Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
28/12/2013 01h01
FAMÍLIA E EVANGELIZAÇÃO

            Em questionário enviado às paróquias de todo o mundo, preparatório para a Assembléia de Bispos de 2014, o Papa Francisco aborda a questão da família e a evangelização. Tudo começou às 4 horas da tarde do dia 7 de outubro, quando o pontífice entrou em seu carro particular, um Ford Focus azul, e saiu do Vaticano, sem comitiva nem escoltas ostensivas. Em menos de 10 minutos chegou à Rua da Conciliação, nº 34, sede da Secretaria do Sínodo dos Bispos.

            Ali um pequeno grupo de prelados começava a elaborar as questões sobre os desafios pastorais da Igreja acerca da família católica. Era o documento preparatório da III Assembléia-Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, reunião marcada para outubro do próximo ano.

            O Papa, de forte inspiração franciscana, que considera os seres humanos como ovelhas do seu redil, independente da formação acadêmica, financeira, política ou religiosa que venha a ter, pretendia ouvir a todos, apesar da limitadora ação dirigida apenas à “família católica”. Ele queria reforçar um pedido sobre as perguntas que depois seriam encaminhadas para mais de 5.000 bispos no mundo inteiro, que consultarão os católicos como se aplicassem uma pesquisa de opinião pública. Teria que ser redigida de forma direta, sem gongorismo (estilo eivado de afetação, de ornamentos e preciosismos), de modo a evitar respostas esquivas.

            Cerca de duas semanas depois, o texto de dez páginas e 38 questões tinha sido concluído e distribuído. E a Santa Sé divulgou oficialmente a enquete na internet e que impressiona pela clareza e pela coragem histórica das indagações. Trata de casamento de pessoas do mesmo sexo, de adoção por casais homossexuais, de divórcio, de matrimônios reconstruídos e muito mais daquilo tudo que, na Igreja, sempre foi tabu.  

            Fico encantado com a coragem do novo Papa, em imprimir nas ações da Igreja um comportamento mais próximo do rebanho e que não sejam somente os católicos as ovelhas desse redil. Ele transmite sinceridade nas suas falas e ações e como um bom jesuíta sabe o que fazer para entender o que afasta e o que aproxima as famílias do Evangelho. Ele sabe que o diálogo nasce de uma atitude de respeito pela outra pessoa e é sempre bom lembrar a história para entender um momento que soa como renovador. É comum um sínodo ter um questionário preparatório, nenhum até hoje foi elaborado de forma tão eloqüente. Basta comparar com o texto do sínodo de 1980, de João Paulo II, cujo tema também foi a família.

            Os bispos receberam um calhamaço de 46páginas sobre o assunto. As perguntas eram pouco objetivas. Antes de cada questão, um texto introdutório discorria vagamente sobre o tema abordado. Dizia o capítulo sobre o divórcio: “Segundo estatísticas, em algumas regiões um terço dos matrimônios termina em divórcio. As causas desse fenômeno são muitas. Por exemplo, o aumento da longevidade humana. Por isso, é necessário uma educação dos cônjuges ainda  mais apurada para que a vida conjugal seja mais prolongada”. Só então era feita a pergunta: “O que dizer sobre a situação da família nos diversos países no ponto de vista pastoral?”. Francisco, ao contrário, é direto: “Os separados e divorciados recasados constituem uma realidade pastoral relevante na Igreja?”.   

            Mesmo com tanto espaço para divagação, o sínodo de João Paulo II teve um papel crucial para as famílias católicas, abrindo espaço na Igreja para os casais em segunda união. Do encontro nasceu a Pastoral Familiar, com um setor dedicado a recasados.

            Também com base no sínodo o Papa João Paulo II publicou em 1981, o documento “Familiaris consortio”, no qual pedia um “empenho pastoral ainda mais generoso e prudente às famílias em circunstâncias particulares”.

