Quando chegamos ao corpo físico, na escola/hospital da Terra, temos que cumprir algumas tarefas ou sofrer algumas consequências do que fizemos em existências anteriores. Portanto, deve ter registrado nos caminhos da Natureza e dentro de nossa consciência, o trabalho que deve ser feito por nós, exclusivamente, que não podemos transferir para ninguém.
Já temos oportunidade de ler e aprender sobre as lições do Mestre Jesus, para que desenvolvamos a fé nos desígnios de Deus e que possa ser afastada as trevas da ignorância do nosso psiquismo. Passamos a ter consolações para o sofrimento que nos é destinado e lentamente esculpir no coração as diretivas que Deus deseja para nós.
Temos que ser resistentes às provocações que irão surgir ao nosso redor, de pessoas que não aceitam os ensinos do Mestre e passa a considerar que o Reino que Ele ensinava não passa de loucura, que agindo assim iremos desenvolver uma conduta “fora de época”, e todos nossos passos serão fiscalizados para atestar a incoerência daquilo que nós professamos.
Manter a perseverança dentro de um ambiente hostil e irônico para com as lições evangélicas é muito importante, inclusive com um certo anonimato. Não precisamos estar a cada momento levantando a bandeira cristã para com ela atingir os adversários. Basta nos comportarmos conforme foi dito pelo Mestre e que está sintonizado com a nossa consciência, com a vontade de Deus. Basta observarmos as inquietudes íntimas de quem facilmente conquista o sucesso no mundo material, geralmente com atitudes ilícitas, ilegais ou imorais. Não podemos sucumbir nas trevas da noite, dos prazeres e desencantos; devemos nos manter firmes na conduta reta, aguardar a face da madrugada e prosseguir com mais segurança pela luz do dia.
Não podemos esquecer nem um momento, que a vida espiritual é a essência do existir, e não os apelos instintivos da materialidade. Devemos reforçar cada vez mais as novas concepções de vida, do homem novo, e isso já está facilitado pelo acesso do Evangelho. É como se Deus nos tivesse feito com o objetivo de conquistarmos conhecimento e sabedoria através de uma evolução dentro do mundo material, do homem natural, animal, para o homem espiritual, conquistando o pleno conhecimento, crescendo em graça e sabedoria, formatando a mente tendo como modelo a do Cristo, se tornando perfeitamente preparado para toda boa obra.
Também o Mestre nos deixou boas advertência, para que não prendamos a palavra que liberta, para que não convertamos as convicções que nos surgem, em moedas para as vãs necessidades. Precisamos usar a lição da imortalidade para dignificar a própria imortalidade, e caminhar depois da morte com os recursos adquiridos antes dela. Compreender que o sofrimento direcionado para o que é necessário, é fundamental para gerar força espiritual.
Podemos contar com a ajuda dos amigos espirituais em mútuo benefício, cada um ajudando a quem precisa e assim se fortalecendo na proximidade com o Pai. São considerados benfeitores espirituais e fazem sempre o lícito, sempre com uma função pedagógica, dentro de uma didática espiritual. Todos têm uma direção para o alto, com uma meta a alcançar e obedecendo a lei de Deus.
Este é o significado do trabalho intransferível que todos devemos passar. Usar a experiência carnal dentro de uma conduta reta, com a consciência tranquila, e o coração afável. Viver cada momento que traz consigo alguma correção no transcurso da eternidade, sentindo o infinito se confundir com o minuto e com o elétron que escapa de sua origem. É o momento de harmonizar a fé com a ação, de remover os obstáculos do caminho, evitar as atrações que nos deixa paralisados no caminho, usar o buril constantemente para esculpir na energia do espírito o dever que nossa consciência aponta como a vontade de Deus.
Temos vários exemplos de pessoas que assumiram o trabalho que somente elas poderiam fazer naquela situação, como Maria Madalena que usou o Amor e a fé para possibilitar a reentrada da energia do Mestre no campo material, mesmo que não pudesse ser tocado de imediato; como João Evangelista que usou o Amor e a Perseverança para trazer nos seus últimos dias a beleza simbólica do Apocalipse; e o apóstolo Tiago, que aplicou o Amor e a organização para administrar os primeiros anos da igreja cristã que nascia no seio do judaísmo.
