O matrimônio, dentro do direito canônico (conjunto de leis e regulamentos feitos ou adotados pelos líderes da Igreja, para o governo da organização cristã e seus membros), é o pacto pelo qual o homem e a mulher constituem entre si o consórcio para toda a vida, de acordo com suas propriedades essenciais: a unidade e a indissolubilidade. Será ordenado por sua índole natural aos bens materiais e espirituais dos cônjuges e à geração e educação da prole a partir do batizado. Para a grande maioria das confissões cristãs significa um Sacramento, sinal ou gesto divino instituído por Jesus Cristo.
O consentimento matrimonial é o ato de vontade pelo qual um homem e uma mulher, por aliança irrevogável, se entregam e se recebem mutuamente para constituir matrimônio.
Observamos assim a gravidade dessa condição, que liga um homem a uma mulher para a vida toda. É necessário para que isso seja feito com justiça, que ambos conheçam todas as implicações dessa decisão. É necessário que eles saibam que, geralmente, o motor dessa decisão é o amor romântico alicerçado nos desejos sexuais que são mantidos dentro de uma esfera egoísta de exclusividade. É necessário que saibam que esses desejos carnais, como todos os outros desejos ligados à carne, passam pelo processo de adaptação, de saciação, que não mostram mais a mesma força motivacional de antes; que esses desejos carnais irão surgir com força por outras pessoas e que muitas vezes não se verão empecilhos outros contrários à sua realização, a não ser esse compromisso matrimonial. É necessário que os nubentes tenham essa compreensão antes de decidir pelo compromisso do matrimônio com todas as responsabilidades e exigências que ele apresenta. Mesmo que não consigam dimensionar adequadamente a força do que os esperam, visto que se encontram ainda dentro do circulo de uma paixão romântica, mas quando chegar o momento que a Natureza mostrar sua verdade, eles não se sentirão enganados ou prisioneiros dentro de uma armadilha que eles não conheciam.
Isso sem falar nos defeitos de cada um que o tempo irá demonstrar à medida que o desejo carnal for sendo saciado. O que será criado de forma positiva e que desempenhará um grande papel na convivência dos dois é o sentimento de companheirismo, de amizade, de fraternidade, que o tempo consolidará se não houver obstáculos para isso acontecer. Esse sentimento de companheirismo será o grande aliado do Amor para a sua perpetuação na base sólida da amizade.
Agora, o documento papal vem dizer que ao longo dos séculos, sobretudo na época moderna até os nossos dias, a Igreja não fez faltar seu ensinamento constante e crescente sobre a família e sobre o matrimônio que a fundamenta.
Tudo bem, a Igreja fez isso, mas sempre com base naquilo que os seus líderes consideram correto; é o ensinamento da Igreja para os seus membros. A Igreja não se debruçou sobre a Natureza onde está colocada a lei de Deus e tentou fazer uma interpretação com base na justiça e fraternidade. Poderia ter reconhecido que esse desejo carnal está presente em toda a humanidade, inclusive dentro da Igreja e entre os seus líderes. Poderia advertir melhor sobre a necessária união do homem com a mulher, mas observando todos os desejos com os quais Deus nos criou, como Ele desejaria que lidássemos com esses desejos para não atravancar nossa evolução espiritual nem abusar dos mais fracos, nem fugir de nossas responsabilidades.
O documento cita o Concílio Ecumênico Vaticano II que dedica um capítulo inteiro à promoção da dignidade do matrimônio e da família, como sobressai na descrição do seu valor para a constituição da sociedade: “A família – na qual se congregam as diferentes gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social – constitui assim o fundamento da sociedade”. Particularmente intenso é o apelo a uma espiritualidade cristocêntrica dirigida aos esposos crentes: “Os próprios esposos, feitos à imagem de Deus e estabelecidos numa ordem verdadeiramente pessoal, estejam em comunhão de afeto e de pensamento e com mútua santidade, de modo que, seguindo a Cristo, princípio da vida, se tornem pela fidelidade do seu amor, através das alegrias e dos sacrifícios da sua vocação, testemunhas daquele mistério de amor que Deus revelou ao mundo com sua morte e ressurreição”.
