Pai, hoje neste início de ano quero conversar com o Senhor a respeito da minha narrativa de vida, de cosmogonia, que vejo me encontrar frente a uma encruzilhada. Por um lado, a Santa Igreja Católica informa que o Senhor pode se manifestar de três forma diferentes: como Pai, que é com quem converso agora, como Filho que é Jesus Cristo o qual considero como Mestre divino, e como Espírito Santo que é a essência de Amor que pode nos preencher e orientar a vida a qualquer momento. Por outro lado, a doutrina ensinada pelos irmãos espirituais que já se encontram desencarnados e que têm uma boa dose de conhecimentos e sabedoria, nos ensina que todos somos filhos do Senhor, e que Jesus é um desses filhos, de natureza pura, que recebeu Sua ordem de descer ao mundo material e nos ensinar pessoalmente. Acredito que ambas situações não implicam em mudança drástica em reconhecer a Sua paternidade divina e fazer a Sua vontade, como qualquer pai deseja para os filhos, viverem com amor uns para os outros, conforme se fizessem suas ações para o próximo fossem dirigidas a si mesmo. Portanto, irei fazer hoje a minha oração dirigida ao Senhor na essência do Espírito Santo.
Espírito Santo, concedei-me o dom da Sabedoria, a fim de que cada vez mais eu possa apreciar as coisas divinas e, abrasado pelo fogo do Vosso amor, prefira com alegria as coisas do Céu a tudo que é mundano e me una para sempre a Cristo, sofrendo neste mundo por Seu amor.
Espírito Santo, concedei-me o dom do Entendimento, para que, iluminado pela luz celeste da Vossa graça, bem entenda as sublimes verdades da salvação e da doutrina da santa religião.
Espírito Santo, concedei-me o dom do Conselho tão necessário nos melindrosos passos da vida, para que escolha sempre aquilo que mais lhe seja do Vosso agrado, siga em tudo a Vossa Divina Graça e saiba socorrer meu próximo com bons conselhos.
Espírito Santo, concedei-me o dom da Fortaleza, para que despreze todo orgulho humano, fuja do pecado, pratique a virtude com santo fervor e afronte com paciência, e mesmo com alegria do espírito, o desprezo, o prejuízo, as perseguições e a própria morte, antes de renegar por palavras e obras a Cristo.
Espírito Santo, concedei-me o dom da Ciência, para que eu conheça cada vez mais minha própria miséria e fraqueza. A beleza da virtude e o valor inestimável da alma e para que veja claramente as ciladas do demônio da carne, do mundo, a fim de as evitar.
Espírito Santo, concedei-me o dom da Piedade, que me tornará delicioso o trato e colóquio Convosco na oração e me fará amar ao Senhor com intimidade, assim como a Maria Santíssima e a todos os homens como meus irmãos em Jesus Cristo.
Espírito Santo, concedei-me o dom do Teu Temor pelas consequências das minhas ações, para que eu me lembre sempre, com suma reverência e profundo respeito, da Vossa divina presença, trema como os anjos diante da Vossa divina majestade e nada receie tanto como desagradar Vossos santos olhos!
Vinde, Espírito Santo, ficai comigo e derramai sobre mim Vossas divinas bênçãos. Em nome de Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Parece um tanto estranho, Pai, falar com o Senhor com uma personalidade e logo mais me dirigir ao Senhor com outras personalidades. Parece ser mais coerente a forma que meus irmãos espirituais ensinaram. Que achas?
Filho, eu entendo de qualquer forma que se dirijas a mim, o importante é que ambas as formas contribuam para a formação da Família Universal e que amem ao próximo como se fosse a si mesmo, como já foi ensinado. Mas, também vejo como você, fica mais enrolada a comunicação de falar comigo se dirigindo às três personalidades.
