Pela primeira vez na história da humanidade foi imaginado um combate que não envolvesse a derrota, humilhação ou mesmo a morte do adversário. Duas pessoas se apresentam para esse duelo com as armas do Evangelho. Cada uma reconhece que é um ser humano, com o coração carregado de egoísmo, natural da condição animal. Cada uma também reconhece que é um ser espiritual, condição essa acima do ser animal. Sabem que as duas condições, animal e espiritual coexistem no mesmo corpo, mas que a condição animal tem uma maior pressão, desde o nascimento, baseado na lei da sobrevivência. Durante o processo de crescimento e amadurecimento, chega na consciência a importância do Espírito e a necessidade dele evoluir acima dos interesses materiais, biológicos, instintivos. Para isso acontecer recebemos o roteiro de vida escrito nos Evangelhos que reproduzem as lições teóricas e práticas do Mestre Jesus.
Eu tenho bem determinada em minha consciência o caminho que Deus ilumina para que eu faça a Sua vontade. Pelo meu livre arbítrio eu a aceito como a minha vontade também. Sei que fazendo assim estou abrindo mão de todos os meus interesses materiais, inclusive bens móveis e imóveis, prazeres instintivos e apegos afetivos os mais diversos. Sou simplesmente um instrumento de Deus, que se deixa guiar pela Lei do Amor.
Dessa forma entrei no caminho de construção de uma família ampliada, que não defenda a exclusividade dos afetos, com responsabilidade, até os afetos mais íntimos, e que haja ações de fraternidade dentro e fora desse círculo familiar ampliado. Entendo que o Pai quer que isso sirva de um protótipo para o Seu Reino, como Jesus, o seu filho mais evoluído (e por isso único) veio nos ensinar. Para que isso aconteça é necessário que eu me relacione dessa forma com duas ou mais companheiras, pois se for apenas uma é uma relação tradicional que não vem ensinar o que o Pai deseja. O Pai enviou para mim diversas pessoas que por um motivo ou outro deixaram esse projeto. Apenas duas continuam perseverando na manutenção desse relacionamento, mas com grande força afetiva dirigida a mim e não ao projeto de Deus, como seria o mais adequado. Mas não importa, isso faz parte de suas naturezas, e a natureza também faz parte da lei de Deus. O que importa é que elas se mostrem capazes de suportar a pressão que a natureza animal faz em suas consciências, no sentido da revolta, do ciúme, da vaidade, do ressentimento, da raiva, da ira... Como são duas pessoas espiritualizadas, que reconhecem Deus como Pai e Jesus como Mestre, também conhecem os ensinamentos evangélicos. As regras desse combate consistem nisso: seguir os princípios evangélicos durante uma conversação fraterna, sabendo que a pessoa é considerada pela cultura do mundo atual como uma odiosa inimiga. Tão odiosa que dificilmente poderiam sentar na mesma mesa, face a face. O fato disso estar acontecendo pode ser considerado o primeiro round da luta, vencida por ambas.
A partir daí, o diálogo entre as duas prosseguiria na base da fraternidade evangélica, sob o testemunho de todos os amigos convidados para tal evento. Todas essas pessoas convidadas para tal evento seriam pessoas privilegiadas, pois iriam ser testemunhas do primeiro combate onde a força do mal, da ignorância, é explicitamente colocada como fator de derrota e não de vitória.
Logo após as minhas preocupações que coloquei no dia anterior, veio às minhas mãos o capítulo de Eclesiástico que se refere ao “Domínio Próprio (5:11-18)” que serve como a lição que o Senhor encaminha pra mim no sentido de eu dar seguimento a Sua missão na minha consciência:
11. Não joeires a todos os ventos, não Andes por qualquer caminho, pois é assim que se revela o pecador de linguagem dúbia.
12. Firma-te no caminho do Senhor, na sinceridade de teus sentimentos e de teus conhecimentos, nunca te afastes de uma linguagem pacífica e equitativa;
13. Escuta com doçura o que te dizem a fim de compreenderes; darás então uma resposta sábia e apropriada.
14. Se tiveres inteligência, responde a outrem, senão põe a mão sobre a tua boca, para que não sejas surpreendido a dizer uma palavra indiscreta, e venhas a te envergonhar dela.
15. A honra e a consideração acompanham a linguagem do sábio, mas a língua do imprudente é a sua própria ruína.
16. Não passes por delator, não caias com embaraço nas armadilhas de tua língua,
17. pois ao ladrão estão reservados a confusão e o arrependimento, à língua dúbia, uma advertência severa;
18. Faze justiça tanto para o pequeno como para o grande.
Esse texto parece mais como combustível e bússola enviado pelo Senhor para que eu dê prosseguimento na minha jornada. Sei que este não é o objetivo daminha vida, mas para o cumprir eu tenho que caminhar com essas observações.
