Estou sendo testemunha do processo do Amor Incondicional se manifestando através dos instintos do corpo, atraídos pelas tinturas do romantismo, mas com o controle firme do incondicionamento.
Conheci há cerca de três meses uma jovem em Caicó que trabalha numa banca de verificação de Pressão Arterial e do nível de glicose no sangue. Verifiquei os meus níveis e ela me deu um cartão de acompanhamento. Toda a semana quando eu termino os atendimentos aos meus pacientes, passo em frente a banca dela quando vou em direção ao comércio. Fortalecemos a nossa amizade com esse cumprimentar semanal e a cada mês eu volto à sua banca para monitorar os meus níveis de Pressão Arterial e de Glicose Sanguínea, que estão sempre bons, motivo pelo qual ela me elogia por ter níveis de criança.
Sei que ela é uma pessoa trabalhadora, pois está sempre em seu posto de trabalho e já colocou a vontade de trabalhar em Natal, pois lá os seus horizontes seriam maiores. Ontem foi o dia de fazer mais uma monitoração dos meus níveis. Na conversa, ela voltou a dizer com mais detalhes do seu interesse por Natal, inclusive do seu marido, que é uma pessoa também trabalhadora e econômica, mas a dificuldade é o alto valor dos alugueis de apartamentos, pois é para onde eles preferiam morar. Falei então que tenho um apartamento na Praia do Meio e que posso alugar para eles por um valor dentro de suas possibilidades. Mostrei que apesar de ser longe do lugar onde seu marido trabalha como agente penitenciário, no presídio de Alcançus, a Praia do Meio é um espaço turístico que ela tinha possibilidade de trabalhar com a sua banca inclusive ele com alguma atividade comercial na praia. Dei o meu cartão de visita e orientei para ela conversar com o marido e verificar essa possibilidade, inclusive eles poderiam ir para Natal e verificar, no local, essas possibilidades.
Depois que tudo isso ocorreu passei a fazer as reflexões tema principal deste relato. Por que o interesse nessa jovem? Será que se ela fosse um homem o interesse seria o mesmo? Acredito que até poderia existir o mesmo interesse, mas com intensidade e qualidade diferentes. Então, por que a diferença, se o amor incondicional no qual pretendo sempre me orientar, não considera essas diferenças?
Avalio assim: Deus, o Criador, fez os humanos assim como a maioria dos animais aos quais nós homens pertencemos, com o instinto do macho procurar fertilizar o maior número possível de fêmeas ao seu alcance. Portanto estou preparado, com os atributos milenares transmitidos pela genética, para fertilizar o maior número de mulheres ao meu alcance. Isso se manifesta pelo desejo inconsciente e automático que surge na consciência, de me aproximar de alguma fêmea, conhecê-la, cortejá-la e fazer sexo, se possível. Agora, sobre esse desejo automático deve prevalecer o conhecimento que a consciência adquiriu sobre as Leis da vida e principalmente sobre as leis morais, cujo principal Mestre que já tivemos ensinou a principal delas: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. Esta Lei Moral deve prevalecer sobre a lei da Natureza, pois se esta lei da Natureza foi criada por Deus para ser cumprida e viabilizar assim a sobrevivência da espécie, a Lei Moral deve disciplinar a nossa inteligência superior e não trazer distorções desarmônicas entre o próximo ou qualquer ente da Natureza que representa o próprio Criador. Posso usar a Lei ampla da Natureza, os instintos animais e até o amor romântico que ela proporciona para a aproximação muitas vezes apaixonada com o próximo, mas sempre com o cuidado de observar a Lei Moral, alicerçada na lição do Cristo como prioridade, e não causar danos.
Este é o motivo pelo qual o meu potencial de “fazer o mal” característico de minha condição masculina, se torna um potencial de fazer o bem disciplinado pelo Amor Incondicional. A força (desejo sexual que leva ao amor romântico) que me aproximou dessa garota de Caicó, disciplinada agora pelo Amor Incondicional (Lei moral que aplica a essência de Deus), está pronta para fazer o bem a si e as pessoas que dela estão mais próximas. Eis como funciona o Amor Incondicional, eis como funciono! O sexo jamais será realizado com a consciência que irá trazer prejuízos ou injustiças à pessoa alvo desse interesse, pelo contrário, deverá sempre trazer benefícios a curto, médio e longo prazo.
