Ao fazer uma ligeira retrospectiva de minha vida, e ver quantos malabarismos os meus caminhos fizeram até chegar onde estou hoje, entendo que isso aconteceu porque tomei uma decisão, até inconsciente, na época, acredito, de amar incondicionalmente, mesmo sofrendo forte pressão dos instintos.
Amar passou a ser para mim uma decisão e uma entrega a uma ação que não poderia ficar somente na teoria. Da mesma forma quando eu decidi cultivar meu jardim, eu sabia que iria ter muito trabalho, adubar, regar, tirar ervas daninhas... da mesma forma acontece com essa decisão de praticar o Amor Incondicional. Talvez os problemas não tenham sido tão claros e objetivos como acontece quando decidimos cuidar do jardim, mas com o tempo observei que a prática desse Amor Incondicional gera também muito trabalho: compreender, tolerar, suportar sempre as idiossincrasias do próximo, sem deixar as feridas que isso provoca tirar o riso do meu rosto...
Continuo a regar com afeto, adubar com compreensão a coração tão duros, evitar a erva daninha das maledicências que podem germinar perto delas... até ver o dia daquele coração tão duro se abrir em flores, transformado pela ação do Amor.
É preciso dedicação, cuidado, espera, a quem decide amar, para poder colher as flores da afeição. Dedicação!
Devemos amar nosso companheiro, aceita-lo, valorizá-lo, respeitá-lo, dar afeto e ternura, admirá-lo e compreendê-lo... isso é tudo, apesar das grandes decepções que ele possa nos causar. Apenas decida amar!
Sem a presença do Amor naquilo que temos, no que fazemos e no que somos, estaremos imensamente pobres, profundamente carentes, desvitalizados.
A inteligência sem amor nos faz perversos, a justiça sem amor nos faz insensíveis e vingativos, a diplomacia sem amor nos faz hipócritas, o êxito sem amor nos faz arrogantes, a riqueza sem amor nos faz avaros, a pobreza sem amor nos faz orgulhosos, a beleza sem amor nos faz ridículos, a autoridade sem amor nos faz tiranos, o trabalho sem amor nos faz escravos, a simplicidade sem amor nos deprecia, a oração sem amor nos faz calculistas, a lei sem amor nos escraviza, a política sem amor nos faz egoístas, a fé sem amor nos torna fanáticos, a cruz sem amor se converte em tortura, a vida sem amor... bem, a vida não tem sentido.
As flores que espalham perfumes e mostram suas belezas nos jardins, são testemunhas do Amor de Deus, os passarinhos que cantam nos prados e piam nos ramos são a presença do amor de Deus transparecendo nos rios
As ondas gigantescas que se arrebentam nas praia são a prova do amor de Deus se agigantando no mar.
O homem sábio, pelos conhecimentos que lhe robustecem o cérebro, e aquele que se enobrece no trabalho do bem, pela luz que lhe emana do íntimo, apresenta o amor de Deus alevantando a vida.
Por todos esses motivos decidi amar, mesmo sabendo que devo cuidar, como cuido do jardim, as energias do coração: adubando as virtudes e jogando fora os vícios e defeitos.
Lembro de um livro sempre presente na minha mente, “O Pequeno Príncipe”, que li na adolescência mas que a imagem daquele Pequeno Príncipe, sozinho num planeta, a conversar com animais e plantas, parece ser a minha própria imagem, vivendo neste planeta, conversando com tantas pessoas, mas todas tão distantes do meu coração, da minha forma de sentir, de amar. Por esse motivo sou expulso da convivência íntima com essas pessoas, sou agredido com palavras e até com tapas e arranhões...
Ninguém consegue sintonizar o meu coração, a forma de amar com exclusividade é incompatível com a minha forma de amar com inclusividade, de um amor incondicional que está muito acima de um amor romântico.
Não tenho alguém que me olhe nos olhos quando eu falo de amor, e sinta o mesmo tipo de amor que sinto pelas criaturas, mesmo que sejam pessoas difíceis, maledicentes, hipócritas; alguém que ouça as minhas tristezas e alegrias com paciência e compreensão, mesmo que isso implique ela saber da doação do meu amor à outras criaturas que como ela também sente o coração palpitar de paixão. E mesmo que não compreenda, que respeite os meus sentimentos, como eu respeito os dela, e não sofra tanto por causa disso.
Preciso de alguém que venha lutar ao meu lado sem precisar ser convocado, que não queira como pagamento a exclusividade do meu amor, que me ame sem condições, assim como é amada por mim, mesmo que me agrida, na presença ou na ausência.
Preciso de alguém que acredite nessa coisa misteriosa, que se confunde com Deus e com o mal, que é o Amor Incondicional; de alguém que aceite minha mão estendida, quer seja para doar ou para receber, sem intenções de abuso; preciso de alguém que seja companheiro, nas guerras e alegrias, nos confrontos e sintonias, e que no meio da tempestade grite em coro comigo.
