A escola estadual Padre Monte surge como um novo campo de trabalho, como uma seara para se plantar as sementes do Reino de Deus. Parece que o tempo agora é de semear, de continuar semeando as lições do Cristo, como Ele já havia feito há dois mil anos em Jerusalém e arredores. Quando iremos colher esses frutos? Esta é uma pergunta interessante. Jesus falava na construção do Reino de Deus que deveria ser habitado pelos homens de boa vontade, que fossem capacitados para aplicar a Lei do Amor em todos os relacionamentos, Amor sem condicionamentos. Parece que a construção desse Reino de Amor é o fruto definitivo da obra cristã, da vontade de Deus. Mas para que isso aconteça é necessário que haja um tipo de fruto intermediário que são as pessoas de bom coração e boas intenções, que aprendem e assimilam as lições de Jesus e passam a coloca-las em prática, com uma perfeição cada vez maior.
As pessoas que assimilaram as lições do Cristo, que não necessitam ir mais para às igrejas para fortalecer a fé, que já podem ir diretamente às comunidade e com o exemplo transformar vidas desviadas na ignorância, para encontrarem o caminho do Amor. Essa é a filosofia da AMA-PM e Projeto Foco de Luz, que chamados para prestar serviços dentro da Escola Padre Monte, procuram ver cada coração ainda bruto daqueles alunos, tendentes e ameaçados pela influência do mal, da ignorância, trazê-los para o lado do bem.
Hoje é o dia que muita gente está participando do mutirão de limpeza da escola. Procurou-se dar um mínimo de organização com os diversos voluntários, principalmente, pois a escola ainda não está devidamente sensibilizada para um projeto de tal dimensão.
De acordo com as conversas nas reuniões ou fora delas, observo que existem alguns projetos que já podem ser implementados. Agora é necessário que para cada projeto elaborado, discutido e aprovado, tenha pelo menos uma pessoa para se responsabilizar por ele.
Estes são alguns dos projetos que já podem ser viabilizados:
Estes são os projetos que estão sendo mais discutidos e que iremos verificar a possibilidade de implementá-los de acordo com a colaboração efetiva de algum membro, voluntário ou não, que desejem se engajar com responsabilidade e determinação.
Ao observar a Natureza no ponto de vista materialista, dos olhos físicos do meu organismo, vejo que existe uma passagem do tempo e que isso causa alterações em tudo ao redor. Lembro através de retratos que já fui uma criança um dia, capaz de ser retratado sem roupas, sem nenhum constrangimento, e hoje o meu corpo não tem nada a ver com aquele corpo de 60 anos atrás. Esse processo que o tempo promove e que atinge a tudo e a todos é chamado de evolução.
Podemos ver com clareza esse processo evolutivo quando colocamos uma semente no solo e deixamos a terra fazer compressão sobre ela. Logo veremos a semente desabrochar, os fatores internos são despertados, existe a transformação celular com rapidez, as folhas surgem juntas com todos os outros determinados elementos que intumescem e a vida assim desata, e se repete o processo vezes sem fim, causando cada pequena alteração num momento, uma grande alteração ao longo do tempo.
Da mesma forma que acontece com a planta, também acontece conosco, um organismo humano bem sofisticado. A semente representada pela união do óvulo com o espermatozoide é depositada no interior do útero, que vai intumescer, crescer, até a vida ser desatada dentro do útero e expulso para a luz exterior. Também essa repetição ininterrupta nesse processo biológico, vai levar pequenas alterações à grandes transformações, desde que sejam viáveis biologicamente.
Essa repetição que cada ser humano apresenta nas diversas reencarnações que ele irá processar, sempre vai deixar na mente mascas positivas ou negativas de comportamentos realizados. A partir daí podemos considerar as atitudes fracas e fortes. Atitude fraca é aquela que o indivíduo se deixa envolver em comportamentos que buscam o prazer ou fugir das dificuldades inerentes ao crescimento, como por exemplo o uso abusivo de drogas. Atitude forte é aquela que se comporta com firmeza no enfrentamento das dificuldades, sem procurar nenhum tipo de muleta, principalmente as drogas.
Com essa compreensão, vamos observar que cada pessoa é o resultado dos seus próprios atos, recebe para si o patrimônio de si mesmo. Deve ser observado as diversas opções que surgem na marcha da vida, avaliar e escolher aquela mais condizente com a evolução saudável em direção ao Pai. Não há espaço numa atitude como essa a possibilidade de transferência de responsabilidade. O indivíduo tem a consciência que toda decisão parte do seu livre arbítrio e teve ter a hombridade de ser responsável pelas consequências.
