A família universal é o ponto máximo da evolução social que devemos alcançar, quando todos tivermos transformado os corações, do instinto animal para a moral cristã. Ainda estamos num estágio muito precário, onde o próprio papa, líder da igreja cristã, sofre agressões dos seus próprios liderados, dentro da Cúria, por tentar aproximar as ações eclesiásticas das lições que o Cristo nos deixou. Portanto, a família universal ainda está muito distante, pois, se a igreja que devia guardar com verossimilhança as lições do Cristo, age dentro dos mesmos sentimentos egoístas dos leigos, então o Reino de Deus ainda irá a acontecer na sociedade.
Felizmente podemos ser cidadãos do Reino de Deus desde que consigamos controlar em nossos corações esse egoísmo que herdamos ao nascer e que nos acompanha até a sepultura. Isso pode gerar uma situação paradoxal, pessoas de formação eclesiástica, sacerdotes responsáveis pela religião do Amor, são à nível espiritual cidadãos comuns, enquanto pessoas simples e humildes, sem grande poder ou sabedoria, são considerados como cidadãos do Reino de Deus, por terem conseguido controlar em seus corações os instintos animalescos do egoísmo.
Naturalmente, na igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela. Assim acontece com a formação das famílias que sofrem diversas estruturações ao redor do mundo. Temos que focar no Amor Incondicional e fazer a sua prática, pois mesmo parecendo muito diferente e estranha do que existe hoje nas culturas, iremos perceber com o tempo a importância desse sentimento para a formação da família universal. Poderemos contar com os espíritos santos que procuram fazer a vontade de Deus, e entre os diversos aspectos dessa vontade, a mais importante é a nossa instrução e proteção dos caminhos do mal por causa da ignorância. Seremos orientados, dessa maneira, pelo Espírito nos conduzirá à verdade completa, isto é, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver tudo com o seu olhar.
Por isso, as culturas que são muito diferentes entre si, terão que se voltar a um princípio geral para que alcancemos a formação da Família Universal. Esse princípio deve ser o Amor Incondicional, que para ser observado e aplicado, precisa ser inculturado, isto é, não pertencer a nenhuma cultura em particular, pois todas estão contaminadas pelo egoísmo, pelo amor romântico, na melhor das hipóteses. Deve ser criada as condições de formação de um novo perfil comportamental capaz de construir a família universal, deve ser muito diferente da prática exercida em cada grupo cultural que de uma forma ou de outra estão sempre movidos pela força do egoísmo, alimentadas pelo amor romântico, ou pela força do poder político ou financeiro. Apesar dessa necessidade, podemos observar que a prática do amor incondicional ainda está muito distante da formação das famílias em qualquer cultura em volta da Terra.
Outro fator complicador que surge para dificultar a formação da família universal é o surgimento de ideologias como aquela chamada genericamente de gender (ideologia de gênero), que nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferença de sexo, e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma forma de intimidade afetiva radicalmente desvinculada da diversidade biológica entre homem e mulher. A identidade humana, nesse caso, vai ser determinada por uma opção individualista, que também muda com o tempo. Preocupa o fato de algumas ideologias desse tipo, que pretendem dar resposta a certas aspirações por vezes compreensíveis, procurarem impor-se como pensamento único que determina até mesmo a educação das crianças.
Dentro deste contexto, observamos que temos ainda muito o que fazer para construir a Família Universal que o Cristo orientou, mas enquanto isso não é possível, que mantenhamos os nossos corações limpos da sujeira do egoísmo, para sermos cidadãos de um Reino que ainda não existe.
Este é o título de uma matéria que foi publicada na revista Veja de 01-03-17. Aborda o ataque que o papa Francisco está sofrendo em virtude da sua política mais solidária com o sofrimento do povo e de ser mais transparente com relação aos crimes de pedofilia e de corrupção dentro da igreja.
A origem das críticas, segundo a revista, está na mudança avançada que Francisco pretende imprimir na relação entre a igreja e os fiéis divorciados. Pelo dogma católico, o casamento é indissolúvel. Se uma pessoa se separa e casa novamente, comete pecado e não merece a comunhão na missa. O papa João Paulo II declarou que a única maneira de esses indivíduos serem novamente aceitos e participarem dos sacramentos consistiria em viverem como “irmão e irmã”. É uma solução obviamente esdrúxula e inaplicável no mundo de hoje que só afasta os separados da igreja.