Preciso de alguém que torne minha vida mais simples, mais bela, para saber que não estou sozinho, carregando uma caixa preta, escondida, sem poder compartilhar com ninguém; não posso ser inteiramente feliz se não contar pelo menos com um amigo fiel, que não se escandalize com minha forma de amar, pois é da minha forma de amar que surge a essência da minha vida.
De que vale ter tanto sucesso, conquistar tantas batalhas, se não tenho com quem confraternizar? Meu riso se perde no tempo, minhas lágrimas caem no vazio; não tenho ao lado um coração que se compadeça, e que perdoa as coisas mais amargas da vida, as tentações mais poderosas.
Ah, como eu queria deixar o templo da solidão e voar integrado, como a um bando de pássaros, pelas energias do Universo!
Hoje, ao procurar falar com meu Pai, na oração noturna que faço sempre antes de dormir, senti uma ponta de preocupação na minha mente que logo evoluiu como uma grande onda de tsunami e cheguei a pensar o que nunca havia imaginado...
E se não houver o amanhã?...
O que perdi de fazer hoje e nunca mais terei oportunidade de fazer?...
Não procurei chegar perto de ti, olhar bem dentro de teus olhos, ver o reflexo dos meus em tuas pupilas, e dizer pelo menos uma vez... eu te amo!
Não te levei uma flor amarela, prá combinar com meu sorriso amarelo quando tu me perguntasse... por que me dás uma flor?
Não perguntei qual o sabor que mais gostas, do doce das guloseimas, do amargo do chocolate... ou do sabor do meu beijo que sempre sonhei em te dar!
Não te mostrei o encanto das nuvens do amanhecer ou das cores do firmamento ao cair da tarde, com as luzes do arrebol...
Não te imitei o canto do Bem-te-vi, o gorjeio do Quero-quero, ou o voo da andorinha querendo contigo fazer o verão...
Não descobri teus desejos, teus anseios, os sonhos mais secretos que vem do fundo do teu coração, passando pelos medos da infância e pela desilusão do desencontro com o Amor...
Não te abracei, para mostrar que não há lugar melhor para estar, para você acreditar que vale a pena lutar...
Não sentei contigo na relva macia ouvindo a melodia dos pássaros, ou nas areias da praia, ouvindo o marulhar das ondas, como intérpretes de um amor incapaz de ser dito por palavras...
Não senti o carinho da brisa acariciando o meu rosto colado ao teu, o calor da minha pele aquecendo a tua e dissipando os medos do teu coração...
Não gravei em minha mente o teu sorriso, a tua gargalhada de felicidade, ou aquela lágrima que caia disfarçada no decote do teu vestido...
Não consegui dar a você o reflexo da minha alma como um espelho onde podias ver a beleza que tu possuis...
Não fiz uma prece ao teu lado, para subir aos céus contigo pelos fios invisíveis da oração, descobrir a magia que sai dos teus lábios, o encanto de tuas palavras, e agradecer a Deus a graça de tua existência e de te encontrar perto de mim...
Olha, eu sempre deixei essas coisas para amanhã, mas o amanhã é apenas uma promessa, promessa que nunca fiz para ti, mas fiz para mim, e por isso te peço perdão por Deus ter me dado tantas oportunidades de te mostrar quem eu sou, para tu saberes quem és... e eu, a todas perdi!...
De repente senti uma lágrima quente descer pelas rugas marcadas pelo tempo em meu rosto, como testemunha muda das oportunidades perdidas...
Senti no fundo do coração, um pedido cheio de arrependimento e minha voz ecoava nas câmaras frias da minha alma... perdoa Pai, pelos anos desperdiçados, por tantas oportunidades perdidas... dá-me, apenas mais um dia!
Quero saber a flor que ela mais gosta e oferecer um ramalhete; acolhe-la em meus braços e transferir confiança pelas estradas tortuosas da vida...
Neste dia, quando ela for se afastar de mim, vou segurar na mão dela e pedir para ficar mais um momento, aproveitando o presente como um presente de Deus... pois o amanhã talvez não nos encontre juntos!
Não quero mais ter o remorso de não dizer o que sinto! Tu vais saber neste dia o quanto és importante para mim!
Os discípulos de Jesus, conforme lemos nos Atos dos Apóstolos, tinham êxito em curar os doentes, no alvorecer do trabalho cristão. Isso não é observado hoje tão claramente como é descrito que acontecia no passado. As pessoas que decidem seguir as lições do Cristo, que se consideram seus discípulos, podem até imaginar que o mundo espiritual já não se encontra interessado na terapia da imposição de mãos, os passes, que o próprio Mestre ensinou.
Por que pessoas bem dotadas magneticamente obtém sucesso em suas operações, mas por que outras pessoas não conseguem ser os intermediários na promoção da saúde, nem a paz retorna de imediato ao sofredor que nos procura?