Nós que somos considerados discípulos de Jesus por entender e seguir suas lições, podemos estar equivocados, tanto agora como antes, até mesmo com aqueles que acompanham o Mestre, como foi o caso de Judas Iscariotes.
Judas chegou a discutir com Tiago sobre o comportamento manso e amoroso de Jesus, pois toda a raça Judéia esperava um Messias vigoroso, com poder suficiente para enfrentar os soldados romanos e livrar-se do jugo.
- Tiago – exclamava Judas entre ansioso e atormentado -, não achas que o Mestre é demasiado simples e bom para quebrar o jugo tirânico que pesa sobre Israel, abolindo a escravidão que oprime o povo eleito de Deus?
- Mas – replicou Tiago – poderias admitir no Mestre as disposições destruidoras de um guerreiro do mundo?
- Não tanto assim. Contudo tenho a impressão de que o Messias não considera as oportunidades. Ainda hoje, tive a atenção reclamada por doutores da lei que me fizeram sentir a inutilidade das pregações evangélicas, sempre levadas a efeito entre as pessoas mais ignorantes e desclassificadas. Ora, as reivindicações do nosso povo exigem um condutor enérgico e altivo.
- Israel – retrucou, Tiago, filho de Zebedeu, de olhar sereno – sempre teve orientadores revolucionários; o Messias, porém, vem efetuar a verdadeira revolução, edificando o seu reino sobre os corações e nas almas! ...
Judas sorriu algo irônico, e acrescentou:
- Mas poderemos esperar renovações, sem conseguirmos o interesse e a atenção dos homens poderosos?
- E quem haverá mais poderoso do que Deus, de quem o Mestre é o enviado divino?
Em face dessa colocação, Judas mordeu os lábios. Mass prosseguiu:
- Não concordo com os princípios da inação e creio que o Evangelho somente poderá vencer com o apoio dos prepostos de César ou das autoridades administrativas de Jerusalém, que nos governam o destino. Acompanhando o Mestre nas suas pregações em Cesaréia, em Sebaste, em Corazim e Betsaída, quando das suas ausências de Cafarnaum, jamais o vi interessado em conquistar a atenção dos homens mais altamente colocados na vida. É certo que de seus lábios divinos sempre brotaram a Verdade e o Amor, por toda a parte, mas só observei leprosos e cegos, pobres e ignorantes, abeirando-se de nossa fonte.
- Jesus, porém, já nos esclareceu – revidou Tiago – que o seu reino não é deste mundo.
Imprimindo aos olhos inquietos um fulgor estranho, o discípulo impaciente revidou com energia:
- Vimos hoje o povo de Jerusalém atapetar o caminho do Senhor com as palmas da sua admiração e do seu carinho; precisamos, todavia, impor a figura do Messias às autoridades da corte providencial e do Templo, de modo a aproveitarmos esse surto de simpatia. Notei que Jesus recebia as homenagens populares sem partilhar do entusiasmo febril de quantos o cercavam, razão por que necessitamos multiplicar esforços, em lugar dele, a fim de que a nossa posição de superioridade seja reconhecida em tempo oportuno.
- Recordo-me, entretanto, de que o Mestre nos asseverou, certa vez, que o maior na comunidade será sempre aquele que se fizer o menor de todos.
- Não podemos levar em conta esses excessos de teoria. Interpelado que vou ser hoje por amigos influentes na política de Jerusalém, farei o possível para estabelecer acordos com os altos funcionários e homens de importância, a fim de imprimirmos novo movimento às ideias do Messias.