A minha missão, assim como eu a compreendo, é fazer um pequeno modelo ao meu redor de relacionamentos afetivos ou não, baseados no Evangelho e na Lei do Amor, que também está dentro do Evangelho. E, fazendo isso seguindo a lei da Natureza, onde reside a lei de Deus quando a observamos fora de nossa consciência, é a formação de uma família ampliada, sem exclusividades e com fraternidade dentro e fora dos seus membros, no império da Justiça.
O Devocional 2013, “Boa Semente”, traz um texto interessante no dia de ontem, do qual irei colocar o que sintoniza com meu pensamento:
O Senhor tem trabalho para cada pessoa. Ele também nos dá condições de executar esses trabalhos, mas será que os achamos muito difíceis?
Quantas coisas diferentes podem nos impedir de fazer o que Deus tem em mente que façamos. O versículo de Provérbios, 26:13 “Diz o preguiçoso: um leão está nas ruas” - menciona uma delas para nosso próprio conforto. Essa é a verdadeira razão por detrás das desculpas que muitos usam para enganar os outros. Escutam leões rugindo nas ruas, isto é, imaginam problemas e perigos que podem encontrar quando obedecerem ao que Deus manda.
Seria leviandade dizer que nunca encontraremos resistência quando servimos ao Senhor. Mas se Ele tem nos dado uma tarefa para cumprir, Ele mesmo estará conosco, nos fortalecendo e nos guardando. Sua sabedoria e poder estão disponíveis para nós em abundante medida, se tivermos a consciência de quão pequenos e fracos somos.
Jesus sempre pôde dizer que Deus estava diante dEle. Seus pensamentos e coração estavam constantemente ocupados com Deus, a quem servia. Ele se dedicou aos interesses de Deus a ponto de Suas forças serem consumidas. Que devoção!
O Senhor Jesus enfrentou face a face o verdadeiro “leão que ruge”, Satanás. E não deu nenhuma desculpa. Já que todos prestaremos contas a Deus, o que lhe diremos por não termos cumprido aquilo que Ele nos ordenou?
Este é um dilema que tenho no momento atual. Sei que sou um grande privilegiado frente a tantos que vejo à minha frente. Sei que existe um Pai e que muito além disso, que Ele determinou uma missão em minha consciência. Mas agora é que chega o dilema: sinto que o tempo passa e que não consigo colocar em prática a Sua vontade, pelo menos da forma eficaz que eu imagino que deva ser. Será que esse é o pequeno passo evolutivo que devo dar nesta encarnação? De reconhecer a paternidade de Deus, reconhecer que Ele me deu uma missão, mas que não tenho forças para realizá-la? Sou como o preguiçoso de Provérbios, vejo um leão constantemente nas ruas e não tenho a coragem que Jesus teve de enfrentá-lo face a face.
Tudo bem, sou ainda muito pequeno comparado com Jesus, tenho que me contentar com o progresso que eu consiga alcançar agora, mesmo que seja mínimo, mas é o limite de minhas forças. Mas também não desistirei, continuarei a pedir ao Pai força e sabedoria para que eu consiga avançar pelo menos um pouco mais além do meu potencial.
Recebi uma frase dos amigos que logo me identifiquei com ela. Dizia assim na forma de perguntas e respostas: “Qual sua religião? O Amor. Quem é o seu pastor? Jesus. Qual é a sua igreja? Sou eu.” Achei perfeitas tanto as perguntas quanto as respostas. Passei logo a parafrasear a música de Roberto Carlos – “Esse cara sou eu.” É isso que no íntimo eu pratico e usando todas as fontes espirituais que levam minha inteligência mais próxima da sabedoria de Deus.
Dessa forma, encontrei no Livro do Eclesiástico (Bíblia Sagrada) um item que fala da Prudência e Justiça da maior importância e que não poderia deixar de transcrever aqui como a explicitação de compromisso da “minha igreja”, que sou eu:
23 Meu filho, aproveita-te do tempo, evita o mal;
24 para o bem de tua alma, não te envergonhes de dizer a verdade,
25 pois há uma vergonha que conduz ao pecado, e uma vergonha que atrai glória e graça.
26 Em teu próprio prejuízo não te mostres parcial, não mintas em prejuízo de tua alma.
27 Não tenhas complacência com as fragilidades do próximo,
28 não retenhas uma palavra que pode ser salutar, não escondas tua sabedoria pela tua vaidade.
