Vou reproduzir na íntegra o debate ocorrido na Universidade de Amherst entre o professor Dinesh D’Sousa e um aluno dessa escola, por trazer informações que são de interesse deste diário.
- Boa noite Sr. D’Souza. Meu nome é T.R. Eu sou calouro aqui e estou no grupo de estudos políticos que é um dos grupos que organizou esse evento. Queremos agradecer novamente por vir aqui. Após a segunda guerra mundial, a classe média branca alcançou alguma prosperidade como resultado de políticas como a lei G.I. (lei que concedia benefícios a veteranos de guerra). E, bem... afro-americanos que estavam voltando da guerra não tiveram acesso a esses benefícios simplesmente por serem negros. O departamento de estado americano negou o acesso a esses benefícios simplesmente por causa de sua raça. Você está correto ao dizer que ninguém hoje em dia precisa lidar com esse tipo de problema em particular. Dito isso, entretanto, houve uma desproporção de riqueza como resultado desses programas que persistem até hoje. Quando penso sobre o seu exemplo de um indivíduo que trabalha como zelador e vê pessoas jantando em cafés luxuosos no caminho de volta do trabalho... eu gostaria de perguntar se você acredita que essa indignação, dado essas circunstâncias, talvez seja justificada? Simplesmente porque, essas pessoas vem sendo sistematicamente impedidas ao longo da história americana? Não terminando após o fim da escravidão, não terminando após o fim das leis de segregação, não terminando, alguns diriam ainda hoje quando ainda vemos discriminação institucional. Tudo isso para dizer que.. Você descobre que durante a era da guerra fria houve um grande boom de prosperidade entre a classe média branca, e o mesmo simplesmente não aconteceu para os afro americanos. Não por uma questão de mérito, mas porque eles foram discriminados. Essa foi a minha primeira pergunta. E se você não se importa, eu gostaria de fazer outra sobre o “inimigo interno”. Se você olhar nas páginas 48 e 49 do relatório da comissão sobre o 11 de setembro, você descobre que o motivo de porque existe essa torrente de antiamericanismo no mundo islâmico. Não tem nada a ver com homossexualidade e sim porque os EUA tem estado lá.. na Arábia Saudita, com bases militares na península arábica desde a primeira guerra do golfo. Nós instituímos sansões contra o povo iraquiano o que provocou a morte de milhares de pessoas e crianças! Antes da invasão americana do Iraque as pessoas estavam iradas conosco por termos apoiado tiranos por todo oriente médio, como nosso suporte a Hosni Mubarak no Egito. Você não acha que essa seria uma explicação mais plausível de porque existe tanto anti-americanismo no oriente médio? Obrigado.
- Primeiramente... Iraque... Eu acreditava, não tinha nada a ver com o 11 de setembro. Quando Bush decidiu invadir o Iraque, havia um coro que dizia: “Os iraquianos não tem nada a ver com o atentado. Por que você está invadindo o Iraque?” Mas agora aparentemente, eu escuto você dizer que tudo é um efeito colateral de sanções que datam da primeira guerra do golfo. Criaram de fato uma militância islâmica no Iraque e francamente, eu acho que você está enganado. Eu acredito com a visão de que o Iraque não tinha nada a ver com o 11 de setembro. Então, aqui é onde quero chegar, eu não quero exatamente... Eu li esse relatório de ponta a ponta, incluindo as páginas 48 e 49. O próprio Bin Laden enviou uma carta aberta aos EUA datada de 2002. Você descobriria melhor as motivações de Bin Laden se lesse... o Bin Laden! Do que lendo o relatório oficial. Logo após o atentado, Bush chamou os terroristas de “covardes”. Eles podem ter sido muitas coisas, mas não isso. Com muita frequência, se você quer entender pessoas de outras culturas, de ouvidos a ELES. Não dê ouvidos apenas a seus próprios preconceitos. Eu concordo que talvez seja desconfortável para você pensar que os radicais mulçumanos estejam aborrecidos não meramente com a presença de soldados americanos na Arábia Saudita, mas também com a massiva expansão da cultura pop americana para o resto do mundo. Nesse exato momento há uma ideia poderosa se espalhando pela Ásia, África e América do Sul que diz: modernização Sim, ocidentalização Não. Isso não são apenas muçulmanos. São hindus, confucianos, e são todos pessoas dizendo: queremos modernidade, tecnologia, celulares, Ipads, mas... Há muitas coisas da cultura ocidental que NÃO gostamos. Quando as olimpíadas de inverno de Sochi (Rússia) estavam rolando recentemente, houve uma declaração atribuída a Putin onde ele teria dito: Gays são bem vindos, mas não ousem tocar nas nossa crianças. Eu mencionei isso apenas para sugerir que isso é uma atitude amplamente difundida em culturas não ocidentais. Você pode não gostar, mas faz parte da educação, estar disposto a ouvir coisas incômodas para tentar entender o que fazer a respeito. Então, o pior tipo de etnocentrismo é projetar suas próprias fantasias a respeito de uma cultura sobre ela. Então, você não quer que os EUA invadam o Iraque? Não finja que é isso que incomoda os muçulmanos, isso incomoda VOCÊ! Então, proteste o quanto quiser, você não gosta dos acordos mundiais de comércio? Vá protestar contra eles... Mas você não vai ver muitos chineses e indianos protestando! Exceto talvez Aaron Daddy Roy! Mas a verdade é que a maioria dos chineses e indianos adoram companhias estrangeiras! E formam filas enormes quando a Nike ou a Oracle abrem vagas! E os indianos estudando em centros de tecnologia correm atrás dessas empresas para entregar currículos. Então, de novo, os preconceitos da esquerda americana nem sempre correspondem ao conceito de bem estar das pessoas no terceiro mundo. E isso se aplica aos muçulmanos também. Agora me permita responder a sua outra pergunta. Que era? Me lembre...