- Judas! Judas! ... – observou-lhe o irmão de apostolado, com doce veemência – vê lá o que fazes! Socorreres-te dos poderes transitórios do mundo, sem um motivo que justifique esse recurso, não será desrespeito a autoridade de Jesus? Não terá o Mestre visão bastante para sondar e reconhecer os corações? O hábito dos sacerdotes e a toga dos dignitários romanos são roupagens para a Terra... As ideias do Mestre são do Céu e seria sacrilégio misturarmos a sua pureza com as organizações viciosas do mundo!... Além de tudo, não podemos ser mais sábios, nem mais amorosos do que Jesus e Ele sabe o melhor caminho e a melhor oportunidade para a conversão dos homens!... As conquistas do mundo são cheias de ciladas para o espírito e, entre elas, é possível que nos transformemos em órgão de escândalo para a Verdade que o Mestre representa.
Judas silenciou atormentado.
Observamos dessa forma, um discípulo, Tiago, melhor esclarecido sobre as lições de Jesus; o outro, Judas, bastante equivocado. Da mesma forma podemos observar nos dias atuais, a maioria dos que dizem seguir o Mestre, que estudam a aplicam suas lições, estarem equivocados quanto à posse de bens materiais e do poder. Verificamos a classe política, composta por homens que se dizem cristãos em sua maioria, totalmente equivocados quanto a lição do Mestre e mergulhados em corrupção, chafurdando nos crimes mais hediondos contra a nação que dizem representar.
Na Escola do Evangelho feita semanalmente em Ceará-Mirim, sinto a necessidade das atividades terem a participação mais efetiva dos presentes. Sinto que a maioria dos que frequentam as aulas com assiduidade e procuram absorver e praticar as lições que recebem, já mostram alguns benefícios na forma de pensar e de se comportar. Mesmo assim, sinto também que as lições podem ser melhor absorvidas se for introduzido algum grau de teatralidade com a participação dos presentes.
A leitura da história O Servo Bom que foi publicada no diário de ontem, neste espaço, é uma boa oportunidade de ver o funcionamento dessa ideia. Será feito a xerox do texto para ser dado a cada um dos participantes dentro do teatro, que tenham alguma fala ou comportamento. Nesse texto a fala do relator será sempre da pessoa que conduz a palestra. Os outros participantes ficarão com as falas ou comportamento de Jesus, Tadeu, Filipe, Pedro, Levi e Zaqueu.
O texto será dado a cada participante ativo com uma semana de antecedência. A pessoa deve ler todo o texto e teatralizar a sua participação, quer seja fala ou comportamento. No dia da apresentação, as pessoas que não participaram ativamente da teatralização, devem ficar atentos para no final fazer uma avaliação de todos os participantes e da forma de passar o conteúdo.
Sei que a maioria das pessoas tem uma certa leitura da Bíblia, até procuram compreender as lições, mas existe uma grande confusão. A leitura do Antigo Testamento tem uma direção e o Novo Testamento tem outra muito diferente, apesar dos personagens procurarem uma coerência dentro do conceito de divindade. Poucas pessoas conseguem fazer essa distinção e leem a Bíblia como se fosse um livro único, com uma só destinação.
O Velho Testamento tem mais compromisso com o povo judeu, tratam todos os outros como bárbaros, pessoas não escolhidas pela divindade. São aceitos comportamentos perversos de uma nação contra outra, de uma pessoa contra outra, somente pelo fato de não pertencer a mesma raça.
O Novo Testamento sob a inspiração do Mestre Jesus, dá uma orientação mais universalista e ensina o Amor como sendo a essência do Pai, do Criador. Por isso tem a vocação de ser difundido e compreendido por toda a humanidade, transformando todos em ovelhas do mesmo pastor, em busca da formação do Reino de Deus entre nós, a partir da transformação dos nossos corações.
Mas a maioria das pessoas, mesmo estando num estágio mais elevado de compreensão espiritual, ainda estão muito envolvidos em dogmas irracionais, sem perceberem a real dimensão da doutrina espírita. Somente a forma de passar as lições de maneira mais dinâmicas e compreensível pode ajudar nesse esforço de evangelização, e nesse ponto a teatralização pode ser de grande ajuda.