Além da influência genética biológica, temos a influência genética espiritual que é da maior importância. O espírito, através do perispírito, vai insculpir situações orgânicas ou psíquicas, constritoras ou não, ao corpo que está se formando, de acordo com suas experiências prévias. Os estímulos ou métodos corretivos, a educação, são importantes para o aprimoramento do espírito, e consequentemente do corpo
Observamos assim que, da mesma forma que o corpo evolui a partir da semente do óvulo, a humanidade enquanto espécie também está evoluindo. Passa por diversos tipos de estímulos, após despertar os valores em direção a aquisição da angelitude.
Podemos montar o quadro da evolução espiritual que vai da animalidade à angelitude da seguinte forma: 01. Insensibilidade inicial; 02. Sensibilidade; 03. Instinto; 04. Razão; 05. Intuição; 06. Moral; 07. Interação com a mente cósmica de Deus.
No predomínio da animalidade está a materialidade, influência maior da Lei de Causa e Efeito, ignorância, irresponsabilidade, instinto e empirismo. No predomínio da angelitude está a espiritualidade, a influência majoritária da Lei do Amor, conhecimento, responsabilidade, sabedoria e razão.
Vamos observar que nesse contexto evolutivo o sofrimento é fator de aprimoramento, de instrumento para a evolução humana. O autoconhecimento é importante para o adestramento de nossa condição animal, para superar o mal e sintonizar com o bem. Lembremos da frase de Emanuel: “Quando a dor te visita, reflete-lhe a mensagem. Não há sofrimento sem significação.”
As dificuldades naturais para superar a condição animal são o medo, a lamentação, o transformar do instrumento de aprendizagem em flagelo, tornar-se desventurado, rebelde desanimado, negar-se à luta e procurar a autodestruição. Devemos superar o sofrimento, entender que o espiritismo alinhado com o pensamento de Jesus, tem como proposta fazermos da dor e das dificuldades um desafio para aprendermos, para amadurecermos, para avançarmos mais dentro desse processo de evolução.
Quando o indivíduo está frágil de valor moral, não consegue fazer o devido enfrentamento do sofrimento. Daí surgem os transtornos depressivos, os transtornos de bipolaridade e os transtornos de dependência. Joana de Angelis já dizia que “ninguém tem o destino do sofrimento. Ele é o resultado da ação negativa, jamais a causa!”
Assim, a geratriz do sofrimento passa a ser o cultivo do próprio sofrimento pela pessoa afetada. Esse indivíduo passa de uma dificuldade para outra de forma rápida, e termina sendo vitimado por egoísmo, auto piedade, orgulho, arrogância, intolerância e prepotência. Mesmo reconhecendo tudo isso, devemos seguir uma das mensagens de Chico Xavier: “Uma das mais belas lições que tenho aprendido com o sofrimento: não julgar, definitivamente não julgar a quem quer que seja.”
O sofrimento se torna o aguilhão que nos impulsiona para a correção de erros e evoluir para o bem. Cada vez que isso acontece, que não há mais necessidade de corrigendas, o sofrimento vai se atenuando até desaparecer por completo, quando atingirmos o ideal grau de pureza. Acontece que muitas vezes parece que o sofrimento estaciona, não evolui, não se dissipa. Quando observamos a manutenção do sofrimento nesse estágio de paralisia que parece não trazer benefício ao indivíduo, é porque essa pessoa não quer enfrentar o problema, reconhecer que é dependente químico, por exemplo. Não quer solucionar o seu problema com o próprio esforço e fica à espera da ajuda externa, às vezes de uma medicação milagrosa. Em outras situações se considera imune à dependência química, acha que todos podem adoecer, com exceção dele que é imune, nega que a doença está evoluindo dentro dele. Os problemas que acontecem com o dependente químico, com as pessoas ao redor, ele sempre transfere para alguém, nunca ele reconhece ser o autor de um problema. Adia as soluções que podem lhe ajudar, ignora o problema e chega até a ignorar-se, não reconhecer os problemas ao seu redor causados por ele mesmo. Cultiva a ilusão de que é uma pessoa saudável, livre e feliz. Não percebe que a sua vida está inundada de problemas, que infelizmente não são diagnosticados nem aceitos por sua consciência. É como aquela reflexão que circula na internet: “A agua inteira do mar não pode afundar um navio, a menos que ela invada seu interior. Da mesma forma, a negatividade ou os vícios do mundo não pode te derrubar... a menos que você permita que eles permaneçam dentro de você.”
