Onde está meu tesouro, aí está o meu coração. Esta frase eu ouvi como retirada da Bíblia. Aceito como verdade. Somos motivados na vida a determinados comportamentos que nos levam a atingir certo objetivo. A maioria das pessoas se envolvem em comportamentos materialistas que levam ao acumulo de bens materiais. Poucos se envolvem com os interesse espirituais, nem ao menos acreditam que exista essa dimensão e que tenha valores prioritários.
É certo que nossa existência neste mundo material implica em trabalhar, gastar tempo na aquisição de bens materiais. O corpo físico necessita de manutenção através dos alimentos, de proteção através dos abrigos, de educação, saúde, lazer, repouso, etc., toda uma gama de providências para que a vida material corra com harmonia. Acontece que evoluimos aos lado de outros seres biológicos, humanos ou não. A própria Natureza já estabelece uma competição natural entre todos os seres vivos, representados pelas figuras do predador e da presa. Dentro da própria comunidade humana também existe essa competição o que termina por causar os enormes desvios da normalidade, com a formação das massas de miseráveis e dos poucos poderosos que as manipulam e exploram. Esse comportamento visa apenas o acúmulo do poder material, temporal, em detrimento dos outros que não tiveram chance de alcançar esse poder manipulatório. O poder representado pelas moedas é o que constitui o tesouro material por tantos cobiçado e por poucos alcançado. No entanto a maioria das pessoas passa a maior parte do seu tempo em busca desse tesouro, o seu coração está sintonizado com ele, mesmo que ainda não o possua. Essa pessoa tende a fazer tudo ao seu alcance, até mesmo atos ilícitos, para alcançar esse tesouro.
O conhecimento do mundo espiritual, dos seus valores, e da precedência sobre o mundo material faz a pessoa ter outra compreensão. Foi por esse motivo que mudei a minha forma de sentir e de agir no mundo. Percebi que estou no mundo material cumprindo uma programação construida no mundo espiritual, onde a realidade não é virtual e passageira como é aqui. O mundo material serve apenas de escola, algumas vezes de hospital, para a educação do nosso espírito. Entendi que não posso agora me voltar com prioridade para as necessidades do mundo material e passar a ter um comportamento cumulativo, sem preocupação com as necessidades do próximo, que também é importante para o meu aprendizado espiritual. Assim, desloquei a qualidade do meu tesouro para as virtudes espirituais, pois é somente isso que eu conseguirei levar comigo quando terminar o meu tempo de aprendizado aqui no mundo material. Nada do que eu consiga acumular do mundo material, qualquer riqueza desse tipo ficará aqui, sendo administrado por outros. Hoje o meu coração está sintonizado com o tesouro espiritual, com o aprimoramento das virtudes. O trabalho no campo material serve apenas para manter a qualidade do meu modo de vida, jamais para acumular em detrimento do meu próximo. Também sei que todo recurso material que possuo pertence a Deus e que sou apenas o administrador que Ele confiou, que devo fazer prosperar o que tenho, mas com o sentido também de ajudar o próximo em suas necessidades.
E, acima de tudo, tenham amor, pois o amor une perfeitamente todas as coisas (Colossenses 3:14). Esta frase da Bíblia se contrapõe a outra frase neste mesmo livro: “Quem não gosta de estar na companhia dos outros, só estar interessado em si mesmo e rejeita todos os bons conselhos. O tolo não se interessa em aprender, mas só em dar suas opiniões” (Provérbios 18:1-2)
São frases como essas que encontramos nos livros sagrados e mundanos, na vida real e na filosofia, que mostra o caminho que podemos seguir com clareza. Todas as pessoas saudáveis, procuram seguir a estrada do amor, mesmo sabendo que ela pode se apresentar com muitos espinhos, mas sabe que é nesse caminho que existe o maior dos cimentos de relacionamentos. Mas o caminhar na trilha do amor incondicional vai encontrar pelo caminho dolorosos espinhos que faz a pessoa entrar em outra frase contida na Bíblia: “Muitas vezes quando o ciúme consome, a ira invade ou o medo prevalece, me refugio em pensamentos egoístas. Torno-me a antítese do cristão amável e gentil que sou chamado a ser e que procuro ser” (1 Tessalonicenses 4:9). Esquece completamente o que diz Efésios 4:2 – “Sejam sempre humildes, bem educados e pacientes, suportando uns aos outros com amor.”
