Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
24/03/2015 23h59
FELIZES OS TRISTES

            Parece um grande paradoxo associar felicidade com tristeza, mas foi isso que Jesus ensinou na terceira bem-aventurança: “Bem-aventurados os tristes, porque serão consolados.”

            Ao fazer isso, proclamar felizes os tristes, Jesus provocou uma perplexidade e um certo mal-estar jamais vistos no mundo, e tudo isso ainda permanece.

            Um homem comum, intelectivo e profano, não pode mesmo assimilar este conceito tão elevado ou transcendente que parece inteiramente contraditório, fruto de uma rematada estultice. Todavia, ainda que pareça lógico tal raciocínio dos intelectuais, quem pensa dessa forma trabalha sobre o erro, confunde as coisas, cultiva e colhe por isso mesmo, um rosário de enganos sem fim e de misérias sem conta. É que dessa acanhada e medíocre posição em que se encontra, o homem profano, meramente sensitivo e intelectivo, quando busca desordenadamente a felicidade, que é o objetivo máximo de toda criatura dotada de livre arbítrio, ele a identifica desnaturadamente com o prazer! Aqui é que está o grande problema, o incrível descompasso. Pode perfeitamente um homem triste ser feliz ou bem-aventurado. Em verdade, é o único que pode. Pelo menos, é o que se verifica, quanto ao início do autoconhecimento e da auto-realização do ser humano, pressupostos indispensáveis para se conseguir a felicidade.

            Há profundas diferenças entre prazer e felicidade que a inteligência desconhece, mas que a razão pode conhecer perfeitamente. A razão nos mostra que todo prazer, sem nenhuma exceção, é uma coisa quantitativa do ego e sempre nos vem de fora para dentro, enquanto a felicidade é apanágio qualitativo do Eu e somente pode vir de dentro para fora. Por isso Paulo de Tarso podia dizer sem mentir: “Transbordo de júbilo em meio as minhas tribulações.” (II Cor 7,4). Por outro lado, é possível que alguém carregue uma infelicidade total, ainda que navegando no oceano de todos os prazeres.

            Não há qualquer tipo de prazer, físico, emocional ou mental, que não se transforme automaticamente em dor, além de certa duração ou de certa intensidade. É que dor e prazer é essencialmente a mesma coisa: apenas sofrimento! Sim, o prazer também é sofrimento. A única diferença é que, enquanto o homem sofre o prazer agradavelmente, a dor ele a sofre desagradavelmente. Por isso que o prazer e a dor nada têm a ver com felicidade. Um verdadeiro santo não busca o prazer nem foge da dor.

            As pessoas derramam rios de lágrimas porque um filho não nasceu ou porque não conseguiram ficar ricas. Quem, entretanto verte uma lágrima por não ter visto Deus? E aquelas que quase enlouquecem com a morte de seu cachorro ou gato de estimação e não demonstram a mínima sensibilidade para as coisas do espírito?

Os que vivem a murmurar, que clamam ao alto por seus males, que se revoltam, que não se conformam, estão marcando passo. Suas dores não edificam nem depuram. Suas lágrimas são ácidas e amargas, gerando males não programados, amarguras desnecessárias, infelicidade voluntária.

            Dessa forma podemos compreender que a tristeza que nos fala Jesus, não é uma tristeza comum e qualquer. É uma tristeza dentro da mais profunda e mais perfeita alegria. É uma tristeza especial e qualificada, a tristeza da disciplina, que o Eu Crístico impõe ao ego humano, tornando-o dócil e manejável às mais elevadas exigências do Espírito. É o “caminho estreito” do dever cumprido, é a “porta apertada” da renúncia consciente. É o egocídio voluntário que, no começo, pode trazer uma inquietante e profunda tristeza. Mas, como o ego não morre e não pode morrer, pois só morre o egoísmo, acontece o contrário, o ego se integra no Eu, e assim vive muito mais abundantemente. A tristeza inicial converte-se, de uma forma automática, numa bem-aventurança, que é a mais pura felicidade, a mais bela e sorridente alegria. Aquilo que no início tinha sabor de fel, agora tem o sabor do mel.

