Simão Pedro era considerado um tipo de gigante de Betsaida, o pescador famoso do Mar da Galiléia. Foi convidado para pescar homens pelo Mestre Jesus, que observou sua sensibilidade e energia. Foi o primeiro a ser escolhido como discípulo.
Tinha bastante prestígio entre os pescadores do Mar da Galiléia e de outros lugares como Betsaida, sua terra natal, Tiberíades, Magdala, Corazin, Cafarnaum, Nazaré e Caná.
Pedro já estava morando em Cafarnaum. Fizera com os demais pescadores uma sociedade para dela nascer, como em Betsaida, um grande rancho, onde pudessem descansar juntos, fazer reuniões, saber as notícias e contar histórias.
Uma das histórias que surgiu entre eles, foi de um jovem que falou o seguinte: Eu ia atravessando o grande lago ao romper da madrugada. A lua prateava as aguas e de repente ouvi um barulho no casco do barco. Os estalos aumentaram e passou a estalar no ar, acima do barco. Com medo, comecei a pensar em Deus, aí aconteceu algo maravilhoso. O meu avô, já falecido, surgiu numa nuvem brilhante sorrindo para mim. É pena que eu só tenha a lua, o lago e as estrelas como minhas testemunhas.
Pedro, ensimesmado, falou para o jovem: meu amigo, essas coisas não devem ser contadas para todo um grupo, mas sim para as pessoas que possuem fé.
Pedro continuou pensativo com a história, e desconfiado.
Caiu a noite, Pedro estava em Betsaida e junto a Felipe e André foram para o casario, para a reunião com o Mestre. Impaciente, olhou para Jesus, e este lhe acenou a cabeça como se dissesse: Pedro, fala! E o discípulo falou.
- Mestre! Queira desculpar a minha impaciência. Tu bem sabes que sou assim mesmo. As necessidades têm me ensinado que não devo parar, para sobreviver melhor. E, ás vezes, não consigo disciplinar-me quando estou em um ambiente como este, de respeito e de harmonia. Queria saber, de Tua parte, o que vem a ser Aceitar. Há momentos em que perco a direção diante dos fatos, e eles se complicam para o meu entendimento.
- Simão Pedro Bar-Jonas! Deus abençoe as tuas pesquisas. A Aceitação real depende do modo pelo qual aceitas. Quando entrares na lavoura da Natureza, em busca de algum fruto que possa saciar a tua fome, aceitas de pronto que todas as árvores fazem parte dela, como os animais, a terra e as águas, o ar, etc.
‘No entanto, somente algumas delas podem te oferecer o que buscas. Mas não deves desprezar as outras que, de imediato, não atendem as suas necessidades.
‘É bem provável que as árvores frutíferas não tivessem vida sem a cooperação alheia de tudo o que as cerca, inclusive do próprio homem. Aceitar um fato depende do teu íntimo, da verdade que vives. Mas mesmo aquilo que aceitaste, por certeza do coração e da inteligência, dependeu daquelas coisas que desprezas por incompatibilidade.
‘Jamais desdenhe daquilo que achas que é mentira, porque, para outro, pode ter utilidade. É bom que saibas que toda a invenção tem um fundo verdadeiro. As coisas reais vestem roupas diferentes para chegarem até os homens. Aceita o que te convier pela consciência e abençoa as outras.
‘No ambiente em que trabalhas, espalha-se a ideia de que são inventores de histórias, para que o descanso seja alegre. Quem não tem uma história verdadeira, procura inspiração aqui e ali, para alegrar os companheiros.
‘É nesse ambiente de contar a mais engenhosa história que surge ou desperta o caso verdadeiro que, quase sempre, vem no fim das conversas. Pela expressão do rosto de quem conta, notarás a realidade ou o invento.
Pedro começava a se lembrar da história do rapaz e via nela uma realidade, mas duvidava de uma aparição à pessoa que não era dada às coisas de Deus. Ainda não tinha firmado convicção no fato. E o Cristo continuou:
- Na Terra, Pedro, as coisas são muito difíceis. Já ouviste falar da labuta de um garimpeiro na busca de pedras preciosas? Ele remove montanhas de entulho para encontrar uma delas faiscando no meio das outras, que para ele são imprestáveis.