- Err... bem... a sua primeira pergunta... Eu só queria dizer em resposta a segunda, eu não estava falando da globalização do ponto de vista das corporações. Eu estava falando especificamente de ações militares. Com respeito a primeira pergunta, eu estava dizendo que após a segunda guerra mundial houveram benefícios disponíveis aos veteranos brancos que não foram...
- Ah... Lembrei! Você estava falando dos efeitos presentes de vantagens do passado. Certo?
- Correto.
- Ok. Então... Deixe-me perguntar... Estamos numa faculdade excelente e vale a pena discutir essas questões. Existem americanos cujos os benefícios presentes, são originados de vantagens passadas. Aliás, essa vantagem passada que frequentemente se assume começar com o “homem branco”. Na realidade se estende até o começo. Os índios americanos que estavam aqui primeiro. Certo? Tiveram uma enorme vantagem. Nós presumimos que eles eram donos do país. Aliás, vamos pausar por um instante... Como se faz para ser dono de um país? Se tivéssemos Caim e Abel, onde Abel é um pastor e Caim um agricultor. E Caim diz: “Eu irei colocar uma cerca ao redor do mundo”. “Eu sou o dono”. “Porque eu sou o único cara aqui”. “Você é um pastor”. “E os meus descendentes irão herdar a terra” E qualquer um que apareça será um usurpador. Rousseau uma vez disse que o primeiro cara que apareceu levantando uma cerca e alegando ser o dono daquele pedaço é necessariamente um golpista. Então... os índios americanos vieram, eles por acaso foram os primeiros? Eles vieram em formas de tribos. A tribo Navajo conseguiu a terra tomando-a da tribo Hopi, que havia tomado da tribo Pueblo. Sua lei da selva se deu na base da conquista. Foi assim que eles conseguiram a terra. Houve uma grande batalha nos “Black Hills” que mostro no filme. A tribo Sioux que conquistou as colinas, a tomou dos Cheyenne. Então eles dizem: “Nos devolvam nossa terra”. E você vai devolvê-la para os Cheyenne? “Ohhh não... ela é nossa!” Tem certeza? Como pode ela ser sua para sempre? Então, o que estou tentando dizer é: a história é muito complicada. Deixe-me usar a Índia como exemplo, para que possamos olhar o problema de forma mais genérica. Ok? A Índia foi invadida pelos britânicos, mas antes disso pelos afegãos e pelos Persas, e pelos Mongóis, então temos essas sucessivas invasões... Certo? Você realmente acredita num princípio de justiça social (hoje em dia), que diga de maneira global... Vamos olhar para isso como um princípio global de justiça. Vamos descobrir que ancestrais fizeram o que contra os ancestrais de quem. E iremos tomar de volta, bens que foram ilicitamente tomados no começo para os donos originais. Você acredita que essa seja uma maneira viável de organizar a sociedade? Você acredita... deixe-me fazer uma pergunta direta... ser um beneficiário de um “privilégio branco” por estudar aqui em Amherst? Sim ou não?
- Bem... sim
Pausa
- Se você é... deixe-me aprofundar minha pergunta.
- Ok, pera... Eu não disse isso apenas para me enaltecer ou algo do tipo.
- Ok, prossiga.