            Pude comprovar essa argumentação agora neste meu período no deserto. O jejum e a restrição alimentar provocava em mim uma tristeza profunda por desejar me alimentar, tendo os recursos para isso, mas a minha vontade operada pelo espírito mantinha tudo dentro da meta estabelecida de perder diariamente peso. Assim, eu sentia que essa tristeza logo se convertia em felicidade por saber que meu espírito estava domesticando o meu ego. É esta tristeza a qual Jesus se refere, uma tristeza provocada no corpo pela frustração do ego. Isso é apenas a sinalização da subordinação dos desejos da carne às mais elevadas exigências do Espírito.

            Uma migalha desse sabor, uma pitada dessa alegria, um pouquinho dessa felicidade, vale mais que todos os prazeres do Universo.

            Há ainda outro sentido especial para a bendita tristeza que nos redime, para a tristeza que nos liberta, para a tristeza que nos consola... Essa saudável tristeza é a nostalgia da alma, a angústia metafísica das origens, a eterna saudade do Paraíso perdido. É o mais belo conforto que nos advém do próprio Infinito.

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em 24/03/2015 às 23h59
 
23/03/2015 23h59
TROPEÇO NO DESERTO

            Ontem tropecei no deserto. Comi além do que era previsto e não atingi a meta que havia estabelecido aos olhos de Deus. Por isso hoje, Ele fez eu pegar um livro (O Evangelho segundo o Filho) e começar a ler um trecho que diz respeito às minhas convicções de seguir o exemplo de meu Mestre, Jesus, quando ele foi instigado também pelo Pai para entrar no deserto.

            Assim, irei discorrer sobre o texto interpretando o que o Pai quer dizer para mim, mesmo falando para o Mestre Jesus, Seu filho amado, o mais perfeito que veio à crosta terrestre.

            Eu mandei Jesus para o alto da montanha, pois não basta ser meu filho e primo de João Batista. Teria de suportar provações, e o primeiro teste consistia nesse jejum. Ele pensava em não comer nada até o crepúsculo, mas eu falei com minha voz em seus ouvidos, sem que ele visse a minha presença: jejuarás até que Eu diga para comer.

            Assim, ele ficou sem alimento algum naquele dia e no seguinte. Passada uma semana, quando as ânsias do estômago haviam cedido lugar a um belo vazio espiritual, ele estava tão fraco que talvez não conseguisse descer da montanha. 

            Ele perguntou em voz alta: quanto tempo, Senhor? E ouviu a minha resposta: muito. Será muito tempo.

            Ele compreendendo que não esta ali para disputar comigo, mas para obedecer a minha vontade, o jejum se tornou mais fácil. Protegeu-se do sol e passou a apreciar o gosto da água, desfrutando a sabedoria que existe à sombra das grandes rochas. Até que essas se tornem frias demais, á noite, a ponto de conterem mais qualquer sabedoria.

            Na segunda semana ele começou a ter visões do rei Davi, e soube que ele cometera um grande pecado. Não conseguia lembrar qual fora sua ofensa, apenas a punição que tinha sofrido. Lembrou que Eu apareci ao seu filho, o rei Salomão, e perguntei o que deveria lhe dar. Salomão disse que não sabia como agir no meio do Meu povo, e o que mais precisava era de um coração compreensivo, capaz de discernir entre os bons e os maus. Ele viu que esse pedido de Salomão Me causara uma boa impressão e que Eu disse a ele: “Como não pedistes vida longa nem riquezas, nem imploraste pela morte de teus inimigos, mas por perspicácia e acuidade de julgamento, então toma cuidado, pois te darei um coração sábio e tolerante.” Mesmo assim Eu outorguei a Salomão tudo aquilo que ele não havia pedido, riquezas e honras, até que não houvesse reis tão magnificentes quanto ele.

            Agora Eu sussurro em teus ouvidos, Jesus, Salomão não guardou os meus mandamentos. Salomão proferiu três mil provérbios e compôs mil e cinco canções. Todo o povo acorreu para ouvir sua sabedoria, e nisso ele excedeu a todos os reis da terra, que lhe trouxeram prata, marfim, macacos e pavões. Mas Salomão amava muitas mulheres estrangeiras. A filha do faraó e as mulheres moabitas, anonitas, edomitas e hititas. Deixou de lado os filhos de Israel a quem Eu havia orientado contra os adventícios que transformariam seus corações e os induziriam a adorar falsos deuses. Cercado de setecentas esposas e trezentas concubinas, Salomão envelheceu e seu coração não estava mais em harmonia Comigo que lhe prodigalizara tantos dons. Por essa razão, Jesus, é que não te darei riquezas, e tu nunca ficarás com uma mulher sob pena de perderes a Mim.