Reunião realizada na Escola Olda Marinho, às 19h, com a presença de: 1. Edinólia 2. Radha 3. Maria 4. Luzimar 5. Paulo Henrique 6. Francisco Rodrigues 7. Ana Paula 8. Emilson 9. Netinha 10. Davi 11. Clarisse 12. Damares 13. Francisca 14. Ezequiel 15. Ivanaldo. Foi lido um preâmbulo espiritual escrito pelo papa Francisco, com o título: “Família, lugar de perdão”. Foi lido o registro da reunião anterior que foi aprovado sem correções por unanimidade. Informes: Francisco diz que a reunião realizada na Secretaria de Educação contou com a participação de Luzimar, Edinólia, Rosário e Francisco Rodrigues pela AMA-PM; contou também com a participação de Daniel, Vânia, Lúcia e Francisco pela Secretaria. Após a apresentação foram colocados os problemas da escola e as perspectivas da Associação; Daniel colocou os projetos que podem ser ofertados através da escola. Ficou definido que na próxima semana seria agendada uma reunião com a diretora e professores da escola para ajustarmos os trabalhos que poderemos realizar, como: Educação em tempo integral, Mais Educação, Escola aberta à comunidade nos sábados, Programa de vida 15-17 e Programa Piloto a ser elaborado e apresentado por Rosário. Daniel também informa que todos os programas que existem está no Manual de Educação Integral e que pode ser baixado pela internet. A reunião ficou de ser combinada com a diretora da escola e agendada para a próxima terça feira, dia 21-07, na escola Olda Marinho, as 12h, com o objetivo da participação dos professores. Francisco também informa que fez o cadastro no site do Airbnb que administra a hospedagem comunitária e que fez o cadastro de um flat e contratou um serviço de hospedagem de uma casa em Florianópolis, cidade onde irá no início de novembro para participar do congresso da Psiquiatria. Emilson ficará responsável pelo apoio aos moradores que tiverem interesse em cadastrar algum espaço com a finalidade de hospedagem. Edinólia leu a lista produzida por Paulo dos sócios que colaboraram no mês de junho e que totalizou 470,00 reais. Maria informa que o jantar da festa de Santana não irá mais acontecer, mas que continua a programação da AMA-PM na abertura dos festejos na missa da próxima quinta feira na capela da nossa padroeira. Ezequiel disse que os trabalhos de recuperação da quadra de esportes continuam parados e que ele continua usando outros espaços e a própria praia para os jogos com as crianças. Também disse da importância da divulgação dos nossos trabalhos comunitários na imprensa e Davi se prontificou a produzir o nosso boletim informativo mensal. Clarisse disse que tinha vindo preparada para falar com os barraqueiros da praia sobre a forma e a vantagem da participação deles na Associação. Ficou decidido que será feito um convite para todos os comerciantes do calçadão e da areia da praia para uma reunião no dia 30-07, quinta feira, no Shopping Mãos de Arte onde Clarisse apresentará em data-show as vantagens dessa iniciativa. Luzimar voltou a colocar a necessidade urgente de registrarmos a associação e Francisco ficou de passar para ele toda a documentação já produzida para ele acelerar o processo. Francisco colocou o problema da sala onde está guardado os objetos da Associação, ter sido pedido de volta pela diretora da escola para atender as necessidades da Escola Laura Maia, e que existe a possibilidade de ser transferido esse material para o espaço da sorveteria de Luzimar. A AMA-PM poderia criar nesse local a sede provisória, inclusive com placa de sinalização e com um membro da Associação dando expediente em determinados horários para atender os moradores. A sorveteria poderia ser aberta com a ajuda da AMA-PM e os dois serviços poderiam funcionar sintonizados um com o outro e em benefício da comunidade. Ficou também lançada a ideia de ser feita uma visita pela AMA-PM a cada casa da Rua do Motor com o objetivo de levantar as necessidades e potenciais de cada família, para posterior apoio em todos os