Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
12/09/2015 23h59
PUREZA DO CORPO E DA ALMA

            São Boaventura também descreve como São Francisco tratava os desejos da volúpia para manter a pureza do corpo e da alma:

            03. Rígido na disciplina, estava no seu posto de guarda, colocando o máximo cuidado em conservar a pureza do corpo e da alma; por esta razão, perto dos primórdios de sua conversão, no tempo de inverno, imergia-se muitas vezes numa fossa cheia de gelo tanto para subjugar a si o inimigo doméstico quanto para preservar do incêndio da volúpia a cândida veste do pudor. Afirmava que era incomparavelmente mais tolerável ao homem espiritual suportar no corpo um intenso frio do que sentir no espírito o ardor da concupiscência da carne, ainda que pequeno.

            04. E numa noite, no eremitério de Sarteano, ao dedicar-se à oração numa pequena cela, o antigo inimigo chamou-o, dizendo por três vezes: “Francisco, Francisco, Francisco!” Como ele tivesse lhe perguntado o que queria, aquele acrescentou com astúcia: Não há nenhum pecador no mundo a quem Deus não perdoe, se se tiver convertido; mas aquele que se matar a si mesmo com rigorosa penitência não encontrará a misericórdia eterna”. Imediatamente, o homem de Deus reconheceu por revelação a falácia do inimigo e como tinha tentado chama-lo de volta à tibieza. De fato, o evento que segue indicou isto. Pois, logo depois disto, uma grave tentação da carne o apreendeu, por sopro daquele cujo hálito faz arder as brasas. Assim que o amante da castidade a pressentiu, tendo deposto a veste, começou a açoitar-se muito fortemente com uma corda, dizendo: “Eia, irmão burro, assim convém que tu fiques, assim é necessário que suportes o castigo. A túnica é destinada a religião, é portadora de um sinal de santidade, não convém a um libidinoso roubá-la. Se queres ir a algum lugar, prossegue!” Além disso, animado também por admirável fervor de espírito, tendo aberto a cela, saiu para o jardim e, mergulhando o pequeno corpo já desnudado em grande quantidade de neve, começou a ajuntar dela sete montes com mãos cheias. Colocando-os diante de si, assim falava ao seu corpo: “Eis que esta maior é tua esposa, estes quatro são dois filhos e duas filhas; os outros dois são o servo e a serva que deves ter para servir-te. Portanto, apressa-te a vestir a todos, porque morrem de frio. Mas se a múltipla preocupação deles te molesta, serve solicitamente ao único Senhor!” Imediatamente, o tentador se retirou vencido, e o santo homem voltou para a cela com a vitória; porque, enquanto muito se congelava exteriormente por penitência, interiormente extinguiu de tal modo o ardor da concupiscência que em seguida não sentia absolutamente tal coisa. E um irmão, que então se dedicava à oração, viu tudo isto, quando a lua caminhava mais claramente. Tendo o homem de Deus descoberto que ele tinha visto estas coisas de noite, revelando-lhe o processo da tentação, ordenou-lhe que, enquanto vivesse, não contasse a nenhum vivente a coisa que ele vira.

            05. E ele não só ensinava que os vícios da carne devem ser mortificados e os incentivos dela devem ser freados, mas também que os sentidos exteriores, pelos quais a morte entra na alma, devem ser guardados sob a máxima vigilância. Mandava que se evitassem com mais solicitude as familiaridades, as conversas e o olhar das mulheres, afirmando que por meio destas coisas o forte se quebra e, muitas vezes, o espírito adoece. Disse que quem conversa com elas escapa tão facilmente do contágio delas – a não ser um homem provadíssimo – quanto, segundo a Escritura, quem anda no fogo e não queima as plantas dos pés. Na verdade, ele tanto desviava seus olhos para não verem tal vaidade que, conforme disse uma vez a um companheiro, quase nenhuma ele reconheceria de fisionomia. Pois julgava que não era seguro absorver no íntimo as imagens das formas delas, as quais podem ou ressuscitar o pequeno fogo da carne domada ou manchar o brilho da mente casta. – Afirmava que a conversa da mulher é frívola, exceção feita unicamente à confissão ou brevíssima instrução, segundo o que é necessário à salvação e convém ao decoro. Dizia: que negócios tem um religioso a tratar com uma mulher, a não ser quando ela pede religiosamente a santa penitência ou um conselho de vida melhor? Por excesso de segurança se cuida menos do inimigo, e o demônio, quando pode possuir apenas um cabelo no homem, depressa o faz crescer em uma trave.