As pessoas podem se tornar elas mesmas o problema, quando não solucionam os pequenos desafios, quando transformam o sofrimento como impedimento e não mecanismo de evolução, quando é consumido pelos desequilíbrios íntimos, e quando a psique é invadida por esses desequilíbrios. Lembrar sempre que o que faz o espírito sofrer e ter problemas é o mal direcionamento do seu livre arbítrio.
A postura correta quanto ao sofrimento é considerar-se humano, que pode errar, mas não permanecer no erro. É não pensar que é um ser incólume, especial. É reconhecer que a evolução em qualquer ambiente sempre ocorre com erros e acertos. Mas com a responsabilidade de, quando errar, corrigir, e quando acertar reconhecer que deu um salto na evolução.
Depois de todas as instruções colocadas até este momento, vem a pergunta prática: como transformar o problema em solução, como reconhecer que o sofrimento é instrumento para a minha evolução? Isso implica em desenvolver terapias e métodos, como a reflexão, o diálogo, ser honesto consigo e com o outro, amar e confiar, ter uma meta e avançar em direção a ela. Fazer esforços constantes para identificação dos próprios limites e a ampliação deles. Não ter ou ser problema na própria trajetória.
Tenhamos a humildade e confiança de pedir a Deus: luz para clarear o caminho, forças para resistir ao mal, a assistência dos bons espíritos, bons conselhos, fé confiança e fervor.
Como foi combinado, este dia foi marcado para ser feito o primeiro contato com o alunos da escola, tanto do turno diurno quanto noturno.
As 8h foi realizada a reunião com os alunos na quadra coberta da escola. Os alunos foram dispensados neste horário de suas aulas e vieram à quadra, na maioria jovens de menor idade, com sua alegria e descompromisso com a realidade em sua volta. A maioria fica nos cochichos, com pouco interesse para aquele grupo que abre um painel citando o nome de um Projeto Universitário e uma Associação de Moradores. A caixa de som não consegue vir para mais próximo, pois o fio é insuficiente e não existe tomadas no ambiente da quadra.
Eu começo a apresentação com a minha identificação e explico a minha motivação. Cito a minha profissão e o local de trabalho e que estou neste trabalho, junto com meus colegas, pois estamos motivados por Deus e na qualidade de Seus filhos, estamos obedecendo a Sua vontade de orientar e ajudar aos irmãos que precisam. Não temos nenhuma motivação política ou religiosa, mas sim espiritual, que pode compreender qualquer posição religiosa ou política. Em seguida os colegas que me acompanharam também deram o seu depoimento, reforçando a natureza organizativa dos trabalhos que precisam ser realizados e a importância do sentimento patriótico que deve permanecer no coração de cada pessoa.
Citei também que hoje era um dia importante, era um dia dedicado a um santo que poucos deviam conhecer, apesar de ter um nome bastante conhecido: São João Batista. Perguntei se alguém conhecia esse santo e algumas vozes tímidas responderam que foi aquele que batizou Jesus. Concordei, disse que ele estava correto, que realmente existe um São João Batista referenciado pela igreja e que batizou Jesus, que foi o seu precursor. No entanto ainda existia outro São João, aquele que escreveu um dos Evangelhos e o Apocalipse. Mas não era nenhum desses São João que o dia de hoje se refere, e sim a São João Batista de La Salle. Foi um dos maiores educadores e inovadores da escola moderna. Por isso este dia se reveste desse significado especial, de estar sob a égide deste santo que sempre lutou para renovar a educação dentro das escolas. Talvez este trabalho que estamos iniciando aqui nesta data, com vocês, tenha toda a inspiração dele neste momento.
Relatei também que apesar deles ainda não nos terem vistos, já tínhamos uma certa aproximação, pois elaboramos um questionário e já tínhamos visto as respostas. Citei algumas delas mais frequentes para todos saberem que realmente nós estávamos começando uma sintonia: 1. Limpeza e paisagismo da escola; 2. Ventiladores para as salas; 3. Mais professores; 4. Menos greve; 5. Bebedores melhores; 6. Fardamento; 7. Sentimento de desânimo por não ter todas as aulas; 8. Melhor organização da escola; 9. Iluminação na área dos bancos; 10. Reparos na infraestrutura; 11. Manutenção dos banheiros; 12. Mais segurança e proibição de drogas, inclusive cigarros e bebidas alcoólicas; 13. Mais computadores; 14. Projetos literários e esportivos; 15. Programa de passeios instrutivos e culturais; 16. Volta do Mais Educação; 17. Radio-escola; e 18. Que os alunos ganhassem alguma bolsa.