- Eu realmente tento não ser... Eu só respondi porque você me perguntou. Eu enxergo o reconhecimento dos próprios privilégios como uma empatia pela mudança das coisas. Eu não simplesmente digo “eu sou privilegiado por ser branco”. Eu tento ajudar aqueles que não tenham se beneficiado desse privilégio.
- Como? Ok... Vamos insistir nisso por um instante. Você diz, isso é realmente importante porque existe uma certa psicologia nisso.
- Bem... Veja... Eu vou responder sua pergunta. Eu realmente não estou tentando te atacar ou tentando te provocar. Eu apenas acredito que a essência desse discurso tenta cercar uma espécie de hipocrisia. Talvez você esteja tentando demonstrar que eu sou um hipócrita por dizer que sou privilegiado e não fazer nada a respeito. Mas eu vou recuar um pouco e dizer: o maior dos vícios é a crueldade, e eu... eu não quero ser hipócrita, então, respondendo sua pergunta... Eu comecei no ensino médio... Vocês querem mesmo ouvir isso?
- Sim! Eduque-o! (pessoa da plateia)
- Deixe-me dizer onde quero chegar com isso...
- (reclamações da plateia)
- Deixe-me concluir... Não é como se eu tivesse escolhido alguém específico para ajudar com base na cor da pele. Eu dei algumas aulas de reforço para estudantes pobres durante o ensino médio. Acho que isso seria uma resposta direta para sua pergunta. Muitas vezes, diferentes oportunidades de educação são fundadas em sistemas econômicos desiguais, sistemas econômicos que produzem desigualdades de renda. Então talvez esse tenha sido um jeito de combater isso num nível individual.
- Tudo bem... Onde eu quero chegar com isso? Um dos benefícios de uma boa educação é ter a oportunidade de ler pessoas como Nietzsche, é começar a entender o quão profundo é o desejo humano por auto justificação moral. Auto justificação moral. Agora... Você disse... Eu não disse isso... VOCÊ disse isso! “Eu sou beneficiário de um privilégio branco ilícito”. Ok?
- Ilícito?
- Não seria o privilégio dos brancos ilícito? É merecido?
- Errr... bem... No sistema atual... há legalidade.
- Por ilícito eu quero dizer imoral, privilégio branco imoral, ok? Então se eu dissesse a você... Há certamente muitas merecedoras minorias que gostariam de estudar em Amherst, mas que herdaram desvantagens da história americana, portanto, uma vez que você reconheceu ser beneficiário de um privilégio ilegítimo, você estaria disposto a abandonar, voluntariamente, colocando suas atitudes morais de acordo com sua virtude autoproclamada? E dar sua cadeira... SUA cadeira, não a minha! Eu sei que você está disposto a ser supergeneroso a respeito das vantagens alheias e ser a favor de cotas que tirarão a cadeira de outros garotos brancos tentando entrar em Amherst, para abrir espaço para as minorias. Mas eu não estou falando sobre você exercer sua virtude nos outros. E sim sobre você exercer suas virtudes em você mesmo. Você está disposto a abrir mão do seu lugar ilegítimo nessa faculdade, que de acordo com seu discurso, você não merece está aqui em Amherst, para um membro de uma minoria em desvantagem? Sim, ou Não?
- Deixe começar dizendo de como você foi parar em ações afirmativas.
- Seguindo a lógica do seu raciocínio.
- Eu nunca disse acreditar que ações afirmativas baseadas em raça sejam a melhor forma de corrigir o sistema de injustiça que...
- Por que você não pratica, saindo fora? Por que você não vai até a secretaria amanhã, dizer que você está se retirando da Amherst...
- (Barulho na sala)
- Escutem... Ok, vá em frente...