Quando nos colocamos com firmeza na estrada do amor, qualquer tipo desagregador de ofensa, de sofrimento, de vaidade ou orgulho, será superado; o cimento do amor unirá qualquer tipo de pessoa por mais ranzinza que seja, pois também está em pleno funcionamento a capacidade de perdoar. Mas, se não temos essa firmeza de andar no caminho do amor, qualquer breve sentimento de frustração, de não poder ter aquilo que imaginamos que merecemos, faz com que despenquemos no abismo da raiva, do ressentimento
O amante incondicional com sua capacidade plena de amar, usa com frequencia esse cimento nos diversos relacionamentos, a capacidade de perdoar não deixa se perder os tijolos que se desprendem. Porém o caminho foi feito para ser percorrido, não pode se parar o ritmo da evolução. Aqueles que saem do caminho do amor, qualquer que seja o motivo, perderão essa essencia divina, mesmo que não seja exclusiva.
Fico às vezes a meditar, porque o egoísmo tem essa força tão estupenda sobre as pessoas, que mesmo sabendo da divina essência que o amor provoca, mesmo assim saem do clima dessa influência e entram em outros caminhos, aparentemente tão amplos, mas tão sombrios.
Jesus falava para seus discípulos assim: “Voces são o sal da terra... Voces são a luz do mundo... Assim brilhe a luz de voces diante dos homens.” Mateus, 5.13-14,16.
Sal e luz são duas das maiores necessidades nos lares. Certamente Jesus deve ter visto inúmeras vezes, sua mãe usar o sal na cozinha. Naqueles dias, antes de existir a refrigeração, o sal era usado normalmente com propósitos antissépticos e de preservação. Assim, Maria deixava peixe e carne mergulhados em água salgada e acendia lamparinas a óleo quando o sol se punha.
Jesus escolheu essas imagens para indicar a influência que Ele desejava que seus seguidores exercessem no mundo. O que Ele quis dizer? O que é legítimo para nós deduzir dessa sua escolha de metáforas? Acredito que Ele estava ensinando quatro verdades.
Primeiro, os cristãos são radicalmente diferentes dos não-cristãos. Ambas as imagens estabelecem as duas comunidades em contraste uma com a outra. Por um lado, há o mundo; por outro há voce, que deve ser luz na escuridão do mundo. Novamente, o mundo é como carne apodrecida e peixe em decomposição, mas voce deve ser o seu sal, detendo a deterioração da sociedade. As duas comunidades são tão diferentes uma da outra quanto a luz é da escuridão, e o sal, da corrupção.
Segundo, os cristãos devem penetrar na comunidade não-cristã. Embora espiritualmente e moralmente distintos, não devemos ser socialmente segregados. Uma lâmpada não traz nenhum benefício se for guardada no armário; e o sal não faz bem se ficar dento do saleiro. A luz deve brilhar na escuridão; o sal deve penetrar na carne. Ambos os modelos ilustram o processo de penetração.
Terceiro, os cristãos podem influenciar e mudar a sociedade não-cristã. Sal e luz são ambos mercadorias eficazes. Eles mudam o seu ambiente. Quando o sal é introduzido na carne, algo acontece: a deterioração bacteriológica é detida. Do mesmo modo, quando a luz é acesa, algo acontece; a escuridão é dissipada. Não apenas indivíduos podem ser mudados; sociedades também podem ser transformadas. É claro que não podemos tornar a sociedade perfeita, mas podemos melhorá-la. A história está cheia de exemplos de melhora social por meio da influência cristã.
Quarto, os cristãos devem conservar as características cristãs. O sal deve reter sua salinidade, caso contrário, será inútil. A luz deve reter seu brilho, caso contrário, nunca dissipará a escuridão.
E qual é a minha característica cristã? Praticar o amor incondicional de forma clara, transparente, honesta e principalmente nos relacionamentos interpessoais, que geram a família universal, inclusiva, solidária. Reconheço que sou radicalmente diferente do mundo em que estou inserido, que devo influenciar e mudar a sociedade, mundana, que diz acreditar no amor incondicional, mas não chega a lhe praticar. Devo manter minhas características, senão eu serei um inútil, devo brilhar e temperar, e não posso fazer isso escondido dentro de 4 paredes.
O salmo 31 da Bíblia aborda a felicidade do perdão e diz o seguinte: “Feliz aquele cuja iniquidade foi perdoada, cujo pecado foi absolvido. Feliz o homem a quem o Senhor não argui falta, e em cujo coração não há dolo. Enquanto me conservei calado, mirraram-se-me os ossos, entre contínuo gemidos. Pois, dia e noite, Vossa mão pesava sobre mim; esgotavam-se-me as forças como nos ardores do verão. Então eu Vós confessei o meu pecado, e não mais dissimulei a minha culpa. Disse: - sim, vou confessar ao Senhor a minha iniquidade. E Vós perdoastes a pena do meu pecado. Assim também todo fiel recorrerá a Vós no momento da necessidade. Quando transbordarem muitas águas, elas não chegarão até ele. Vós sois meu asilo, das angústias me preservareis e me envolvereis na alegria de minha salvação. –Vou te ensinar, Dizeis, vou te mostrar o caminho que deves seguir; Vou te instruir, fitando em ti os Meus olhos: não queiras ser sem inteligência como o cavalo, como o muar, que só ao freio e à rédea submetem seus ímpetos; de outro modo não se chegam a ti. São muitos os sofrimentos do ímpio. Mas quem espera no Senhor, Sua misericórdia o envolve. Ó justos alegrai-vos e regozijai-vos no Senhor. Exultai todos vós, retos de coração.”