níveis. Francisco coloca a importância do lanche pós reunião que já está na quarta semana. Diz que é importante ser feito uma escala para cada um se responsabilizar de trazer nesse dia o lanche. Disse também que, como o nosso objetivo dentro da comunidade é seguir as lições do Mestre Jesus, que devemos lembrar a simbologia que Ele nos ensinou na última e Santa Ceia com todos os apóstolos presentes, quando Ele disse que quando não estivesse mais conosco materialmente, nós poderíamos incorporar o seu corpo e o seu sangue através da ingestão do pão e do vinho. Lembrando também que o dia da nossa reunião, a quinta feira, é dedicado pela Igreja Católica à Eucaristia, que é justamente a aplicação prática dessa simbologia que o Cristo nos ensinou. Então, ficaremos muito mais sintonizados com Deus se trouxéssemos para este lanche o vinho (ou suco de uva, preferencialmente, já que tem pessoas que talvez não possam ingerir bebidas alcoólicas) e o pão (que pode vir nos mais diversos formados de pães, ou bolos, desde que contenham o trigo). Para dar início a essa nova forma de doar e de receber o lanche, Francisco se encarregou de trazer os ingredientes de hoje já com esse formato. As 2030h Radha conduziu a oração do Pai Nosso e Luzimar conduziu a oração inspirada pelo coração. Todos posamos para as fotos oficiais e partimos para a degustação do lanche que hoje teria mais esse significado evangélico, da Eucaristia, de incorporar em nós a essência do Cristo como forma de atenuar e vencer nossos defeitos internos.
Ontem foi dia de hidroginástica e como eu sinto a responsabilidade de dar o exemplo à pessoa que eu indiquei para participar, não poderia deixar de ir, mesmo que tivesse a desculpa da chuva fina que caía e que ameaçava aumentar. Também isso não seria obstáculo pra mim, pois gosto da chuva, de caminhar ou correr sob ela, parando nas bicas das casas quando estou na cidade, ou sentindo as gotas de chuva diretamente na face quando estou na praia.
Coloquei a roupa de banho e fui para a praia. A chuva caia fina sobre mim e senti a sensação agradável de estar sendo acariciado pela irmã chuva. O sol queria surgir entre os espaços abertos que o vento fazia nos grupos de nuvens, e percebi que por sobre o meu apartamento havia se formado um belo arco-íris. Quis ainda pedir a alguém um celular emprestado para fotografar, mas já estou ciente que tudo que acontece comigo nessa caminhada matinal e exercícios de hidroginástica ficará registrado apenas na memória, pois não saio com nada de casa, a não ser a roupa do corpo. Porém quando o assunto é importante, eu guardo na memória e logo faço o registro, como estou fazendo agora.
Logo que vi o arco-íris lembrei da aliança que Deus fez com a humanidade após o dilúvio através de um arco-íris. Fiz logo a conexão daquele caso com este arco-íris sobre o meu apartamento e pensei que Deus talvez estivesse também me propondo um contrato. Eu deveria fazer a Sua vontade, usando com pragmatismo e persistência todos os meus recursos, e Ele forneceria para mim toda a energia e sabedoria que eu tivesse capacidade de receber para bem utilizar. Não titubeei em concordar com esse contrato, afinal de contas quem estava propondo era Ele, e Ele bem sabe de minhas inúmeras e severas deficiências, sabe o risco que posso correr em não cumprir o contrato.
Assinei mentalmente esse contrato com Deus e fui correndo até o final da piscina onde fazemos a hidroginástica. Parei numa esquina formada pelas dunas e abracei o sol, o vento e fiz a oração silenciosa ao Pai, afirmando o acordo que acabávamos de fazer. Fiz ver que eu não iria mudar muita coisa na minha vida, pois o que eu faço já está direcionado à Sua vontade, como Ele bem sabe. O que devo me esforçar é para ser mais objetivo e fazer o projeto do Pai evoluir com mais constância e perseverança, sem comprometer as minhas relações diversas junto ao amor incondicional, fazendo todos os relacionamentos caminharem com justiça e coerência.