29 Pois a sabedoria faz-se distinguir pela língua; o bom senso, o saber e a doutrina, pela palavra do sábio; e a firmeza, pelos atos de justiça.
30 Não contradigas de nenhum modo a verdade, envergonha-te da mentira cometida por ignorância.
31 Não te envergonhes de confessar os teus pecados; não te tornes escravo de nenhum homem que te leve a pecar.
32 Não resistas face a face ao homem poderoso, não te oponhas ao curso do rio.
33 Combate pela justiça a fim de salvar tua vida; até a morte, combate pela justiça, e Deus combaterá por ti contra teus inimigos.
34 Não sejas precipitado em palavras, e (ao mesmo tempo) covarde e negligente em tuas ações.
35 Não sejas como um leão em tua casa, prejudicando os teus domésticos e tiranizando os que te são submissos..
36 Que tua mão não seja aberta para receber, e fechada para dar.
São essas observações preciosíssimas para o meu comportamento. Sei que eu já as procuro seguir, mas quando faço uma avaliação a partir de leituras vejo que cometo ainda muitas falhas na sua aplicação. Por exemplo, ainda tenho vergonha de dizer com toda profundidade a verdade do Reino de Deus, que devemos lutar por sua construção. O meu perfil acadêmico, aparentemente tão distante desses propósitos espirituais, termina por inibir a oportunidade que me apresenta as circunstâncias que o Pai oferece. Procuro não me mostrar parcial com ninguém, apesar de sentir que os desejos corporais, materiais, possam levar ao favorecimento de alguma pessoa em determinado momento. Mas como isso está difuso ao longo do tempo, cada pessoa pode passar por essa situação, e que é uma possibilidade que fica explícita, pode ser que tudo isso faça parte da estratégia de Deus em minha vida. O importante é que eu não sinto acusações da consciência, onde está colocada a Sua lei.
Não sou tão complacente com as fragilidades do próximo, já consigo dizer o erro que eu imagino que o outro pratica, na tentativa de consertar e não somente de acusar. Mas eu poderia ser ainda mais assertivo e objetivo nesse item, tenho que melhorar. Muita coisa que eu avalio como errada, termino por deixar passar sem deixar nenhuma consideração. Sei que já tenho muito conhecimento acumulado e que me traz algum nível de sabedoria; não posso deixar ela, a sabedoria, reclusa, pelo medo de parecer pretensioso. Devo coloca na mente que é pela palavra que posso mostrar o que eu tenho de sabedoria e ser firme nos atos de justiça. Mesmo que para outros, envolvidos nos seus interesses individuais, pareça uma injustiça. É a minha consciência, associada a lei de Deus, que se constitui o juiz supremo, e nenhum outro interesse subalterno deve inibir ou desviar minhas ações retas. Jamais contradirei a verdade quando assim ela surgir na minha mente. Foi isso que me fez entrar nesse caminho que hoje eu trilho, do Amor Incondicional, da construção do Reino de Deus baseado numa estrutura familiar tão diferente da tradicional. Também não deverei evitar confessar meus pecados apesar do medo e vergonha que venha a sentir. Isso já tive oportunidade de fazer em mais de uma ocasião quando assim eu sou provocado ou que a consciência determine. Não posso mentir sobre os pecados que cometi ou que senti desejos de cometê-los, pois fazem parte da minha estrutura de ignorância e que quero vencer pela força da verdade.
Agora sou incentivado mais uma vez a entrar no bom combate, de não ter medo, pois apesar das críticas, ataques e sofrimento que eu venha a sofrer, Deus estará comigo e combaterá por mim. Não deverei ser precipitado nas minhas palavras, por isso demoro a tomar uma decisão, preciso considerar sempre os prós e os contras, o lado positivo e o negativo do que irei fazer. A partir daí devo agir, sem covardia, sem negligência. Não posso ser rígido e exigente no ambiente doméstico e omisso e covarde lá fora. Deverei ter muito cuidado com minha mão, no ato de dar e receber: ninguém é tão pobre que não possa ofertar alguma coisa, ou tão rico que não possa receber. Tudo isso faz parte da fraternidade que está sendo exigida cada vez mais pelo Pai, para a construção do Seu Reino.
Por tudo isso que analisei dessa forma é que volto a confirmar a assertiva do início: esse cara que tem o Amor como religião, Jesus como pastor e a si mesmo como o templo e que segue as prescrições de inspiração divina, esse cara sou eu!