Há dificuldades frente a espíritos desencarnados, enfermos e perturbados, obsessores ou infelizes, por mais que se insista, mesmo orando com honestidade intelectual e grande esforço. Não se consegue o êxito que era obtido pelos apóstolos do Cristo do passado e que são confirmados pela literatura mediúnica.
Pode ser feita assim algumas perguntas: teriam os benfeitores espirituais abandonado os propósitos elevados de ajudar através da água fluidificada e do passe curador àqueles que se encontram encarnados? Estarão os processos de aplicação dos recursos curadores de acordo com a técnica propiciatória aos resultados eficazes?
É importante que possamos checar as disponibilidades morais e espirituais do médium passista para refletir com acerto. Quando estamos banhados pela luz do Evangelho e dispostos a ajudar, sempre encontramos mensageiros laboriosos, dispostos a ajudar, em nome do Senhor.
Para fazer esse trabalho de mediar a ajuda espiritual através do nosso corpo e mente, é importante que estejamos preparados. Afinal, observamos na Natureza que esse preparo é necessário para qualquer tarefa que seja proposta: a lâmina para cortar com facilidade e eficiência exige o gume afiado; a cirurgia para ter êxito, precisa de cuidados complexos; o vaso para conservar o conteúdo saudável, deve estar higienizado; a força elétrica para iluminar nossas casas, precisa de condutores apropriados; a água potável para se manter pura, exige vasilhame asseado.
Ora, se é justo que o passista conte com a colaboração dos Espírito de Luz, encarregados pelo Divino Mestre para auxiliar os homens na Terra, também é justo que esperem encontrar nesses instrumentos de auxílios (os médiuns passistas) os requisitos mínimos que sejam, para tarefa de tal envergadura.
Observa-se uma oração precipitada com a qual muitos tentam atrair vibrações salutares no ato da assistência. Dessa forma raramente se consegue um clima psíquico no agente (Espírito de Luz) ou no paciente, que seja favorável ao êxito do empreendimento.
São deveres que todo passista deve procurar cumprir: inalterável confiança no Senhor; conduta compatível com a fé esposada; serenidade íntima; passividade completa à inspiração superior; sintonia com as esferas mais altas; hábito da prece; capacidade de amar ao próximo; abnegação na extensão do serviço de auxílio; espírito de humildade; raciocínio e discernimento; saúde física e mental; e meditação nos objetivos superiores da vida.
Lembremos das lições do Mestre quando encontrava obsessores complexos que os discípulos não conseguiam ajudar. Ele dizia que “Esta casta de espíritos não se expulsa senão pela oração e pelo jejum.” A Oração significa que devemos estar em constante comunhão com Deus, e o Jejum, dos atos que degradam o espírito e o caráter.
Tem momentos que encucamos algo que não esperávamos que fosse assim. Pois não é que ao tomar banho, sentindo a agua deslizar pelo meu corpo e fazendo aquele exercício espiritual que já postei neste espaço, sobre como sintonizar com os efeitos benéficos da água no momento do banho, veio à mente que eu estava sintonizando com a divindade. A água pertence à Natureza que por sua vez pode representar a divindade, porém é do sexo feminino, não seria Deus e sim a Deusa.
Foi nesse momento que imaginei o casal, o Pai e a Mãe, como origem da minha existência e também de tudo que existe no Cosmo. Fiz um paralelo com a criação do homem, e logo em seguida a criação da mulher, a partir de uma costela retirada do homem durante o seu sono. Fazendo um paralelo, imaginei Deus como a entidade divina masculina, energia suprema do Universo, caracterizado como o Amor. Durante um sono, correspondente ao que aconteceu com Adão, foi criada a Natureza e todos os seus elementos, visíveis e invisíveis à nossa capacidade de ver, a partir de uma “costela” dEle.
Assim, toda minha relação com a Natureza, é uma relação com a divindade feminina. A agua do banho e de matar a sede, as plantas do jardim e das florestas, o vento, o sol, enfim, tudo que eu reverenciava como sendo um Deus masculino, mesmo que eu saiba que Suas característica inclui a assexualidade, assim como acontece com os anjos.
Mas, da mesma forma que mantenho a construção racional de Adão e Eva como uma alegoria dos fundadores da humanidade e suas relações com o espiritual, também posso construir a alegoria do Deus feminino e masculino, formados com o mesmo raciocínio que construí com o jardim do Éden.
Confesso que fico mais satisfeito com uma alegoria feita dessa forma, traçando esse paralelo feminino-masculino com a divindade. Talvez melhore ainda mais a minha sintonia com Deus, pois desenvolvendo o Amor em todos os meus relacionamentos, estarei sintonizado com o Deus masculino, enquanto a minha relação com qualquer aspecto da Natureza demonstra minha sintonia com a divindade feminina.
Talvez essa tenha sido a intuição da humanidade em seus primórdios, quando reverenciava a Deusa representada pela Natureza. Esta minha intuição pode ser a emergência de elementos atávicos que estão registrados em meu inconsciente de natureza coletiva.