‘As pedras preciosas são as verdades, as outras são as mentiras. Estão sempre juntas. Se algum dia começares o trabalho de garimpar, aprenderás com o tempo a escolher, dentre o cascalho, as gemas da Natureza.
‘Mesmo depois que encontrares o tesouro no seio da terra, ele, para maior valor, tem que ser submetido ao lapidário. Assim é o que queres aceitar.
‘Fatos e coisas, Pedro, tudo passa pela força da razão. Testa-os nas sensibilidades que Deus te deu, valorizando a tua busca.
‘Acho bom pensar em ser garimpeiro de almas. Mas nunca acredites que vais encontrar preciosidades de corações em todas elas, pois isso é uma raridade, qual os diamantes em nossa região e o ouro que se esconde nas profundezas da terra.
‘Podes aceitar, meu filho, aquilo que diga respeito a verdade que sentes, e o que ouvires não se fundamentar no que queres: tu és sabedor, pela experiência, de como ouvir, porque às vezes, é atrás das coisas falsas, despontam as verdadeiras.
‘Os falsos profetas vieram e vêm misturados com os verdadeiros, para quem ama a verdade saber discernir e aceitar, por sintonia, o que o amor faz irradiar.
Simão Pedro descansou sua mente no intervalo da dissertação do Mestre. Todos os discípulos estavam sentindo a dilatação da inteligência. Cristo ampliava o raciocínio de todos, em uma compreensão maior. Era uma verdadeira escola de filosofia espiritual.
Finalmente, o Cristo conclui:
- Pedro! Pedro! Ouviste falar esta tarde de um dos fatos mais lindos que as leis presidem para a esperança dos homens. Quando se passa desta para a outra vida, pelo que é chamado de morte, que motivo impede a volta da alma sem o corpo que foi entregue à terra? Nas escrituras, que tanto amas, tens provas indiscutíveis dessa realidade. Em verdade eu te digo que, no nosso meio, por misericórdia de Deus, os anjos descem e sobem em nosso favor.
Simão Pedro saiu, pensativo, e o primeiro rosto que viu foi do jovem que lhe tinha contado a história da aparição nas águas do Lago da Galileia. O discípulo sorriu dizendo: “Vem cá, meu filho, vamos conversar.”
Sou eu que estou aqui, o Fantasma da Ópera. Não que eu queira ser visto como você me ver, eu não me sinto assim como você me ver. Talvez este seja o motivo da distorção, o contraste entre o ver e o sentir.
Todos que me veem e que não sabem quem sou, que veem a minha aparência e o meu comportamento à distância, não percebem o que tenho de feio e porque devo usar máscara para quem entra na minha intimidade e percebem quem sou realmente.
Poderiam pensar, e com razão: “então esse Fantasma da Ópera é uma pessoa do mal”. Outro engano, e este mais grave! Sou totalmente do bem. Por isso, devo esclarecer a causa da minha feiura, o motivo da minha máscara.
Tudo começou quando, ouvindo as lições de um Mestre espiritual chamado Jesus de Nazaré, que ensinava sobre o Reino de Deus, sobre a família universal, e que só poderíamos alcançar um e outro se aplicássemos em nossa prática a Lei do Amor, a lei do Pai, do Criador... o Amor Incondicional! Ele ainda ensinava como usar uma espécie de bússola para as pessoas de bem, que quisessem seguir suas lições, não se perder no caminho: “Fazer ao próximo aquilo que desejas que façam contigo”.