- Eu quero dizer, eu só continuo respondendo, porque você continua insistindo. Eu quero ouvir as perguntas de outras pessoas, mas em resposta a isso o que você está fazendo é basicamente querendo mostrar que todo mundo aqui é hipócrita. Que estamos todos com culpa no cartório nisso. Nenhum de nós é 100% moralmente consistente. Eu não disse absolutamente nada sobre ações afirmativas. Eu acredito que cada um nessa sala é hipócrita em algum nível. Isso não significa que não deveríamos lutar por um sistema mais justo e igualitário. Houve sim, momentos na minha vida em que eu abri mão de privilégios que eu recebi simplesmente porque eu percebi que era a coisa certa a se fazer. Ao mesmo tempo eu acredito que todos precisamos sobreviver e que nós entendemos que existimos sob um sistema imperfeito e que deveríamos conduzir nossos negócios de maneira a atender não só nossos padrões morais, mas pelos padrões impostos pelo sistema em que vivemos. Eu acredito que devemos ser generosos e nos esforçarmos para não sermos hipócritas, fazer nosso melhor, mas isso não significa que devemos jogar fora a ideia de que não deveríamos ter esses padrões. Essa seria minha resposta a você, mas eu ainda estou esperando uma resposta para a minha pergunta... a respeito da desigualdade que eu falei sobre... envolvendo o departamento de Estado. Ou seja, uma riqueza que foi distribuída, e é riqueza documentada. Assim como a riqueza produzida, ou roubada, por meio da escravidão também está documentada. Nós temos números demonstrando exatamente quanto foi tomado. Dinheiro que de certa forma, poderia ser devolvido. Mas se você diz que é impossível devolver esse dinheiro, porque seria muito difícil rastrear, teríamos que dar dinheiro a tribos africanas, e para linhagens que não existem mais, sem problemas, mas precisamos entender que ainda não resolvemos a injustiça que foi perpetrada, e se admitirmos que ninguém... que ninguém tem direito a absolutamente tudo que nossos ancestrais roubaram, então também teremos que admitir que atualmente existem pessoas que se beneficiam do fato de seus avós e bisavós lucraram por meio desse sistema imoral. E a maneira de lidar com isso é oferecer uma rede de segurança social que garanta que todos possam prosperar. Eu termino aqui.
- Sim... Bem... O núcleo do sistema americano, isso responde à sua pergunta diretamente. É que... O que podemos fazer a respeito dos desvios éticos do passado? E aqui temos duas opções. Há duas opções. A primeira opção é.... Estabelecermos direitos iguais perante a lei. Essa foi a solução do movimento dos direitos civis. Havia discriminação baseada na raça. Havia hierarquia racial... Vamos parar! Vamos tratar as pessoas de acordo com o conteúdo do seu caráter... Direitos iguais perante a lei. Direitos iguais perante a lei. A outra opção, a que você está defendendo, você poderia chama-la essencialmente de: “Vamos corrigir em nome da história.” “Vamos corrigir em nome da história”. Vamos tentar descobrir quem são as pessoas sob posse de bens roubados e retorná-los. Agora, a primeira coisa que estou tentando dizer é que esse é um princípio profundamente controverso, porque na verdade envolve destruir a liberdade de uma sociedade livre. Você teria que (sendo franco), se fôssemos levar isso a sério, ir até as casas das pessoas e tomar suas coisas. Tomar seus carros, seus móveis... Você não parece ter colhões pra fazer isso. Você não tem a autoconfiança moral para fazer você mesmo! Talvez, se eu estivesse advogando um princípio de justiça social, e querendo aplica-lo a toda a sociedade... Antes de persuadir todo mundo... Digamos que eu seja um cristão e acredito que todos deveriam dar 10% do seu dinheiro para ajudar os pobres. E digo: “Querem saber? A Bíblia diz isso... a Bíblia diz aquilo” ... “Todos deveriam dar 10% do seu dinheiro para ajudar os pobres”. E alguém me pergunta: “Dinesh, você está dando 10% do seu dinheiro?”. E eu respondo “Na verdade, não...”. “Mas eu dei umas aulas de reforço...”. E você responde: “Espera aí, você não está defendendo isso?”. “Você não está dizendo que existe um dever moral em fazer isso?”. “Por que você não faz isso?”. “Antes de nos convencer, faça você mesmo.”. E você responde: “Eu não acho que deva fazer isso porque a sociedade é muito complexa, então não preciso fazer a menos que todo mundo faça.”. Não! Se você acredita nisso, que você faça isso. Uma vez que você tenha feito, talvez nos impressione e talvez possa nos convencer de que nossa riqueza também é indevida. Mas você não consegue fazer isso... E não estou tentando acusar todo mundo de hipocrisia, só você! Porque... porque... Foi você... foi você que disse: “Eu sou o beneficiário de um privilégio ilegítimo”. Então você seria um excelente ponto de partida, porque eu estou perguntando: Se você reconhece ter a posse de bens roubados, por que VOCÊ não está disposto a devolvê-los? Então, é fundamentalmente assim que enxergo sua caridade, como aquela piada do cara na guerra civil. “Estou muito feliz em sacrificar...”. “Eu sacrifiquei três primos pela guerra e estou pronto para sacrificar meu cunhado.” Essa é basicamente a sua ética. Você quer uma justiça social paga pelos outros, mas você não está disposto a pagar, esse é o problema! E esse é o problema dos esquerdistas que marcham em nome da justiça social enquanto protegem seus próprios privilégios... Lembra do que você disse? “Todos nós precisamos sobreviver”. É sério? Você precisa está em Amherst pra “sobreviver”? Você não precisa estar na Amherst pra sobreviver! Você precisa estar em Amherst para ter um benefício! Você precisa estar em Amherst porque aqui você está tendo oportunidades que a maioria não tem. Então, se você diz que acredita em oportunidades iguais, você é um hipócrita! Porque você está aproveitando uma oportunidade indisponível para outras pessoas. Mas...Para você, essa hipocrisia é totalmente justificada porque você está “militando“ em nome dos pobres. Mas se você é realmente contra “privilégios”, esta faculdade é um privilégio! Então há uma evidente hipocrisia, e você nunca vira seu espelho moral para si mesmo e diz: “O que eu estou fazendo a respeito?”. Esse é o meu ponto. Para você, a sociedade tem que agir antes de você para forçar o SEU código moral. Mais algumas perguntas? ...