Existe uma história no livro “Boa Nova”, de Humberto de Campos/Chico Xavier, que me deu um grande alento frente a uma dúvida que sempre martela a minha consciência com relação à caridade. Resisto muitas vezes a fazer a caridade, nas ruas, nos semáforos das ruas, pois imagino que possa estar sendo ludibriado e prejudicando quem esteja naquela situação. Mas fica sempre uma dúvida se estou ou não fazendo o correto, se não devia ajudar de qualquer forma, mesmo que por trás tivesse alguma maldade sendo beneficiada. Isso seria da conta de Deus com essa pessoa malvada.
Nessa história relatada por Humberto de Campos através de Chico Xavier, veio o ensinamento que não posso ficar bitolado somente na letra do que está nos evangelhos, o orar e vigiar é importante assim como a prática da caridade de forma mais ampla possível, e não só na doação de uma simples moeda para aliviar a consciência.
Tadeu parecia querer impor aos ouvintes das palestras de Jesus a entrega de todos os bens aos necessitados. Filipe não vacilava em afiançar que ninguém deveria possuir mais que uma camisa, constituindo uma obrigação tudo dividir com os infortunados, privando-se cada qual do indispensável à vida.
Levi, o antigo cobrador de impostos, replicava com cuidado: “E quando o pobre nos surge apenas nas aparências? Conheço homens abastados que choram na coletoria de Cafarnaum, como miseráveis mendigos, apenas para não pagar os impostos. Sei de outros que estendem a mão à caridade pública e são proprietários de extensas terras. Estaríamos edificando o Reino de Deus se favorecêssemos à exploração?”.
Tudo isso é verdade, redarguia Simão Pedro, entretanto, Deus nos inspirará sempre nos momentos oportunos, e não é por essa razão que devemos abandonar os realmente desamparados.
Levi não se dava por vencido e retrucava – A necessidade sincera deve ser objeto incessante de nosso carinhoso interesse, mas tratando-se de falsos mendigos, é preciso considerar que a palavra de Deus vindo por nosso Mestre, nos adverte que devemos orar e ser vigilante. É importante que não distorcemos o nosso sentimento de piedade e termine por prejudicar aos irmãos que estão desviados da estrada do Senhor.
Mas Filipe, agarrado à letra do Evangelho, continuava acreditando que era mais fácil a passagem de um camelo pelo fundo de uma agulha do que a entrada de um rico no Reino do Céu.
Jesus não participava dessas discussões, mas esperava uma oportunidade para um esclarecimento geral.
Na sua última ida à cidade de Jericó, um publicano de nome Zaqueu conhecia a fama de Jesus e queria vê-lo. Zaqueu era de pequeno porte e subira numa árvore para ver Jesus. O Mestre o viu e pediu para descer da árvore porque necessitava da sua hospitalidade e companhia. Zaqueu ficou possuído de imenso júbilo, abraçou-se com Jesus com prazer e espontaneidade e deu ordens para que Jesus e sua comitiva fossem bem recebidos. O Mestre deu o braço ao publicano e escutava, atento, as suas observações, com grande escândalo dos discípulos: “Não se tratava de um rico que merecia ser condenado?”; “Como justificar tudo isso se Zaqueu é um homem de dinheiro e pecador perante à lei?”
Zaqueu mandou servir uma refeição a todo o povo e passaram a conversar num vasto alpendre sobre a missão de Jesus, que sabia ser condenável as riquezas criminosas do mundo. O publicano esclarecia com toda a sinceridade da alma:
- Senhor, é verdade que tenho sido observado como um homem de vida reprovável, mas, desde muitos anos venho procurando empregar o dinheiro de modo que represente benefícios para todos que me rodeiam na vida. Compreendendo que aqui em Jericó havia muitos pais de família sem trabalho, organizei múltiplos serviços de criação de animais e de cultivo permanente da terra. Até de Jerusalém, muitas famílias já vieram buscar, em meus trabalhos, o indispensável recurso à vida!...
- Abençoado seja o teu esforço! – replicou Jesus, cheio de bondade.
Zaqueu ganhou novas forças e murmurou:
- Os servos de minha casa nunca me encontraram sem a sincera disposição de servi-los.
- Regozijo-me contigo – exclamou o Messias -, porque todos nós somos servos de nosso Pai.
