Após encontrar textos que ajudam a combater o egoísmo e formatar dentro do nosso comportamento o homem de bem, apto a ser cidadão do Reino de Deus, eis que me deparo com um texto que mostra o contrário, o que incompatibiliza o homem com essa cidadania. O encontrei no livro da Bíblia, Eclesiástico, 13: 19-32 (Incompatibilidade entre o rico e o pobre).
19. Todo o ser vivo ama o seu semelhante , assim todo homem ama o seu próximo.
Assertiva tirada da Natureza, no estado da ingenuidade, pois quando existem associações prévias o homem pode se transformar no pior inimigo do próprio homem.
20. Toda carne se une a outra carne de sua espécie, e todo homem se associa ao seu semelhante.
Também é mais um aspecto tirado da Natureza virgem, a procura do ser vivo por associações para otimizar a sua sobrevivência pessoal e o sucesso reprodutivo; desde que seja feito as associações, o próximo encontro com um homem desconhecido pode ser de muita hostilidade e violência. São fatos observados até hoje entre indivíduos cultos e incultos, entre civilizações brutas ou modernas.
21. O lobo jamais terá amizade com o cordeiro: assim é entre o pecador e o justo.
O Cristo veio nos ensinar que o justo que tem a luz tem a obrigação de ensinar o que erra, o pecador, para assim ambos terem a cidadania no Reino de Deus.
22. Que relação pode haver entre um santo homem e um cão? Que ligação pode ter um rico com um pobre?
A ligação fraterna entre irmãos que ambos devem ter, principalmente o rico que se subentende ter mais capacidade de conhecimento.
23. O onagro (mamífero ungulado selvagem, do Irã e da Índia, intermediário entre o cavalo e o asno) é a presa do leão no deserto: assim os pobres servem de pasto aos ricos.
Até hoje se observa essa exploração dos pobres, mas não devemos nos comportar para manter esse status quo, e sim para o transformar em solidariedade.
24. E como a humanidade é abominada pelo orgulhoso, do mesmo modo o pobre causa horror ao rico.
Essa é a distância enorme que existe entre ambos, pois não é considerado a fraternidade que deve existir no Reino de Deus.
25. Um rico abalado é apoiado pelos seus amigos, o pobre que tropeça é ainda empurrado pelos seus companheiros.
No mundo material existe essa tendência, dos ricos se tornarem cada vez mais ricos, isso é, exploradores; enquanto os pobres se tornam cada vez mais pobres, isso é, explorados. O Reino de Deus exige que isso seja interrompido, que seja criada a verdadeira fraternidade universal.
26. Quando um rico é enganado, numerosos são aqueles que o vêm ajudá-lo; se diz tolices, o apóiam.
Novamente aponta para a tendência de todos protegerem os ricos para se tornarem candidatos aos seus benefícios, mesmo que a custa do suor e sangue dos demais irmãos.
27. Quando um pobre é enganado, ainda merece censura, e, se falar com sabedoria, não o levam em consideração.
Relata um fato que é observado, mas que não ensina como corrigir a distorção e a falta de caridade para quem é pobre; como se o fato observado fosse apenas para se conhecer o devido lugar onde se encontra a pessoa.
28. Se fala o rico, todos se calam, e glorificam suas palavras até as nuvens;
Nesse ponto surge uma pitada de crítica, principalmente aos pobres que sendo a principal vítima dos ricos não reconhecem a rapinagem que sofre e bajula seu torturador.
29. Se fala um pobre, dizem: “Que é este homem?” E, se ele tropeçar, fazem-no cair.
Este é o outro lado da moeda, a falta de caridade de todos, pobres e ricos, para quem é pobre. Não tem a solidariedade de ninguém.
30. A riqueza é boa para quem não tem a consciência pesada, péssima é a pobreza do mau que se lastima.
Este é um ponto que existe uma crítica mais forte contra essas incompatibilidades para com o Reino de Deus.
31. O coração do homem modifica seu rosto, seja em bem, seja em mal.
Também adverte para a mudança que ocorre no físico quando a alma está cheia de defeitos, certamente se tornando roto, incapaz de vestes fisionômicas para adentrar no Reino do Pai.