            Jesus passou a meditar sobre os pecados de Salomão. Conclui que essa vantagem Salomão não tivera. Sem comer, em pleno deserto, Jesus não sentia o desejo por mulher alguma, a Minha decisão não lhe causou estranheza. O jejum continuava.

            Durante aquelas semanas permiti que os profetas estivessem com Jesus: Elias, Eliseu, Daniel e Ezequiel. Ele podia recordar as palavras desses profetas como se fossem suas.

Uma vez ele sonhou que estava no lugar de Elias, debatendo com os profetas de Baal e mais de quarenta pagãos que tinham vindo à montanha a fim de sacrificar um boi. Demonstravam devoção a Baal lacerando-se, e o sangue jorrava de suas feridas e eles gritavam, embora Baal permanecesse mudo.

            Diante do silêncio de Baal, Jesus agrupou 12 pedras grandes, representando as doze tribos de Israel, e tratou de restaurar o Meu altar, que havia sido destruído pelos adeptos de Baal. Em seguida cavou uma trincheira em torno das pedras, empilhou madeira sobre o altar e pôs carne crua sobre a madeira. Despejou sobre essa oferenda a água de quatro barricas, que acabou escorrendo por uma vala.

            Eu fiz o fogo nessa madeira úmida e a carne do boi arderem, e evaporar toda a água que escorrera para o fosso. Jesus degolou aqueles quarenta sacrílegos com uma espada, e só então acordou.

            Em verdade Jesus não era Elias, nem tinha os seus sentimentos sanguinários, mas alguém que sonhava com seus pergaminhos, com suas atitudes, e que através do sonho tomava ciência que o jejum devia continuar por quarenta dias e quarenta noites. Ele tomava consciência de que ele ou o povo de Israel não mudasse seus hábitos, todos correriam sérios riscos ao Meu juízo final.

            Também se deu conta de ter dedicado a juventude mais à madeira tratada por suas ferramentas do que ao Meu povo. Não tinha prestado atenção ao que Eu intuíra José lhe falar: “Todos compartilhamos os pecados de Israel, pois não nos empenhamos o bastante para superá-los.”

            Até esse momento, Jesus não sabia ainda que deveria cuidar mais de pecadores que de pessoas sãs. Ele se dava satisfeito com as palavras de Isaías: “Embora o povo de Israel seja como as areias do mar, um resíduo aproveitável há de restar.”

            Prestes a entrar na sexta semana do jejum, nos quarenta dias no deserto, Jesus estava imbuído do espírito de Isaías. Alimentou a esperança de que esse resíduo de bons judeus o ajudasse a recuperar tudo o que havia sido perdido pela nação. Repetindo em voz alta seus provérbios, fitava o sol até sentir os olhos queimando. Meditou sobre as preces mais adequadas aos pecadores e decidiu que falaria exatamente como fizera aquele profeta: “Lavem-se, tornem-se puros; afastem-se do mal, socorram os oprimidos.”

            Na noite que seguiu ao quadragésimo dia Eu lhe falei: “Amanhã podes descer da montanha e comer.” A fome voltou assim que ele ouviu tais palavras, e ele estava faminto.

            Assim, Deus passou esse diálogo pra mim, para que eu refletisse na experiência que Jesus teve no deserto no qual ainda me encontro. Jesus não cometera erros, mas refletiu sobre os erros de Davi e Salomão. Deus não espera de mim a competência de Jesus no deserto, certamente Ele está a perdoar a minha deficiência em não conseguir atingir minhas metas. Mas acredito que Ele reflita nos erros de Davi e Salomão, nos quais Jesus também refletiu. O erro de Davi eu estou longe de cometer, de mandar o marido da mulher que ele desejava para a morte a fim de ficar com sua esposa. O meu perfil é de harmonizar os casais que já estão estabelecidos, de trazer justiça ao relacionamento, mesmo que isso implique em ações não aceitáveis culturalmente.

            Agora, o erro de Salomão com a diversidade de mulheres é mais fácil de eu cometer. As mulheres estrangeiras com relação ao reino de Israel, com as quais Salomão se envolveu e foi envolvido por elas em seus interesses de adorar outros deuses, pode ser cometido por mim se não tiver cuidado com outra perspectiva mais atualizada.