Apesar do aluno ter feito perguntas interessantes, o professor foi brilhante em sua conclusão de que devemos praticar aquilo que defendemos, sob pena de não termos autoridade para orientar tal comportamento a ninguém. Isso se aplica bem ao que defendo, na construção do Reino de Deus baseado no amor inclusivo do Amor Incondicional. Com esse pensamento eu passo a ser crítico do amor romântico, mas tenho autoridade de fazer a crítica, pois abri mão dos meus privilégios da família nuclear, para ficar sob as consequências negativas da família ampliada, universal, onde nem mesmo as minhas companheiras mais próximas me entendem e tendem, uma a uma se afastarem de mim, quando percebem em algum momento que seus interesses estão contrariados no mesmo tempo que eu exercito os meus direitos.
Portanto, a exortação do professor para que pratiquemos aquilo que defendemos veio corroborar perfeitamente com aquilo que penso e procuro fazer.
A reinserção social quando aplicada em psiquiatria, tem o objetivo de dar uma nova oportunidade ao paciente após este sofrer os efeitos de um transtorno ou doença psíquica, geralmente obrigando à hospitalização e afastamento do convívio social durante um período variável de tempo, de acordo com o tipo de diagnóstico e circunstâncias sociais e biológicas do indivíduo. As vezes o termo é mal colocado, pois alguns pacientes vivem o tempo todo afastado do convívio social, e portanto precisam de uma “inserção” social que nunca tiveram.
A reinserção social se refere ao processo que integra o paciente novamente ao convívio social, com a consciência de sua doença e a necessidade de permanecer fazendo o uso frequente das indicações terapêuticas, farmacológicas, psicoterapêuticas, laborterápicas, etc.
Como se trata de um paciente que tem um transtorno e necessita de um diagnóstico correto para ser indicado uma terapia adequada ao seu caso, o médico psiquiatra é o profissional capacitado para realizar esse primeiro passo. Tem o dever de fazer o diagnóstico correto e indicar e conduzir a terapia mais eficaz.
Após o diagnóstico, o psiquiatra decidirá pela condução mais apropriada do caso, o tratamento a nível domiciliar ou institucional. Se institucional, qual seria a instituição que melhor atenderia esse paciente, Ambulatório Especializado, um CAPS, Residência Terapêutica, Comunidade Terapêutica, Clínica especializada, Hospital Geral ou Hospital Especializado em psiquiatria, etc. Em qualquer uma dessas instituições iremos encontrar formas de acolher o paciente e conduzir o tratamento.
O psiquiatra precisa conhecer esses recursos institucionais e a missão de cada uma para fazer uma boa indicação.
O Ambulatório especializado em psiquiatria deveria ser a indicação mais frequente, pois faria a condução de um tratamento sem retirar o paciente do seu contexto, das suas relações sociais (profissionais e familiares, principalmente). O psiquiatra conduziria necessariamente o tratamento farmacológico, e a psicoterapia poderia ser dividida com o profissional da psicologia.
A hospitalização em Hospital Geral ou Especializado seria indicado para pacientes mais comprometidos tanto biológica ou psicologicamente. Caso o paciente apresente uma demanda biológica mais evidente, o caso seria direcionado para o Hospital Geral, onde as diversas clínicas poderiam dar um melhor suporte. Se a demanda psicológica for a mais evidente, com desorganização de pensamento, perda de senso crítico, impulsividade, agressividade, agitação psicomotora, tudo que implica na desorganização do próprio Hospital Geral, esse paciente deverá ser encaminhado para o Hospital Especializado em Psiquiatria, onde além do Psiquiatria existe toda uma rede de profissionais psi interagindo no sentido de tirar o paciente no menor tempo possível, geralmente em torno de 30 dias, da condição aguda em que ele se encontrava e devolvê-lo de imediato para a comunidade.