Ouvi estas lições e fiquei estupefato. Mas, isso era verdade! Devemos seguir esses ensinamentos e formar a família universal, construir o Reino de Deus e caminharmos em direção ao Criador. Porém, por que não vejo ninguém seguindo essas lições? Vejo sim, muitos seguindo determinada religião, cumprindo suas regras, evangelizando... mas cumprindo a Lei do Amor, não! Estou me referindo ao Amor Incondicional, pois muitos aplicam na vida o amor condicional, amar a alguém por qualquer tipo de condição. A maior delas é o amor filial, amar alguém porque é nosso filho, ou pai, ou mãe. Chegam a confundir o amor materno com o Amor Incondicional, amar a um filho tolerando o que ele faz de errado com o filho de outras pessoas. Isso jamais irá construir a família universal ou o Reino de Deus.
Percebi tudo isso, mas estava determinado. Eu iria tentar aplicar o Amor Incondicional ao meu redor, mesmo que ninguém o fizesse. Afinal, o Mestre não dissera que o Reino de Deus iria começar a partir do coração de quem começasse a praticar a Lei do Amor? Então, com essa determinação, comecei a me considerar cidadão do Reino de Deus e praticante do Amor.
Tudo poderia ter sido mais fácil para mim, se eu não tentasse dar um passo além do que o Mestre deu: me envolvi com o amor romântico! O amor que idealiza no outro a alma gêmea, que exige exclusividade de afetos, e manter essa fidelidade pela eternidade. Totalmente contrário ao Amor Incondicional, que ver no outro um irmão, que oferece o amor inclusivo. Este amor não pode, jamais, manter a fidelidade na exclusividade dos afetos que exige o amor romântico.
Acontece que o amor romântico mexe com o vulcão das nossas energias biológicas, com a força dos instintos que são responsáveis pela perpetuação da espécie através do ato sexual. Fiquei diversas vezes apaixonado e segui muitas vezes esse fluxo energético, desde que não contrariasse a Lei do Amor. Foi o passo a mais que eu dei. A lição prática que o Mestre não ofereceu. Ele jamais se envolveu com o amor romântico, mesmo que tenha sido tocado por ele.
Acontece que na minha consciência, onde está escrita a Lei de Deus, não há impedimento para que eu me envolva com o amor romântico, até as últimas consequências, do ato sexual e da geração de filhos, desde que esteja tudo sintonizado com a Lei do Amor. E a principal forma de sintonia com a Lei do Amor, é usar sempre a Verdade dentro dos relacionamentos.
Dessa forma, agindo dentro de uma cultura cristã, mas que não segue a Lei do Amor que o Cristo ensinou, que tem na maioria das vezes um comportamento hipócrita, vou ser visto como uma pessoa diferente e feia para o que eles acreditam e fazem como se fosse correto e justo. Isso tem um impacto mais forte para as pessoas que penetram na minha intimidade, que querem ser minhas companheiras. Tenho que dizer a Verdade, a feiura aparece na mente delas e por isso tenho que usar a máscara para não causar o escândalo, que o Mestre já havia me prevenido.
Por isso sou expulso quando essa feiura começa a ser percebida pelas pessoas mais próximas; por isso a razão deste texto, o Fantasma da Ópera está aqui, que foi inspirado por um sonho que tive hoje, onde uma das minhas amadas me acusa de ser o “Fantasma da Ópera” em sua vida, e devido as reflexões da professora Lúcia Helena, eu devo ter essas razões para me identificar como tal.
Esta exótica versão la Habanera “Vinte anos”, conquistou as redes sociais. Isaac e Nora, de 11 e 8 anos, aprenderam música graças ao seu pai nascido na Coréia do Sul. A interpretação do clássico cubano acumula dezenas de milhões de vistos em seu canal.
Esta canção é uma oferenda ao amor romântico, ao amor que sofre influência do tempo, das mudanças fisiológicas, das mudanças nas mais diversas circunstâncias. Pois vejamos a letra:
Que te importa que eu te ame?
Se tu não me queres mais?