Volto a dizer que dentro dos maiores textos e capítulos que tenham sido escritos pela Igreja, não encontro a consideração da Natureza na formação dos nossos instintos animais e que persistem na condição humana. Fala sobre o valor do matrimônio e da família para a constituição da sociedade e deixa escapar a realidade dos instintos animais em nossa constituição e a melhor forma de lidar com eles, sem ser pela exclusiva repressão.
Pode até ser intenso o apelo a uma espiritualidade cristocêntrica dirigida aos esposos crentes, mas sempre com a deformidade de não considerar todos os ângulos da questão e tão somente o que os líderes consideram uma “ideologia saudável” que possa ser defendida em público, mesmo que na vida íntima nem as ovelhas nem mesmo eles próprios, os próprios lideres consigam cumprir em sua pureza.
Quando é dito para os esposos, que são feitos a imagem de Deus, seguirem a Cristo como um modelo e princípio de vida, esquecem que a lição básica que Ele veio nos ensinar foi aprender a amar. Não é o amor de natureza carnal que São Francisco e Santa Clara tão bem demonstraram nas suas relações com eles mesmos e com o mundo. Eles se olhavam e se amavam profundamente, mas o amor deles não era entendido pela compreensão de vida que tinha a maioria das pessoas, inclusive os seus parentes mais próximos. Eles não tinham o desejo sexual que apetece a carne e quer a exclusividade do ser amado. Mesmo assim São Francisco fazia questão de indagar se ela sabia realmente o que estava querendo fazer, ao querer seguir a vocação que ele tinha de fazer a vontade de Deus conforme a ouvia em sua mente. Ela era firme em suas convicções e que estava disposta a suportar os espinhos do caminho, conforme Francisco advertia. Este era o caminho de Francisco e Clara, se tornaram companheiros sem nunca morarem juntos, sem nunca terem tido uma experiência sexual. Foram chamados por Deus para demonstrarem que a prática do Evangelho que Jesus veio ensinar podia ser aplicada entre os homens, que podia ser evitado a pompa e autoridade na comunidade dos irmãos e prevalecer a fraternidade, bondade e compaixão.
Mas, todas essas lições que Jesus trouxe foi com o objetivo de criar o Reino de Deus, pois os tempos eram chegados. Para criar o Reino de Deus é necessário que seja considerada toda a força da Natureza, pois é nela que se encontra a lei de Deus em sua essência. Devemos estudar e compreender cada vez mais suas características para agir com harmonia necessária, sem praticar abusos de qualquer natureza, contra nós ou contra o próximo. Tem que ser considerado a natureza dos instintos animais que possuímos quando pensamos em nos unir a uma mulher e formar uma família com o intuído de construir a coletividade fraterna do Reino de Deus. Para alguma coisa servem esses instintos animais além da reprodução animal com base no exclusivismo afetivo. Pode muito bem serem usados para fortalecer e praticar com prioridade o Amor Incondicional. Este é ao meu ver, a grande lição que temos que praticar para construir esse Reino de Deus, sob o comando de Jesus. Devo tirar de minhas convicções quaisquer leis ou regulamentos humanos que tentam limitar ou obstruir a expressão do Amor Incondicional, por qualquer título que lhe dêem.
Dessa forma eu imagino um paralelismo com o que aconteceu com São Francisco. Ele ouvia uma voz que lhe dizia o que fazer para cumprir a vontade de Deus, reconstruindo a Sua igreja que estava deteriorada e ruindo em seus alicerces espirituais, apesar de por fora existir com grande pompa. Eu tenho a compreensão de receber mensagens de Deus a cada momento para que eu reconstrua a família que está deteriorada nas suas bases mais íntimas e que por fora parece tão pura e perfeita.
Da mesma forma que Francisco se sentia confuso muitas vezes, eu também me sinto, pois não consigo dizer com clareza como será a construção desse Reino de Deus através da reconstrução da família, por um caminho que parece a todos cheio de prevaricações e de confronto a própria lei de Deus como eles imaginam.
Sei apenas e disso tenho convicção, que tenho de me armar da mesma forma que Francisco, com as armas do amor, da tolerância e da compaixão, e por meio desse meu exemplo consiga alcançar os corações de boa vontade e criar famílias mais íntegras. Assim como Francisco criou capelas coerentes com o Evangelho nos corações, talvez eu motive a criação de famílias mais íntegras e que evitem a hipocrisia em hoje estão mergulhadas pelo mundo afora.