O publicano que tantas vezes fora injustamente acusado, experimentou grande satisfação. A palavra de Jesus era uma recompensa valiosa à sua consciência dedicada ao bem coletivo. Extasiado, levantou-se e, estendendo as mãos ao Cristo, exclamou alegremente:
- Senhor! Senhor! Tão profunda é a minha alegria, que repartirei hoje, com todos os necessitados, a metade dos meus bens, e, se nalguma coisa tenho prejudicado a alguém, indenizá-lo-ei, quadruplicamente! ...
Jesus o abraçou com um formoso sorriso e respondeu:
Bem-aventurado és tu que agora contemplas em tua casa a verdadeira salvação.
Alguns dos discípulos, notadamente Filipe e Simão, não conseguiam ocultar suas deduções desagradáveis. Mais ou menos aferrados as leis judaicas e atentando somente no sentido literal das lições do Messias, estranhavam aquela afabilidade de Jesus, aprovando os atos de um rico do mundo, confessadamente publicano e pecador. E, como o dono da casa se ausentasse da reunião por alguns minutos, a fim de providenciar sobre a vinda de seus filhos para conhecerem o Messias, Pedro e outros prorromperam numa chuva de pequeninas perguntas. Por que tamanha aprovação a um rico mesquinho? As riquezas não eram condenadas pelo Evangelho do Reino? Por que não se hospedaram numa casa humilde, e sim naquela vivenda suntuosa, em contraposição aos ensinos da humildade? Poderia alguém servir a Deus e ao mundo de pecados?
O Mestre deixou que cessassem as interrogações e esclareceu com generosa firmeza:
- Amigos, acreditais, porventura, que o Evangelho tenha vindo ao mundo para transformar todos os homens em miseráveis mendigos? Qual a esmola maior: a que socorre as necessidades de um dia ou a que adota providências para uma vida inteira? No mundo vivem os que entesouram na Terra e os que entesouram no Céu. Os primeiros escondem suas possibilidades no cofre da ambição e do egoísmo, e por vezes, atiram uma moeda dourada ao faminto que passa, procurando livrar-se de sua presença; os segundos ligam suas existências a vidas numerosas, fazendo de seus servos e dos auxiliares de esforços a continuação de sua própria família. Estes últimos sabem empregar o sagrado depósito de Deus e são seus mordomos fiéis, à face do mundo.
Os apóstolos ouviam-no, espantados. Filipe, desejoso de se justificar, depois da argumentação incisiva do Cristo, exclamou:
- Senhor, eu não compreendia bem porque trazia o meu pensamento fixado nos pobres que a Vossa bondade nos ensinou a amar.
- Entretanto, Filipe, elucidou o Mestre, é necessário não nos perdermos em viciações do sentimento. Nunca ouviste falar numa terra pobre, numa árvore pobre, em animais desamparados? E acima de tudo, nesses quadros da Natureza a que Zaqueu procura atender, não vês o homem, nosso irmão? Qual será o mais infeliz: o mendigo sem responsabilidade, a não ser da sua própria manutenção, ou um pai carregado de filhinhos a lhe pedirem pão?
Como André o observasse, com grande brilho nos olhos, maravilhado com as suas explicações, o Mestre acentuou:
- Sim, amigos! Ditosos os que repartirem os seus bens com os pobres; mas bem-aventurados também os que consagrarem suas possibilidades aos movimentos da vida, cientes de que o mundo é um grande necessitado, e que sabem, assim, servir a Deus com as riquezas que lhes foram confiadas!
Em seguida Zaqueu mandou servir uma grande mesa ao Senhor e seus discípulos, onde Jesus partiu o pão, partilhando do contentamento geral. Impulsionado por um júbilo insopitável, o chefe publicano de Jericó apresentou seus filhos a Jesus e mandou que seus servos festejassem aquela noite memorável para o seu coração.
Nos terreiros amplos da casa, crianças e velhos felizes cantavam hinos de cariciosa ventura, enquanto jovens em grande número tocavam flautas, enchendo de harmonias o ambiente.