O amor que tem passado
Não se deve recordar
Fui a ilusão de tua vida
Um dia muito distante
Hoje representa o passado
Não posso me conformar
BIS
Se as coisas que um quer
Se pudesse alcançar
Tu me quiseste o mesmo
Que vinte anos atrás
Com que tristeza olhamos
Um amor que nos deixou
É um pedaço da alma
Que se arranca sem piedade
BIS
É um pedaço da alma
Que se arranca sem piedade
Este é um ressentimento comum, muito encontrado nos amantes que chegam até os 20 anos. As transformações corporais, as novas experiências que trazem apelo aos prazeres, ao sexo, fazem motivação para a perda da fidelidade, que é um compromisso central nas relações de amor romântico.
A minha amada, cheia de amor romântico, faz a leitura ipsis litteris do conteúdo da música. Eu, cheio do amor incondicional, faço a seguinte leitura:
Que te importa que eu te ame?
Se tu não me queres mais?
O amor que tem passado
Não se deve recordar
Primeiro, devemos esclarecer que tipo de amor que é colocado como pergunta e acusação ao mesmo tempo. Vou colocar aqui o “Amor” com maiúscula como o amor incondicional, e o “amor” sem maiúscula o amor romântico, condicional.
Eu me importo que me Ame, pois nunca deixei de te Amar, nunca deixei de estar contigo... mas fui sempre rechaçado pela minha forma de Amar.
Fui a ilusão de tua vida
Um dia muito distante
Hoje representa o passado
Não posso me conformar
O Amor é eterno, nunca cai no esquecimento, nunca se deixa de praticar. O Amor nunca é uma ilusão para quem o pratica, talvez seja para quem o recebe... recebe o Amor pensando ser o amor, e as vezes podem estar bem intricados um com o outro. Mas o amor sempre morre, enquanto o Amor é eterno. Quem ama dessa forma, ao olhar o passado não pode se conformar. Mas quem Ama dessa forma, ao olhar o passado tem a saudade revestida de compreensão e que evoca na alma a lembrança dos mesmos prazeres de outrora. Sem queixas, acusações, ressentimentos... apenas curiosidade pelo que teria sido se tivesse sido Amado da mesma forma.
Se as coisas que um quer
Se pudesse alcançar
Tu me quiseste o mesmo
Que vinte anos atrás
Se nós tivéssemos nos Amado, jamais estaríamos olhando com tristeza o que se passou há 20 anos conosco. Nós teríamos o mesmo objetivo, de se sentir feliz com a felicidade do outro, mesmo que por alguns momentos o seu Amado estivesse Amando, também, ao lado de outra pessoa. Se num momento do passado, o amor forte que nos envolveu, a paixão animal, fazia querermos ficar juntos um do outro, o Amor que tivéssemos com certeza iria compreender que tudo isso iria um dia passar e naturalmente outras oportunidades de Amar iria surgir, contaminadas ou não pelo amor, mas nunca subordinado a ele.
Com que tristeza olhamos
Um amor que nos deixou
É um pedaço da alma
Que se arranca sem piedade
Se eu estivesse amando dessa forma, romanticamente, com certeza iria sentir tristeza do amor que me deixou, sentiria também ser arrancado um pedaço da minha alma. Mas, a minha forma de Amar sempre está lutando para criar ou ampliar essa capacidade de Amar em todas as pessoas, principalmente as mais próximas. De mostrar que o amor que muitos experimentam e doam, não tem a magnitude do Amor que é paciente, é bondoso; o Amor que não é invejoso, não é arrogante, não se irrita, não guarda ressentimentos pelo mal sofrido, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
O filme parece terminar, o teatro se queima com o candelabro que cai, parece acabar tudo. Christine casa com Raoul, escondido. Só que de repente o filme avança no tempo, vai para frente não sei quantos anos.
As cenas mostram Raoul já muito envelhecido, numa cadeira de rodas. Christine já havia morrido. Ele vai a um leilão de alguns objetos do teatro. Todos esses objetos são muito simbólicos. Depois que ele adquire uma peça, vai até o cemitério para deixar o objeto no túmulo da sua querida esposa.
Quando ele chega no túmulo, estava lá a rosa vermelha do Fantasma da Ópera. É como se o Fantasma deixasse um recado claro: eu te perdi nessa, mas eu não vou desistir.
