Tive uma reunião com meu filho. Ele falou de forma sucinta e um tanto indireta do distanciamento emocional que sofreu de mim, pelas minhas ausências, da falta de afeto... Compreendi suas razões, acho que ele está certo... Eu devo ter falhado, e falhei sim em algum aspecto. As suas colocações, reforçado pelo pensamento da sua mãe, justificam a sua decisão de não querer mais o nosso encontro que começávamos a realizar todo fim de semana. Para mim servia como uma porta de acesso ao seu coração; para ele estava servindo como um momento de constrangimento... Tudo causado por nossos comportamentos do passado. Ele não tem nenhuma culpa, claro, a sua formação intelectual e emocional deveria estar sendo cuidada por nós, os seus pais. Deixei tudo muito aos cuidados de sua mãe e dirigia minha atenção para os propósitos de minha vida, assim como entendo Deus ter colocado em minha consciência. É essa a culpa que a sua mãe direciona sobre mim, as ausências, apesar da convivência.
Senti que essa cobrança e acusação evocava uma prestação de contas do meu passado. Onde está o erro? Não estou seguindo a vontade de Deus? Então, onde está o erro? Mesmo assim, não posso tirar de cima de mim a minha responsabilidade. Eu tinha a compreensão de tudo, da vontade de Deus, do que eu deveria fazer, do que fiz ou deixei de fazer.
Exijo da minha consciência essa prestação de contas. Encontro onde está o erro. Não deixei o meu pensamento bem explicado para quem queria conviver comigo, gerar filhos. Apesar de não mentir sobre o meu pensamento, como é o meu paradigma de vida, mesmo assim, para uma convivência ser realizada, todos os detalhes do pensamento deveria ter sido bem explicado e o meu paradigma de vida ter sido assumido como um compromisso da minha companheira. Passamos a conviver com um conflito enorme e ao mesmo tempo dissimulado. Eu continuava com o meu comportamento coerente com o meu pensamento e a minha companheira tolerava como uma forma errada de se comportar. Eu deveria ter identificado esse detalhe com mais eficiência saber que isso seria desastroso no futuro, no poder transformador sobre um amor que não tenha as características incondicionais. E principalmente na geração de filhos que vão absorver inevitavelmente esse conflito. Aí está o meu erro!
O resultado dessa prestação de contas é que a minha consciência exige que eu faça o esclarecimento de toda essa minha forma de me comportar como se fosse a vontade de Deus, como assim eu entendo. É como se Deus tivesse me colocado na Terra com essa missão específica, de desenvolver o Amor Incondicional em todos os relacionamentos, principalmente os íntimos, como forma de contribuir para a construção do Seu Reino entre nós. A mãe de meu filho imagina que isso seja uma espécie de loucura de minha cabeça, que Deus não iria me escolher, um espírito cheio de defeitos, que ainda tem necessidade de reencarnar neste planeta de provas e expiações para tentar se aperfeiçoar, como um dos seus missionários. Eu, pelo contrário, me sinto “tocado” por essa vontade de Deus e chego até a ter a impressão de ser uma espécie de cobaia onde Deus procura ver como o Seu Reino pode ser implantado na Terra, dentro de uma humanidade ainda mergulhada no egoísmo.
É nesse campo que devo investir, desenvolver a origem e implementação de meu comportamento tomado pelo Amor Incondicional e observar qual o poder de transformação que ele tem quando aplicado com honestidade e transparência, no uso da verdade e da justiça. Tal qual um cobaia de laboratório que manipulamos para saber alguma questão se é verdadeira ou falsa.
O uso da verdade em todas as situações parece ser uma utopia. Reconheço que a verdade é soberana nas relações, não deve ser escamoteada, de um ponto de vista teórico. Do ponto de vista prático sou testemunha e vítima das reações que surgem com o descobrimento da verdade feita por mim mesmo e que vai de encontro aos interesses do meu interlocutor. Ele jamais pensa: “que pessoa honesta, mesmo sabendo que essa verdade vai me desagradar, mesmo assim ele me conta”. Algumas pessoas, uma das minhas companheiras, por exemplo, já chegou a falar especificamente que não queria saber das minhas namoradas, sabendo ela da minha disposição de manter um relacionamento aberto, sem exclusividade no amor, por quem quer que seja, sem preconceitos, obedecendo apenas aos limites do amor incondicional sob a regra de ouro de não fazer a ninguém o que não quero que façam a mim.