Na época da formação dos grupos de mútua ajuda, um bebedor problemático chamado Rowland H. descobriu com o renomado psiquiatra, Dr. Carl Jung, na Suíça, que casos como o dele eram sem esperança, exceto quando uma experiência espiritual vital tomava o controle. Rowland encontrou sua experiência no Grupo Oxford e a passou para Ebby T., que então a levou para Bill W. em sua mesa de cozinha no Brooklyn. No Towns Hospital, em 1934, Bill teve o mesmo tipo de experiência espiritual que Frank Buchman teve na Inglaterra em 1908. E precisamente tanto quanto Frank tenha visto sua experiência como uma resposta aos males do mundo, a mesma coisa fez Bill W., a viu como uma saída para milhares de outros alcoólatras. Deste modo, o palco estava montado para o encontro de Akron que trouxe AA à existência. No início, no entanto, o programa de recuperação alcoólico fazia parte do movimento do Grupo Oxford.
Henrietta Seiberling, a graciosa senhora que reuniu Bill e Bob em sua casa em Akron, lembrou que Bill se apresentou a ela por telefone como "um membro do Grupo Oxford de Nova York e um alcoólatra". Era um telefonema oportuno, pois a própria Henrietta era membro do Grupo Oxford de Akron, o qual vinha tentando ajudar o Dr. Bob. Apenas duas semanas antes, em uma reunião carregada de emoção na casa de T. Henry e Clarace Williams, o Dr. Bob, que frequentava as reuniões semanais por mais de dois anos, finalmente admitiu aos outros que tinha um problema com a bebida. E aí, em seguida, Bob liderou o grupo em oração por sua recuperação. Agora ele iria encontrar o homem o qual ele mais tarde descreveria como o primeiro ser humano vivo com quem ele conversou que por experiência própria sabia sobre o que estava falando em relação ao alcoolismo.
Esta é uma forma dramática onde observamos a ação da Divina Providência agindo para trazer ao mundo uma das mais eficientes formas de tratamento de doença causada pelo demônio (álcool) na mente das pessoas.
O Egoísmo Selvagem termina sendo uma doença mais difícil de abordar e tratar do que o Alcoolismo, pois este se encontra externo à pessoa atingida, ela deve sair à procura do mal que lhe submete, a bebida alcoólica.
O egoísmo está dentro da pessoa, ela não precisa procura-lo em bares ou qualquer ambiente fora de si. Quando a pessoa inadvertidamente o deixa crescer e tornar-se selvagem, destruindo tudo que está ao alcance da pessoa afetada, é de mais difícil a abordagem e tratamento. A pessoa terá que desenvolver o forte sentimento espiritual como bem diagnosticou Jung.
Portanto, eu como psiquiatra e sabedor desse importante sucesso do AA, vendo o mundo coberto de sombras maléficas, principalmente no Brasil, onde vemos instrumentalizadas pelas forças telúricas dominando todos os espaços públicos, a população extorquida e o cristianismo atacado, principalmente na Santa Igreja Católica, a instituição que mais coerentemente faz o seu combate.
Assim, devo iniciar o primeiro grupo de Egoístas Anônimos (EA), com pessoas portadoras de diagnósticos psiquiátricos e reconhecem que o egoísmo selvagem é um dos motores para a doença se manifestar a tornar o comportamento maléfico, principalmente para o próximo com os quais não tem compaixão pelos males causados.
Na criação dos grupos de AA se observa que tudo comecou com um ressentimento. Há um ditado em AA que diz que tudo o que é preciso para começar um novo grupo é um membro ressentido. Assim foi com Frank Buchman. Ele teve um ressentimento que o levou a uma experiência espiritual que o transformou completamente. Finalmente, ele seguiu fazendo reparações e iniciou um movimento. Vejamos como aconteceu.
Tendo crescido em Allentown, província “holandesa da Pensilvânia”, onde seu pai dirigia um bar perto do tribunal, Buchman foi fortemente influenciado por sua mãe para entrar no ministério. Ele estudou no Muhlenberg College e Mt. Airy Seminary, e então se envolveu no trabalho da igreja que o levou a estabelecer, em 1905, uma hospedagem para meninos carentes das favelas na Filadélfia.