Como testemunhas desse contrato que acabo de firmar com o Pai, nas três leituras que faço a cada dia, tinha a ver com o conteúdo prático que eu tenho que observar e as circunstâncias nas quais estarei inserido. A primeira testemunha foi na leitura da Bíblia, (Is 50, 4-9) que diz o seguinte:
O servo, certo do triunfo, aceita o sofrimento
4. O Senhor Deus deu-me a língua de um discípulo para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está abatido. Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo;
5. (o Senhor Deus abriu-me o ouvido) e eu não relutei, não me esquivei.
6. Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escárnios.
7. Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis porque não me senti desonrado; enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado.
8. Aquele que me fará justiça aí está. Quem ousará atacar-me? Vamos medir-nos! Quem será meu adversário? Que se apresente!
9. O Senhor Deus vem em meu auxílio: quem ousaria condenar-me? Cairão em frangalhos como um manto velho; a traça os roerá.
A segunda testemunha veio na leitura das Fontes Franciscanas e Clareanas, que nas Biografias, Juliano de Espira escreve, reproduzindo as palavras de Francisco:
Vendo que já se aproximava o último dia da vida, que por uma revelação ele já conhecia há dois anos, chamou a si os irmãos que quis (Mc 3,13) e os abençoou um a um como lhe foi dado do alto (Jo 19,11). Seus olhos estavam obscurecidos e já não podia enxergar. Então, como outrora o patriarca Jacó, cruzou os braços e pôs a mão direita (Gn 48,14) sobre o irmão que estava à esquerda; perguntou quem era; quando compreendeu que era Frei Elias (que, como se disse, ele colocara em seu lugar) respondeu que era assim que ele queria.
Abençoou primeiro a ele e depois, na sua pessoa, todos os outros irmãos; invocou sobre ele todo o bem e o confirmou com todas as bênçãos e no fim acrescentou: “Meus filhos, saúdo-vos todos no temor do Senhor e permanecei sempre nele (Tb 2,14), porque a tribulação se aproxima de vós e deveis enfrentar uma grandíssima prova. “Bem aventurados aqueles que forem perseverantes (Mt 10,22) no bem que iniciaram”.
Finalmente a terceira testemunha veio do livreto “Os santos de cada dia” cujo santo do dia 16 é Nossa Senhora do Carmo, e o primeiro parágrafo diz assim:
A Ordem dos Carmelitas tem como modelo o profeta Elias. E caracteriza-se por uma profunda devoção a Maria. A Sagrada Escritura fala da beleza do Monte Carmelo, onde o profeta Elias defendeu a fé do povo de Israel no Deus vivo e verdadeiro. Carmelo em hebraico significa “vinha do Senhor”. Ali Elias enfrentou os profetas de Baal.
Assim verifiquei que cada leitura faz uma ponte com a vontade de Deus para mim, a partir da consideração como servo, que posso estar dentro do sofrimento, mas sempre com a proteção de Deus. Em Francisco vejo a orientação para a perseveração e a citação do Frei Elias que logo em seguida faz a conexão com o Profeta Elias, onde ele enfrentou os adversários no Monte Carmelo que é considerado a “vinha do Senhor”, como nós consideramos a comunidade da Praia do Meio também uma vinha do Senhor e que estamos dispostos a enfrentar os profetas da ignorância que atuam no mal.
Portanto, estou bem ciente de todas as clausulas do contrato que terminei de assinar.
- Está bem. Você sabe que nós, gregos, temos um altar ao Deus Desconhecido. Está dito que, num dia distante, Ele se instalará nesse altar para que O adoremos pela última vez, pois está dito que Ele é maior que o próprio Zeus. Os egípcios, babilônios e persas têm também esta lenda... e O esperam. É uma velha lenda. Ele governará o mundo dos homens para sempre, quando chegar. Os judeus O chamam Messias, porém Ele pertence a todos.
- Ouvi a mesma coisa do meu nobre amigo Hillel bem Borush.
- Ah, sim. Para ser conciso a respeito, corre o boato de que aquele santo rabino, que surgiu recentemente, é o Deus Desconhecido.