Então, com um pedido explicito dessa forma, para que a verdade não fosse revelada para não trazer sofrimento para o outro, deduzi que existe momentos em que essa verdade não pode ser revelada, independente de a pessoa pedir ou não. Cabe a mim fazer a devida avaliação, para que essa omissão da verdade não constitua um mal para a pessoa, um mal que eu não queira para mim.
A sabedoria da Fé Bahá’í vem em meu auxílio quando diz o seguinte: “Nem tudo que um homem sabe pode ser revelado, nem tudo o que ele pode revelar deve ser considerado oportuno, e não se pode julgar adaptáveis à capacidade dos ouvintes todos os dizeres oportunos. Tal é a consumada sabedoria a ser observada em tuas atividades. Disso não te esqueças, se desejas ser homem de ação sob todas as condições. Primeiro, faze o diagnóstico da moléstia, identifica o mal e então prescreve o remédio, pois esse é o método perfeito do médico hábil.”
Com essa compreensão eu faço um retrospecto do meu comportamento, da minha intenção de ser verdadeiro em todas as ocasiões e com qualquer pessoa. Lembro do sofrimento que causei, das reações indignadas que patrocinei por ser verdadeiro. Não fiz um diagnóstico correto da situação, eu pensava que a verdade era uma pérola que não merecia ser escondida de ninguém. Não considerava que tem pessoas com uma forma de pensar muito diferente e que a minha verdade passa a ser uma agressão para elas. Tenho que corrigir agora os meus pensamentos a esse respeito. Tenho que caminhar num fio de navalha consciencial. A verdade não pode ser omitida para não prejudicar a ninguém, também não pode ser revelada se a capacidade do ouvinte ainda não é oportuna. Tenho que ser honesto nessa avaliação, para que mesmo a pessoa descobrindo no futuro que eu omiti a verdade para ela, venha reconhecer que eu fiz o certo agindo assim, pois ela não estava preparada para receber essa verdade.
Surge então outro fator de grande importância: a confiança. Qualquer relacionamento que eu implementar, os parceiros devem desenvolver total confiança na minha integridade moral, até o ponto de considerar que se eu omito alguma verdade deles é porque serve ao seu próprio bem, e não ao meu exclusivamente.
Na condição de médico e terapeuta, vejo que os sofrimentos dos meus pacientes, a maioria deles, são as consequências da vontade. Posso ver que resultam de causas que poderiam ser evitadas, dos excessos, da ambição, das paixões. Se tivessem vivido sobriamente, sem abusar de nada, com simplicidade de gostos, modesto nos desejos, se pouparia de muitas doenças.
Da mesma forma é com o espírito. Os sofrimentos que enfrentarão no mundo astral são consequências da forma como viveu na Terra. Certamente que não terá mais as úlceras, hepatites, etc, que são sofrimentos ligados ao corpo físico que não existe mais. Porem terá outros sofrimentos que não serão menores. E esses sofrimentos resultam dos laços que ainda existem entre espírito e a matéria, e quanto mais se liberta da influência da matéria, se desmaterializa, sofre menos sensações penosas.
Depende de cada um libertar-se desse vinculo materialista desde a vida atual. Cada um tem o livre arbítrio e por conseguinte a faculdade de escolher entre fazer ou não fazer. A lição para fazer essa desmaterialização é domesticar as paixões animais, para não sentir ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho. Para depurar a alma se deve cultivar os bons sentimentos, fazer o bem e dá às coisas deste mundo a importância que elas merecem. Fazendo assim, mesmo encarnado já estamos depurados, libertos da matéria e quando deixar o corpo já não sentiremos sua influência.
Tenho tido essa preocupação com relativo sucesso. Controlo devidamente minhas paixões e coloco-as a serviço do Amor Incondicional. Fico até surpreso com o ciúme, por exemplo, que tantas pessoas sofrem gravemente dele e eu praticamente não possuo. Assim é com os outros penduricalhos do egoísmo. O que me afeta fortemente são as exigências do corpo, mas não dos relacionamentos.