O mundo vive uma crise de solidariedade que posso constatar ao abrir a janela de minha casa e ver crianças, adultos e idosos andrajosos, maltrapilhos, esfomeados e drogados, a pedirem ou roubarem o que necessitam. Posso constatar ao ligar a televisão ou pegar o jornal e ver os níveis de corrupção que são descobertos pelo mundo, das guerras externas e das revoluções internas que pipocam em todos os pontos do planeta, das armas de destruição que são construídas e aperfeiçoadas, dos treinamentos militares que são realizados para melhorar o comportamento tático de destruir o próximo que está distante ou que pensa de forma contrária.
O documento do Papa Francisco lembra que na comunidade cristã primitiva a família se manifestava como “Igreja Doméstica”, nos chamados “códigos familiares” das Cartas apostólicas neo-testamentárias. A grande família do mundo antigo é identificada como o lugar de solidariedade mais profunda entre esposas e maridos, entre pais e filhos, entre ricos e pobres. Em particular a Carta aos Efésios identificou um amor nupcial entre o homem e a mulher “o grande mistério” que torna presente no mundo o amor de Cristo e da Igreja.
Quando comparo esse trecho do texto papal com a aplicação do Amor Incondicional que é a lei de Deus, vejo uma grande confusão e perda de foco, de quem é principal e de quem é secundário nessa história. Posso até concordar que a grande família do mundo antigo seja identificada como o lugar de solidariedade, explicita, mas não profunda, entre esposas e maridos, entre pais e filhos... jamais entre ricos e pobres!
Digo assim, pois não vejo a solidariedade da esposa ou do marido ir além daquilo que cada um considera também positivo para si. Um exemplo bem claro é na história de Abraão e Sara que encontramos na Bíblia. Sara percebendo que não podia mais dar um filho a Abraão, e que este tanto necessitava para passar o bastão do seu clã, resolve aconselhar o marido a fecundar a criada, Agar, e assim ter o desejado filho com ela. Acontece que Sara logo em seguida tem o seu filho e termina por induzir Abraão a expulsar Agar com o filho dela da tribo para que o primogênito de Abraão não ameaçasse a liderança da comunidade após a morte do pai. Abraão constrangido faz a vontade da esposa e expulsa seu filho e a mãe para o deserto. Onde está a solidariedade de Sara por Abraão que quebrou os seus princípios contra a Lei do Amor e teve que obedecer aos caprichos egoístas da esposa? Onde está a solidariedade de Abraão por Agar que apesar de humilde e escrava aceitou ser a mãe de um filho para contentar seu senhor e a sua esposa? Por isso eu afirmo que essa solidariedade observada entre marido e esposa desde as famílias mais antigas é apenas um verniz comportamental. Quando as circunstâncias ameaçam os interesses de cada um, logo as exigências são feitas de forma abusiva contra os interesses de quem esteja na frente. O amor ao próximo como Jesus ensinou não existe!
A mesma forma acontece na relação dos pais com os filhos. Os pais criam e educam os filhos com o objetivo principal de suprirem as suas necessidades, fisiológicas ou psicológicas, que façam a sua vontade e muitas vezes desconsideram ou são plenamente contrários porque não se ajusta ao que eles pensam da vida. Por outro lado, os filhos quando crescidos e independentes assumem os caminhos de sua vida sem lembrar da importância dos pais na sua formação. Onde está a solidariedade nesse contexto? Mais uma vez não consigo a observar além do verniz comportamental.
Agora, dizer que existe solidariedade entre ricos e pobres no contexto familiar, considero um grande contra-senso. Logo, a existência da pobreza é uma prova da falta de solidariedade da sociedade como um todo e das famílias em particular. A riqueza geralmente é formada sobre o abuso da ignorância e da fragilidade do próximo. A caridade que observamos nas famílias pretende atenuar a fome e a nudez dos miseráveis, mas nada faz para eliminar seus privilégios, deixar de explorar a ignorância e a fragilidade. Isso pode existir mesmo dentro das famílias, quanto mais fora dos seus limites consangüíneos. Mais uma vez não vejo solidariedade!