Esta é a missão do Hospital, receber o paciente em crise em devolvê-lo à comunidade no menor tempo possível. O processo de reinserção social não pode acontecer dentro da instituição hospitalar, pois isso impediria um adequado fluxo de entrada de pacientes em surto e que necessitam do suporte do Hospital. O processo de reinserção social deverá ser conduzido por outra instituição.
Com essa compreensão técnica surgem os diversos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), com o objetivo de promover a importante função de reinserção social, que implica numa atuação mais constante de toda a equipe multiprofissional.
A reinserção social deve integrar o paciente que sofreu um transtorno mental grave, que tem o diagnóstico de uma doença psiquiátrica que promoveu uma quebra da normalidade do seu psiquismo e teve que ser afastado do convívio social, para a sua própria proteção e de terceiros, como conduzir a terapêutica adequada que geralmente não é reconhecida como necessária, principalmente a terapêutica farmacológica, a única capaz de ter retirado os grilhões dos pacientes mentais e ter feito a primeira desospitalização no passado.
A reinserção social só acontece quando o paciente adquire a consciência da sua doença ou pelo menos aceita que deve fazer algo para ser melhor aceito pela sociedade e se sentir integrado apesar de seus problemas. O papel do hospital nesse curto período que o paciente necessita permanecer em suas dependências, é controlar farmacologicamente os desequilíbrios bioquímicos que justificam o surto abstêmico, psicótico ou neurótico, fazê-lo entender que após a alta hospitalar é necessário uma admissão em serviços como o CAPS.
O técnico que defende a extinção de qualquer um desses serviços, mostra que tem uma compreensão diferente dessa que foi exposta aqui. Como a equipe multiprofissional deve atuar em sintonia para que o trabalho com o paciente seja mais eficaz e as reivindicações ao poder público federal, estadual e municipal sejam mais contundentes, e a explicação dos transtornos mentais e suas diversas modalidades de tratamento dentro da comunidade, tanto para os pacientes, familiares, técnicos e gestores sejam mais coerentes, a linha de pensamento não deve ser quebrada ou bifurcada. O viés ideológico não deve intervir ou comprometer a condução técnica apropriada, sob pena de ver todo o sistema ruir e o devido tratamento ao paciente que cada técnico em particular tem com sua cota de responsabilidade, ficar inalcançável.
Neste dia (sexta-feira), que antecipa os festejos de Momo, o Hospital Psiquiátrico Severino Lopes promoveu entre os pacientes e técnicos um animado bloco carnavalesco que percorreu as ruas das imediações da instituição. As fotos desse evento foram divulgadas em diversos grupos do whatsapp, entre eles o grupo do Hospital Psiquiátrico João Machado, composto de técnicos das diversas formações.
Um dos comentários sobre essa atividade, postado por uma amiga muito querida, despertou minha atenção e curiosidade e tive a necessidade de enviar uma resposta. Coloco em seguida os comentários pertinentes evitando nomear a(s) pessoa(s) para não individualizar uma questão que entendo ser ideológica.
Comentário inicial: Em relação ao carnaval de rua do Hospital Psiquiátrico Severino Lopes é bom esclarecer que eles não tem por objetivo contribuir com a reinserção social das pessoas com transtornos mentais e sim promover a instituição.
Comentário seguinte (mesma pessoa): Instituição essa que nem deveria existir...
Minha resposta: Eita! Que comentário preconceituoso contra o Hospital Psiquiátrico Severino Lopes... Não deveria nem existir?!??? E o nosso Hospital Psiquiátrico João Machado, também não deve existir? Fiquei confuso... Então este grupo não é favorável aos hospitais psiquiátricos? Espero que tenha sido um engano da nobre colega, pois caso contrário, coitado do Hospital Psiquiátrico João Machado, pois quem deveria lutar por ele quer sua extinção, junto com os congêneres.
Réplica a: Nosso Hospital... como bem prega a Reforma... Também não deveria existir! Enquanto isso tentamos escapar do modelo asilar e manicomial... A luta maior não é por instituições, nem categoria... e sim por modelo de assistência, visão de loucura, bem como seu modo de tratamento... e acima de tudo pelo paciente!