32. O sinal de um coração feliz é um rosto alegre; tu o acharás dificilmente e com esforço.
Finalmente aponta uma característica capaz de sinalizar um candidato ao Reino de Deus. Um rosto alegre aponta para uma consciência tranqüila. Não podemos generalizar, pois existem espíritos melancólicos por natureza, que estão capacitados para o Reino de Deus. Mas um rosto alegre permanece sendo um bom sinal.
Mas devemos atentar para o conjunto do texto que mostra a fatalidade de uma sociedade e da necessidade de nos defendermos dela, não de transformá-la.
Para procurar o aperfeiçoamento moral, a reforma íntima, é necessário que nos conheçamos, que saibamos nossas deficiências e virtudes e para onde queremos ir. Esse conhecimento de si mesmo é mais uma vez ensinado em “O Livro dos Espíritos” e por um doutor da Igreja católica:
Questão 919: Qual o meio mais prático e mais eficaz para se melhorar nesta vida, e resistir aos arrastamentos do mal?
- Um sábio da antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo.
SANTO AGOSTINHO: Fazei o que eu fazia de minha vida sobre a Terra: ao fim da jornada, eu interrogava minha consciência, passava em revista o que fizera, e me perguntava se não faltara algum dever, se ninguém tinha nada a se lamentar de mim. Foi assim que consegui me conhecer e ver o que havia para reformar em mim. Aquele que, cada noite, lembrasse todas as ações da jornada e se perguntasse o que fez de bem ou de mal, pedindo a Deus e ao seu anjo guardião para o esclarecer, adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Questionai, portanto, e perguntai-vos o que fizestes e com qual objetivo agistes em tal circunstância; se fizestes uma ação que não ousaríeis confessar. Perguntai-vos ainda isto: se aprouvesse a Deus me chamar neste momento, reentrando no mundo dos Espíritos, onde nada é oculto, eu teria o que temer diante de alguém? Examinai o que podeis ter feito contra Deus, contra vosso próximo, e enfim, contra vós mesmos. As respostas serão um repouso para vossa consciência ou a indicação de um mal que é preciso curar.
O conhecimento de si mesmo, portanto, é a chave do progresso individual. Mas, direis, como se julgar? Não se tem a ilusão do amor-próprio que ameniza as faltas e as desculpas? O avarento se crê simplesmente econômico e previdente; o orgulhoso crê não haver senão a dignidade. Isso é verdade, mas tendes um meio de controle que não pode vos enganar. Quando estiverdes indecisos sobre o valor de uma de vossas ações, perguntai-vos como a qualificaríeis se fosse feita por outra pessoa; se a censurais em outrem, ela não poderia ser mais legítima em vós, porque Deus não tem duas medidas para a justiça. Procurai saber, também, o que pensam os outros a respeito, e não negligencieis a opinião dos vossos inimigos, porque estes não têm nenhum interesse em dissimular a verdade e, frequentemente, Deus os coloca ao vosso lado como um espelho para vos advertir com mais franqueza que o faria um amigo. Que aquele que tem vontade séria de se melhorar explore, pois sua consciência, a fim de arrancar dela as más tendências, como arranca as más ervas do seu jardim; que faça o balanço de sua jornada moral, como o mercador faz de suas perdas e lucros, e eu vos asseguro que a um lhe resultará mais que a outro. Se ele puder dizer que sua jornada foi boa, pode dormir em paz, e esperar sem receio o despertar de uma outra vida.
Colocai, pois, questões claras e precisas e não temais de as multiplicar; podem-se dar alguns minutos para conquistar uma felicidade eterna.
Não trabalhais todos os dias com o objetivo de amontoar o que vos dê repouso na velhice? Esse repouso não é o objeto de todos os vossos desejos, o alvo que vos faz suportar as fadigas e as privações momentâneas? Pois bem! O que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao lado daquele que espera o homem de bem? Isso não vale a pena de fazer algum esforço? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro incerto; ora, eis aí precisamente o pensamento que estamos encarregados de destruir em vós, porque desejamos vos fazer compreender esse futuro de maneira que ele não possa deixar nenhuma dúvida em vossa alma. Por isso, primeiro chamamos vossa atenção para os fenômenos de natureza a impressionar vossos sentidos, depois vos demos instruções que cada um de vós se acha encarregado de divulgar. Foi com esse objetivo que ditamos o Livro dos Espíritos.