Em março passado Francisco publicou a exortação Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), em que afirmava que a separação pode em alguns casos se tornar moralmente necessária quando se trata de defender o cônjuge mais frágil ou os filhos pequenos.
Francisco representa hoje o substituto de Jesus no seio da humanidade. Não quero ressaltar a igreja como instituição nesse processo eclesiástico. Vejo que a igreja é importante no sentido de levar a mensagem evangélica por todo o mundo, mas por outro lado incorpora dentro de suas leis todo o interesse humano de poder e manipulação das massas em proveito próprio de seus dirigentes. Essas ações do papa Francisco leva a um distanciamento dessa burocracia eclesiástica e uma aproximação às lições do Evangelho, consequentemente mais próximo do que Jesus nos deixou como lição.
O poder eclesiástico termina sendo ocupado por pessoas que, levadas por uma vocação espiritual se aproximaram da igreja, e por começarem a agir como lobos se tornaram dirigentes e reacionários a qualquer atitude que vise corrigir essa falha entre o que é falado e ensinado com o que é na realidade praticado.
Francisco como um Bom Pastor que pretende ser, seguindo os passos do Mestre, não poderia compartilhar com essas ideias, e pelo contrário, devia desautorizá-las e combate-las, como de fato está fazendo. Porém, os “lobos” em roupas eclesiásticas, não querem ser escorraçados do poder que detém, e dessa forma o mundo começa a assistir os urros implícitos ou explícitos contra o Santo Padre.
Nós, na condição de ovelhas, mas com consciência suficiente para discernir onde estão os lobos e os pastores, estaremos sempre atentos para seguir a voz do Bom Pastor, e fugir dos urros dos lobos.
Pai, cada vez me acho mais estranho ao começar a falar contigo dessa forma, como se estivesses tão distante quando eu sei que estás tão perto. E para que colocar no texto o meu pensamento quando tu sondas diuturnamente o meu coração? Quando sabes a verdade mais criteriosa sobre mim, verdade essa que nem mesmo eu sei?
Por isso, Pai, fico muitas vezes paralisado, sem saber o que escrever. Meus dedos ficam pendentes ao lado do meu companheiro notebook, que compreensivelmente espera os meus toques. Mas, se nada me toca à alma, nada me faz tocar o teclado. E muitas vezes eu espero... espero... espero!
Como um aluno pego em falta, que não aprendeu a lição e não sabe como concluir a prova, e que sabe que o professor está atento aos seus mínimos gestos, assim me sinto eu. Travesso, desconfiado, impotente...
O meu único companheiro e cúmplice nesse momento é o tempo. Ele faz acumular ansiedade em minha alma e que me faz aceitar o conselho que daí surge: “Por que tu não descreves o que estás sentindo, mesmo que o teu Pai saiba bem mais que você? Afinal é o teu dever o conversar com Ele, não quer dizer que tu tenhas de falar um assunto que Ele ainda não conheça, pois isso é impossível.”
Portanto, Pai, estou falando contigo dessa forma, uma espécie de cola. Mas sei que Tu entenderás, como sempre faz, que me perdoará a fraqueza e o erro de não falar contigo coisas mais perto do sublime do que da fraqueza.
Eis um ponto, Pai, que justifica o pedido que faço agora: a fraqueza.
Dá-me força, sabedoria e coragem para fazer a Tua vontade em todos os momentos da minha vida, pois a intenção eu já possuo. Quero saber tratar o intolerante com tolerância, o falso com honestidade, o orgulhoso com humildade, o vaidoso com simplicidade, o ciumento com liberdade, o raivoso com alegria, o ganancioso com bondade, o maledicente com caridade... pois sei que todos eles são meus irmãos, e que por mais esforço que eu tenha feito até agora, ainda sei que possuo traços do que eles sofrem com mais intensidade.