            Mas há limites para quem quer mudar algo na Igreja, até mesmo para o Papa Francisco. O sínodo não vai alterar a palavra de Deus, da qual a Igreja é fiel depositária, assim pensa a Igreja. Portanto, o casamento indissolúvel, formado da união entre um homem e uma mulher, como mandam as escrituras, permanecerá intocado. O Papa não vai poder mudar essa doutrina cristalizada da Igreja que interpreta com rigidez as escrituras no que diz respeito aos outros. O que ele pode mudar é o tom em toca essas questões, com suavidade, tolerância e compreensão.

            Eu o respeito, Papa Francisco, por causa disso. Mas a essência do dilema ético existente no seio da família não está ao menos sendo tocado. O egoísmo que está dentro do amor romântico e que forma uma família nuclear voltada exageradamente para beneficiar o sangue em detrimento da massa de pessoas que são formadas em função disso em condição de pobreza e miséria. Eu o respeito Papa Francisco, por ter mudado o tom e tratar com mais humanidade todos que estão em situação especial e que querem de alguma forma constituir uma família tradicional, mas é preciso que alguém diga que essa família tradicional traz em seu bojo o germe do egoísmo e da exclusão, mesmo que tinture sua aparência com ações de caridade. A pobreza e a miséria jamais serão extintas, o Reino de Deus jamais será formado, se não fizermos uma faxina em nossos corações, extirpar de dentro o egoísmo, construir uma família honesta e transparente, sem hipocrisia, que seja nuclear ou ampliada, mas que pratique o Amor Incondicional com justiça e fraternidade.

            Papa Francisco, eu o respeito por sua humildade, sua coragem... Sou sua ovelhinha desgarrada, que ouço o seu chamado ao aprisco da Igreja, mas ouço também o chamado de Deus para outro aprisco que não encontro no horizonte, mas que vejo os seus sinais nas páginas amareladas do Evangelho que foi inspirado pelo Pastor dos pastores: Jesus Cristo! 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 28/12/2013 às 01h01
 
27/12/2013 03h14
LIBERDADE DE PENSAR E DE CONSCIÊNCIA

            Mais uma vez sinto o auxílio de Deus em colocar outro texto pertinente aos assuntos que estou refletindo e que merece ser reproduzido na íntegra e interpretado com cuidado. Está em dois títulos, “Liberdade de pensar” e “Liberdade de consciência” e que encontrei em “O Livro dos Espíritos, Livro III, Capítulo X:

            833 – Há no homem alguma coisa que escapa a todo constrangimento e pela qual ele desfruta de uma liberdade absoluta?

            - É no pensamento que o homem goza de uma liberdade sem limites, porque não conhece entraves. Pode-se deter-lhe o vôo, mas não aniquilá-lo.

            834 – O homem é responsável pelo seu pensamento?

            - Ele é responsável diante de Deus. Só Deus, podendo conhecê-lo, o condena ou absolve segundo a Sua justiça.

            835 – A liberdade de consciência é uma conseqüência da liberdade de pensamento?

            - A consciência é um pensamento íntimo que pertence ao homem, como todos os outros pensamentos.

            836 – O homem tem direito de entravar a liberdade de consciência?

            - Não mais que a liberdade de pensar, porque só a Deus pertence o direito de julgar a consciência. Se o homem regula, por suas leis, as relações de homem para homem, Deus, por suas leis da Natureza, regula as relações do homem com Deus.

            837 – Qual o resultado dos entraves postos à liberdade de consciência?

            - Constranger os homens a agirem de modo contrário ao que pensam, torná-los hipócritas. A liberdade de consciência é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso.

            838 – Toda crença é respeitável, mesmo que seja notoriamente falsa?

            - Toda crença é respeitável, quando é sincera e conduz à prática do bem. As crenças repreensíveis são as que conduzem ao mal.

            839 – É repreensível escandalizar na sua crença aquele que não pensa como nós?

            - É faltar com a caridade e golpear a liberdade de pensar.