            As mulheres estrangeiras no contexto atual de minhas percepções são aquelas que não pertencem ao Reino de Deus, ao Reino regido pelo Amor Incondicional. Ao me envolver com essas mulheres que são dominadas e as vezes obcecadas pelo amor romântico, condicional, portanto pertencentes ao Reino da Matéria, do egoísmo, estrangeiras da pátria na qual habito, corro o risco de ser envolvido por suas emoções e cometer injustiças e desvios da meta. Até agora estou firme nos meus propósitos e sofrendo a consequência, a maior delas é ter que morar sozinho, longe do afago dos filhos ou companheiras. Não posso deixar que a influência estrangeira que elas trazem em seus corações e que não conseguem se libertar, se transformar para entrar em meu reino, o Reino de Deus, transforma a harmonia da minha vida e a sintonia que eu tenho com o Pai. Todos os recursos que o Pai colocou ao meu alcance, financeiros, fisiológicos, morais e cognitivos, eu ponho todos a serviço do Amor Incondicional que é a grande Lei do Senhor.

            Portanto, recebo a mensagem do Pai e fico satisfeito, apesar dos tropeços no deserto, pois vejo que Ele não me repreende, apenas chama a minha atenção para erros graves cometidos no passado por pessoas que pensavam e que O amavam como eu. Ouvi, compreendi e estou disposto a seguir com determinação a estrada que Ele colocou como minha destinação. Sei que nesse mar de areia de pessoas na terra, todas filhas do mesmo Pai, algumas existem capazes de colaborar comigo nesse projeto tão difícil e tão importante.

 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 23/03/2015 às 23h59
 
22/03/2015 23h59
AMOR, SUBLIME AMOR

            Logo cedo recebi a mensagem de uma colega do Foco de Luz (Associação de Moradores e Amigos da Praia do Meio) que enviara pelo grupo do whatsapp um vídeo na voz de Cid Moreira que falava do Amor segundo a conceituação de Paulo de Tarso, em I Coríntios (13, 1-13). Logo vi que era mais uma mensagem de Deus para comigo, somente para lembrar aquilo que eu determinei fazer e mesmo tendo falado desse tema em outra ocasião deste diário, achei conveniente voltar a fazê-lo, com as devidas reflexões atuais:

            “1. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

            Este é um exercício para o cotidiano, vigiar minhas próprias palavras em quaisquer circunstâncias, pois se elas não forem carregadas de amor estarei fazendo apenas ruídos, nada mais.

            2. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor, não sou nada.

            Reconhecer com humildade que todos os bens e recursos materiais, acadêmicos, financeiros e profissionais que adquiri ao longo da vida nada preencherá a minha essência se eu não tiver o amor.

            3. Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada valeria!

            Todo o meu esforço de doação que ainda timidamente pratico, ou mesmo os exercícios corporais e controle da vontade que faço com o exemplo do jejum, como estou praticando nesta quaresma, não tem nenhum significado se não existir dentro de mim o amor.

            4. O amor é paciente; o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante.

            Procuro exercer esse controle, mas tem momentos que a paciência se perde, que perco oportunidades de ser bondoso. Procuro não ter inveja, orgulho ou arrogância, mesmo que por imperfeição eu sinta que isso possa acontecer em algumas ocasiões.

            5. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor.

            Procuro obedecer às três orientações, mas delas a que sou mais fragilizado é com relação a irritação, mas procuro conter com energia.

            6. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.

            Este é o ponto que fico mais confortável, que cumpro com mais tranquilidade, sem tanto esforço.

            7. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

            Sempre estou tentando praticar dessa forma nos meus relacionamentos, apesar de ser criticado por ser ingênuo e de que todos podem me enganar. Mas estou sempre atento pelas injustiças que outros possam me causar, procuro me defender de forma a manter a integridade do meu pensamento. O que tudo suporta não significa que eu deva permanecer dentro de uma situação incoerente, desarmônica, ou praticar ações que levem outros a pensar de forma equivocada.

            8. O amor jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas cessará, o dom da ciência findará.

            Mesmo que todos ao meu lado pensem e atuem de forma diferente, que o amor começa, mas sempre tem um fim, eu descobri que Paulo tem razão, que o amor depois de formado jamais acabará, a não ser que seja um amor contaminado pelos condicionamentos.