Mas um desentendimento com os administradores sobre seu plano de cortar custos, reduzindo a comida dos meninos, definitivamente resultou em sua demissão. Cheio de ressentimento em relação ao conselho, Buchman embarcou para a Europa. Era 1908 e ele tinha 30 anos. Ele ficou ofendido e decepcionado, e seu rancor para com os administradores o tornara avarento e solitário.
Na Inglaterra, ele foi levado a uma conferência religiosa que acabou sendo irrelevante. Então, na pequena cidade de Keswick, Buchman participou de um ministério da igreja à tarde que mostrou ser o momento da mudança em sua vida. Era uma pequena assembleia de apenas 17 pessoas. O orador era Jessie Penn-Lewis, uma missionária que pregava na Convenção de Dwight L. Moody e outros reformadores do século XIX. Buchman, por seu próprio reconhecimento, entrou na igreja sentindo orgulho, egoísmo e má-vontade que ele mais tarde percebeu que o estavam impedindo de agir da forma que um ministro cristão deveria.
A palestra da mulher chegou á ele, dando-lhe uma visão do abismo entre ele e Cristo que havia sido criado por sua raiva contra os administradores. Ele então teve uma experiência espiritual transformadora que mudou completamente sua vida. Ele parou de culpar os administradores e escreveu a cada um deles uma carta de reparação. Isso alterou tanto seu pensamento que ele se convenceu de que tal experiência, se multiplicada, seria a resposta para os males do mundo.
Nos anos seguintes, Buchman serviu como secretário da YMCA na Penn State, onde trabalhou com alunos no desenvolvimento de seus métodos de mudança de vida. Uma das pessoas que mudou com a mensagem de Buchman foi Bill Pickle, o contrabandista do campus que também era alcoólatra. Mas o discípulo de Buchman que seria tão importante para as origens de AA foi Sam Shoemaker, cuja vida mudou como resultado de um encontro com Frank Buchman na China em 1918. O Dr. Sam se tornaria um conselheiro espiritual de Bill W. e um dos maiores apoiadores de AA no ministério. (Depois de romper com Buchman em 1941, Sam deu continuidade à ideia de ajuda mútua em seu próprio movimento “Fé por meio das obras”.)
Em 1919, Buchman formou uma sociedade chamada "Irmandade Cristã do Primeiro Século", que logo se tornou conhecida como "Os Grupos". A irmandade patrocinava festas em casa e praticava um programa que incluía orações, confissão de erros, buscar orientação e fazer restituições, além de um evangelismo que mudava a vida de outras pessoas. O nome "Grupo Oxford" foi adotado em 1928, porque os alunos da Universidade de Oxford estavam espalhando a idéia pelo mundo.
Em 1923, Buchman e a irmandade foram descritos em um livro intitulado Transformadores de Vida, de Harold Begbie. Curiosamente, Frank estipulou que seu nome não fosse mencionado no livro, e ele foi descrito apenas como "FB" ou "F.". Sete outros capítulos foram dedicados a jovens universitários – Sam Shoemaker sendo um deles – que haviam passado por mudanças e estavam trabalhando para ajudar os outros, mas ninguém foi citado no livro. Essa prática, certamente um exemplo do que Bill W. via como anonimato espiritual, foi mais tarde abandonada pelo Grupo Oxford em favor de uma estratégia de “pessoa-chave”; ou seja, usando nomes ilustres e pessoas importantes que foram ajudadas a fim de atrair outros para a irmandade.
Mas o livro que realizou tudo para o Grupo Oxford foi uma publicação de 1932 intitulada Somente Para Pecadores, escrita por AJ Russell e publicada pela Harper's. O livro focalizou o Grupo Oxford quando estava desfrutando de seu maior sucesso como movimento de ajuda mútua. Russell, ele mesmo um beneficiário dos ensinamentos do Grupo Oxford, também editou muitas das mensagens espirituais reimpressas no livro de meditação, Vinte e Quatro Horas Por Dia, que é usado por muitos alcoólatras em recuperação. Somente Para Pecadores foi de fato o “Grande Livro” do Grupo Oxford, e pode muito bem ter servido de modelo para o texto Alcoólicos Anônimos. (Aqueles que estão interessados em saber mais sobre a formação de Buchman podem ler sua biografia mais recente, Na cauda de um cometa de Garth Lean, publicado por Helmers & Howard, Colorado Springs.)