ALLAN KARDEC: Muitas faltas que cometemos nos passam despercebidas. Se, com efeito, seguindo o conselho de Santo Agostinho, interrogássemos mais frequentemente nossa consciência, veríamos quantas vezes falimos sem o perceber, por falta de perscrutar a natureza e o móvel de nossos atos. A forma interrogativa tem alguma coisa de mais precisa do que uma máxima que, frequentemente, não aplicamos a nós mesmos. Ela exige respostas categóricas, por um sim ou por um não, que não deixam alternativas; são igualmente argumentos pessoais e pela soma das respostas pode-se calcular a soma do bem e do mal que está em nós.
Esta é uma lição muito preciosa e que não devo deixar passar sem a considerar na prática. Tenho o propósito de seguir as orientações do Cristo assim como essas lições dos Espíritos, que vêm a ser o consolador que Ele prometeu. Devo ter uma disciplina para seguir e essas instruções desta lição são valiosas, inclusive para divulgar e aplicar aos meus pacientes, fortalecendo em muito o meu trabalho psicoterapêutico. Já fiz um questionário há algum tempo e já havia começado a aplicar em algumas situações. Deixei de fazer isso, mas a lição que li mostra com clareza que esse é um caminho importante se quisermos caminhar para ser um homem de bem.
Criar as características de um homem de bem dentro de nossa mente, pensamentos e comportamentos deve ser o esforço daquele que pretende ser um dos cidadãos do Reino de Deus. O Livro dos Espíritos continua a nos ajudar nesse aprendizado:
Questão 918: Por que sinais se podem reconhecer num homem o progresso real que deve elevar seu Espírito na hierarquia espírita?
- O Espírito prova sua elevação quando todos os atos de sua vida corporal são a prática da lei de Deus e quando compreende por antecipação a vida espiritual.
ALLAN KARDEC: O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza. Se interroga sua consciência sobre os atos realizados, se pergunta se não violou essa lei, se não fez o mal, se fez todo o bem que podia, se ninguém tem nada a se lamentar dele, enfim, se fez a outrem tudo aquilo que queria que outros lhe fizessem.
O homem cheio de sentimento de caridade e de amor ao próximo faz o bem pelo bem, sem esperança de retribuição, e sacrifica o seu interesse à justiça.
Ele é bom, humano e benevolente para com todos, porque vê irmãos em todos os homens, sem exceção de raças nem de crenças. Se Deus lhe deu o poder e a riqueza, olha essas coisas como um depósito, do qual deve fazer uso para o bem, sem se envaidecer, porque sabe que Deus, que os deu, pode retirá-los.
Se a ordem social colocou homens sob sua dependência, trata-os com bondade e benevolência, porque são seus iguais diante de Deus. Usa de sua autoridade para elevar sua moral e não para esmagá-los por seu orgulho.
É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que, ele mesmo, tem necessidade de indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: que aquele que está sem pecado lhe atire a primeira pedra.
Não é vingativo: a exemplo de Jesus, perdoa as ofensas para não se recordar senão dos benefícios, porque sabe que lhe será perdoado como ele próprio tiver perdoado.
Respeita nos seus semelhantes todos os direitos decorrentes das leis da Natureza, como gostaria que respeitassem os seus.
Ao fazer esse exame de consciência eu vejo o quanto ainda tenho de imperfeições, apesar das minhas sinceras intenções de ser um “homem de bem”, de estar apto a ser esse cidadão do Reino de Deus.
Agora mesmo estava assistindo uma série intitulada “A Bíblia”, no trecho que passa a vida de Jesus, e pincei algumas frases que fizeram forte sintonia com o meu pensamento:
“Temos que confiar no plano de Deus, assim como Ele confia em nós”
Este é um jogo de confiança que somente agora, na maturidade de minha vida, tenho uma melhor compreensão. Sei do caminho que o Pai quer que eu siga, e cada vez que eu desenvolvo essa confiança nEle me sinto mais fortalecido, recebo suas instruções com mais clareza e fico mais motivado para ir em frente.
“Você pode entrar no Reino de Deus, mas deves nascer de novo, não na carne, mas no Espírito”
Neste momento adquiri uma nova compreensão sobre esse “nascer de novo” que Jesus cita. Não é o voltar a vida seja pela ressurreição ou reencarnação, isso pode acontecer diversas vezes sem haver um “nascer de novo”. O que Jesus quis dizer foi que, mesmo estando vivendo na carne, temos que despertar a consciência da existência do Espírito e de sua prioridade na vida e assim viver agora em função dele.