Aristo deu uma gargalhada que continuou até lhe virem lágrimas aos olhos. Um dos rapazes, vendo seu rosto avermelhar-se e ouvindo sua respiração ofegante, apressou-se a encher seu cálice. Aristo bebeu o vinho de um gole e pareceu estar a ponto de sufocar. Olhou alegremente para o anfitrião com uma bruma nos olhos e esperou companhia para seu riso. Porém, para sua surpresa, Télis estava com ar muito sério e totalmente silencioso, olhando as mãos apertadas, não parecendo ter ouvido a hilaridade de Aristo. O rosto novamente corado inchou e contraiu-se, surgindo nele uma lágrima, para surpresa de Aristo.
- Eu vi o Deus Desconhecido – disse Télis.
Ele também ficou louco?, perguntou-se interiormente, desanimado.
- Por favor, tenha paciência- disse Télis, desta vez olhando para Aristo com tal emoção, com tal paixão, com tal insistência, que este ficou francamente surpreso, pois tinha considerado Télis um homem realista e pragmático, dominado o tempo todo pelo raciocínio e que só tinha desprezo pelo homem de mente excitada e desordenada. – Morei em Israel muito tempo – disse Télis. Sei que, com muita frequência, aparecem rabinos, cujos seguidores dizem ser ele o Messias dos judeus, pois fazem milagres e são irrepreensíveis. Assim, há uma lei no Sinédrio ordenando que esses rabinos, ou professores, ou habitantes do deserto, devem ser levados ao tribunal para serem interrogados e examinados, pois mesmo os cultos e sábios do Sinédrio estão ansiosos pelo seu Messias. Mas em tempo algum esses rabinos declararam ser o Ungido e ficaram tristes porque seus seguidores afirmaram isso. Desejavam apenas servir ao seu Deus em paz, disseram, e então o Sinédrio liberou-os. Esses homens humildes e gentis não blasfemaram. Como sabe, o blasfemador entre os judeus merece a morte e habitualmente é visitado por ela.
“Mas ouvi em Cesaréia que este novo rabino não negou, para os pobres de sua província, que fosse o Messias, nem repreendeu seus seguidores por espalharem tal coisa. Isso não me interessou. Bastava que fosse um milagreiro. Em minha cama, na casa dos meus amigos, fiquei pensando. Fiz perguntas. O milagreiro estava na província da Galiléia, na mísera cidade de Cafarnaum, à beira do mar da Galiléia. Meus amigos supersticiosos ofereceram-se para mandar uma comitiva buscar o rabino judeu... eram bondosos demais. Cafarnaum fica muito longe.
“Mas, naquela noite, tive um sonho muito misterioso. Sonhei que uma enorme mão branca como mármore estendeu-se para mim e uma voz – belíssima – me disse: ‘Venha! Espero-o em Cafarnaum.’ Assim, de manhã, embora ainda estivesse muito fraco para erguer a cabeça, disse aos meus hospedeiros que iria até aquela cidadezinha miserável nas colinas maltratadas. Eles são gregos e ficaram consternados. Chamaram para ver-me um ancião judeu de muito renome em Cesaréia, que me disse que, apesar da maioria dos judeus acreditar que o Messias aparecerá em celeste esplendor, de forma a que todas as nações soubessem dEle instantaneamente, foi profetizado que poucos ou ninguém O conheceriam.
“O ancião repetiu as palavras de um dos seus profetas, constante dos Livros Sagrados:
“Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens, Ele, um Homem de sofrimentos, familiarizado com a aflição. E, como um de quem os homens escondem o rosto, foi desdenhado e não o estimamos. Certamente, carregou nossas penas e nossos sofrimentos! Mas nós o consideramos atingido duramente por Deus e angustiado. Contudo, Ele foi ferido por nossas transgressões, foi atingido por nossas iniquidades. Sobre Ele caiu o castigo que nos tornou indenes e, com seus vergões, ficamos curados.”