            Essa atitude de Francisco com relação ao próprio corpo e aos desejos que dele nascem, vejo como muito exagerado... mas dentro de sua visão na qual colocava o demônio dentro da carne e que não podia ser vencido pelo maligno, é compreensível que ele tenha agido assim, na busca de seguir com fidedignidade os passos do Cristo.

            Meu modo de obedecer a Deus e seguir as lições de Jesus é diferente. Eu respeito o meu corpo, apesar de em alguns momentos eu castiga-lo com jejuns. Mas jamais o castiguei nem penso fazer isso. Logo porque eu reconheço que todos os instintos, qualquer célula do corpo, qualquer organização biológica por mínima que seja, tenha sido projetado e criado por Deus. Então não devo considera-lo como uma coisa maligna, a morada do demônio, pelo contrário, considero como o templo do Senhor. Os desejos que surgem na minha mente originados da carne, podem ter um direcionamento perverso, considerado os interesses do próximo que comigo se relaciona. Mas cabe a mim ter o controle suficiente e impedir que ele seja instrumento do mal, pelo contrário, devo observar todas as circunstâncias e transformar essa força tão importante que Deus deixou comigo, para ser instrumento de ajuda ao próximo.

            Os prazeres inconvenientes que por acaso ele desperte, nunca vou usar o chicote como Francisco e supliciá-lo, mas sei como oferecer a ele um prazer associado à imaginação, e sempre dentro dos princípios do Amor Incondicional, que apesar de ser solitário não deixa de ser uma atitude mais solidária para com o corpo do que o chicote de Francisco. Sinto que fazendo assim estou também mantendo a pureza do corpo e da alma.

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em 12/09/2015 às 23h59
 
11/09/2015 23h59
FAZER-SE DE SERVO

            Paulo dispara nos meus conceitos como o apóstolo mais importante na semeadura das lições do Cristo e preparação para o Reino de Deus.

            Ele diz que não anuncia o Evangelho de sua iniciativa, que o faz independente de sua vontade, que é uma missão que lhe foi imposta. Então ele passa a descrever sua metodologia. Disse que mesmo livre da sujeição de qualquer pessoa, ele se faz servo de todos para ganhar o maior número possível para a causa do Cristo. Para os judeus, se faz de judeu, a fim de ganhar os judeus; para os fora-da-lei se fez como se não tivesse lei, mesmo estando sob a lei de Deus, e portanto, sob a lei do Cristo, a fim de ganhar os que não tem lei. Se fez de fracos com os fracos a fim de ganhar os fracos. Fez-se de tudo para todos a fim de salvar a todos. E tudo isso fazia por causa do Evangelho, para dele se fazer participante.

            Estou num processo de reconhecer a prioridade dos ensinamentos do Cristo na minha vida, de entender que o principal aspecto evolutivo é aquele que privilegia os aspectos espirituais em detrimento das necessidades egoístas da matéria. Dentro desse processo, reconheci o Amor Incondicional como a ferramenta necessária para a construção de todos os meus relacionamentos e isso implicou em detonar a prioridade do amor romântico e suas consequências, de exclusivismo, possessividade, etc. que caracteriza a família nuclear.

            Comparado com Paulo estou indo numa estrada paralela, apesar de ambos defendermos os ensinamentos do Cristo. Paulo priorizou a divulgação do Evangelho por várias cidades, até mesmo assumindo uma atitude camaleônica nesse labor. Eu estou priorizando a aplicação do ensinamento cristão e quebrando com firmeza preconceitos anteriores arraigados tanto dentro da minha cabeça como na cultura ao meu redor. Apesar de modesto e de não fazer apologia deste meu comportamento, não procuro ter a atitude camaleônica de Paulo, de parecer ser o que não sou. Mesmo contra os meus interesses instintivos ou contra as perspectivas culturais, procuro mostrar com clareza a quem se aproxima de mim, como funciona a minha mente e em qual base isto ocorre.