Esta é uma lição importante para quem se reconhece como filho de Deus e que procura seguir Sua vontade expressa na consciência. Como Ele é onipresente está sempre na minha vida, nada do que eu faça ou deixe de fazer, passará despercebido por Ele. Então, se eu não tenho faltas, ou se tendo as cometido, as confesso e obtenho o perdão, então me sinto feliz, pois meu coração não há dolo, maldade. Mas se eu não confesso as minhas faltas, fico calado frente ao Pai, o tempo avança, a osteopenia ataca meus ossos, as dores me fazem gemer em constância. Então, se eu faço a confissão, não vou retirar os efeitos do tempo sobre minha biologia, mas os efeitos da culpa serão atenuados na minha consciência, as dores físicas não serão potencializadas pelas dores morais. Muitas angústias que atingirem a comunidade onde me insiro, não chegarão até mim. Deus se tornará assim o meu asilo das angústias, ao invés do aguilhão para as dores. Ficarei feliz, pois tenho a convicção de caminhar para a construção do Seu Reino.
Ele sempre está a dizer por várias formas de comunicação e até mesmo diretamente no meu cérebro, na minha mente, qual o caminho que devo seguir. Fico muitas vezes surpreso, pois sinto que tenho que atingir determinada meta e não sei como, tudo parece tão distante, até impossível de realizar. E de repente, as coisas se apresentam com as condições necessárias e suficientes para o trabalho começar. Nesse momento percebo a mão do Senhor na minha vida, colocando pessoas e coisas ao meu alcance, pessoas que também dividem objetivos semelhantes e que também seguem a Sua vontade. Então tenho que seguir a Sua observação, de que devo usar a inteligência privilegiada que Ele me deu, motivar a minha vontade com os argumentos necessários e fazer o que é preciso sem a necessidade de freios ou rédeas.
Reconheço a influência constante do Pai, a necessidade de caminhar por onde Ele indica, e o cuidado de conter os impulsos ou implementar as ações. É neste último ponto o grande problema, pois conter os impulsos ou implementar as ações envolve os interesse do corpo, que é essencialmente egoísta, sempre em busca do prazer e fugindo do desconforto, se coloca geralmente em oposição aos interesses do espírito. É o instinto sexual sempre pronto para entrar em ação, mas que deve ficar sob o controle do amor incondicional e a esse prestar serviço, jamais ir em busca do prazer pelo prazer! Por outro lado, e da maior importância, pois a este efeito do corpo sempre rendo, é a preguiça. Deixar de fazer o que é importante para o espírito, que é o principal interessado na minha evolução real, e ficar de repouso exagerado e que muitas vezes ultrapassa as necessidades que na realidade ele precisa. Este é um pecado que sempre estou cometendo e que às vezes tenho até a preguiça de pedir perdão ao Pai, pecado sobre pecado! Somente a extrema benevolência do Pai consegue perdoar tal iniquidade do filho. Portanto, ainda sou um usuário constante do pedido de perdão, e se não tenho vergonha de continuar a fazer isso é porque sinto que não há maldade no meu coraçao. Assim, com tudo isso, sinto que minha vida é feliz, mas somente porque tenho a felicidade do perdão do Pai!
Francisco de Assis andava depressivo, a Ordem que havia fundado estava com os princípios distorcidos pelos intelectuais que desejam uma instituição mais pragmática do ideológica ou utópica, mais burocrática que evangélica. Clara sabendo disso, manda o seguinte recado: “Irmão Francisco, acendeste as nossas chamas e agora deixas que se apaguem? Abriste as nossas bocas e agora as deixas sem pão? Plantaste essas plantinhas e agora as deixa sem regar? Pensas se não estarás faltando com tua palavra de cavalheiro. Esqueceste que somos suas Damas Pobres? Precisamos de ti. Quem sabe se tu também não precisas de nós? Esperamos-te para o almoço. Vem.”
Francisco refletiu: “Clara tem razão. Acendi uma chama. Clara acendeu-se em minha chama. Na chama de Clara acenderam-se as outras irmãs e nós todos entramos na fogueira do Amor. Sim, fui eu quem acendeu a grande aventura. Sou o responsável. Clara tem razão. Não é correto plantar uma roseira e deixá-la sem cultivo. Não posso permitir que essas tochas se apaguem.”
