processo de compreensão de uma vida cristã. Ficamos assim capacitados com essa identidade cristã a enfrentar dentro dessa nossa condição humana, os desejos e lutas contra os pecados originados do egoísmo. O fato de sermos cristãos não nos imunizará de qualquer miséria, dor ou tentação. Mais do que isso, somos convocados a lutar por uma humanidade melhor, por uma sociedade melhor. Devemos estar sempre cheios de esperança para podermos inspirar os outros a criar um mundo melhor. Devemos estar praticando o Reino de Deus e seus valores, baseados nos princípios do Amor Incondicional.
Sei que a história está nas mãos de Deus e que com a identidade do batismo estarei pronto para tudo. Lembro que Jesus pregava o Evangelho e dizia: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e crede no Evangelho.”
Agora que já conheço o Evangelho chegou o tempo de construir o Reino de Deus na prática. Cada um de nós deve se associar ao próximo e nos tornarmos construtores desse Reino. Jesus transformava homens em pescadores de outros homens; nós devemos nos aliar e nos tornarmos construtores do Reino.
Devo fazer esse começo em algum lugar. Lembrarei que Jesus vai está sempre ao nosso lado como Ele mesmo prometeu: “Onde duas ou mais pessoas estiverem reunidos em meu nome, eu estarei com elas.”
A vocação cristã é dar-se a si mesmo à construção do Reino de Deus nestes dias atuais, pois a fase de evangelização deve evoluir para a fase de construção.
Vou fazer aquilo que o Cristo me ensinou! Já tenho a minha identidade cristã, agora assumo a missão de realizar aquilo que aprendi. Devo sair da teoria para a prática. Dos amores condicionados para o Amor Incondicional. Da sociedade egoísta para a sociedade fraterna e solidária do Reino de Deus.