As 19:30h foi feita a reunião com os alunos do turno noturno, com aqueles que não tinham professores no horário. Foi o suficiente para encher a sala. Procedi uma maneira diferente de abordagem da turma, procurando saber o nome de cada um e o que deseja se profissionalizar. Apesar da maioria da turma ser de adultos, a maioria mesmo assim não consegue centrar a atenção no foco do que está sendo apresentado.
Depois que todos os alunos se apresentaram foi a vez dos meus companheiros fazerem suas apresentações, Paulo, Costa, Edinólia e Radha, cada um deles colocando suas respectivas funções dentro da Associação, sempre em sintonia com a vontade de Deus.
Finalizamos a reunião com a oração do Pai Nosso com a colaboração de quem quisesse participar e tiramos a foto coletiva. Ficou a impressão de que a solicitação de envolvimento no mutirão escolar do próximo sábado, não irá ter muitos alunos dispostos a colaborar. Mas, como todo início apresenta suas dificuldades, vamos ter paciência e sabedoria para contornar os problemas e fazer o que o Pai deseja.
No dia 06-04-16, na Escola Padre Monte, as 19h, foi iniciada mais uma reunião da AMA-PM e Projeto Foco de Luz, com a participação das seguintes pessoas: 01. Paulo Henrique; 02. Edinólia; 03. Milttão; 04. Luci; 05. Carlos Volu; 06. John Lennon; 07. João Maria; 08. Priscila; 09. Samuel (formado em letras, projeto libras); 10. Gustavo;11. Maria Queiroz; 12. Socorro Batista; e 13. Francisco. Depois da meia hora de conversas informais, foi lido o preâmbulo espiritual com o título “Conversão”, uma lição de Jesus escrita por Lucas, 22:32. Em seguida foi lida a ata da reunião anterior que foi aprovada com a correção de uma ausência gramatical. Como esta reunião antecipa o dia do mutirão, todos os informes e comunicações foram dirigidos para esse evento. Rosário não pode comparecer a reunião por motivos de saúde, mas deixou o aviso que teve contato com os alunos da escola, na preparação para a construção do Grêmio Estudantil e que estará no dia do mutirão. Já encaminhou para a feijoada o bacon e a farinha. Paulo comunica que foi feito o contato com a URBANA e a SEMSUR que se comprometeram no apoio ao mutirão escolar. Foi levantado uma dúvida quanto ao saneamento e drenagem da área de escola que ficou se ser verificado a nível de CAERN. Foi feito um levantamento preliminar de quantas pessoas iriam participar, um número em torno de 100 pessoas para a organização da feijoada. Maria Queiroz sugere que as atividades neste dia sejam iniciadas pelo hasteamento da bandeira seguido pelo Hino Nacional. Edinólia confirmou o patrocínio de 100 picolés pela AMA-PM e de frutas como laranja e melancia. Socorro Batista e Priscila agendaram um carro de som para cobrir dois momentos do evento, um pela parte da manhã, por volta das 8h, para avisar as pessoas do entorno da atividade e fazer o convite para participar, e o outro as 15h para divulgar quem participou, apoiou e patrocinou o evento, agradecendo a todos e solicitando a permanência nessa atividade de limpeza e manutenção da Escola Padre Monte. O evento está programado o início às 8h, de 12:30h será servida a feijoada, e as 17h será finalizado. Francisco comunica que amanhã, dia 07-04-16, estará na escola, na companhia de Paulo Henrique, presidente da AMA-PM e demais pessoas que possam comparecer, no horário de 8h e de 19:30h, para se reunir com o alunado da manhã e da noite, com o objetivo de apresentação dos grupos de voluntários que estão dispostos a servir à escola e fazer a devida motivação e convocação para todos se integrarem nas diversas atividades que estão sendo programadas. Às 20:30h a reunião foi encerrada, Carlos Volu conduziu a oração do Pai Nosso, todos posamos para a foto coletiva e degustamos o lanche da noite promovido pela escola.
Ouvi essa música de Raul Seixas pela enésima vez, sempre me identifiquei com ela, entrava em sintonia com o pensamento do autor. Mas hoje senti a vontade de coloca-la dentro deste diário e abrir assim um trabalho de identificação do Amor a partir das letras da Música Popular Brasileira. Então nada mais coerente do que começar pela letra de “A maçã”, já que tenho tão perfeita identificação com ela.