Na área do corpo considero a preguiça e a gula meus mais fortes adversários, principalmente a gula. Pois na preguiça eu também entendo que desenvolvo muitos trabalhos materiais e isso diminui minha vitalidade para as ações espirituais. Agora, com relação a gula eu tenho sofrido diversas derrotas, não consigo controlar a quantidade de alimento suficiente para a manutenção do corpo. Sempre exagero na quantidade e na qualidade e isso me deixa sempre na faixa perigosa do sobrepeso.
Então esse é o meu calcanhar de Aquiles, onde a doença pode surgir. Tenho que tirar a lição que meus pacientes oferecem e evitar também esse descontrole na alimentação. Por enquanto a minha saída estratégica é o jejum, pois eu evito estar perto dos alimentos e ingerir uma quantidade qualquer, pois semelhante com o que acontece na dependência química, o primeiro gole desencadeia a doença.
Porem, mesmo com essa providência o corpo reage e tenta manter o peso apesar do jejum. Este é o quinto dia que estou no jejum e o peso que perdi não é equivalente ao que eu perdia no passado. Sinto que o corpo fica preparado para suportar dias sem alimento sem apresentar fraqueza. Certamente o fato também aconteceu com Jesus, que chegou a passar 40 dias de jejum no deserto. Mas como ele era mais espiritualizado, seu corpo não exercia mais tanta influencia sobre o seu espírito como o meu corpo exerce sobre mim. Mas isso também faz parte do meu aprendizado.
Minha curiosidade levou-me a perguntar desde cedo: quem sou? De onde vim? Para onde vou?
Encontrei ao longo da senda inúmeros ídolos formados pelo medo ou ganância dos povos, ídolos mentirosos que se alimentam do suor dos ignorantes em troca de uma segurança imaginária. Senti o cansaço em minha alma inquieta, mas o anseio de uma vida superior a esta, sempre mantinha viva minha esperança como um braseiro vivo de ideal, mesmo que sob uma espessa camada das cinzas do desencanto.
Nos momentos de desespero eu recorria à sabedoria e examinava o cosmo, o micro e o macro. Reconhecia a estreiteza do meu ser, do círculo ínfimo em que respiro e até do Lar Cósmico em que me abrigo. Aprendi sobre os planetas, os sóis, as galáxias... os confins do universo onde minha inteligência não tem acesso. Aprendi sobre a intimidade da célula, do átomo, dos elétrons partículas/ondas, das incertezas prováveis, da consciência colapsando o universo...
Deslumbrado percebi que não existe vácuo, tudo tem uma utilidade e que a vida encontra o berço numa simples gota d’água e que é a essência dos incomensuráveis sistemas siderais. Na laboriosa tarefa de descobrimento de mim mesmo fui obrigado a olhar para o chão, para o barro que formou meu corpo e que pelo sopro divino do Amor surgiu a minha alma que o animou.
Agora estou aqui, confinado a um reduzido agrupamento consanguíneo, dos meus parentes organizados pela engenharia dos renascimentos, a qual se ajusta a uma equipe de interesses passageiros ou definitivos, de colegas, amigos, amantes, companheiros... É nesse contexto que surgem as inquietações e até exigências, do ciúme, da cobiça, do egoísmo, da dor... Parece que ninguém sabe dar sem receber, não consegue ajudar sem reclamar, e criando o choque da exigência para os outros, recolhe dos outros os choques sempre renovados da incompreensão e da discórdia, com raras possibilidades de auxiliar e de auxiliar-se.
Vejo a majestade divina do Pai no Universo, na Natureza e me identifico como um pobre indigente filho Seu, com o cérebro inflamado em busca de glória e o coração preenchido ainda pelas sombras do egoísmo. Orgulho-me frente ao espetáculo magnificente do alto padrão do meu Pai e padeço a miséria do padrão baixo que ainda não consegui elevar.
Desejo comunicar aos outros o quanto aprendi da vida, principalmente com o Mestre Jesus, o quanto é bela a contemplação da vida eterna, mas muitas vezes esqueço ou sou tímido dessa minha obrigação, mas também encontro poucos ouvidos que se interessem, que me entendam.
Percebo que o Amor nesta Terra de expiações é como ainda um oásis fechado, poucos sabem onde está, muitos nem acreditam existir, imaginam ser apenas a loucura de alguns santos.
Assim compreendendo procuro partir os elos que me prendem à estreita família nuclear, o modelo e paradigma do mundo. Procuro despertar para a grandeza da criação e contribuir para a construção do Reino de Deus, assim como Ele me determinou. Dessa forma eu ando pela Terra, à maneira do viajante incompreendido e desajustado, peregrino sem pátria e sem lar, a me sentir um grão infinitesimal de poeira nos Domínios Celestiais, assim como fazia Francisco de Assis, cuja data de hoje reverenciamos.