O texto do Papa Francisco continua a mostrar miopia ao dizer que identificou na Carta aos Efésios, no amor nupcial entre o homem e a mulher, “o grande mistério” que torna presente no mundo o amor de Cristo e da Igreja. Tire a possibilidade de relação sexual entre os nubentes para ver quantos evoluem até o casamento! Então este é “o grande mistério” que está presente no amor de Cristo e da Igreja? Uma relação sexual? Temos que convir que esse amor que Cristo veio nos ensinar está muito além de uma relação sexual, mesmo porque Ele não nos deu nenhuma indicação de que esse amor nupcial, sexual, seria fundamental para a criação do Reino de Deus. O que Ele ensinou era que o fundamental é o Amor Incondicional e que ele deve ser desenvolvido a partir dos nossos próprios corações, após fazer a faxina do egoísmo que nascemos com ele.
Preciso aprofundar cada vez mais a compreensão da família que Deus deseja que formemos para construir o Seu Reino na Terra. Sei que a Sua lei está expressa na Natureza, que devo obedecer sem cometer abusos contra mim ou contra os outros. Sei que ainda estou cheio de imperfeições originadas da ignorância, mas que tenho um livre arbítrio direcionado para a busca da Verdade e de cumprir a vontade do Pai. Pressinto que fui criado dentro de diversas circunstâncias favoráveis para me colocar em prova e para que eu chegue nesse ponto racional de criticar a base da nossa sociedade, a família nuclear, baseado nas leis do Criador, do Amor Incondicional. Criei assim uma utopia em minha mente, da construção do Reino de Deus, da qual eu sinto em todas as mensagens, principalmente as de natureza divina, confirmação para as minhas intenções. Sei que posso ter entrado num caminho equivocado e que algum desejo egoísta e inconsciente de minha parte esteja tomando conta da minha razão e que eu não queira ver senão aquilo que acho correto e que distorça tudo para justificar meus pensamentos e minhas ações. Mas tenho que ser honesto comigo mesmo, e se acho que estou correto, que nenhum argumento ainda é forte o suficiente para demover os meus ideais, eu tenho que seguir com eles apesar de todos os riscos que eu possa correr. Uma forma de garantir que eu não mergulhe num processo esquizofrênico é a de divulgar esse meu pensamento com todos que queiram o analisar, com todos os recursos cognitivos racionalistas a dispor, para que seja mostrada de forma clara as incoerências que ele possa apresentar.
O centro do meu pensamento hoje consiste em construir na prática uma família mais próxima da vontade de Deus, e em função disso entrei em rota de colisão com a família nuclear da forma que ela se apresenta e coloco como opção a família ampliada como forma de melhor se aproximar do contexto divino, do Reino de Deus. Dessa forma, o documento papal, “Desafios pastorais da família no contexto da evangelização” veio apresentar uma ótima oportunidade para apresentar o confronto da família nuclear com a família ampliada, tendo como debatedor uma figura de alto respeito espiritual, o Pastor de todos nós, o Papa Francisco, que chega inspirado por Deus para assumir o diálogo com ovelhinhas confusas como eu, e que sei terá paciência de me ouvir e de dizer onde eu estou errado.
Logo na introdução do documento é dito que a missão de pregar o Evangelho a cada criatura foi confiada diretamente pelo Senhor aos seus discípulos. É o momento de perguntar: eu sou discípulo do Senhor? Como o Senhor falou que seria reconhecido como seu discípulo aquele que mostrasse amor pelo próximo, que se amassem uns aos outros, então eu acredito que cumpro esse pré-requisito básico. Em seguida o documento diz que a Igreja é portadora dessa missão ao longo da história. Pode ter sido portadora dessa missão, mas não a cumpriu devidamente. A própria história mostra os inúmeros excessos que a Igreja cometeu contra a humanidade, que não agiu com amor frente ao próximo. Até hoje existe muita hipocrisia, se defende o Evangelho nos púlpitos das catedrais ou nos oratórios dos templos, mas na prática não se observa o devido amor ao próximo, geralmente é o contrário.