Confesso – continuou Télis – que não compreendo essas palavras, que nada significam para mim. Mas o ancião não insistiu para que eu desistisse de ir a Cafarnaum. Contei-lhe meu sonho. Ele cobriu a cabeça, à maneira dos judeus, pareceu rezar, colocou as mãos sobre mim, abençoou-me e perguntou se me sentia mais forte. Depois que se foi, senti-me de fato mais forte e preparado para a viagem, de acordo com meu sonho.
Aristo ficou mudo. Foi como se ele tivesse subitamente sido tomado por um encanto. Olhou para o rosto cheio e avermelhado do anfitrião, para seus olhos faiscantes e jovens, permanecendo em silêncio.
- Meus amigos foram bondosos – disse Télis. – Parti na manhã seguinte no veículo mais luxuoso, coberto de tapetes, servido pelos criados mais solícitos. Foi uma longa viagem até aquela região de colinas de basalto negro e terras, montanhas desoladas e valezinhos famintos. Mas isso passou como um sonho. Dormi e repousei. Estava tomado do mais ardente desejo de olhar de frente aquele santo rabino. Meu sangue continuava a fluir pela boca. Às vezes delirava, febril, e paramos em diversas estalagens. Houve outras vezes em que acreditei já estar morto, pois tudo era bruma à minha frente, na qual faiscavam brilhantes raios de luz. Frequentemente, estive inconsciente. A morte estava agarrada à minha garganta. Um pesado torpor tomou meus membros e recusei comer.
“Você não conhece essas cidadezinhas judias, tão pobres, tão exauridas pelos cobradores de impostos, tão desesperadas, tão abatidas, tão maltrapilhas, triste e miseráveis. Vivem cheias de aflição e desespero. Vivem no medo e apesar disso são orgulhosas. Cafarnaum era típica. Eu estava então mudo, os dias eram quentes, as noites frias e a morte estava próxima. Encontramos um pequeno albergue muito rude e nele passamos a noite.
“No dia seguinte, os bondosos criados perguntaram pelo santo rabino e disseram-lhes que o homem podia ser encontrado nas ruas, dirigindo-se ao povo sofredor, levando-lhe uma mensagem de esperança em sua angústia. Eles o amavam. Amontoavam-se em torno dele, tocando suas vestes, suplicando-lhe em lágrimas, e ele sorria suavemente, falando-lhes da misericórdia do seu Deus. Disseram que suas palavras os comoviam menos que seu rosto e maneiras, pois parecia todo amor, força, energia e consolo.
“Assim, no dia imediato, determinei aos criados que me conduzissem numa liteira pelas ruazinhas apavorantes de Cafarnaum, à procura do santo rabino. Pensei que ia encontrar um ancião venerável, de barba branca e passos vacilantes, pois existiam muito poucos santos homens moços! Mas o encontramos subitamente, pois ele estava falando junto de uma fonte, rodeado de uma multidão de mulheres, crianças, velhos, rapazes e virgens, de roupas grosseiras, mãos cheias de cicatrizes, esforçando-se em olhá-lo, chorando, tentando tocá-lo. As mulheres levavam cestos na cabeça, contendo verduras murchas, algumas tinham jarros de água no ombro e seus filhos estavam quase nus em sua pobreza; os velhos, enfraquecidos pela idade e pela fome, sentavam-se nas pedras, aos pés do rabino. Bastava-lhes que ele estivesse ali.
“Levantei-me com grande esforço da liteira e vi-o.
Télis fez uma pausa. Não pôde mais conter as lágrimas. Aristo franziu o cenho. Tudo aquilo parecia indigno do seu amigo.
Garanto-lhe – disse Télis com voz rouca e perturbada – que nunca vi um homem como aquele! Ah, ele era pobre, vestia roupas grosseiras, usava sandálias de sola de madeira com cordas até os tornozelos e uma capa pobre e remendada. Mas parecia um rei! Era belo como o povo da Galiléia que não se misturou a nós, belo como os macedônios e o povo de Cós, tinha cabelos e barba louros e olhos azuis como o céu ateniense. Era jovem. Alto, musculoso, varonil, rosto e mãos queimados de sol, transpirava força e majestade. Era um rei em andrajos.