            840 – É insultar a liberdade de consciência opor entraves às crenças capazes de perturbar a sociedade?

            - Podem-se reprimir os atos, mas a crença íntima é inacessível.

            Kardec – Reprimir os atos exteriores de uma crença, quando esses atos trazem algum prejuízo a outrem, não é insultar a liberdade de consciência, porque essa repressão deixa à crença sua inteira liberdade.

            841 – Deve-se, em respeito a liberdade de consciência, deixar se propagarem doutrinas perniciosas, ou se pode, sem insultar a essa liberdade, procurar trazer de novo ao caminho da verdade aqueles que se perderam por falsos princípios?

            Certamente se pode e, mesmo, se deve. Mas ensinar, a exemplo de Jesus, pela suavidade e a persuasão e não pela força, o que seria pior que a crença daquele a quem se quer convencer. Se há alguma coisa que seja permitido se impor, é o bem e a fraternidade. Mas não cremos que o meio de fazê-los admitir seja o de agir com violência: a convicção não se impõe.

            842 – Todas as doutrinas tendo a pretensão de ser a única expressão da verdade, por que sinais se podem reconhecer aquela que tem o direito de se colocar como tal?

            - Será aquela que faz mais homens de bem e menos hipócritas, quer dizer, praticante da lei do Amor e da Caridade na sua maior pureza e na sua mais larga aplicação. Por esse sinal reconhecereis que uma doutrina é boa, porque toda doutrina que tiver por conseqüência semear a desunião e estabelecer uma demarcação entre os filhos de Deus, não pode ser senão falsa e perniciosa.

            Posso observar em todas as questões a pertinência no que estava refletindo nos últimos dias com respeito ao relacionamento homem-mulher como base da família e da sociedade. Incluirei agora no raciocínio questão por questão.

            833 – Sim, é no pensamento que tenho total liberdade, ele vai para os campos mais ousados e posso fazer o que quiser sem a preocupação de estar ferindo os direitos do próximo. Mesmo assim devo evitar pensamentos que eu veja claramente que levam prejuízo a terceiros, pois pode escapulir para o campo da realidade. E se queremos ser éticos conosco mesmo quando dizemos querer seguir os passos de Jesus como nosso Mestre, não é interessante eu estar pensando em algo degradante para o próximo, mesmo que isso nunca venha a ser expresso por palavras ou atos.  

            834 – Sou responsável por meus pensamentos, mesmo que algum surja no campo da minha consciência e que seja incompatível com meus princípios. Nesse caso eu não devo lhe dar nenhuma consideração e procurar desviar para pensamentos que sejam mais coerentes com aquilo que desejo fazer e mostro a quem tenha interesse em saber. Mesmo que ninguém venha a saber o que está acontecendo no meu campo mental, Deus sempre será o meu juiz em qualquer campo de minhas ações, implícitas ou explicitas.

            835 – Os pensamentos que surgem no meu campo mental e que os mantenho através do livre arbítrio, compõem a minha consciência. Faz parte da essência da minha liberdade e da qual devo prestar contas, principalmente frente a Deus.

            836 – Tenho esse direito de entravar a liberdade de consciência com relação a mim, não devo deixar progredir em meu campo mental pensamentos que são contrários às minhas intenções. Posso fazer e/ou seguir leis que são feitas para disciplinar as ações frutos desses pensamentos distorcidos. Dentro das leis da Natureza devo adequar o meu pensamento e comportamento para não as corromper, pois são elas que viabilizam minha relação com Deus.

            837 – Quando coloco entraves à minha liberdade de pensar para que não se forme consciência contrária às minhas intenções, estou agindo de acordo com a lei da Natureza que não permite abusos de qualquer tipo nas relações. O mesmo não é permitido para os outros. Não devo constranger os homens a agirem de modo contrário ao que pensam, como resultado de entraves colocado à sua liberdade de consciência. Isso iria torná-los hipócritas.