Réplica b: Meu querido Dr. Rodrigues, defendo o tratamento sem privação de liberdade. Meu posicionamento é contra o modelo e não contra nenhum hospital em particular.
Réplica c: Nossa luta deve ser pela garantia de direitos dos nossos usuários e é pensando nisso que cotidianamente tento contribuir para tentar tornar o Hospital Psiquiátrico João Machado mais terapêutico.
Réplica d: Nenhum modelo de segregação devia existir. Nenhum modelo que sugira ao familiar afastar-se ao menos por quinze dias dos seus pacientes deveria existir, nenhum modelo que usa contensão física como punição deveria existir. Manicômios mentais ou institucionais não deveriam existir. A Organização Mundial de Saúde, o Ministério da Saúde e todos nós lutamos por isso.
Réplica e: Sem querer ser contra pessoas e com todo o respeito aos que pensam diferente.
Réplica f: Meu querido Dr. Rodrigues, caso você precise de um internamento psiquiátrico, você escolheria um estilo Hospital Psiquiátrico João Machado, Hospital Geral, ou um Centro de Atenção Psicossocial? Eu nunca gostaria de me internar no Hospital Psiquiátrico João Machado.
Réplica g: Concordo.
Réplica h: O mínimo que podíamos fazer por esta casa e para quem dela precisa, é transformá-la num lindo Centro Cultural, com espaço para todas as artes.
Réplica i: (sinal de positivo com o polegar.)
Este parece ser o clima ideológico que prevalece no Hospital Psiquiátrico João Machado entre os diversos profissionais. Tenho essa impressão, pois não li nenhuma mensagem corroborando o meu pensamento. Se essa posição ideológica hospitalofóbica não for a prevalente, então as demais pessoas se encontram intimidadas para deixar uma opinião contrária. Não quero dizer que esses técnicos são pessoas de má índole por pensarem dessa forma, sobre uma instituição onde eles trabalham e sabem quanto benefício presta aos pacientes que tem a sorte de serem acolhidos por ele. Digo sorte porque, a maioria dos pacientes que procuram internação não conseguem, e muitos tem uma indicação clara, as vezes com encaminhamentos de colegas justificando o motivo da internação. Algumas vezes o paciente retorna para casa, pois recebe a resposta que não tem vaga para internação, e na sua crise causa verdadeira tragédia em sua vida. Esse foi um dos casos, uma pessoa foi medicada e foi encaminhada para sua residência. Lá chegando matou os filhos e a comunidade linchou a sua vida...
Enfim, percebo o quão é necessário uma atitude formativa e informativa quanto a natureza da doença e o papel das instituições. Sinto o peso dessa responsabilidade, por eu atuar na academia e a universidade ter a obrigação de encontrar a verdade e a divulgar, sem nenhum viés ideológico, privilegiando o máximo a tecnologia, a ciência e, sobretudo, o bom senso e a coerência.
Irei desenvolver uma reestruturação cognitiva no pensamento ideológico que distorce a natureza da doença e consequentemente a forma de abordar o paciente e seus familiares, prevenir e tratar a doença dentro dos diversos transtornos mentais.
Em 04-02-16, as 19h foram iniciadas as atividades da AMA-PM e Projeto Foco de Luz. Na primeira meia hora foi feito os contatos individuais com os interessados por alguma demanda particular. Em seguida foi iniciada a reunião com a presença das seguintes pessoas: 01. Edinólia 02. Paulo 03. Luciana 04. Francisco 05. Damares 06. Costa 07. Carlos Eduardo 08. Josineide 09. Nivaldo 10. Luci 11. Sued 12. Ana Paula e 13. Nazareno. Foi lido o preâmbulo espiritual com o título “Esforço e oração” a partir de uma frase de Mateus (14:23). A ata da reunião anterior foi lida e aprovada apenas com a correção do nome da filha de Joseane: onde se lê Andrieli Micaeli Oliveira da Silva, leia-se Andrieli Micaeli Oliveira de Pontes. Paulo disse das reivindicações que fez às instituições públicas para benefício da comunidade e elogiou o filme “Os dez mandamentos” patrocinado por uma ação entre amigos ligados à espiritualidade. Lembrou que o lanche deve ser esclarecido em ata de quem será a responsabilidade a cada semana. Hoje ele trouxe e Damares colaborou com um bolo. Na próxima 5ª feira ficou sob a responsabilidade de Damares. Também informou que as atividades da Academia Pré-Militar já foram iniciadas no último sábado domingo como havia sido planejado. Foi avaliado o período de carnaval, e decidido que a quinta feira teria reunião normal. Depois do carnaval também iniciará as projeções de filmes na praça Maria Cerzideira e as