“Reconheci-o logo. Não ria, meu amigo. Reconheci-o imediatamente como o Deus Desconhecido e não me pergunte como. Eu mesmo não sei! Mas tive certeza e fui tomado de uma indizível alegria.
“Em torno dos ombros largos, usava o inevitável xale de rezar dos judeus e sacudiu as borlas quando falou ao povo com o tom mais suave. Não sei o que ele disse. Exultante, não tirei os olhos dele. Vi-o tocar em aleijados, afagar criancinhas nos braços das mães e foi como se um deus transigisse com aqueles pobres destroços; seus rostos fulguraram de alegria.
“Quem sou eu, perguntei-me, para que o Deus Desconhecido se digne olhar-me ou prestar-me atenção? É suficiente que eu O tenha visto, que O tenha conhecido. Fiquei em condições de partir porque uma profunda paz desceu sobre mim, a dor e a ansiedade desapareceram, a morte não tinha mais importância para mim. Eu tinha sido abençoado pelo simples olhar que Lhe dirigi. Eu queria cantar, abraçar, rir, amar, pois era como se tivesse remoçado e o cego tornado a ver. Que era minha doença para mim?
“Foi então que Ele virou Seu rosto heroico para minha liteira e nossos olhos se cruzaram através de um grande espaço, em silêncio. Depois, Ele sorriu. Ergueu a mão me cumprimentando, como que reconhecendo um amigo que tivesse feito uma longa viagem para vê-Lo. Imediatamente, caí num sono profundo e demorado. Só acordei algum tempo depois e, nessa altura, já estávamos longe de Cafarnaum.
“Mas, meu amigo! A força e a saúde fluíam no meu corpo! A hemorragia tinha cessado. Eu estava tremendamente faminto. Exigi comida. Quando chegamos a uma estalagem, saltei da liteira e os criados me olharam espantados. Comi como um faminto.
Impossível, pensou Aristo. Ou então ele havia encontrado um feiticeiro mágico.
- Olhe para mim! – gritou Télis. – Estou na mais perfeita saúde! Os médicos ficaram perplexos. Não encontraram nenhum defeito no meu corpo, nenhum câncer! Não aconteceu com o decorrer dos dias. Chegou num piscar de olhos, num instante. O Deus Desconhecido me curou com um simples olhar do Seu olho compassivo!
Aristo pigarreou e disse:
- Então você vai tornar-se judeu por gratidão?
Télis o olhou com ar estranho.
- Sabemos que os judeus fazem proselitismo, que procuram atrair todos os homens para sua crença em Deus. Mas aquele a Quem olhei não me dirigiu a palavra. deu-me apenas Sua santa compaixão, como de irmão para irmão. Espero Sua chamada.
- Sua chamada! – exclamou Aristo, cada vez mais incrédulo.
- Certamente ele virá – retrucou Télis. – Enquanto isso, me tornarei mais honesto.
Aristo refletiu. Diziam que os judeus podiam lançar os mais assombrosos encantamentos. Era evidente que um deles havia sido lançado sobre Télis por um rabino judeu, pobre e sem nome. Aristo ficou contente pelo amigo ter recobrado a saúde. Contudo, se ele estava a ponto de tornar-se um homem honesto, isso liquidava todas as ambições de Aristo aprender novos segredos de conseguir riquezas.
- Você saberá! – disse Télis, com voz alegre, de absoluta convicção. – Você também saberá!
Aristo pensou nessa perspectiva deprimente. Desejava desfrutar a vida e todos sabiam que os judeus não desfrutavam a vida. Aquele rabino anônimo era pobre e andrajoso. Poderia fazer uma fortuna na Grécia e em Roma, cujos habitantes eram supersticiosos.
Télis transpirava felicidade e vigor, coisa que Aristo não podia negar, pois o moribundo recebera novas forças e juventude. Aristo balançou a cabeça, numa negação vacilante.
Este trecho longo do livro de Taylor Caldwell, “O grande amigo de Deus”, não poderia de transcrever na íntegra, pois dá uma ideia magnífica da compreensão, incompreensão e conversão ou não a um pensamento.