            838 – A crença que tenho num formato de família ampliada que leva ao amor inclusivo e uma sociedade mais fraterna, se torna respeitável porque é sincera e conduz à pratica do bem.

            839 – Não posso jamais escandalizar o irmão que não pensa como eu. Devo apenas mostrar as incoerências que eu observar no seu comportamento quando comparado com o meu. O resto é ele quem irá decidir com a sua liberdade de pensar.

            840 – Quando uma crença perturba a sociedade no que ela tem de falsa e hipócrita, isso é salutar. Quando a minha crença no amor inclusivo da família ampliada perturba o egoísmo do amor exclusivo da família nuclear, eu crio um movimento no seio da sociedade que tende a levar uma fraternidade mais ampla em todos os seus membros.

            841 – É essa a missão que o Pai destinou para mim. Mostrar a natureza perniciosa da família nuclear da forma que ela foi constituída e se mantém, sem insultar a liberdade de pensamento dos seus praticantes. Devo procurar trazer ao caminho da verdade, como Jesus ensinou, aqueles que se perderam por falsos princípios. Devo ensinar como o Mestre, pela suavidade e persuasão e não pela força; ensinar como podemos praticar o bem e a fraternidade sem preconceitos ou hipocrisia.   

            842 – Com essa questão coloco em teste a minha forma de pensar e que estabelece um tipo de doutrina. Verifico que ela tende a fazer mais homens de bem e menos hipócritas, pessoas praticantes da lei do Amor e da Caridade com maior pureza e mais larga aplicação. Por esse sinal é que reconheço que minha doutrina é boa, pois tende a semear a união e a inclusão de todos os filhos e filhas de Deus.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 27/12/2013 às 03h14
 
26/12/2013 01h01
A QUESTÃO DOS FILHOS

            Dentro das reflexões dos relacionamentos entre homens e mulheres que melhor contribuam para a formação de uma sociedade fraterna, próxima do Reino de Deus ensinado por Jesus, se encontra a questão dos filhos. Aparentemente eles são os mais prejudicados quando os seus pais biológicos se envolvem afetivamente com novos parceiros e com eles constroem ramos familiares. Para eles é mais confortável que seus pais fiquem junto de si durante toda a sua fase de desenvolvimento, maturação, independência, até que um dia os deixam e vão construir suas próprias famílias como está previsto na Bíblia. Observando à distância esse ciclo que se repete, parece que os pais são formados apenas para impulsionar os seus filhos dentro de uma base familiar exclusiva, egoísta, que não considera com justiça os direitos dos outros que pertencem a outras famílias. Daí tanta miséria social. Os pais, desde que tenham filhos, perdem o direito à sua individualidade quanto o pensamento do que podem realizar para atender com prioridade as suas intenções, caso essas não estejam relacionadas com o bem estar dos filhos.

            A formação de uma família ampliada implica num afastamento do pai por algum tempo da economia do lar, tanto afetiva quanto financeira. Claro que isso irá fazer falta ao filho, mas deve ser considerado os propósitos que existem por trás dessa falta. Por acaso esse pai também não fica ausente quando está trabalhando por turno, por dia, semanas e até meses fora de casa? Tudo isso não é justificado pelo papel de provedor que no momento ele realiza? Um papel que tem como objeto a manutenção e vida com dignidade do corpo físico? Por que então se o pai se afasta com o objetivo de cumprir um apelo consciencial com uma nova parceira, sem que isso acarrete ameaça ao provimento dos recursos materiais, seja tão proibido? Acredito que aconteça tão forte proibição devido o grau de extrema ignorância em que ainda estamos mergulhados.