aulas de artes marciais. Edinólia falou da importância de ser acompanhado o currículo escolar dos alunos necessitados de algum apoio da Associação. Nivaldo lembra do protocolo que é necessário cumprir junto aos órgãos públicos para trazer os benefícios para a comunidade. Disse que providenciou uma torneira, cadeado e uma caixa de proteção para não ocorrer desperdício de agua na praça Maria Cerzideira. Joseane cobra sobre o encaminhamento feito para as crianças que não conseguiram vagas nas creches municipais e ficou dito que Balaio e Ronnan estão encarregados de dar seguimento a essa reivindicação, mas que não compareceram hoje a reunião. Sued informa que na sexta feira dia 12-02, sexta-feira, será realizada uma atividade artística no Espaço Cultural, localizado na subida da ladeira do sol, a partir das 20, com concurso de karaokê à meia noite. Costa informa que estará promovendo no Dia da Mulher, 08-03, na Praça dos Pescadores, atividades como palestras, vídeos, distribuição de chocolate, e outros serviços que possam ser oferecidos, uma promoção da igreja evangélica Vida Plena e apoio da AMA-PM. Será também confeccionadas camisas para ser repassada no valor de custo de 20,00 reais, ficando a Associação comprometida em adquirir a quantidade de 25 no valor de 500,00 reais. Sued falou da importância da Associação adquirir o mínimo de estrutura de som para evitar que ele ou qualquer pessoa tenha que ir pedir aos amigos a cada evento que a Associação organizar. Foi orientado que ele procure fazer o orçamento mais econômico desse material e que apresente na próxima reunião. As 20:30 horas a reunião foi encerrada, Costa conduziu a oração dirigida ao Pai, posamos para a foto e degustamos o lanche da noite.
Li na internet esse texto atribuído a Shakespeare que diz o seguinte:
Sempre me sinto feliz, sabes por que?
Porque não espero nada de nada;
Esperar sempre dói.
Os problemas não são eternos,
Sempre tem solução.
O único que não se resolve é a morte.
A vida é curta, por isso ama-a
Sê feliz e sempre sorria
Viva intensamente e lembre:
Antes de falar... escuta
Antes de escrever... pensa
Antes de criticar... examina-te
Antes de ferir... sente
Antes de orar... perdoa
Antes de odiar... ama
Antes de gastar... ganha
Antes de render-te... tenta
Antes de morrer... viva!
Parece um tanto primário, todos devem ter na sua consciência que é isso mesmo que se deve fazer. No entanto, imagino, quão poucos seguem esses conselhos.
Quando faço a comparação do texto com o que pratico no cotidiano, me parece que eu procuro segui-lo integralmente. Não vou pensar em cada item para agir de forma correta, isso é feito de forma automática, como se estivesse condicionado.
Na minha educação formal, presencial, tanto em casa quanto na escola, não tive quem me passasse essas informações. Acredito que esse condicionamento de me comportar dessa forma eu tenha trazido em grande parte de minhas existências anteriores. Nesta atual vivência eu vou aperfeiçoando cada item e sabendo que a perfeição ainda está distante.
Em um aspecto eu me considero mais evoluído do que Shakespeare. Ele diz que os problemas não são eternos, que sempre tem solução. Mas a morte é o único problema que não se resolve, diz ele, como forma de exortar o leitor para amar a vida. Este problema já está resolvido em minha consciência. Sei que a consciência jamais morre, e sim o corpo físico, aparelho biológico frágil e passageiro que serve apenas para o aperfeiçoamento do meu espírito imortal. Portanto, o tempo com suas inevitáveis transformações sobre meu corpo até o fatídico dia da sua inativação, da sua morte, irá por conseguinte liberar a minha consciência dessas amarras materiais e irei gozar a partir daí tudo que conseguir levar para a pátria espiritual.
Como nessa viagem transdimensional para o mundo espiritual não vou poder levar nenhum bem material, a minha bagagem será composta apenas dos sentimentos e lembranças boas ou ruins que eu tenha comigo. A prática dos conselhos de Shakespeare servem para que eu construa esses bons sentimentos dentro de mim, sem deixar que as preocupações excessivas com o mundo material, ou os relacionamentos inadequados nas suas exigências interfiram com o meu processo evolutivo.
Com todas essas considerações, aprovo integralmente os conselhos do famoso escritor, mas a minha conclusão do texto seria diferente daquela feita por ele. Eu diria que: antes de voltar à pátria espiritual... permaneças sempre feliz.