O ressentimento não será a origem para os grupos de Egoístas Anônimos, basta saber que foi este um dos passos iniciais que levou a formação dos grupos de mútua ajuda associado aos ensinamentos cristãos.
Mas vejamos no próximo texto a contribuição do famoso psicanalista Jung para a formação do AA como mais um modelo para a formação dos grupos de Egoístas Anônimos (EA).
Quase todos os membros de AA sabem que dois encontros dramáticos em meados da década de 1930 foram eventos fundamentais que influenciaram na existência dos Alcoólicos Anônimos.
Sabendo desse episódio que gerou os grupos de Alcoólicos Anônimos para combater o Alcoolismo, como seria necessário para a formação dos grupos de Egoístas Anônimos para combater o egoísmo selvagem.
Da mesma forma que bebidas alcoólicas é comum dentro da comunidade e só se torna doença quando a pessoa não consegue controlar o seu consumo e causa prejuízos a si mesmo e ao redor, o egoísmo é comum dentro do comportamento humano e só se torna doença quando se torna incontrolável, selvagem, e passa a prejudicar as pessoas ao redor.
Há uma diferença marcante entre o alcoolista e o egoísta selvagem, pois enquanto o primeiro prejudica todos sem exceção, o egoísta selvagem aparentemente causa benefícios as pessoas mais próximas, aos cúmplices e principalmente a família.
O primeiro dos encontros para a formação do AA foi a visita de Ebby T. a Bill W. em 1934, quando o derradeiro bebeu na cozinha de sua casa no Brooklyn. O segundo grande encontro aconteceu cerca de seis meses depois e ajudou na centelha e fundação da atual Irmandade de AA. Esse, é claro, foi o famoso encontro de Bill com o Dr. Bob em Akron, Ohio, no Dia das Mães de 1935.
Será que poderemos formar o grupo de Egoístas Anônimos com a mesma burocracia de encontros formalizados como os de criação do AA? Parece que não. Os egoístas selvagens estão muito confiantes de que estão fazendo a coisa certa, de que não são doentes, e geralmente estão na condição de mando, gerenciando valores públicos que são os principais aperitivos para sua doença fortalecer.
O primeiro grupo de Egoístas Anônimos deve ser criado de forma terapêutica, por um profissional que perceba em seus pacientes, geralmente psiquiátrico, que desenvolvam um diagnóstico onde esteja presente o egoísmo como um elemento principal.
Hoje, aquelas primeiras reuniões são corretamente consideradas como a primeira propagação de AA. Mas, na verdade, eram também novas plantações de trabalho do Grupo Oxford, a irmandade inspiradora que nutriu muitas das ideias e práticas espirituais que se tornaram essenciais para Alcoólicos Anônimos.
Assim, é importante saber um pouco da história e uma discussão das ligações de AA com o Grupo Oxford e seu fundador, Frank Buchman, para compreender como se dará o desenvolvimento do grupo de Egoístas Anônimos, dos quais se inspira.
O Grupo Oxford foi um movimento cristão missionário que cresceu na década de 1920 sob a liderança de Buchman, um homem extraordinário que eventualmente se tornou famoso no mundo por seu trabalho na reconciliação e promoção da paz. Na década de 1950, ele foi duas vezes nomeado para o Prêmio Nobel da Paz. Buchman, um ministro luterano, nasceu em 4 de junho de 1878, em Pennsburg, no leste da Pensilvânia. Ele levou uma vida cobiçada que ficou marcada por grandes conquistas e algumas controvérsias. Sua progressão como figura mundial era tamanha que quando morreu em Freudenstadt, Alemanha, em 1961, seu obituário foi publicado na primeira página do 'The New York Times' e do 'Los Angeles Times'. Ele foi elogiado na Câmara dos Representantes do plenário dos EUA por 11 membros do Congresso, enquanto 20 chefes de estado enviaram mensagens ao seu funeral. Seu falecimento também foi notado por revistas de notícias e outras publicações.