            Existe também uma crítica muito forte, de que eu tenho responsabilidade de educar e criar com toda minha competência os filhos que Deus deixou sob minha guarda. Não posso deixá-los desamparados em busca de meus prazeres imediatos. Primeiro, não estou em busca de prazeres imediatos, dos prazeres sexuais, pois se assim fosse eu teria recursos bem mais fáceis de os conseguir através da prostituição. Segundo, o meu filho pode decidir, antes de descer para sua reencarnação, se deseja ficar sob os cuidados de um pai com o meu perfil. Acredito que muitos aceitarão, pois eu mesmo aceitei, acredito, vir a terra sob a guarda de um pai que nunca deu a devida atenção para mim, de afetos, de cuidados ou recursos financeiros. E mesmo hoje com toda essa compreensão do passado, não tenho nenhuma queixa dele, sinal de que algum compromisso assumi nesse sentido e que por isso não desenvolvi em nenhum momento de minha vida qualquer tipo de ressentimento. Portanto, tenho minha consciência tranqüila com relação aos filhos, e mais ainda, porque sei que agindo dessa forma estou cumprindo a vontade de Deus e que mais adiante ele terá um nível de relacionamento muito mais amplo e afetivo dentro da comunidade e que esse será o meu grande legado.

            A formação da família ampliada que cria as condições de uma família universal e por conseguinte o estabelecimento do Reino de Deus entre nós, pode num primeiro momento levar a essa lacuna da falta de afeto e de cuidados que a presença constante proporciona. Mas por outro lado, abre espaço para que entre no âmbito familiar novos parceiros que podem cumprir com satisfação e sem o sentimento de ser escravo de ninguém e de nenhuma lei e assim seja preenchida essa lacuna com maior riqueza de afetividade. A minha nova parceira será uma segunda mãe para meus filhos; os filhos que ela possa ter serão considerados meus novos filhos; os nossos filhos, os meus e os dela, serão considerados com mais propriedade como irmãos; a possibilidade de a qualquer momento entrar nessa família um(a) novo(a) parceiro(a) deixa o sentimento de fraternidade para com o outro muito mais forte. O sentimento de justiça se faz exercer com muito mais propriedade, consciência e satisfação no seio da sociedade. As famílias nucleares cada vez mais se diluirão umas nas outras e isso está conforme a família universal. Está conforme o Reino de Deus!  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 26/12/2013 às 01h01
 
25/12/2013 01h01
CONTRAPARTIDA DA ABNEGAÇÃO FEMININA

            Observamos que todo projeto que envolve dois aspectos, sempre exige do outro algum tipo de contrapartida. Assim acontece com o consorcio homem-mulher feito com base no Amor Incondicional. Aparentemente nesse tipo de consórcio onde é exigido da mulher um alto grau de abnegação frente aos seus imperativos biológicos e fisiológicos com base na reprodução da vida, parece ser o homem o grande beneficiado. Como para o homem está destinado cuidar do exterior, dos relacionamentos externos, tem maiores oportunidades de desenvolver afetos por outras pessoas e com outras mulheres desenvolver intimidades sexuais, desde que na observância do Amor Incondicional. A partir daí surge a possibilidade de ser formado mais um ramo da família ampliada, com a mulher que decidiu ir até a intimidade sexual e que não será usada como um simples objeto de prazer. A Força afetiva ligada ao amor romântico que proporcionou esse enlace adicional na estrutura psicológica e comportamental do homem, termina por deixar sua companheira original sem parte do seu tempo que deveria cuidar dos seus interesses, inclusive dos filhos se já formados. Nesse contexto a mulher assume mais uma responsabilidade, de cobrir a ausência do companheiro que se encontra com outra nos momentos de necessidade. A mulher original sente a falta afetiva e pragmática do companheiro junto da sua vida nesses momentos. Ela já sabia que isso poderia acontecer e já decidira previamente que, através da abnegação, iria suportar esse acumulo de responsabilidade e escassez de afetos.  