Reconhece com exatidão a crise social e espiritual em que vivemos e da importância de uma missão evangelizadora para a família. O documento frisa essa missão como sendo da Igreja, entendo que possa ser assim, mas não exclusivamente. Existem diversos discípulos de Jesus espalhados na comunidade e que não estão dentro da Igreja, que podem ser reconhecidos pela sua capacidade de amar ao próximo, de amar uns aos outros. Acredito que o Papa não seja contrário a pessoas como eu, que me considero discípulo do Cristo e que não estão dentro da Igreja, de participar desse esforço de Evangelização, que consiste em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, e não pertencer a Igreja A, B ou C.
Concordo plenamente que propor o Evangelho sobre a família nesse contexto é mais urgente e necessário do que nunca, de procurar viver de maneira fidedigna o Evangelho dentro da família.
Tem uma figura histórica, Adolf Hitler, que fez um livro quando estava na prisão com esse título, “Minha luta”. É uma figura malquista pela humanidade pelo mal que ele espalhou no planeta, da tentativa de preservação de uma raça que ele imaginava pura e que devia reinar por mil anos; que deveria ser obedecido cegamente através de um Estado totalitário; que as raças impuras deviam ser exterminadas desse reinado.
Esse pensamento de Hitler foi de encontro às ideologias democráticas e de fraternidade existentes no mundo, o que fez um bloco de países, os aliados, se confrontarem no que ficou conhecido como a segunda guerra mundial. Como a Alemanha e demais países aliados do eixo terminaram por se envolver na ideologia de Hitler e em suas atrocidades contra a humanidade, vem à tona a questão do livre arbítrio. Até que ponto o homem pode decidir, em sã consciência, pela mudança de atitudes frente a outro objetivo que não considerava antes?
Faço essa reflexão ao mesmo tempo em que coloco o meu pensamento que parece ter o mesmo formato, mas com objetivos diferentes. Desenvolvi um modelo de sociedade que imagino ser a mais coerente com a vontade de Deus de acordo com tudo que li. No entanto para aplicar na prática essa “vontade de Deus”, de criar uma família ampliada, vou de encontro a cultura humana com suas leis que defende um modelo de sociedade diferente, baseada na família nuclear. Tenho fortes argumentos, no meu modo de ver, para defender a minha tese e partir para a prática. Como mais um desses argumentos coloco aqui a questão 863 de “O Livro dos Espíritos” com sua resposta:
Pergunta: Os costumes sociais não obrigam, frequentemente, um homem a seguir tal caminho antes que outro, e não está ele submetido ao controle da opinião pública na escolha de suas ocupações? O que se chama o respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre arbítrio?
Resposta: São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus; se se submetem a eles é porque isso lhes convém, e o fazem por um ato de seu livre arbítrio visto que, se o quisessem, poderiam libertar-se deles; nesse caso, por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar, mas seu tolo amor-próprio que os faz preferir morrer de fome a derrogá-los. Ninguém lhes levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública, enquanto que Deus terá em conta o sacrifício de sua vaidade. Isso não quer dizer que seja preciso enfrentar essa opinião sem necessidade, como certas pessoas que tem mais de originalidade que de verdadeira filosofia. Há tanto contra-senso em tornar-se objeto de crítica ou mostrar-se como animal curioso, quanto há de sabedoria em descer voluntariamente, e sem murmurar, quando não pode manter-se no topo da escada.
Em qualquer caso, o reino de mil anos defendido por Hitler ou o Reino de Deus ensinado por Jesus, vai ser seguido ou não individualmente por cada um, de acordo com sua consciência. No caso de Hitler um sistema de forças motivou e outras vezes forçaram o livre arbítrio no cometimento das atrocidades e que foram contra os costumes sociais da época. No caso de Jesus não existe ação compulsória para a construção do Reino de Deus, cada indivíduo tem plena liberdade de escolher seguir ou não suas lições, sem nenhuma coerção.