            9. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.

            Na condição de acadêmico posso comprovar essa verdade. A história mostra que a verdade de ontem defendida pela ciência ou proposta pelas profecias, podem ser bem diferente da realidade que observamos.

            10. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.

            Compreendo que o perfeito que Paulo se refere é o amor. Ele é capaz de corrigir a parcialidade da ciência e a imperfeição da profecia.

            11. Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.

            Meu pensamento infantil do passado, ou pretensioso de ontem, está sendo corrido pela maturidade que os conhecimentos que a verdade me traz, e entre eles o mais importante é o valor que tem o amor. Não posso manter as coisas supérfluas em que permanecia.

            12. Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou conhecido.

            Começo a ter essa nova compreensão, que a verdade está à minha frente, ainda de forma confusa. Até o meu próprio ser que habita este corpo de carne, quem é ele, o que veio fazer, qual a sua missão... Desenvolvo agora esse foco nas minhas atividades, enquanto o vigor físico desaparece pelos anos que carrego, a lucidez da verdade e a compreensão de quem sou se tornam cada vez mais lúcidas.

            13. Por ora subsistem a fé, a esperança e o amor – os três. Porém o maior deles é o amor.”

            Perfeito! Possuo o três, mas a quem mais dedico atenção, a quem mais procuro colocar em prática, é o maior deles, é o amor!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 22/03/2015 às 23h59
 
21/03/2015 23h59
FELIZES OS MANSOS

            Mateus escreveu as palavras de Jesus quando este ensinava que, “Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a Terra.” O significado de manso é humilde, aquele que se livrou não só da noção de “meu” como também do próprio ego. Também significa o avesso da violência que traduz sempre demonstração de fraqueza e, ao mesmo tempo, de ignorância das leis cósmicas que regem o Universo. Somente as criaturas fracas é que apelam para o espírito da força.

            As criaturas fracas são os animais inferiores e o homem que ainda se encontra preso ao ego. Esses conseguem ampliar sua violência inata, animal, multiplicando-a pelo poder destrutivo da inteligência, quando essa inteligência, em vez de servir, somente quer ou deseja ser servida.

            Os homens violentos só possuem a própria violência ou melhor, por ela são possuídos ou possessos. Toda e qualquer forma de violência é necessariamente reflexa, vai retornar ao ponto de partida. Pelas leis que regem a vida, mais cedo ou mais tarde, a violência se volta contra o homem violento, que é a sua origem, e por isso mesmo a sua meta de chegada.

            Esse homem profano, na melhor das hipóteses, mata para não morrer, pois, equivocadamente, parte, consciente ou inconscientemente, do princípio de que morrer é desintegrar-se. O homem manso, todavia, o homem sábio, sempre que necessário, morre para não matar, porque sabe que morrer desse modo é viver uma vida muito mais elevada e muito mais abundante.

            Os mansos possuirão a terra, afirma Jesus, mas quando? Quando os homens souberem que a posse autêntica e verdadeira pressupõe o consentimento do objeto a ser possuído. O desapego é o único modo verdadeiro de possuir. As coisas do mundo só podem realmente ser possuídas assim como o Deus do mundo as possui: com suavidade e ternura, assim como a luz possui as flores, como a alma possui o corpo, como a vida possui o organismo. Por isso é que o mundo nada pode esperar de alguém que ainda espera alguma coisa do mundo.

            Atualmente, parece que tudo aquilo que a terra tem para nos dar pertence a homens violentos, mentirosos e corruptos. Nada escapa à ganância, ao roubo, ao assalto! Homens violentos, em verdade, não possuem coisa alguma. Primeiro porque, em vez de possuidores, são mesmo é possuídos por tudo aquilo que julgam possuir. O terrível apego que eles têm pelos objetos torna-os miseravelmente escravos de seus baixos desejos e das coisas do mundo. É muita servidão, é muita infelicidade. Em segundo lugar, porque a posse genuína supõe uma relação de amor entre o sujeito e o objeto, ambas criaturas ou filhos de Deus, tendo portanto, fundamentalmente a mesma natureza.

            Aqui é que está o ponto mais delicado da questão. A mente desequilibrada e egoísta do homem violento não lhe permite enxergar essa fraternidade universal e necessária de todas as criaturas. Por isso as relações que ele entretece com os demais seres da criação, inclusive com seus semelhantes, não são relações de amor, mas pelo contrário, são relações de competição, de enfrentamento e agressão. Essa é a razão porque ele só possui, se é que possui, o corpo e não a alma da criatura ou do objeto. Ora, qualquer corpo sem alma não passa de um cadáver!