O programa de Buchman foi várias vezes chamado de "Irmandade Cristã do Primeiro Século" – "Os Grupos" (década de 1920), o “Grupo Oxford” (década de 1930), “Rearmamento Moral” (1938) e, desde 2002, "Iniciativas de Mudança". Os amigos e associados de Buchman o conheciam como um homem genial, intuitivo, inteligente e compassivo – um verdadeiro humanitário. Ele tinha uma habilidade extraordinária de motivar homens e mulheres capazes de dedicar todo seu tempo e dinheiro no cumprimento de sua visão global de mudança do mundo por meio da mudança de vida. Suas ferramentas para efetuar mudanças em pessoas e circunstâncias foram a orientação de Deus e os quatro padrões (absolutos) de honestidade, pureza, altruísmo e amor. Pode-se dizer, com justificativa, que Buchman tentou levar os princípios espirituais, essenciais, à pessoas medianas, sem se deixar desviar por questões religiosas ou sectárias. Ele foi certamente um dos primeiros arquitetos dos movimentos espirituais de ajuda mútua que cresceram em muitas formas. John Drakeford escreve em sua "Terapia de Pessoas Para Pessoas”, que as raízes de renovação da ajuda mútua moderna estão nas reuniões do grupo de John Wesley, no Grupo Oxford de Frank Buchman e nos Alcoólicos Anônimos de Bill W.. Howard Clinebell, autor do clássico livro "Compreendendo e Aconselhando o Alcoólatra", diz que Buchman, tanto quanto qualquer um, tirou o povo do pressuposto de que as pessoas problemáticas deveriam procurar um profissional. Ele demonstrou que eles poderiam obter mais ajuda de outras pessoas com os mesmos problemas.
Esta herança histórica na criação dos grupos de AA, envolvendo a espiritualidade e a mútua ajuda entre pessoas envolvidas com comportamentos nocivos, resistentes as terapias profissionais, deve ser incluída nos grupos de Egoístas Anônimos.
No livro de Santo Afonso de Ligório, “Instrução aos Católicos – sobre os Mandamentos, os Sacramentos e a Veracidade da Fé”, existe um trecho interessante para a nossa reflexão:
“Mas que necessidade havia de Jesus Cristo padecer por nossa salvação? Escutai. O homem havia pecado e era necessário que o homem desse a Deus uma satisfação justa e suficiente. Mas que digna satisfação o homem podia dar à infinita Majestade de Deus? Em vista disso, o que Deus fez? O Pai mandou que o Filho se fizesse homem, e este homem que foi Jesus Cristo, sendo verdadeiro Deus e verdadeiro homem, satisfez pelo homem à justiça divina. Vede a obrigação e o amor que devemos a Jesus Cristo. Diz um Cartuxo que um jovem, ouvindo missa, não se ajoelhou às palavras do credo*: et homo factus est (“e se fez homem”). Então, apareceu de repente um demônio com uma clava na mão, e lhe disse: Ingrato! Não rendes graças a Deus que se fez homem por ti? Se por nós tivesse feito o que fez por ti, dar-Lhe-íamos eternamente graças com o rosto por terra; e tu ainda não reconheces tão imenso benefício? E lhe deu uma forte pancada, com a qual não o matou, mas o deixou muito ferido.
*Na Santa Missa tradicional, os fiéis devem se ajoelhar no momento em que o sacerdote fala et homo factus est durante a oração do Credo. Esse costume não foi absorvido como tal pela missa nova de Paulo VI – Nota do Editor.”
Esta narrativa apresentada por Santo Afonso de Ligório deve ser respeitada como toda a narrativa que possuímos, cada uma diferente das outras, que devem ser corrigidas umas as outras de acordo com a coerência com a Verdade que vamos descobrindo lentamente no processo de nossa evolução.