            Mesmo com atitudes diferentes quanto ao modo de agir, entendo que estou trabalhando lado a lado com Paulo na questão do servir. A implicação da prática ou do ensinamento do Evangelho, exigem que o discípulo seja um servidor daquele próximo que necessita. Tenho que me espelhar em Paulo na sua determinação de servir ao Cristo, e consequentemente à vontade de Deus, na conquista de qualquer tipo de pessoa que tivesse disposto a ouvi-lo. A minha determinação de construir o Reino de Deus aplicando nas minhas relações o Amor Incondicional, também coloca como a prioridade no bem estar ao próximo, qualquer que seja ele, mesmo que eu sinta ainda as influências diretivas dos instintos biológicos. Por uma questão de justiça, que está intrinsecamente associada ao Amor Incondicional, não posso deixar de servir ao próximo quando os instrumentos e circunstâncias estão ao meu dispor. Ainda me atrapalha em assumir a condição de ser servo são os meus defeitos inatos, como inibição, medo, orgulho, vaidade, que deixam passar oportunidades de me aproximar de quem eu vejo necessidade de ser servido.

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em 11/09/2015 às 23h59
 
10/09/2015 23h59
FOCO DE LUZ (69)

            Em 10-09-15, as 19h, na escola estadual Olda Marinho, foi realizada mais uma reunião da AMA-PM e Projeto Foco de Luz, com a presença das seguintes pessoas: 01. Paulo 02. Edinólia 03. Radha 04. Cíntia 05. Francisco 06. Samir 07. Ivanilson (Balaio) 08. Clarice 09. Nivaldo 10. Netinha 11. Josineide 12. Ezequiel e 13. Luzimar (no final da reunião por motivos de trabalho). Foi lido o preâmbulo espiritual A GRANDE ROMAGEM, uma passagem de Paulo que fala da romagem de Abraão e que todos são convidados por Deus para essa romagem. A ata da reunião anterior foi lida e aprovada sem correções. COMUNICADOS: Francisco informa que organizou os primeiros volantes da Mega-Sena Comunitária, já tem doze apostadores e começará a correr a partir do próximo sábado; diz que a síndica do Shopping de Artesanato Mãos de Arte aceitou a proposta da cessão de uma das salas desocupadas para o funcionamento da AMA-PM e que agora está esperando apenas o aceite da empresa Harmony que é sediada em Fortaleza; informa também sobre a prestação de contas do mês de agosto que apresentou um saldo total de 5.092,01. Ivanilson informa que fez contato com a Federação de Surf e que vai convidar um membro para comparecer na próxima reunião; a Associação se comprometeu com o carro de som, cadeiras, mesas e uma tenda para o torneio que acontecerá no próximo dia 27-09. Edinólia informa que a escola está com necessidade de cobertura de professor em uma sala de aula de 16h30m as 17h30m e que elea e Cíntia assumiram um dia na semana e que falta preencher mais três dias; também informa da existência de computadores sem uso na escola e que precisa ser avaliado a sua funcionalidade e operacionalidade. Ezequiel informa sobre a teimosia de alguns alunos que vão jogar na praia e sugere que iniciemos uma reflexão sobre o que fazer no período do carnaval. Clarice informa que os documentos para levar ao cartório estão na fase de conclusão e que na próxima reunião ela virá com sua irmã que é advogada e que mostrará o resultado final para ser levado ao cartório. Radha informa que o grupo de mulheres não se reuniu como foi planejado, mas irá ver com Graça a possibilidade de já ser iniciado os trabalhos na casa de alguma sócia, na capela ou no Shopping do Artesanato. Paulo diz que mandou confeccionar copos personalizados no valor de 15,00 reais para ser comercializado por 20,00 reais, com o lucro para a Associação; também irá produzir um documento para a direção do HUOL solicitando o comodato de um terreno baldio ao lado do estacionamento na Rua do Motor, para a construção da sede provisória da Associação. As 20h30m sem outros assuntos a reunião foi encerrada. Cíntia conduziu a oração do Pai Nosso e Ezequiel orou por dois amigos da comunidade que estão em dificuldade com a saúde. Posamos todos para a foto oficial e participamos do lanche.