Assim, Pai, estendo o meu pedido para todos que parecidos comigo sofrem com mais intensidade ao dores do egoísmo, da ignorância de não saberem ainda reconhecer que És o Pai misericordioso, mas justo, de todos nós, e que por mais que nos escondamos por trás de paredes materiais ou de falsas justiças, Tu estás a observar tudo que se passa e pronto para acolher os pedidos de socorro quando o choro e ranger de dentes da verdadeira justiça se fizer evidente. Posso até sofrer os efeitos das ações dos falsos, dos corruptos, dos maledicentes, mais jamais posso julgá-los ou condená-los, pois isso eu sei que é Tua tarefa, meu Pai. E, quando eles agem assim e me fazem sofrer também, sei que isso está contribuindo para o meu aperfeiçoamento, fazendo eles comigo o que a justiça divina está fazendo com eles. Sei que tudo na vida está em movimento evolutivo e todos devem se harmonizar com esse movimento que leva em direção a Ti, meu Pai.
A política sofre muito com o desvio de função provocado pelo clientelismo. A política deve ser voltada para o bem comum e não patrocinar benefícios a indivíduos ou grupos que prejudiquem a coletividade. Esse clientelismo é gerado a partir da campanha eleitoral, quando o candidato promete benefícios a seus eleitores que são inconvenientes para a comunidade. O poder executivo e o poder legislativo é formado geralmente nessa base de interesses. Como o candidato pode ser eleito nas atuais condições do Brasil, se não prometer ou der, antes ou depois do voto, significativos presentes? Como um candidato pode se eleger e exercer a verdadeira política se está totalmente comprometido com essa “policagem” que parece mais uma molecagem do “toma lá, dá cá”? Se muito do que ele diz ou defende na praça pública, ele sabe que jamais poderá cumprir se não fizer parceria com o ilícito?
Com essa forma de procedimento a atividade política se torna corrompida no seu nascedouro: a campanha eleitoral. A verdade do que irá acontecer depois das eleições fica sempre encoberta pela omissão ou pela mentira. Quem pode desmascarar esse ato ardiloso, enganoso, de má-fé, feito com o intuito de lesar ou ludibriar os eleitores, ou de não cumprir o seu dever de político?
Quem pode dirimir essas dúvidas é o diálogo racional, a dialética dos conflitos originado pela contradição entre princípios teóricos ou fenômenos empíricos. Esse diálogo deve ser feito entre os interlocutores comprometidos com a busca da verdade, através do qual a alma se eleva, gradativamente, das aparências sensíveis às realidades inteligíveis ou ideias. De acordo com o aristotelismo, a dialética é um raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está fundamentado em ideias apenas prováveis, e por essa razão traz em seu âmago a possibilidade de ser refutado.
Porém, como o objetivo final é a busca da verdade, cada interlocutor não terá oportunidade de colocar argumentos falaciosos sob pena de ser desmascarado pela verdade que surge do lado oposto.
Dessa forma, quem sabe que está usando a mentira para corromper a verdade e ludibriar quem o ouve, terá medo de participar desse diálogo especial. Poderíamos imaginar que esse diálogo esteja ocorrendo nos debates no período eleitoral, onde cada um coloca seus argumentos para conquistar o voto do eleitor. Porém, como os contendores usam dos mesmos critérios de obstruir a verdade, principalmente nas doações eleitorais, a real consequência dos votos conquistados não é explorada à luz da verdade.
Necessário que a sociedade consiga criar esses espaços privilegiados onde o diálogo aconteça em busca da verdade, e o debate não possua mais o tom de violência e agressividade que acontece hoje em todos os níveis, do acadêmico ao eclesiástico.
O céu e o inferno estão dentro de nossas consciências, conforme o bem ou o mal que fizermos em qualquer dimensão de nossas vidas. Existe o umbral, conhecido por alguns como purgatório, um estágio intermediário entre o céu e o inferno.
Nossos espíritos estão encarnados aqui na Terra com o objetivo de aprender ou purgar algumas dívidas pelo mal que fizemos. Portanto, aqui é onde está a grande oportunidade de refazermos as nossas consciências. Temos oportunidade de nos esforçar para ficar no céu ou obedecer aos instintos corporais e permanecer estacionado no inferno.
Esta condição é muito instável, podemos passar do céu para o inferno num piscar de olhos. Lembro de uma história oriental onde um famoso samurai foi procurar um sábio em aldeia distante, pois ele queria saber sobre o céu e o inferno. Depois de muito caminhar ele chegou ao seu destino, encontrou o sábio, e perguntou se ele poderia lhe ensinar sobre o céu e o inferno. O sábio olhou-o de alto à baixo e respondeu com ironia: tú, uma pessoa simplória, malvestida, fedorenta, querer aprender conceitos tão importantes? O samurai sentiu a raiva ferver em sua mente, sacou da espada, levantou-a no ar pronto para decepar a cabeça do insolente sábio. Foi neste momento que o sábio, sem se alterar, apontou o dedo em sua direção e disse: eis aí o inferno! O samurai caiu em si, percebeu que o velho sábio, correndo o risco da própria vida, lhe deu uma excelente lição sobre o que era o inferno: um estado de consciência tomado pelo ódio, raiva, ira, intolerância, conflito, capacidade de destruição, dor e sofrimento moral. Mudou rapidamente de atitude, agradeceu com lágrimas nos olhos tão importante lição que recebera de uma pessoa que não o conhecia e que arriscou a vida para o servir. O sábio com a mesma serenidade, abriu os braços de forma conclusiva e disse simplesmente: eis aí o céu! O samurai percebeu que nesse momento sua espada não estava mais ameaçadora, sentia respeito, compaixão, amor, compreensão, tolerância, harmonia, capacidade de construção e felicidade moral.
Eis um bom exemplo de como nossas atitudes em reação a algum incidente em nossas vidas podem nos jogar de forma rápida e às vezes compulsiva, dentro do inferno. Saber permanecer sempre dentro do céu, qualquer que seja o incidente que estejamos vivenciando no momento, é uma das grandes lições que temos que aprender aqui na Terra. É como disse Jesus, transformando o nosso coração, iremos nos sentir como cidadãos do Reino de Deus, mesmo que ao nosso redor exista o inferno.
Foi o que aconteceu hoje, segunda feira de Carnaval. Fui visitar os bonecos de Olinda, município de Recife-PE, por volta das 13 horas. Os bonecos ficavam no alto, próximo da igreja, mas como existia a folia do Carnaval, não havia como chegar lá de carro. Imaginei que iria enfrentar apenas um longo percurso a pé, mas valeria a pena ter essa oportunidade de ver in loco uma realidade da cultura nacional. Quando comecei a subir com meus companheiros, percebi a quantidade de gente que caminhava, principalmente no mesmo sentido que nós. Não percebemos que a cada momento que subíamos, a quantidade de gente aumentava e chegou um momento que era impossível voltar, pois a massa, pulando e cantando as marchas carnavalescas, era quem impunha o ritmo e a direção do caminhar. Observei nesse momento que estava numa região que poderia ser considerado com toda a propriedade o umbral. As pessoas que estavam ali, a grande maioria, se consideram religiosas e pretendem obedecer algumas regras morais de convivência. Mas nesse momento essas regras eram totalmente esquecidas. As atitudes sensuais eram as mais corriqueiras, regadas ao uso do álcool na forma de cervejas geladas para aliviar o calor, e do roubo de objetos de valor por grande número de pessoas que estavam ali para perpetrar seus ataques. Era como se fosse o tridente dos cães a pinicar a pele dos foliões na forma de perda material. Tudo isso era compensado pela maioria que estava ali nos mais diversos disfarces: padres, freiras, caveiras, piratas, comandantes, anjinhos, mas também tinham os próprios demônios. Não tinha outra saída, não poderia ficar parado ou voltar. Teria que seguir a direção do movimento, arrochado entre as pessoas, andando ou pulando. Resolvi me identificar o máximo possível com aqueles foliões para não deixar parecer uma ovelhinha inofensiva, pois poderia me tornar facilmente o alvo das feras que estavam a nos espreitar.
Foi assim que de pulo em pulo, de passo em passo, consegui chegar a uma ruela pouco movimentada e voltar para onde cheguei. Faço esses comentários para refletir que, mesmo em meio a tanta volúpia sensual e alcoólica, a minha mente se manteve sintonizada nos princípios espirituais. Não agi de forma sensual, não falei palavras indecentes, não provoquei conflitos, não ingeri drogas de nenhum tipo. A experiência foi de ter passado pelo umbral de forma inesperada, e sem poder auxiliar a nenhum dos que estavam ali, não conseguiriam ouvir nenhuma palavra da espiritualidade maior, mesmo porque o som alto não deixava e se chegasse a ouvir e consciência contaminada não deixava escutar e refletir.