“Eu vou para o Pai, mas sempre estarei com vocês”
O Mestre sabia que sua passagem na terra como um ser encarnado era fugaz, passageira, mas Ele continuaria a existir como Espírito e que ficará sempre ao nosso lado nos ajudando a assimilar as lições que Ele nos deixou.
“O Espírito está pronto, mas a carne é fraca”
Este foi o momento que Ele sentia que se aproximava seu suplício. Sabia do extremo sofrimento que sua carne iria passar e foi essa pressão da carne sobre sua mente que chegou a pedir ao Pai para afastar dEle esse cálice.
“Se for a Sua vontade, é a minha”.
Mas logo em seguida o Seu Espírito assumiu o comando da Sua mente e se dispôs a passar por qualquer sacrifício se assim fosse a vontade do Pai.
No exame de consciência que fiz notei inúmeras fraquezas da carne que se manifestaram no meu comportamento. Minha oração junto ao Mestre e ao Pai foi carregada de vergonha e culpa. Prometi que neste dia iria fazer o máximo para cumprir a vontade do Pai em todos os momentos e circunstâncias, como forma de despertar a consciência para minhas responsabilidades enquanto cidadão do Reino de Deus.
Essa é a lição mais importante que os Espíritos podem nos dar com relação a construção do Reino de Deus e cujo obstáculo maior é o egoísmo.
Questão 917 – Qual é o meio de se destruir o egoísmo?
- De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar-se é o egoísmo, porque ele se prende a influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pode se libertar, e essa influência concorre para sustentá-lo: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material e, sobretudo, com a inteligência que o Espiritismo vos dá de vosso estado futuro real e não desnaturado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, os usos e as relações sociais. O egoísmo se funda sobre a importância da personalidade: ora, o Espiritismo bem compreendido, eu o repito, faz ver as coisas de tão alto, que o sentimento de personalidade desaparece, de alguma forma, diante da imensidade. Destruindo essa importância, ou tudo ou pelo menos fazendo vê-la como ela é, combate necessariamente o egoísmo.
FÉNELON – É o choque que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o torna, frequentemente, egoísta, porque sente a necessidade de se colocar na defensiva. Vendo que os outros pensam em si mesmos e não nele, é conduzido a se ocupar de si mais do que dos outros. Que o princípio da caridade e da fraternidade seja a base das instituições sociais, das relações legais de povo a povo, e de homem a homem, e o homem pensará menos em sua pessoa quando verificar que os outros nele pensam. Ele sofrerá a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em presença desse transbordamento do egoísmo, é preciso uma verdadeira virtude para esquecer-se em benefício dos outros que, frequentemente, não são agradecidos. É, sobretudo, àqueles que possuem esta virtude que o reino dos céus está aberto; àqueles, sobretudo, está reservada a felicidade dos eleitos, porque eu vos digo em verdade, que no dia da justiça, quem não pensou senão em si mesmo, será colocado de lado e sofrerá no seu abandono.
ALLAN KARDEC – Empregam-se, sem dúvida, louváveis esforços para fazer avançar a Humanidade; encorajam-se, estimulam-se, honram-se os bons sentimentos mais do que em nenhuma outra época e, todavia, o verme roedor do egoísmo é sempre a chaga social. É um mal que recai sobre todo o mundo e do qual cada um é, mais ou menos, vítima. É preciso, pois, combatê-lo como se combate uma doença epidêmica. Para isso, é preciso proceder à maneira dos médicos: ir à fonte. Que se procure, pois, em todas as partes do organismo social, desde a família até os povos, desde a cabana até o palácio, todas as causas, todas as influências patentes ou ocultas, que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se mostrará por si mesmo. Não se tratará senão de combatê-las, senão todas de uma vez, pelo menos parcialmente e, pouco a pouco, o veneno será extirpado. A cura poderá ser demorada, porque as causas são numerosas, mas não é impossível. A isso não se chegará, de resto, senão tomando o mal em sua raiz, quer dizer, pela educação; não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, se bem entendida, é a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, como se endireitam as plantas jovens. Todavia, essa arte exige muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro crer que basta ter a ciência para exercê-la com proveito. Todo aquele que segue o filho do rico, assim como o do pobre, desde o instante do seu nascimento e observa todas as influências perniciosas que reagem sobre ele em conseqüência da fraqueza, da incúria e da ignorância daqueles que o dirigem, quando frequentemente, os meios que se empregam para moralizá-lo falham, não pode se espantar de encontrar no mundo tantos defeitos. Que se faça pelo moral tanto quanto se faz pela inteligência e se verá que, se há naturezas refratárias, há, mais do que se crê, as que pedem apenas uma boa cultura para produzir bons.
O homem quer ser feliz e esse sentimento está na Natureza. Por isso, ele trabalha sem cessar para melhorar sua posição sobre a Terra, e procura as causas dos seus males, a fim de os remediar. Quando compreender bem que o egoísmo é uma dessas causas, a que engendra o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja,o ódio, o ciúme, que o magoam a cada instante, que leva a perturbação em todas as relações sociais, provoca dissensões, destrói a confiança, obriga a se colocar constantemente em defensiva contra seu vizinho, a que, enfim, do amigo faz um inimigo, então ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua própria felicidade e mesmo com a sua própria segurança. Quanto mais ele o tenha sofrido, mais sentirá necessidade de combatê-lo, como combate a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos. Ele o será solicitado pelo seu próprio interesse.
O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver o outro, tal deve ser o objetivo de todos os esforços do homem, se quer assegurar sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.
Os Espíritos continuam a nos instruir nessas importantes lições:
Questão 915 – O egoísmo, sendo inerente a espécie humana, não seria um obstáculo ao reinado do bem absoluto sobre a terra?
- É certo que o egoísmo é vosso pior mal, mas ele se prende a inferioridade dos Espíritos encarnados sobre a Terra, e não sobre a Humanidade em si mesma. Ora, os Espíritos, em se depurando pelas encarnações sucessivas, perdem o egoísmo, como perdem outras impurezas. Não tendes sobre a Terra nenhum homem desprovido de egoísmo e praticando a caridade? Eles existem além do que acreditais, mas os conheceis pouco porque a virtude não procura se por em evidência. Se há um, porque não haveria dez; se há dez, porque não haveria mil, e assim sucessivamente?
Algumas vezes eu escuto, quando advogo a aplicação do Amor Incondicional para a construção do Reino de Deus entre nós, que isso é uma tarefa impossível, que somente os santos são quem podem ter tal comportamento. Talvez essas pessoas pensem assim, pois imaginam aplicar esse Amor de forma completa, de imediato. Isso realmente parece impossível a quem nunca tinha nem ao menos considerado essa possibilidade. Mas os Espíritos ensinam que isso é um processo lento, que leva um tempo superior a uma simples existência sobre a Terra. Outra informação interessante é que já existem na Terra muitas pessoas desprovidas de egoísmo e praticando o bem, apesar do mal ainda prevalecer entre nós. Como a virtude não procura se colocar em evidência, é importante que nós, desde que conheçamos alguma virtude em alguém, a coloque em evidência, pois assim colaboraremos para melhor disseminar as virtudes entre nós. E um momento importantíssimo para isso seria no momento das instruções para o nubentes que se dispõem a formar famílias íntegras.
Questão 916 – O egoísmo, longe de diminuir, aumenta com a civilização, que parece excitá-lo e entretê-lo; como a causa poderia destruir o efeito?
- Quanto maior o mal, mais ele se torna hediondo. Era preciso que o egoísmo fizesse muito mal para compreender a necessidade de extirpá-lo. Quando os homens tiverem se despojado do egoísmo que os domina, eles viverão como irmãos, não se fazendo mal, entreajudando-se reciprocamente, pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não se verá mais homens a quem falta o necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. É o reino do bem que os Espíritos estão encarregados de preparar.
Isso deve fazer parte do processo educativo para as futuras famílias. O mal que está tão enraizado na sociedade, só existe assim porque ele tem suas bases nas famílias. É importante que cada pessoa ao agir para formar uma família, tenha a consciência do egoísmo inerente que cada um possui e a partir daí envolver todo esforço para a sua extirpação, com pensamentos, palavras e ações, dentro da família e na comunidade. Este será o processo de formação do Reino de Deus, eu não tenho nenhuma dúvida quanto a isso. A dúvida que eu tenho é que em algum momento desse processo eu possa me desviar um tanto dele devido aos meus desejos egoístas que podem vir nas forças do meu inconsciente disfarçado de qualquer tipo de outra motivação mais nobre.