A Terra está em guerra declarada contra as forças da ignorância, do mal, desde que o Cristo chegou até nós e deu suas lições de Amor Incondicional. Parece paradoxal quando Ele disse que estava trazendo a espada, pois era um Mestre na arte do Amor. Mas Ele queria dizer justamente isso, da batalha espiritual que iríamos enfrentar e que nossa espada era esse Amor Incondicional, a essência do Pai. Mesmo que o homem tenha interpretado de forma errônea as Suas lições e tenham empunhado uma espada física para dominar o mundo material em Seu nome e tenha feito correr tanto sangue humano nas areias ou se consumido nas fogueiras; mesmo que o interesse subalterno pelo poder temporal tenha ofuscado o objetivo espiritual tanto ensinado pelo Mestre.
Mas as lições do Mestre, tais quais sementes jogadas nos corações dos homens, encontraram em alguns, terrenos férteis para se desenvolver e evoluir em direção ao que Ele propôs, a formação do Reino de Deus entre nós, aqui na vida material. Essas pessoas que deixaram a semeadura do Mestre prosperar em seus corações passaram a se constituir uma elite de espíritos que formam o quartel general dessa batalha espiritual que teve início há mais de 2000 anos sob o comando de Jesus e que se reflete na vida material até hoje.
Assim, ao longo do tempo podemos observar a participação de pessoas de comportamentos excepcionais quanto a contribuir para a nossa evolução ética e moral na construção desse Reino. São Francisco de Assis é uma dessas referências, ao lado de tantos outros em tantos outros contextos: Gandhi, Mandela, Madre Tereza de Calcutá, Chico Xavier, etc. O exemplo de cada um deles serve para lembrar as lições do Mestre e que cada um de nós tem a necessidade de evoluir no sentido espiritual com muito mais empenho do que empenho na evolução material. Que nesse esforço (luta) de tirar o coração humano da ignorância, ninguém deve ser excluído, pois todos são esperados pelo Pai.
Pudemos assistir atualmente um capítulo dessa luta em que a influência dos espíritos superiores se mostrou determinante na condução da estratégia cristã. A Igreja Católica que foi o primeiro movimento cristão a conduzir de forma organizada os ensinos e práticas de Jesus, não estava invulnerável às investidas da ignorância e o seu poder nocivo às criaturas. Com ampla penetração em todo o mundo, a Igreja vivia acossada por acusações as mais diversas em seu seio, desde a pedofilia até corrupção financeira. Durante o conclave para a eleição do novo Papa, os cardeais responsáveis por isso e que eram os candidatos naturais ao posto de Pedro, deveriam até por dever do ofício, serem as pessoas mais permeáveis às influências espirituais superiores. Superior no sentido ético e moral no qual o Evangelho é a matriz dessas diretrizes comportamentais.
Assim foi que recebendo sugestões do mundo espiritual, o cardeal Claudio Hummes, emérito de São Paulo, chegou a sussurrar no ouvido de Jorge Mário Bergoglio, logo que ele foi eleito Papa, “não se esqueça dos pobres”. Foi esse gesto que acima do tumulto da eleição ficou reverberando na mente do novo Papa, que fez chegar ao seu coração o nome de Francisco de Assis.
Essa atitude foi um excelente golpe tático na estratégia cristã de enfrentamento na batalha contra a ignorância, uma reforma a partir do papado! A Igreja ergue a cabeça com o novo Papa Francisco que está disposto a mostrar ao mundo que as lições do Mestre ainda estão sendo os princípios pelos quais devemos seguir. O Papa Francisco empunha a espada da revolução cristã, a verdadeira espada do Amor Incondicional que é levantada em favor dos pobres, marginalizados, esquecidos, jogados nas periferias; também não se esquece dos ignorantes espirituais que patrocinam esses desmandos contra a condição humana, pois também são nossos irmãos e merecem ser redirecionados no caminho do bem.
É uma luta onde a espada do Cristo aponta contra os efeitos da ignorância dos pecadores, tentando minimizar os efeitos de suas ações maléficas como crimes, violências, drogas, corrupções, etc. Mas ao mesmo tempo lança ao pecador a oportunidade do perdão, pelo reconhecimento dos seus erros e a honesta convicção de repará-los. Tudo isso se passa em todos os ângulos da vida, não é preciso que tenhamos qualquer cargo para estar dentro dessa luta. Todos nós participamos por mais humilde que seja nossas ações. Somos como as ovelhas que ouvem a voz do Pastor e com sua inteligência deve decidir seguir o caminho do bem, o caminho que Deus colocou em nossas consciências.