Tive dessa forma uma nova visão, magnífica, do perfil psicológico de Jesus. É mais um detalhamento de um modelo de comportamento no qual posso espelhar as minhas ações.
- Quando voce me deixou em Cesaréia, caro amigo – disse Télis -, para que eu pudesse visitar meus conhecidos, fiquei muito doente. Acordei um dia, depois de sonhos aflitivos, e vi minha cama empapada do sangue que tinha escorrido de minha boca. Meus amigos chamaram os melhores médicos, inclusive um que tratava de Pôncio Pilatos, e eles anunciaram, balançando as cabeças, que eu estava desenganado por causa do meu câncer. Não pude erguer a cabeça do travesseiro, mal pude engolir um pouco de vinho e preparei-me para morrer.
Era uma tristeza para mim, pois tinha levado uma vida excitante, se não verdadeiramente alegre, e ainda considero a vida, como nós gregos, dizemos, os Grandes Jogos. Tenho propriedades e extensas terras em vários países e meus banqueiros e corretores são, comparativamente, pessoas honestas – na medida do possível para gente da sua classe, o que não é extraordinário, infelizmente -, mas ainda desejava participar dos Grandes Jogos e tenho uma filha que é a luz da minha alma. – Télis suspirou. – Você deve ter observado que mulheres inteligentes não são devotadas nem muito ternas, pois temos olhos vivos para a deficiência de caráter dos homens e não se recusam a falar mal deles em todas as ocasiões, mesmo diante de visitas. Se um homem sente-se indisposto, elas costumam olhá-lo friamente e sugerem que ele se levante e vá para seu escritório, seu trabalho ou outros negócios, como se o lar estivesse precisando de dinheiro e os banqueiros pressionando, uma filha necessitando de um dote ou um filho entrando na adolescência, cuja celebração tem de ser preparada. Além disso os deuses exigem sacrifícios e Deus ajude a casa que não os fizer! Confesso – acrescentou Télis – que sob tal estímulo e pressão, temos de sair de nossas camas de enfermos e, antes do crepúsculo chegar, nossa doença misteriosamente desaparece. No entanto, um pouco de ternura e comiseração, embora atrasem nossa recuperação, confortam a alma de um homem e acalmam o seu corpo. Frequentemente, a doença de um homem não é do corpo e sim da alma, coisa que uma mulher inteligente absolutamente não tolera. Temo que uma mulher assim suspeite que os homens não tem alma.
Por outro lado, a mulher obtusa serve o marido ou o pai com doçura, tolera-o com ternura, não o obriga a levantar-se, vestir-se, sair de casa, dedicar-se aos seus negócios. Ela o convencerá a ficar na cama, lhe levará pedaços de comida deliciosos, o alimentará com suas próprias mãos, mandará servir-lhe o melhor vinho, cantará, se tiver uma bela voz, afagará e refrescará sua testa, manterá a casa em silêncio enquanto durar sua doença, prestará muita atenção aos ruídos do seu corpo, tolerará seus graves pensamentos sobre a vida, a morte e o significado de tudo isso. A doença nessas circunstâncias, pode tornar-se deliciosa e demorada, mas um homem tem de viver unicamente para o dinheiro ou mesmo para a boa saúde?
Esse trecho do livro de Taylor Caldwell, “O Melhor amigo de Deus” trouxe esse pensamento quanto a mulher. Reforça a característica humilde que a mulher deve ter frente ao homem, mesmo que ela seja uma pessoa culta.
Acredito que a autora sendo mulher e inteligente, fez uma boa descrição das duas formas psicológicas que as mulheres apresentam. Concordo também, mesmo entendendo que a mulher humilde, mesmo sendo de grande valor, sempre faz falta um toque de inteligência, desde que não seja para entrar em confronto com elas, que pensam muito mais nos seus interesses particulares. Digo assim pois já tive oportunidade de conviver com mulheres de todos os níveis sociais e perfis psicológicos, e prefiro viver só do que em conflito com mulheres que não tem a capacidade de humildemente colocar os seus interesses subordinados aos meus, não que eu queira ser injusto ao não defender uma relação igualitária entre homem e mulher, mas sim encontrar uma harmonia entre interesses opostos.