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em 10/09/2015 às 23h59
 
09/09/2015 23h59
CONCUPISCÊNCIA DA CARNE

            Francisco de Assis era muito rigoroso com os desejos da carne, principalmente com o sensualismo, a concupiscência. São Boaventura, no texto da Legenda Maior de São Francisco, escrito nas Fontes Franciscanas e Clarianas, diz o seguinte no capítulo V – A austeridade de vida; e como as criaturas lhe davam conforto:

  1. Portanto, quando o homem de Deus percebeu que a seu exemplo muitos se animavam com espírito fervoroso a carregar a cruz de Cristo, a chegar à palma da vitória pelo cume de invicta virtude. Atendendo, pois, àquela palavra do Apóstolo: os que são de Cristo crucificaram sua carne com os vícios e concupiscências (Gl 5,24), para trazer a armadura da cruz em seu corpo, freava com tanta rigidez de disciplina os apetites dos sentidos que mal comia as coisas necessárias ao sustento da natureza. De fato, dizia que era difícil satisfazer a necessidade do corpo e não ceder a inclinação dos sentidos. Por causa disto, no tempo da saúde, mal e raramente admitia alimentos cosidos e, quando os admitia, ou lhes ajuntava cinza ou tornava insípido o sabor do condimento pela mistura de água. Que direi a respeito de beber vinho, quando até água, quando se queimava com o ardor da sede, mal bebia à saciedade? Inventava meios de abstinência mais rígida e a cada dia crescia no exercício dela; embora já atingisse o ápice da perfeição, como quem está sempre iniciando, inovava alguma coisa para punir a concupiscência da carne com tormentos. – Ao sair, por causa da palavra do Evangelho, conformava-se aos que o acolhiam na qualidade dos alimentos; quando, porém, retornava a casa, observava rigorosamente a sobriedade da abstinência. E assim, tornando-se austero consigo mesmo, humano para com o próximo, submisso em tudo ao Evangelho de Cristo, não só abstendo-se, mas também comendo, oferecia o exemplo de edificação. – A terra nua era o leito para seu corpo cansado, e muitas vezes dormia sentado, colocando à cabeça um pedaço de madeira ou pedra; contente com uma túnica pequena e pobre, servia ao Senhor na nudez e no frio (2Cor 11,27).
  2. Interrogado uma vez como podia com veste tão fina proteger-se do rigor do frio do inverno, respondeu no fervor do espírito: “Se fôssemos tocados interiormente no desejo pela chama da pátria do alto, suportaríamos facilmente este frio exterior”. Detestava a moleza da veste, amava a aspereza, afirmando que por causa disto João Batista foi louvado pela palavra divina. Se por acaso sentia maciez numa túnica dada a ele, tecia-a interiormente com cordinhas, porque dizia que a moleza das vestes, segundo a palavra da Verdade, deve ser procurada não nas cabanas dos pobres, mas nos palácios dos príncipes. Aprendera por experiência própria que os demônios temem a aspereza, mas se animam a tentar mais fortemente com as coisas deliciosas e macias. – Donde, numa noite, como tivesse um travesseiro de penas colocado à cabeça por causa da enfermidade da cabeça e dos olhos, fora do seu habitual costume, o demônio entrou naquele travesseiro, perturbou-o e inquietou-o até à hora das Matinas, afastando-o de muitos modos do empenho da santa oração, até que ele, chamando um companheiro, mandou que o travesseiro fosse levado com os demônios para fora da cela. E, saindo o irmão com o travesseiro da cela, perdeu as forças e o movimento de todos os membros, até que, à voz do santo pai que em espírito sabia o que acontecia, lhe foi restituído plenamente o primitivo vigor do coração e do corpo.

Eis como pensava Francisco em relação aos desejos e necessidades do corpo. Tinha o corpo como inimigo. Tenho um pensamento diferente, apesar de sentir que os desejos do corpo devem ser controlados para evitar o exagero. Sofro isso com relação à alimentação, sempre estou exagerando pela quantidade em obediência aos desejos da carne. Mas, por outro lado, eu considero o corpo como um bem precioso que o Pai colocou sob minha responsabilidade e não posso tortura-lo por ele expressar seus desejos e querer controlar os interesses do espírito. Tenho que aprender a controla-lo sem tortura-lo, e talvez essa seja uma tarefa bem mais difícil.