            Acontece que ela também tem no seu entorno relacionamentos com outros homens e que alguns cumprem os critérios de sua consciência e que podem preencher o vazio afetivo em que ela se encontra ou a resolução de questões práticas aliviando o peso dessa responsabilidade. Por que então, ela não se envolve afetiva e sexualmente com esse homem, já que o perfil de relacionamento é em tudo semelhante ao que aconteceu com o seu companheiro e outra mulher? Então, deve estar implícito ou explícito, no mesmo contrato que permitiu ao homem ter uma nova companheira, a “sua” mulher também deve ter o mesmo direito de ter um novo companheiro, com as mesmas características. Está dentro da lei de Justiça, que pertence à legislação do Amor. É a contrapartida que o homem deve permitir, pois sabe que isso não agride a ética, mesmo que ele seja atacado de forma brutal pelos preconceitos sociais de sua cultura. Quando isso acontece, formou-se a primeira ação que amplifica a família de forma transparente e fraterna. Todos são considerados como irmãos, muito mais próximos, e cada um tem como objetivo do seu amor o bem estar do outro. Ninguém sentirá tanto a falta do companheiro original, pois esse vazio sempre poderá ser ocupado pelos homens e mulheres de boa vontade quanto a construção de uma família universal.

            Confesso que essa contrapartida masculina à liberdade feminina, como pré-requisito ao exercício da liberdade do homem de construir novos vínculos, não é uma tarefa fácil. Eu mesmo passei muito tempo maturando essa contrapartida, mesmo sabendo que a minha liberdade tinha a coerência do Amor Incondicional, mas devia passar pelos critérios de Justiça para a sua aplicação. Como meus preconceitos machistas eram muito fortes, foram necessários dias e noites seguidos de meditação e oração. Pedia a Deus uma resposta para sair do impasse e sempre vinha na consciência a quebra dos preconceitos que me amarravam nos critérios mundanos. Até que consegui fazer isso, que agora considero fundamental.

            Hoje, dia do nascimento do Mestre Jesus, dedico essas reflexões, rogando a Ele e ao Pai que corrijam os erros que porventura os meus interesses escusos tenham proporcionados desvios do caminho que foi determinado para mim. Peço também força, coragem e energia para implementar aquilo que ainda é necessário fazer dentro do meu campo de ação, com meus irmãos, principalmente com minhas companheiras que têm mais dificuldade do que eu na condução desse projeto e que sem elas eu não posso dar o exemplo que o Pai deseja: estar nesse mundo sem pertencer a ele, e sim ao Reino de Deus a partir da transformação dos corações.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 25/12/2013 às 01h01
 
24/12/2013 09h40
IGUALDADE DE DIREITOS

            Discorrendo sobre tema tão complexo quanto a abnegação que a mulher deve ter para se tornar carne da mesma carne do homem, Deus oferece na minha leitura diária um texto tirado de “O Livro dos Espíritos” que deseja chamar a atenção para os direitos da Mulher: Igualdade de direitos do homem e da mulher, que reproduzo logo abaixo na íntegra.

            817 – Diante de Deus, o homem e a mulher são iguais e têm os mesmos direitos?

            Deus não deu a ambos a inteligência do bem e do mal e a faculdade de progredir?

            818 – De onde se origina a inferioridade moral da mulher em certos países?

            Do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito.

            819 – Com que objetivo a mulher é fisicamente mais fraca do que o homem?

            Para lhe assinalar funções particulares. O homem é bom para trabalhos rudes, por ser o mais forte; a mulher para os trabalhos suaves, e ambos para se entre ajudarem nas provas de uma vida plena de amargura.

            820 – A fraqueza física da mulher não a coloca naturalmente sob a dependência do homem?

            Deus deu a uns a força para proteger o fraco, e não para se servir dele.

            Kardec: “Deus conformou a organização de cada ser às funções que deve cumprir. Se deu a mulher uma força física menor, dotou-a ao mesmo tempo, de maior sensibilidade, relacionada com a delicadeza das funções maternais e a fraqueza dos seres confiados aos seus cuidados.”

            821 – As funções para as quais a mulher está destinada pela Natureza tem uma importância tão grande quanto as do homem?

            Sim, e maiores; é ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.

            822 – Os homens, sendo iguais diante da lei de Deus, devem sê-lo, igualmente, diante da lei dos homens?