Raoul olha e percebe que a luta vai continuar eternamente. Eric não desiste enquanto ele não conquistar Christine. Ou seja, não somos nós que estamos captando a nossa essência, ela está nos caçando. A nossa essência, a nossa espiritualidade está correndo atrás de nós e provocando fatos na nossa vida para que a gente perceba, entregando essa rosa vermelha de vitalidade, de mistério que embeleza e busca nos atrair para sua esfera, buscando ser a voz que se expressa através das nossas palavras.
Então, a cena final mostra isso com uma beleza incrível. “Acabou essa vida, mas eu não vou desistir de tentar na próxima. Vou tentar demonstrar que a minha hora vai chegar”.
Eu peço que vocês assistam tudo isso com bastante atenção, reparando em todos os detalhes da cenografia, os figurinos de cada coisa que se faz.
Quero dizer, fechando a nossa palestra, que tem uma determinada passagem que Eric canta para Christine, um pedaço daquela bendita musiquinha “Think of me.” Só que ele muda a letra e aqui ele coloca o seu recado final. Ele canta para ela com uma letra diferenciada. Ele diz:
Mensagem final de Eric para Christine
Nos belos versos da canção “Think of me”:
“Lembre-se de mim de vez em quando,
Por favor, prometa-me que irá tentar.
E, quando achar aquilo que tanto deseja,
Venha buscar o seu coração e fique livre.”
Veja, quando você cansar de brincar com os brinquedos do mundo, venha buscar o seu coração e fique livre. Por enquanto, pelo menos lembre de mim de vez em quando. Não perca o contato, mas um dia abandone as trevas e venha para a luz. Vou estar sempre, sempre te esperando! Imagine que de alguma maneira eu sei que estou falando isso para você. Pense em mim, sempre em mim. E quando cansar de brincar, vem, eu estarei aqui.
Bom, o que eu queria transmitir para vocês era esse recado. Lembro que temos muitas palestras de vários mitos no canal da Nova Acrópole no Youtube e quanto mais assistimos, lemos, trabalhando com mitos, mais vamos criando uma visão simbólica que nos permite sermos mais profundos e não apenas mais extensos. Não temos quantidade de informações, nós temos qualidade e temos contato interno, temos intuição, temos uma visão maior da vida, temos algo a dar as pessoas. E em última instância o que mais precisamos é um sentido para as próprias vidas. Temos a começar a fazer por nós mesmos.
Agradeço muito pela e espero que gostem dessa reflexão. Muito obrigada.
Agradeço também, profundamente, as reflexões da professora Lúcia Helena. Confesso que eu não conseguia fazer essa reflexão e sempre me deixava ficar no papel de vilão que sempre me colocam, quando eu levo uma flor vermelha e tento cantar minha canção na mente de alguma enamorada. Sempre sou visto com desconfiança, apesar de não tentar iludir, de caminhar sobre a verdade. Mas a minha verdade, do Amor Incondicional, inclusivo, universal, sempre mostra uma face feia comparada ao belo rosto do amor romântico, mentiroso quanto a sua eternidade, egoísta quanto a sua expressão.
Para conviver bem tenho que usar uma máscara na intimidade de quem me conhece, que sabe a minha face feia. Preciso fazer isso para conviver no meio cultural cheio de hipocrisia, preconceitos, ignorância das leis de Deus expressa na natureza.
Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.
Tem outra coisa que eu gostaria de chamar a atenção de vocês. Se alguém me perguntasse sobre esse filme específico, que foi feito sobre o musical, sobre o livro, qual a minha melodia predileta?
As melodias são idênticas, no musical e no filme, mas eu realmente tenho uma especial predileção pelo “Ponto sem Retorno”. É um momento onde quase que Raoul já tinha vencido, ele estava noivo de Christine, de repente no meio dessa peça teatral, ou seja, no meio do mundo, dos olhos, Eric faz uma aparição bombástica. Consegue vencer um pouco a verdade dela, ou seja, mata todos aqueles que se opunham e entra no palco do mundo manifestado e diz para ela: não tem volta, não tente voltar, a ponte se queimou, é um ponto sem retorno. Quanto tempo nós vamos esperar para sermos um só? Vem comigo, não olha para trás, vamos observar a ponte queimando.
