A relação tradicional entre professor e aluno é de ensino-aprendizagem. O professor na posição de ensinar e o aluno na condição de aprendiz. Também se entende que o professor é quem detém maior quantidade de conhecimentos, de sabedoria e que está disposto a ensinar. O aluno reconhece sua deficiência e a superioridade intelectual do professor e a ele se submete com o intuito de saber tanto quanto ele e até de o suplantar de acordo com os seus esforços de aprender e a honestidade do professor em ensinar. Resolvido essa relação, então o processo de aprendizagem tem andamento. É importante que o professor tenha firmeza no ensino da verdade que ele detém e o aluno tenha humildade de receber o ensinamento para corrigir o grau de ignorância que possui. Tenho ao meu redor, nos relacionamentos que possuo, diversas pessoas com maior nível de intimidade. Algumas considero meus professores e a outros considero como meus alunos. Tenho o maior cuidado de, na condição de aluno, ter sempre a humildade de receber os ensinamentos, de corrigir minha atitude quando percebo que o orgulho quer se manifestar quando recebo uma informação que vai de encontro ao que eu penso e sinto. Por outro lado, devo também ter o maior cuidado em ser firme na transmissão do meu conhecimento para aquele que considero e ele também, como meu aluno. Quando observo qualquer falha no comportamento do aluno, chamo a atenção do erro que está sendo cometido e passo a ensinar o caminho correto de acordo com os prognósticos racionais que minha inteligência consegue apreender. Muitas vezes, no entanto, o aluno se rebela com o conhecimento que recebe, mesmo reconhecendo racionalmente da sua verdade e pertinência na aplicação dentro da sociedade. Reclama que o professor só percebe a sua ignorância e não o que ele já sabe. Não percebe ele que é esse o papel mais nobre do professor: identificar a ignorância e substituí-la. O elogio do que já se sabe também é importante, faz muito bem ao ego e pode alimentar o orgulho. A crítica do que não sabe é o que mais poder tem de transformar o pensamento naquilo mais próximo da verdade. Devo ser firme com o monstro do orgulho quando se sente ofendido, mostrar ao aluno com toda a clareza a sua existência e o impedimento que ele quer atingir de absorção de novas verdades, criação de novos sentimentos e a capacidade de aplicar novos comportamentos no meio onde os relacionamentos acontecem.
A seara de Deus consiste principalmente dos relacionamentos, da imensa necessidade de aprendizagem do amor que nós, espíritos ainda muito ignorantes, temos necessidade de aprender. Jesus veio apresentar o seu evangelho e assim ensinar a para nós a Lei do Amor. Quem se dispõe a trabalhar na seara do Senhor, devo portanto, pegar no Evangelho de Jesus, aprender suas lições e passar para adiante, para aqueles que não conhecem ou que não querem praticar. Temos ao nosso lado pessoas de todos os tipos, simpática e antipáticas, amadas ou odiadas, próximas ou distantes, indiferentes ou significativas... também existimos no mundo material, pertencemos ao reino animal enquanto ser biológico e assim temos interesse na preservação da vida que passa pela relação macho e fêmea, num amor egoísta que defende apenas os seus gens e os mais próximos. O caso mais paradoxal que observamos é com relação ao amor romântico. Nessa vertente do amor prevalece os instintos biológicos que aproxima as pessoas às vezes rápida, como o amor à primeira vista, e pode chegar a um nível intenso de paixão. O amor nessa circunstância tem a característica exclusivista, de posse do ser amado. Quando esse tipo de amor é correspondido, o casal vive um idílio próximo a felicidade integral. Quando não é correspondido pode se tornar um inferno. Mas quando se conhece o evangelho de Jesus, quando sabemos da existência da seara do Senhor onde devemos trabalhar no cultivo do amor nas relações, o amor mais puro que existe, o incondicional, todas as formas menores de amor devem a ele, amor incondicional, ser subordinados. Hoje reconheço que avancei bastante nesse processo de reconhecer o amor incondicional como minha principal labuta na seara do Senhor. Não mais deixarei que o amor romântico ofusque a minha capacidade de amar incondicionalmente. Mesmo que venha a paixão, que eu sinta todo o ardor do desejo em meu corpo, jamais irei deixar de amar essa pessoa se ela tiver outros interesses afetivos. Meu “amor” não se transformará em ódio, como observamos em tantas pessoas, que foram namorados e agora dizem odiar seus ex-namorados; que foram até casados e agora dizem odiar seus ex-maridos! Essa pessoa estava equivocada no passado e continua equivocada no presente. Jesus foi bem claro em suas lições: devemos amar ao próximo como nós mesmos e até os adversários; devemos perdoar o nosso irmão até 70 x 7; nunca falou que aquele que não acredita em Deus não merece ser amado; nunca disse que aquele que não acreditasse nele e o aceitasse como salvador não merecia ser amado como o próximo, que não tem cor, não tem ideologia, não tem religião... simplesmente existe como uma criatura de Deus e portanto é nosso irmão. Esta é a labuta na seara do Pai, reconhecer toda a natureza como sua criação e nós, seres humanos, como seus filhos mais diletos, por mais imperfeitos que sejamos, na forma ou no pensamento. E a todos aprender a amar, por mais dificuldade que o relacionamento com essa pessoa nos traga.