            É o primeiro princípio de justiça: Não façais aos outros o que não quereríeis que se vos fizessem.

            - Segundo isso, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher?

            - De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada um esteja colocado no seu lugar. Que o homem se ocupe do exterior e a mulher do interior, cada um segundo a sua aptidão. A lei humana, para ser equitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos entre o homem e a mulher, pois todo privilégio concedido a um, ou a outro, é contrário a justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização, sua subjugação caminha com a barbárie. Os sexos, aliás, não existem senão pela organização física, visto que os espíritos podem tomar um e outro, não havendo diferença entre eles, sob esse aspecto, e, por conseguinte, devem gozar dos mesmos direitos.

            Eis o texto. Basta agora ajustar o meu pensamento aos ensinamentos dos espíritos.

            817 – Meu pensamento está ajustado a essa questão, considero o homem com os mesmos direitos devidos a mulher, e que ambos estão dentro do processo evolutivo, assim como todos os seres da Natureza. O que devemos observar são as diferenças postas pelo Criador e que serão abordadas mais adiante.

            818 – Entendo também que a inferioridade moral existente dentro de quase todas as culturas humanas, é um reflexo da nossa inferioridade espiritual, de quem cede aos desejos do corpo usando a força para subjugar os mais fracos, principalmente as mulheres que foram formadas fisicamente mais frágeis para melhor cumprir as tarefas de suas missões básicas determinadas pelo Criador.

            819 – O objetivo de deixar a mulher mais fraca fisicamente que o homem foi determinado pelo Criador quando desenhou toda a engenharia da Natureza, inclusive o livre arbítrio do homem. Agora, o homem de posse de maior força física, de inteligência e de livre arbítrio, pode por ignorância usar essas circunstâncias em benefício exclusivo dos seus desejos individuais, acarretando prejuízos no outro, principalmente a mulher, parceira natural dos seus relacionamentos.  

            820 – Não é que por ser fisicamente mais frágil a mulher se torna automaticamente dependente do homem. Cada um tem a sua missão a cumprir dentro da Natureza. Mesmo que eu tenha a condição física de subjugá-la, jamais deverei fazer isso, pois irá frontalmente contra a lei da Natureza. Com certeza irei pagar esse débito em novas oportunidades segundo a lei do Carma. Esse ciclo vicioso que pode se formar, somente é eliminado com o perdão que está orientado dentro da lei do Amor. Portanto, compreendo ser a mulher um ser formado pelo Criador assim como eu e que por suas características necessita de proteção, tanto contra minhas próprias tendências internas quanto os instintos animais ao seu redor. Esse abuso inominável da mulher pelo homem está bem claro na ação do estupro e que é vergonhosamente tolerado em algumas culturas, como na Índia, por exemplo.

            821 – Deus jamais iria fazer algo que não tivesse importância dentro da Natureza. Tudo que observamos ao nosso redor tem um papel e uma designação, mesmo que não possamos alcançar em sua totalidade. A mulher tem um papel da maior importância, a de gerar e alimentar a vida biológica dos novos corpos e dar as primeiras lições de comportamento neste mundo, lições cheias de afeto e amor.

            822 – Devemos todos sermos iguais perante as leis, assim como somos iguais perante a Deus, desde o momento que Ele nos criou. A diferenciação que iremos desenvolver ao longo do tempo é que nos faz distinguir uns dos outros. Então devemos ter uma distinção de acordo com as condições herdadas ou adquiridas, mas sempre com a aplicação da justiça frente as funções que cada um decide implementar no seu projeto de vida, de acordo com o seu livre arbítrio.  

            Portanto, o Pai me mostrou esse texto como forma de fazer a comparação com os espíritos mais esclarecidos na Sua lei e confesso que me considerei enquadrado dentro dos princípios que eles estabeleceram. Assim fico ainda mais confortável em continuar com minhas considerações e elucubrações.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 24/12/2013 às 09h40
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