Eu resolvi seguir Suas lições e colocar o Amor Incondicional em todas as minhas relações, principalmente as relações íntimas e que levam à formação de uma família ampliada, comparada a família restrita, nuclear, que existe como base cultural. Os costumes sociais que foram criados pelo homem para formar a família e sociedade, no meu entendimento não seguem a Lei do Amor e por esse motivo não sou obrigado a cumpri-la, mesmo se isso me conviesse enquanto homem, mas sei que não me convém enquanto espírito filho de Deus. Então eu quero e me liberto deles. Não tenho do que me lamentar. Não vou perder a minha vida eterna por um tolo amor-próprio, de preconceitos culturais, de não querer “levar chifres” de minha mulher que adquire os mesmos direitos que eu tenho, de ampliar o seu campo de amar outras pessoas. Não faço isso somente por curiosidade de como isso de família ampliada funciona, mas estou alicerçado em uma filosofia, nas lições de Jesus que defende a família universal como base do Reino de Deus, e que o modelo mais próximo é a família ampliada, com seu amor inclusivo, com fraternidade para todos, e não a família nuclear com o seu amor exclusivo recheado de egoísmo, ciúme e intolerância.
Assim termino o ano com essas fortes reflexões e pretendo a partir de amanhã, início de um novo ano, responder as questões do Papa Francisco com relação aos “Desafios pastorais da família no contexto da evangelização”.
Um homem deve ouvir a voz de Deus e ter fé para segui-la. Mas, como ouvir a voz de Deus? Primeiro devo crer e aceitar a sua existência. É o pré-requisito básico. Depois reconhecer em tudo que acontece ao redor e dentro de mim, efeitos de Sua presença; que Ele é a sabedoria máxima, Criador de tudo que existe, e que eu sou uma das suas criaturas, dotada de inteligência e livre arbítrio para decidir se quero seguir ou não os seus caminhos do Amor. Reconhecer que falo com Ele através da oração e que Ele fala comigo através da meditação, de livros, de canções, de músicas... de qualquer expressão da Natureza ou dos seus filhos inteligentes. Na minha consciência é onde está escrita a Sua lei e vontade que entra em harmonia com a lei da Natureza, reflexo do Seu corpo físico.
Devo obedecer a Sua voz e aprender a superar obstáculos para cumprir a Sua vontade. Os obstáculos principais eu encontro dentro de mim, dentro do corpo que me foi oferecido para aprender a gerenciar os interesses da matéria e em obediência aos princípios espirituais. Ser escolhido por Deus dessa forma é uma bênção e ao mesmo tempo uma prova. Ele não coloca sobre meus ombros fardos que eu não possa carregar, mas minha coragem e determinação podem ainda não estar amadurecidas o suficiente para o cumprimento da tarefa. Por isso Ele colocou o tempo ao meu favor através das múltiplas reencarnações até o alcance do objetivo.
Sei que perdi muito tempo para alcançar esta compreensão. Meu vigor físico começa a declinar, meu veículo carnal para demonstrar na prática a vontade do meu espírito já não tem a potência de antes. Também nunca ninguém me ensinou essas coisas que eu aprendi, ninguém me disse que eu tinha um Pai com uma natureza cósmica e que estava sempre ao meu lado e que eu poderia ser um dos instrumentos de Sua vontade. Vim descobrir com as intuições e com as lições que Ele colocou ao meu dispor, principalmente aquelas transmitidas pelo Mestre Jesus. Sei apenas agora a dimensão do que tenho que realizar, dos obstáculos que irei enfrentar, dos riscos que irei correr, da limpeza que devo fazer no meu coração, com a reforma íntima, para adquirir a vestimenta necessária para a tarefa. O medo que possa surgir na minha frente não deve ser obstáculo para deter a minha caminhada. Nem mesmo o mesmo que a loucura esteja tomando conta de minha mente e que essa ordem que imagino receber de Deus seja apenas o primeiro sintoma de uma doença esquizofrênica. Devo pensar como o salmista, e seguir sempre em frente. Eu vim para dar o exemplo prático das lições teóricas que Jesus deixou para a criação do Reino de Deus. Eu encontro a coerência de tudo isso em minha mente, mesmo que eu também saiba que a doença pode construir um mundo sem base real, mas de forte apelo de realidade. Mas eu também imagino que esse mundo que eu procuro construir, que é a vontade do Pai, sob a orientação de Jesus, pode sair da utopia e se tornar realidade. Depende da minha coragem, fé e esperança; da fraternidade de todos os irmãos na essência do Pai, o Amor.
“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque o Senhor está comigo. Sua vara e Seu cajado me consolam. