Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
26/02/2013 00h15
BOA CONSCIÊNCIA

            Voltando a leitura do livreto IMITAÇÃO DE CRISTO, cap. 20, que fala do amor à solidão e ao silêncio, item 3: “Não pode haver alegria segura sem o testemunho de boa consciência. Contudo, a segurança dos santos estava sempre misturada com o temor de Deus; nem eram menos cuidadosos e humildes em si mesmos, porque resplandeciam em grandes virtudes e graças. A segurança dos maus, porém, nasce da soberba e presunção, e acaba por enganar-se a si mesma. Nunca te dês por seguro nesta vida, ainda que pareças bom religioso ou ermitão devoto.”

            Este é um bom conselho que eu devo aproveitar. Tenho uma tendência, de só por que tenho boas intenções, já me considerar seguro, num patamar espiritual superior. Agora, não sinto esse temor de Deus com tanto significado como é colocado no texto. Sinto mais um grande respeito e grande veneração, que Ele está sempre perto de mim e pronto para me ajudar e perdoar os meus erros. Acredito que é assim por causa das minhas intenções. Caso eu tivesse más intenções eu poderia temer à justiça de Deus. Mesmo na ocorrência dramática que passei no sábado, devido ao meu exagero na alimentação, na gula, enfrentei as consequências sabendo que era permissão de Deus, mas que eu podia recorrer a Ele para ser perdoado por minha invigilância. Então, a minha segurança está sempre vinculada ao amor de Deus a todas as criaturas, e principalmente aquelas que conscientemente procuram fazer Sua vontade, deixando de lado os próprios interesses.

            Este período que estou passando no deserto quaresmal deve ser único. Deve ser uma espécie de vestibular, de ENEM espiritual onde de acordo com meu desempenho vou ser aceito para uma missão apropriada ao que já conquistei com meus esforços até o atual momento. Como todo estudante que faz o ENEM, eu também enfrento o deserto esperando me capacitar para uma missão que considero muito honrosa e que para tanto vou precisar de professores de alta competência espiritual, da estirpe do próprio Jesus, mesmo porque a missão que eu quero é justamente aquela que Ele veio anunciar: realizar o Reino de Deus neste mundo material, nestas relações interpessoais cheias de egoísmo, nas relações íntimas cheias de exclusivismo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 26/02/2013 às 00h15
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
 
25/02/2013 23h47
ROTINA NO DESERTO

            Estou entrando num padrão satisfatório na vida no deserto. Equilibrei minhas obrigações materiais, de trabalho e de relacionamentos profissionais ou sociais sem festa, com o dever espiritual do clima da Quaresma. Hoje fiquei o dia inteiro de jejum, sem comer uma simples balinha. Sinto que satisfiz a expectativa do Pai, sinto que ele até me recompensou em alguns momentos, diferente do sábado quando eu senti o peso de seu castigo, na forma das consequências do que eu fiz. Chego cedo em casa vindo direto do trabalho, sento no tapete da sala e fico rodeado de livros que escolhi para ler nesse período, todos de cunho espiritual, que me orientem, confortem, motivem. É pena que eu tenha que dormir, queria aproveitar a noite toda madrugada a dentro sem tirar nenhum cochilo. Acontece que quando forço para fazer isso, nãoconsigo, a mente apaga e durmo em qualquer lugar, no sofá, no tapete, no puf, na cadeira de trabalhar... raramente me destino dormir na cama, e quando isso acontece é para dormir pouco tempo, deitar de 5 horas e levantar de 6 horas, por exemplo. Sei que o meu ritmo de funcionar está fora dos critérios fisiológicos, principalmente no que diz respeito ao sono e a alimentação. Recebo críticas sobre isso, mas não posso entrar no comportamento regular que todos procura seguir. Tenho consciência imortalidade da alma e que meu estágio aqui na terra é para aprender e ensinar lições que produzem nossa evolução, saber lidar com as exigências e necessidade do corpo é a grande lição. Vivo cercado de estímulos os mais diversos, a grande maioria dirigida aos prazeres dos sentidos corporais, ligados a manutenção do corpo físico e a preservação da espécie.

            Esta sensação de satisfação, de harmonia com as exigências espirituais que se confrontam com as necessidades materiais, é como um exercício salutar para o espírito que esse período da Quaresma oferece. Espero que essa sensação de rotina se espalhe para o período fora da Quaresma, quando será incluída de volta todas as relações afetivas com todas suas demandas de intolerância e de exclusividade para com os outros. Espero voltar com toda a sabedoria que este atual momento está me proporcionando, apesar do sofrimento que é o afastamento afetivo das pessoas que amamos. Pelo menos sinto um grande avanço: a comunicação com o Pai e com o Mestre Jesus está mais satisfatória. Já encontro as palavras para falar com ambos com naturalidade, afinal, são Eles que estão afetivamente comigo neste deserto.

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 25/02/2013 às 23h47
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
 
24/02/2013 23h59
GATO ESCALDADO...

            Hoje amanheci mais cuidados com as ações que devo realizar. É aquele velho ditado, “Gato escaldado tem medo de água fria”. O que sofri ontem serviu para me chamar a atenção sobre as responsabilidades deste período de Quaresma que resolvi assumir com seriedade. Então não posso agir como se fosse uma brincadeira e desconsiderar toda a responsabilidade espiritual que trouxe para mim. Pela manhã fui fazer perícias e logo em seguida fui para o Flat almoçar com a turma. Depois do almoço eu sugeri uma roda de conversa onde cada um pudesse colocar algo importante da sua vida para discutirmos em clima de fraternidade. Terminei iniciando o assunto por sugestão de todos. Coloquei a leitura do texto publicado no diário de ontem, “Aflição no deserto” e em seguida a leitura da Parábola, “Ceifeiros equivocados”. O primeiro foi motivo de riso para todos, apesar de eu ter enfatizado o meu fracasso em confronto com a gula e ter merecido o castigo. Depois fiz a leitura da parábola e abri para a discussão. O meu primogênito argumentou que via o amor romântico e o amor incondicional como dois sentimentos incompatíveis, como água e óleo. Depois fez a indagação de que seria a conceituação do amor. Considero uma indagação pertinente, pois a partir dessa conceituação podemos avançar no sentido de estudar as diversas variáveis por onde diverge o amor. Agora não entendo a ausência de hierarquia entre as diversas formas de amor, principalmente do amor original, espiritual, incondicional, divino. Ao meu ver, esta forma de amor é a maior força do Universo e responsável pela criação e harmonização de tudo. Infelizmente o nosso intelecto não alcança uma perfeita definição conceituação que abranja todos os detalhes da natureza e seus diversos mecanismos movimentados pelo amor, tanto na sua expressão criativa e evolutiva, quanto na expressão corretiva de ações que o intelecto imaturo e de posse do livre arbítrio possa cometer.

            Foi colocado em cheque a possibilidade do Amor Incondicional ser colocado na prática, pois quando surgir o amor romântico este terá mais importância. É este ponto que não entra na minha compreensão, como pode uma força maior, o amor incondicional, ser subjugado por uma força menor, o amor romântico? A não ser que, quem se envolva com o amor romântico assim o permita, atendendo a desejos e necessidades pessoais, de caráter exclusivista.

            No meu modo de entender, se quero preservar o amor incondicional no meu comportamento, mesmo que eu seja atingido pela força dessa derivação romântica do amor, não posso deixá-la exibir suas características em meu comportamento de forma majoritária, devo sempre deixá-la submetida aos interesses do amor incondicional, principalmente no aspecto mais contundente que é a inclusão (amor incondicional) em detrimento da exclusão (amor romântico).  

            Terminado essa discussão sem chegarmos a um consenso, terminei o dia com muito cuidado com o meu comportamento, sem abrir espaço para tropeços como o acontecido no dia anterior, afinal, gato escaldado...

Publicado por Sióstio de Lapa
em 24/02/2013 às 23h59
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
 
23/02/2013 19h30
AFLIÇÃO NO DESERTO

            Tudo depende da sinceridade com que encaramos as diversas facetas da vida. Se eu não tivesse encarando com tanta sinceridade esse mergulho num deserto mental, onde deixo mais afastado as coisas materiais e fico mais próximo das coisas espirituais, para testar a capacidade de levar à frente a vontade de Deus que Ele colocou em minha consciência, certamente eu não teria passado pela aflição que passei há poucas horas. Quando resolvemos nos isolar e ficar mais próximo de Deus uma série de fatores contrários chega à nossa vida para testar nossas convicções. Foi assim que aconteceu com Jesus. Eu esperava sair do deserto vitorioso desse embate com as forças contrárias aos desígnios divinos, como Jesus o fez. Mas no meu caso parece que tudo está acontecendo ao contrário. Não estou contabilizando nenhuma vitória até agora, a não ser uma discreta melhora na comunicação com Deus através das orações. Hoje a tarde minha derrota foi acachapante, vergonhosa, humilhante. Se não fosse pelo meu dever de honestidade e transparência, eu nem registraria aqui neste espaço, mas se eu não fizesse isso seria mais uma derrota. Afinal eu devo registrar tudo que acontece comigo no deserto, de bom ou de mal. Afinal se não fosse registrado o que aconteceu com Jesus no deserto, hoje não teríamos esse belo exemplo para orientar e reformular nossos comportamentos.

            Hoje foi dia do meu trabalho em Caicó. Desde ontem pensei em não comer nada hoje, deveria fazer parte do meu teste no deserto, resistir ao desejo de comer. Para mim não poderia ser tão difícil, eu que consigo ficar três dias sem me alimentar e não me sentir desconfortável. Mas, logo no caminho da ida, em Santa Cruz, entrei na padaria onde costumo tomar o café da manhã. Fiz o mesmo prato das semanas anteriores. Observei que não cumpri o que havia planejado, mas não dei muita importância. Pensei simplesmente, que era só esse café da manha, não haveria de fazer tanto mal Parece até que eu não estava no “deserto”! No caminho de volta, parando o transporte em Tangará como sempre faz, eu como estou fazendo nas últimas semanas, fui ao restaurante peguei o prato e o enchi normalmente e pedi a mistura de peixe e porco, regado com coca-cola e acompanhado por duas bananas. Belo deserto!

            Na hora e meia que faltava para chegar em casa, senti que os intestinos estavam incomodados. Comecei a sentir a produção de gases e as cólicas suaves querendo expulsar o que eu havia colocado para dentro. Não era nada tão forte, tanto é que pensei em ir para o apartamento de ônibus mesmo. Mas por prevenção, resolvi ir de táxi. Foi a minha sorte. Logo que entrei no carro e no trajeto de 15 minutos até chegar ao destino, as cólicas foram aumentando progressivamente. É tanto que sentei no banco de trás do carro em me prendi com as pernas. Acredito que o taxista tenha ficado preocupado comigo, um passageiro tão esquisito, que entrou no seu carro e disse apenas o destino de forma monossilábica e ficou calado, meio torto no centro do banco, sem dizer uma palavra sequer durante todo o percurso. Ele colocava músicas românticas no carro e eu tentava rezar para o Pai me ajudar a controlar e eu não me sujar naquela ocasião. Tentava rezar o Pai Nosso, mas não saía do primeiro verso, “Pai nosso que estás no céu”... usava esse verso como refrão, repetidas vezes, como forma de suplicar ajuda ao Pai ao mesmo tempo um pedido de perdão, pois  já tinha consciência que isso era consequência da gula que não consegui controlar.

            Felizmente cheguei no apartamento e senti uma leve aliviada ao descer do carro. Mas logo que peguei o elevador para o meu apartamento no 4º andar, senti ao subir uma fortíssima cólica que venceu minha resistência e senti descer os dejetos. Mesmo assim eu tentava atenuar o prejuízo, continuava a me conter enquanto corria para abrir a porta e ir logo para o banheiro. Mas foi derrota total! Já em frente ao sanitário, eu não consegui vencer a pressão e toda sujeira enchia minha roupa intima e se espalhava para a calça e pernas. Sentei com roupa e tudo no vaso sanitário, mas agora era tarde... eu estava todo sujo e a medida que eu ia tirando a roupa, sujava tudo ao redor. Fiquei aliviado, a sujeira saíra toda de dentro de mim, mas agora eu estava cercado pela sujeira externa e o fedor que se espalhava ao redor. Deixei tudo ao lado do sanitário e entrei no Box para limpar o corpo. Passei sabonete com antibacterianos no corpo repetidas vezes até sentir que estava limpo e sem fedor. Agora eu tinha que resgatar a calça. Coloquei dentro do Box e comecei a lavá-la e tomar outro banho concomitantemente. Fiz várias lavagens na calça grossa até verificar que não tinha mais sujeira. Fiz uma última lavagem também com o sabonete antibacteriano, a torci e deixei pendurada no Box do banheiro. Agradeci por ela ter me protegido, de não ter deixado eu espalhar a sujeira pelo caminho. Deixei ao seu lado o cinto que também foi lavado e perfumado. Depois foi a vez da cueca, mas essa foi a mais comprometida. Ainda tentei a resgatar, mas ela estava totalmente impregnada. Foi o jeito sacrificá-la, colocá-la no lixo. Peguei depois um rolo de papel higiênico e limpei onde existia sujeira, na tampa, no bojo, no chão... depois que não vi mais sujeira repeti o mesmo processo com o papel impregnado de perfume de lavanda. Ao terminar tudo espergi a lavanda por todo o ambiente do banheiro. Terminei a minha limpeza pessoal, também usei a lavanda e vesti uma roupa limpa e vim fazer esse depoimento e reflexões.

            Se eu tivesse com uma das minhas companheiras mais próximas, com certeza eu teria recebido auxílio e talvez não tivesse percebido as consequências do que fiz e do que era necessário fazer para corrigir. É como um dependente químico que precisa sentir os problemas que causa ao seu redor para pensar numa recuperação. Para isso é que serve o “deserto”, para observarmos nossas faltas e consequências e assim ter maior motivação para corrigir os erros.

            Estou agora envergonhado, mas pelo menos eu tive a coragem de fazer o relato, de expor minhas fragilidades, que eu não sou o super homem ou santo que muitos pensam. Tenho também a percepção deste deserto que estou dentro dele, que não é brincadeira, que devo respeitar suas condições e fazer o enfrentamento dos desejos incoerentes à vontade do Pai que chegam à minha consciência.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 23/02/2013 às 19h30
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
 
22/02/2013 09h54
AFASTE-SE DA TURBA

            Seguindo as instruções que Deus me enviou, contidas no livreto “Imitação de Cristo” leio no item seguinte:

            “2. Disse alguém: “Sempre que estive entre os homens menos homem voltei” (Sêneca, Epist. 7). Isso experimentamos muitas vezes, quando falamos muito. Mas fácil é calar de todo do que não tropeçar em alguma palavra. Mas fácil é ficar oculto em casa, que fora dela ter a necessária cautela. Quem, pois, pretende chegar à vida interior e espiritual, importa-lhe que se afaste da turba, com Jesus. Ninguém, sem perigo, se mostra em público, senão quem gosta de esconder-se. Ninguém seguramente fala, senão quem gosta de calar. Ninguém seguramente manda, senão o que perfeitamente aprendeu a obedecer.”

            Esta lição é importante, pois está cheia de prudência. É verdade que a turba quase sempre está sintonizada com sentimentos ignóbeis. Ver exemplos de jovens de boa educação que juntos chegam a queimar pessoas que dormem nos bancos das praças. Eu sinto esse efeito também no meu comportamento. Quando estou junto da turba a tendência é que me deixe envolver com suas atitudes abjetas, irônicas, maledicentes, como se fosse algo natural. Então, o sentido de entrar no deserto para mim é que eu me afaste dessas diversas influências do ambiente em que vivemos e assim possa observar com mais clareza e menos influência o que depende mais de mim quedos outros. Onde estão as minhas faltas, o meu pecado, que me distancia da vontade do Pai, que faz eu entrar em desvio em busca dos interesses e prazeres da carne.

            Observarei o conteúdo da minha fala junto aos outros, já que não posso me isolar totalmente num mosteiro ou num deserto real. Verei como me comporto em cada situação, com as diversas pessoas que se aproximam de mim pelos mais diversos motivos. Procurarei me afastar da turba, e do grupo que eu me aproximar tentarei levar os pensamentos e comportamentos para temas mais construtivos dentro de nosso processo evolutivo.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/02/2013 às 09h54
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Página 849 de 932