Mas o problema é que ela tire ainda a experiência daquele outro mundo.
Se vocês virem aquele livro que eu falei para vocês, do Bhagavad Gita, que mostra a guerra entre os vícios e as virtudes humanas, com a consciência humana no meio, que nesse drama é Arjuna, é como se Christine fosse Arjuna, com a sua vida sendo disputada por dois mundos. Eu poderia dizer que o “Ponto sem Retorno” é como se fosse um Bhagavad Gita. Ela está sendo puxada por ele, o Fantasma, e por outro lado puxada por Raoul e ela acaba hesitando, em voltar atrás. Então, a letra desse Ponto sem Retorno é uma coisa muito bonita. Ele vai dizer o seguinte:
Você me trouxe para aquele momento
Em que as palavras falham.
Para aquele momento em que a linguagem desaparece
Dentro do silêncio, vim até aqui, mal sabendo a razão.
Ultrapassou o ponto sem retorno, não há volta agora.
Nosso drama finalmente agora começou.
Já se foram as dúvidas de certo e errado.
Uma pergunta final.
Quanto tempo devemos esperar antes de sermos um apenas?
Quando o sangue vai começar a correr
E o botão adormecido explodir em flores?
Quando as chamas finalmente nos consumirão?
Ultrapassou o ponto sem retorno, o limiar final
A ponte foi cruzada. Então pare e observe-a queimar.
Agora não podemos mais retornar.
É como se fosse um golpe de misericórdia que Eric dá. Acabou, agora você veio, não tem volta. Acontece que Raoul não desiste e novamente entra no palco, resgata Christine... então diante desse palco que é o inimigo final, Raoul, só restava a Eric uma coisa: matar Raoul. Matar as fantasias infantis dela, as paixões, as necessidades de status quo... ele tinha que matar Raoul senão ele perderia. E ele realmente tenta. Mas quando na cena final e quase matando Raoul, ele sente o quanto ela necessitava dessa experiência, o quanto ela estava disposta a sacrificar-se por Raoul, ele a entrega e vai embora.
Qual foi o meu “Ponto sem Retorno”? O ponto em que eu decidi e não pude mais voltar? Que segui em frente sem olhar para trás?
Acredito que foi quando a minha consciência reconheceu a importância do amor incondicional, que eu não poderia viver subordinado ao amor condicional, preso aos diversos preconceitos que ele produz.
Foi quando eu resolvi que não poderia viver subjugado pelas regras do casamento, da família nuclear, da exclusividade dos sentimentos, principalmente o amor, com tudo aquilo que ele traz, inclusive o ato sexual.
Foi quando eu decidi que poderia namorar com as amigas que Deus colocou no meu caminho, desde que fosse de interesse mútuo, sem coerção ou fingimento, e por ação da justiça, a minha esposa deveria ter o mesmo direito.
A partir desse momento foi como se o “Fantasma da Ópera” que vive em mim assumisse o controle de minhas ações, que me deu coragem para eu ir em frente, não ficar mais preso aos preconceitos.
Agora eu vejo essa história com todo o simbolismo e me coloco no lugar de Eric, mas com um certo orgulho. Orgulho de ter obedecido à minha voz interna, que está mais sintonizada com Deus com o Amor Incondicional, e que eu fazendo assim me tornei um Fantasma da Ópera, instrumento da vontade do Criador, obedecendo à Natureza assim como Ele a fez, e tendo cuidado para não prejudicar o próximo, e ensinando a quem tenha boa vontade para também se livrar dessas amarras do falso amor, do amor condicional, do amor romântico. Mas assim como Eric não teve sucesso com Christine, também não tive sucesso, até hoje, com quantos corações eu entrego a minha flor vermelha.