Nesse trecho da narrativa do Santo, muitas interrogações se impõe a minha consciência. Se o homem havia pecado e era necessário que o homem desse a Deus uma satisfação justa e suficiente, verificamos aqui que o raciocínio não se aplica a uma so pessoa, o homem, mas sim a coletividade, a humanidade. Nesse ponto Deus raciocinou que não havia como um só homem se dispor a tal atitude de se sacrificar pela humanidade. O máximo que ele podia fazer era se sacrificar para a própria salvação, mas mesmo assim era difícil, pois ele não tinha a devida noção do Pai universal e dos pecados que era cometido contra a Sua santa vontade de Criador e que espera a melhor evolução de todos os Seus filhos. Ele via que surgia ao longo da história, pessoas iluminadas como Buda, Sócrates, Krishna, e tantos outros, mas que não chegavam perto do necessário para a redenção da humanidade, pois Ele, o Pai, não entrava em consideração existencial.
Portanto, o próprio Deus engendrou essa estratégia dEle mesmo vir na aparência e condição humana, ensinar o Caminho da Verdade que leva à Vida eterna na sintonia com o Divino. Assim, o próprio Deus viria assumir a condição de Salvador para uma humanidade que gozava e sofria os pecados sem saber para onde estava indo. Portanto, a condição humana do Cristo estava consciente de sua missão dada pelo Pai e sustentada pelo Espírito Santo, que na verdade eram todos uma só essência. Viria o Filho dar ao Pai uma justa e suficiente satisfação na condição humana, para a salvação dos pecados da humanidade. Dentro da condição humana Ele não poderia evitar as dores atrozes que iria sofrer no ápice de Sua missão. Ainda sofreu a vacilação que vinha da condição humana, do medo da carne pelo padecer, e pediu ao Pai para afastar tão doloroso cálice de fel. Mas a consciência divina do Pai também era parte dEle, e foi Ele que reconheceu ao final de tão forte sofrimento da carne, que chegou a suar gotas de sangue, que a Sua missão de salvar a humanidade era o que importava, pois foi para isso que veio, pela sua própria decisão de obedecer ao Pai que era parte integrante de si. Foi por isso que respondeu firmemente... mas que seja feita a Tua vontade!
Eis uma narrativa inteligente e elegante para justificar a conduta do Cristo, nos seus ensinamentos entre nós. A Santa Igreja Católica tem a responsabilidade de passar essas informações para a humanidade, com a obrigação de usar a inteligência para melhorar cada vez mais a percepção do homem em qualquer lugar do mundo e em qualquer condição social, sobre a revelação divina que o divino Mestre nos trouxe. A Santa Missa é um desses instrumentos que servem para mostrar qual foi a missão do Cristo entre nós. Mas confesso que desde criança, batizado como católico, ajudante nas missas que o padre fazia, nunca tive essa percepção que tenho hoje do sentido que a missa traz, de mostrar de cada vez, de forma incruenta todo o sacrifício cruento que o Cristo sofreu para nossa salvação. Eu repetia as palavras-chave, de “Cristo é nosso Salvador”, “Fora da Igreja não há salvação”, “Jesus é filho único de Deus”, mas todos sem fazer uma conexão inteligente da vontade de Deus na salvação da humanidade entregando a missão ao Filho, que era Ele mesmo, através da força da Sua própria essência que é o amor do Espírito Santo.
Quando a Igreja resolve fazer a Missa na língua compreensível para os povos que a assistem, foi um passo importante de atualização. Como uma pessoa que não entende o latim, iria se considerar grato a vinda de Jesus, como Deus que se fez homem para nossa salvação, e por gratidão ter de se ajoelhar nessa ocasião? Portanto, são aperfeiçoamentos dessa natureza que ajudam o nosso racional a entender a dimensão do sacrifício de Jesus e o amor de Deus por dar por missão ao Seu filho, engendrado em si mesmo, para nos mostrar o caminho da salvação na Sua condição humana.
Sinto que a minha própria narrativa foi fortalecida com a narrativa que o Santo Afonso de Ligório apresentou, e dessa forma, quando eu apresentar a minha narrativa já corrigida e aperfeiçoada, irá ajudar outras pessoas a corrigirem suas próprias narrativas e assim a humanidade corrigirá seu cognitivo e mais facilmente encontrarão o Caminho que o Mestre divino veio nos ensinar.