Irei colocando a letra em negrito e logo abaixo a minha interpretação.
Se esse amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar...
O autor abre a letra com uma premonição do que irá se tornar o amor se ele ficar restrito a apenas duas pessoas, que ele vai ser muito pobre e que vai se gastar. Intuitivamente ele percebe que o amor deve ter uma dimensão maior, que ele pode envolver muitas pessoas e que assim prosperará.
Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Ele coloca a condição de um amor correspondido, mas que se permanecer na exclusividade apenas dos dois amantes, irá profanar o divino que existe no amor. Sem citar diretamente, o cantor introduz de forma sutil a importância majoritária e universal do Amor Incondicional: “o amor de todos os mortais.”
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais...
Fez um paralelismo da maçã com a pessoa, do desejo por uma fruta, com o desejo de uma mulher. Claro, da mesma forma que não existem duas maçãs iguais, não existem duas mulheres iguais. O que ele quer dizer é que todas as maçãs tem a mesma essência de saciar a fome, e todas as mulheres tem a mesma essência de saciar a libido. Então, se eu gosto de uma mulher por me saciar a libido, irei gostar de todas, pois todas tem esse mesmo potencial. Isso em termos genéricos, pois sabemos que existem as compatibilidades e incompatibilidades pessoais, onde pode haver uma facilidade maior na aproximação das duas pessoas capazes de interagir na realização desse prazer.
Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Esse trecho quebra a exclusividade do amor romântico. O outro que minha companheira pode chamar quando sentir nela a chama dessa libido, tem toda a liberdade de se manifestar, pois também posso sentir o mesmo e quero ter a mesma liberdade de expressar o meu afeto junto com essa outra pessoa. Por questão de justiça e coerência, não há como eu possa condenar tal atitude nela.
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar...
Mais uma vez o cantor usa de simbolismo, dessa vez da beleza para o amor. Sente como infinita a beleza da sua companheira, e esse amor não pode ficar preso, mesmo que seja adorado como um santo no altar. Esta atitude de prender é que irá gerar a transformação do amor romântico em sentimentos negativos, como raiva, ódio, agressão, até o máximo de assassinato. Se esse amor romântico passa a ter as características do amor incondicional, então se garante a liberdade e a satisfação de sentir o amor fluindo.
Quando eu te escolhi
Para morar junto comigo
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais...
Confessa a tendência que existe do homem possuir a mulher em todas as condições, torná-la um simples objeto, do ponto sexual até o administrativo na sociedade e no lar. Ele consegue superar essa tendência, consegue compreender que além deles dois existem muitas mais pessoas, mais relações; que o mundo não é uma ilha.
Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro, mas eu vou te libertar
Caso todos soubessem a importância desse momento na consciência do cantor, iriam verificar que seria mais espetacular do que o “grito do Ipiranga”, pois significa a liberdade da prisão que provoca o amor romântico, da exclusividade do amor que deveria ser amplo, do ciúme como um sentimento negativo, e não como prova de amor. A associação do amor com liberdade é perfeita, e isso só pode ser alcançada com o amor incondicional. O amor romântico leva sempre à exclusividade e, portanto, necessariamente a algum tipo de prisão. Reconhece que fazer isso, promover essa liberdade em favor do outro não é nada fácil, vai de encontro aos princípios machistas que preenchem a mente de todo homem. Mas ele está decidido, vai sofrer, mas vai libertar a amada, pois “não quer vê-la presa como santa num altar.”
O que é que eu quero
Se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar...
Um exemplo magnífico de um ato de justiça. Se isso que ele tanto venera, ele proíbe na companheira, comete uma incoerência, uma ingratidão, tremenda injustiça. Faz uma pergunta que já sabe a resposta: se ele priva alguém de fazer o que ele tanto gosta, ele quer ser um tacanho ditador numa relação tão cheia de potencial divino.
Para uma pessoa como eu, que pretende desenvolver o Amor Incondicional em todas as relações, essa postura consciencial de Raul Seixas é perfeita. Mesmo que isso me torne um pária fronte aos meus concidadãos, pessoas com as quais dividimos a mesma cultura, enfrentarei essa condição, pois sei que a cultura do amor romântico logo deteriora em exclusivismo que beneficia mais ao homem, e que pode transformar um sentimento positivo como o amor em emoções negativas como raiva, ódio e até assassinato.