Essa reflexão de Francisco foi importante; a ajuda de Clara foi fundamental. Francisco despertou para uma missão e se sentia derrotado por ver que seus ideais estavam sendo distorcidos. Não conseguia perceber que ele tinha muitas pessoas ao seu lado que foram convertidas por sua fé intensa. Que essas pessoas dependiam da integridade do seu pensamento. Que não poderia abandonar o seu pensamento, a sua fé, a sua prática, pois várias pessoas haviam acreditado no que ele havia professado.
Quando reflito sobre essa situação de Francisco, aumenta a responsabilidade com o que fiz até hoje. Também, como Francisco, eu recebi na consciência uma missão, a de praticar o Amor Incondicional com toda a honestidade em todos os relacionamentos com a Natureza. Principalmente com os relacionamentos afetivos, a base constitutiva da família que irá ser formada de acordo com a qualidade do Amor que será praticado. Mesmo ainda sem a clareza que tenho hoje dessa minha missão, desenvolvi ao longo da vida relacionamentos afetivos com base no Amor Incondicional, na justiça, na solidariedade, na ética. As mulheres que se envolveram comigo conheceram essa forma de Amor Incondicional. Mesmo que aceitassem que esse tipo de amor é o mais perfeito e o que mais se aproxima da essência do Criador, não acreditavam que pudesse ser colocado em prática dentro de um relacionamento afetivo onde predomina o amor romântico com base na exclusividade, no ciúme, na posse. Ficavam junto de mim, mas quando percebiam que minhas convicções são fortes e que meu afeto não pode mais ser dominado pelo amor romântico, que ninguém pode ter a exclusividade da minha capacidade de amar, da minha intimidade, da minha sexualidade, desistiam de mim, chegavam a me expulsar dos seus convívios e desenvolviam raiva, até ódio, em suas frustrações por não atingir o que desejavam. Isso é próprio do amor romântico, a facilidade que ele tem de se transformar num sentimento oposto como o ódio. Mas o Amor Incondicional tem outra natureza, de acordo com o que está colocado na Bíblia em ICor.13: “...O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal...”
Dessa forma, eu, como amante incondicional, nao posso me comportar como um amante romântico de ter o mesmo comportamento de minhas companheiras que permanecem pensando e sentindo assim. Assumo a condição de sofredor por ver todo o meu esforço de amar se deteriorar entre elas em sentimentos negativos; pratico a benignidade em qualquer circunstância, esteja eu sendo amado, odiado ou com indiferença; jamais terei inveja do bem maior que minhas amadas alcançarem, pelo contrário, estarei sempre disposto a colaborar com suas evoluções, com seus crescimentos individuais, mesmo que elas desenvolvam afetos ao lado de outras pessoas; jamais irei tratar o sentimento de nenhuma delas com leviandade, sei que elas sofrem por não conseguirem sair do padrão do amor romântico, sou solidário a elas, só não posso fazer minha transformação para chegar aonde elas querem; nunca irei me ensorbecer devido o Pai ter colocado ao meu alcance tantas almas capazes de amar, são atributos do coração delas aos quais respeito com devoção; jamais serei indecente, de não respeitar o pudor ou os bons costumes; serei sempre discreto para que minhas ações não sejam causa de escândalo, que estejam sempre dentro de um procedimento ético, de não fazer ao próximo o que não quero para mim; meus interesses pessoais sempre serão colocados subalternos aos interesses da companheira, isso é o que justifica o ponto crítico de continuar a amá-la da mesma forma, mesmo que ela decida caminhar na vida com um outro companheiro; procuro não me irritar com suas incoerências de concordar viver comigo sabendo da minha opção pelo amor incondicional e criticarem a consequencia desse tipo de amor, que é a inclusão de todas, é a capacidade de amar a todas, é o de não abandonar ninguém; e procuro não suspeitar mal de nenhuma, por mais que elas reajam com raiva, que me abandonem, que falem mal.
Esta é a natureza do meu amor, é o que está registrado nos livros sagrados, é o que tento praticar com integridade, justiça e transparência, da mesma forma que Francisco fez com relação à Dama Pobreza. No meu caso é o Senhor Amor Incondicional. Infelizmente não tive a sorte ainda de acender a chama de nenhuma de minhas companheiras desse Amor Incondicional, o máximo que consigo é ativar a chama do amor romântico até o nível da paixão. Mesmo assim, jamais abandonarei nenhuma delas, fazem parte da minha família, por mais distante que se encontrem, tanto no afeto, quanto no tempo, quanto no espaço. E a minha chama de Amor Incondicional permanece acesa, é minha missão, pronta a servir a qualquer um que chegue e tenha condições suficientes e necessárias para acender sua luz na minha. É assim que compreendo colaborar para a criação do Reino de Deus.