Foi então que Jesus, reunidos todos, contou a formosa parábola dos talentos, conforme a narrativa dos apóstolos, e foi também que, pousando enternecido e generoso olhar sobre a figura de Zaqueu, seu lábios divinos pronunciaram as imorredouras palavras: - Bem-aventurado sejas tu, servo bom e fiel!
Na filosofia Zen a história dos 10 Touros é contada para explicar a evolução humana. Tem certa semelhança com o Mito da Caverna, de Platão, onde pessoas acorrentadas vêm sombras na parede projetadas por uma fogueira que está atrás deles. Pensam que essas seja a realidade e fazem estudos magníficos sobre elas. Até que um dia, uma dessas pessoas consegue se libertar das correntes e foge para o mundo exterior. Essa pessoa ver outra realidade, a luz do sol e um mundo brilhante ao seu redor. Volta à Caverna para dizer às pessoas o que viu, como é a realidade lá fora, mas todas não acreditam, o ironizam e tentam prendê-lo como louco. Ninguém acredita que exista lá fora um mundo como foi descrito.
A história dos 10 Touros começa pela primeira figura onde um jovem vaqueiro sai pelo mundo à procura do Touro, o seu animal. Esta história Zen já começa num nível mais adiantado, pois a pessoa vai à procura de uma coisa que sabe que existe, enquanto as pessoas na Caverna de Platão continuam presas às suas correntes, sem aceitarem a existência de um mundo novo lá fora.
Na segunda figura o jovem encontra as pegadas do Touro. Já imagina que seja um animal bem maior do que ele pensava, tendo em vista o material que ele levava para prender esse Touro, imaginava ser um animal bem mais frágil, material mais apropriado para prender um cãozinho poodle.
Finalmente o vaqueiro ver o Touro à distância, ver o seu enorme corpo, mas ainda não consegue ver a cabeça. É o momento que nós nos deparamos com nossos instintos que possuem a força para nos arrastar para onde eles acreditam que exista o prazer.
O vaqueiro não se intimida e parte para o enfrentamento do Touro. Corresponde ao momento que nós estamos frente a frente com o animal que dorme dentro da gente e que sentimos que é necessário enfrenta-lo. Mesmo o animal sendo enorme, o vaqueiro tem a determinação, e isso é o suficiente para a sua vitória, mesmo que demore muito tempo.
Na quinta figura o vaqueiro tem o Touro dominado, mas é preciso que ele tenha muito cuidado, o animal está vigilante, raivoso e a qualquer momento ele pode arrastar o seu dono. Esta é a fase que o apóstolo Paulo experimentava, de querer fazer o bem, mas terminava fazendo o mal que ele não queria.
Na figura seguinte o animal está domesticado, o vaqueiro pode seguir serenamente sobre ele, pois o Touro irá para o vaqueiro queira ir, e ele pode ir tocando sua flauta sem preocupações. É o momento que nós dominamos nossos instintos e eles não ameaçam que nós façamos alguma coisa que não queremos
Na sétima figura vemos o vaqueiro sem o Touro. Ele não precisa mais dele. Foi um momento que ele precisava saber administrar a energia do seu animal para atingir determinado propósito. É como alguém que vai à procura de um barco para atravessar um rio, e depois de atravessado não precisa mais o carregar.
O vaqueiro sabe que tem um animal dentro de si, que o obedece e fortalece, por isso essa figura é em branco, o vaqueiro pode ir para qualquer lugar, está livre.
A penúltima figura mostra a Natureza e agora o vaqueiro pode olhar e apreciar tudo que existe sem ter o incômodo do animal dentro de si.
Por fim ele vai pelo mundo a mostrar a importância de cada um encontrar o seu animal e com ele viver uma vida de qualidade. É semelhante a pessoa que consegue fugir da prisão da caverna, no mito de Platão, e que volta para instruir seus companheiros sobre a realidade da vida. Foi o que Jesus fez conosco, já estava vivendo no êxtase de paraíso, mas obedeceu a vontade do Criador, dentro da sua consciência, para voltar à Terra e nos ensinar como fazer para dominar o nosso animal poderoso e seguir com liberdade a vontade do Pai.