Deus espera que cumpramos frente a Ele o que aceitamos na consciência como verdade e como necessidade de ação. As dificuldades irão surgir para que não possamos realizar os projetos já decididos. Deus espera que tenhamos persistência e realizemos nossas ações assim como já combinamos com a anuência dEle. Foi assim que aconteceu comigo neste domingo passado. Acordei com um incômodo pessoal, mas não deveria ter força para desviar do projeto já decidido, inclusive com uma tarefa espiritual que muito contribuiria para a futura harmonização dos relacionamentos conflituosos em que estou mergulhado no momento. Assim, segurei o incômodo intestinal que já iniciava uma diarreia e iniciei o projeto sem fazer qualquer observação nesse sentido, afinal, não queria trazer preocupação no passeio além daquelas que já existiam. O objetivo principal foi cumprido, a visita a imagem de Santa Rita de Cássia, na cidade de Santa Cruz. O passeio iria ser completo com o prolongamento da viagem para ver as belezas naturais e também visitar amigos que moravam no trajeto e que fazem questão de nossa presença. Mais uma vez, em nome da hospitalidade terminei por aceitar o almoço que nos ofereceram e a gula fez o resto. Exagerei na alimentação numa situação de dificuldade intestinal. Cumpri a expectativa de Deus com respeito a não ter deixado no vazio o esforço que nossos queridos anfitriões, mas falhei por não ter controlado a quantidade. O processo doentio foi exacerbado e tivemos que voltar logo para casa. Fui chamado a atenção, pois devia ter colocado no início o problema e ter feito outra atividade sem ir para mais longe. Vendo agora o esforço que fiz e a ameaça do que poderia ter sido ainda pior, achei pertinente a observação. Mas vendo do ponto de vista da expectativa de Deus, acredito que fiz o correto. Enfrentei as dificuldades que surgiram no caminho, mesmo que tenha tropeçado no pecado da gula, e voltamos para casa com um argumento espiritual importantíssimo em nossas consciências, em ações que fazemos que visam não somente aos nossos prazeres corporais, mas, principalmente, em cumprir as expectativas de Deus que existem em nossas consciências.
Fui hoje interrogado a respeito da bênção que os filhos pedem ao pai. Esse assunto não me incomodava, tenho como preceito central na vida a liberdade e os filhos podem decidir se querem tomar ou não a bênção, principalmente na fase atual de vida ou todos, com exceção de um, já são adultos. Lembro que quando menores e eles pediam a bênção, eu sempre transferia para Deus a responsabilidade: “Deus te abençoe!”
Agora eles não têm mais essa chance de eu pedir a intercessão CE Deus nessa bênção. Isso é um prejuízo, ou não? Avaliando do meu ponto de vista, espiritualizado, acredito que sim. Agora do ponto de vista deles, parece que não, pois afinal não foram eles que tomaram a iniciativa do “esquecimento”? Mas eu não devia exercer o meu papel de pai e cobrar uma ação que eu acho importante? Mesmo que na fase da adolescência rebelde isso fosse até esperado da parte deles, mas talvez eles esperassem a cobrança da minha parte. Enfim, o veredicto final sob a minha ação displicente é negativo. Deixei de exercer o papel do pai com relação a um rito significativo, qualquer que seja a religião que qualquer um deles venha assumir. Sei que parece estranho chegar perto deles enquanto adultos e fazer essa cobrança. O que pode ser cobrado é daquela que ainda é menor de idade e que vive diretamente sob minha dependência. Quanto aos outros, o que osso fazer é numa ocasião apropriada, onde todos estejam reunidos comigo, eu levantar o problema como estou considerando aqui neste momento. Reconhecer frente a eles minha falha nesse aspecto e esperar que eles não cometam a mesma displicência na educação dos seus filhos. E quanto a Deus, peço perdão a partir de agora pela minha falha na educação dos filhos que Ele colocou sob a minha responsabilidade e procurarei compensar de alguma forma essa deficiência que gerei neles, essa oportunidade deles receberem as bênçãos de Deus a cada dia.
Nas suas orações, Teilhard de Chardin dizia o seguinte: “Meu Deus, fazei brilhar para mim, na vida do outro, o vosso rosto. Essa luz irresistível do vosso olhar, acesa no fundo das coisas, já me lançou em toda a obra a empreender e em todo o trabalho a sofrer. Concedei-me o favor de vos ver, mesmo e sobretudo, no mais íntimo, no mais perfeito, no mais remoto da alma dos meus irmãos.”
Esta é uma profunda e magnífica relação de uma pessoa com o Criador. A luz irresistível do olhar de Deus que nos impulsiona para o trabalho em sua seara, corresponde ao sentido de missão que eu tenho na consciência, da obra que tenho de empreender depois de toda a capacitação acadêmica e espiritual que o Pai me proporcionou. A lição principal que Jesus nos deixou, de amar ao próximo como a nós mesmos, também é ressaltado no pedido de ver na alma dos irmãos o reflexo do Criador. É essa prática que devemos usar no nosso cotidiano como um mantra para qualquer ocasião. Assim espantaremos da consciência que a qualquer momento e muitas vezes sem quaisquer razões queremos desenvolver por alguém. Não devemos fazer escolhas ou deixar que a condição social ou atributos naturais exerçam influência em nossa decisão de amar. Sei que existem condições que naturalmente fazem a atração do nosso espírito em direção ao outro, as vezes são os atributos da carne que geram os desejos e as aproximações. Devemos saber lidar com tudo isso, deixar que esses impulsos instintivos dos desejos da carne venham até a consciência, mas que eles sirvam para despertar em nossos corações a vitalidade do amor incondicional e acima de qualquer atributo carnal, que o reflexo de Deus se faça presente no semblante do próximo, qualquer que seja sua condição natural ou social.