            É enganoso pensar a ilusão da mente com a cumplicidade geral dos sentidos, pensar que um objeto, ainda que inanimado, é coisa morta e totalmente inconsciente. Não é não. Devemos compreender que tudo é vivo, pois tudo é composto da argamassa do Criador na forma organizacional de átomos e seus derivados energéticos. Até mesmo uma pedra é dotada de um mínimo de energia vital e de alguma espécie de consciência infra-atômica, que a individualiza, a identifica e impede que ela seja confundida com qualquer outra pedra que lhe seja semelhante. Lembro bem dos meus sentimentos quando me despedi, pelo menos temporariamente do meu pequeno Baby, o meu QQ 1.1, mesmo que não fosse um adeus definitivo. Mesmo assim meu coração marejou. Mas o amor e não o apego prevaleceu.

            Somente com a aquisição da sabedoria posso ser crístico, e como um homem crístico posso ser manso, e na condição de manso atinjo o que Jesus ensinou, posso ser realmente feliz e bem-aventurado. Espero alcançar logo esse estágio que já vislumbro na minha frente.

 

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em 21/03/2015 às 23h59
 
20/03/2015 23h59
POBRES PELO ESPÍRITO

            No mundo de relacionamentos em que vivo todos em algum momento devem servir a algum ser ou coisa.

            Ser pobre na visão cotidiana é não possuir bens materiais, que não tem recursos familiares, profissionais ou políticos de garantir a sobrevivência. No entanto, quando Jesus diz: “Bem-aventurados os pobres pelo espírito porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3), Ele não quer se referir a esse pobre que nossa visão materialista conceitua. Não quer colocar o rico como defeituoso ou o pobre como virtuoso, como a frase leva a pensar dentro do mundo profano.

            Pobres no sentido mais elevado do termo são aqueles que se fizeram materialmente pobres, voluntariamente pobres, mesmo possuindo recursos materiais, porque se sentem espiritualmente ricos, tão ricos que só necessitam de um mínimo, em termos materiais e psicológicos, para viverem alegres, com decência e com dignidade. Possuindo ou não bens materiais, desapegaram-se deles livremente, em razão de uma profunda convicção interna.

            Sigo o conselho de Jesus, “não acumulo para mim tesouros na terra, mas procuro acumular tesouros nos céus.” Resolvi não servir a riqueza e sim a Deus. Sei que nessa condição eu sou servo de Deus, mas é bem melhor, acredito. E tenho convicção que é melhor que ser servo da riqueza. Isso porque, qualquer que seja a riqueza ela é inferior à minha essência, ao meu espírito. Então, se eu sirvo a algo que é inferior a mim corro o risco de me degradar, de me tornar menor do que sou, abaixo de minha natureza, da minha dignidade.

            Devo servir sim, para isso vim ao mundo, mas somente a Deus... A Deus em Deus, a Deus no homem, a Deus na Natureza. Servir desinteressadamente é algo que amadureço cada vez mais em minha consciência.

            Então, a minha compreensão dessa primeira bem-aventurança ensinada pelo Cristo, ser pobre pelo espírito é desapegar-me subjetivamente dos bens e das circunstâncias, sejam materiais ou psicológicas, pois todas são quantidades superficiais ou externas. São coisas do mundo que se desintegram e ficam no mundo, são como acidentes de percurso na longa jornada que tenho de fazer em direção ao meu Criador.

            Não basta para eu ter algo, ainda que esse algo seja o mundo inteiro. É necessário que eu seja Eu, o que o Pai espera de mim no aconchego da transcendência.

            Deus não me pertence. Não O possuo, eu vou ao encontro dEle sem nada nas mãos. Quando estou desapegado das coisas materiais, Deus vem ao meu encontro, torna-se um comigo. Eu não posso segurá-Lo quando quero fechá-Lo em minhas mãos, porque Ele escapa do meu alcance. Somente quando eu me aproximo de mãos abertas e vazias posso experimentá-Lo como a grande felicidade.

            Sinto que sou eu que pertenço a Deus, eu e tudo que existe no Universo!

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em 20/03/2015 às 23h59
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