 

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em 09/09/2015 às 23h59
 
08/09/2015 23h59
FASCINAÇÃO

            No estudo espiritual que realizo nas terças feiras na AMRN, o tema desenvolvido foi a obsessão, entre elas a fascinação. Apesar de ter sido o leitor do texto, fiquei distante da discussão durante todo o tempo, fazendo reflexões se aquilo que estava sendo dito podia se aplicar a mim. Será que todo o pensamento que tenho em favor do Amor Incondicional não passa de uma fascinação? Será que durante todo esse tempo que dura cerca de 30 anos, eu tenha me debatido com uma ideia que não é minha e que não consigo ver a falsidade de seus argumentos? Que a prioridade do Amor Incondicional sobre o amor romântico que constrói as famílias nucleares, sofre um vício na sua base que é a introdução da sexualidade onde não deveria acontecer? Que a minha mudança de trajetória de vida, em busca de uma família ampliada, de uma família universal como base do Reino de Deus, é apenas uma quimera, uma ilusão, uma fascinação?

            Vou reproduzir o texto que foi lido nesta reunião para que meus leitores possam participar de minhas preocupações, e se for conveniente colocar para mim suas opiniões, o que para mim seria muito grato.

            239. A fascinação tem consequências muito mais graves que a obsessão simples. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio, relativamente às comunicações. O médium fascinado não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega, que o impede de ver o embuste e de compreender o absurdo do que escreve, ainda quando esse absurdo salte aos olhos de toda gente. A ilusão pode mesmo ir até ao ponto de o fazer achar sublime a linguagem mais ridícula. Fora erro acreditar que a este gênero de obsessão só estão sujeitas as pessoas simples, ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham isentos nem os homens de mais espírito, os mais instruídos e os mais inteligentes sob outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma causa estranha, cuja influência eles sofrem.

            Já dissemos que muito mais graves são as consequências da fascinação. Efetivamente, graças à ilusão que dela decorre, o Espírito conduz o indivíduo de quem ele chegou a apoderar-se, como faria com um cego, e pode levá-lo a aceitar as doutrinas mais estranhas, as teorias mais falsas, como se fossem a única expressão da verdade. Ainda mais, pode levá-lo a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas.

            Compreende-se facilmente toda a diferença que existe entre a obsessão simples e a fascinação; compreende-se também que os espíritos que produzem esses dois efeitos devem diferir de caráter. Na primeira, o Espírito que se agarra à pessoa não passa de um importuno pela sua tenacidade e de quem aquela se impacienta por desembaraçar-se. Na segunda, a coisa é muito diversa. Para chegar a tais fins, preciso é que o Espírito seja destro, ardiloso e profundamente hipócrita, porquanto não pode operar a mudança e fazer-se acolhido, senão por meio da máscara que toma e de um falso aspecto de virtude. Os grandes termos – caridade, humildade, amor de Deus – lhe servem como que de carta de crédito, porém de tudo isso, deixa passar sinais de inferioridade, que só o fascinado é incapaz de perceber. Por isso mesmo, que o fascinador mais teme são as pessoas que veem claro. Daí consistir a sua tática, quase sempre, em inspirar ao seu intérprete o afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos. Por esse meio, evitando toda contradição, fica certo de ter razão sempre. (Livro dos Médiuns – Allan Kardec)

            São estas lições desse texto que merece uma profunda reflexão de minha parte, pois estou incluído naqueles que defendem uma ideia que para os outros parece absurda. Será que os meus argumentos estão contaminados por uma falsa verdade e o meu intelecto não consegue distinguir? Essa é uma dúvida que, colocando o meu intelecto como vítima, fica claro que ele não pode decidir. Por isso tenho que submeter esses meus pensamentos ao público, de colocar essa pretensa verdade que adquiri sobre a mesa, para ver se realmente ela ilumina ou traz mais confusão e discórdia, onde deveria existir concórdia e compreensão.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 08/09/2015 às 23h59
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