Sinto que se alarga a acústica de minha alma, percebo agora as intuições do Pai e dos bons espíritos que entendem minhas intenções; embora os sofrimentos dos atos raivosos e preconceituosos de pessoas intolerantes e ignorantes dos desígnios de Deus me aflijam e abram chagas na minha alma assim como abriu chagas no corpo de São Francisco; estou edificando os fundamentos espirituais da nova humanidade que habitará no Reino de Deus.
Encontrei com as diversas leituras que fiz a oportunidade de renovar o funcionamento da minha mente no sentido de formar novos paradigmas mais condizentes com minhas procuras. Foi na doutrina dos espíritos que encontrei a maior consistência na apresentação do mundo como ele é, em suas diversas dimensões e a natureza adaptativa do caminhar de todos nós em direção a Deus, que tenhamos consciência ou não dessa realidade. Deixei de existir somente no mundo material, efêmero, das formas passageiras, e passei a ser um habitante consciente do mundo transcendental onde a vida se processa no contexto da eternidade e da ocupação da pluraridade dos mundos. Tenho agora a firme convicção de que estou aqui na Terra cumprindo uma etapa do meu aprendizado e com ela uma missão determinada por Deus para concluí-la até o fim dessa existência, como se fosse um Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC usado nas Universidades.
No decorrer desse aprendizado que foi renovando a minha mente e compreensão do mundo com criação de novo paradigma, os fenômenos espirituais que testemunhei de terceiros, por livros ou por fatos presenciais, modificou minhas convicções materialistas; as conclusões filosóficas alteraram com profundidade a minha visão do mundo. Sinto agora que sou imortal, este corpo que abriga no momento a minha alma, nada mais é que uma ferramenta de aprendizado, tal qual um carro é uma ferramenta de locomoção. Do mesmo modo que o carro exige gasolina, óleo, ar nos pneus, entre outros, o corpo também necessita de alimentos, repouso, e possui uma necessidade extra de reprodução para que forme outros instrumentos de aprendizagem para novo espírito que precisa tentar sua evolução. A minha alma deve usar o corpo assim como usa o carro, como um instrumento de utilidade para a sua evolução, e não ficar subordinada aos interesses tanto do carro como do corpo. Devo cuidar tanto do carro quanto do corpo, sabendo que da mesma forma que troco de carro quando sinto a necessidade e a conveniência disso, da mesma forma trocarei de corpo quando o Pai sentir a necessidade e a conveniência disso. O meu livre arbítrio abastecido com essa compreensão pode seguir na vida um caminho reto em direção ao Pai. É por isso que é tão importante a educação de todos nesse aspecto, principalmente de nossos filhos, as almas que o Pai colocou diretamente sob nossa responsabilidade.
Agora tem um aspecto que não devo esquecer e que compõe as tarefas da minha evolução. Essa transformação da inteligência com a aquisição de tantas informações deve servir para erguer meu coração com o aperfeiçoamento íntimo, tenho que ser melhor frente aos meus irmãos da humanidade. Esse tesouro intelectual que o Pai me permitiu e confiou deve servir para educar minhas emoções, elevar o meu caráter e sentimento. De que vale obter tudo isso e continuar com sentimentos egoístas de ciúme, raiva, vingança, intolerância, prepotência, indiferença frente ao meu próximo, seja ele quem for?
A renovação mental que adquiri e que continua em processo, permite que eu escute as sublimes narrações do infinito na palavra dos grandes orientadores, ouvirei vozes amigas que me lisonjearão a personalidade, escutarei novidades que podem me arrebatar ao êxtase, entretanto, são nas lições do Mestre Jesus que procuro viver com integridade e honestidade, que reestruturo a minha individualidade eterna para a sublime ascensão à consciência do Universo.
Espero contribuir com a confiança do Pai no esforço de congregação de todos em torno da construção do Seu Reino aqui na Terra. Buscarei sempre a lição da mente purificada de qualquer tipo de egoísmo, um coração aberto à verdadeira fraternidade, das mãos ativas na prática do bem, o caminho de amor e luz em direção aos braços sempre afetuosos do Pai.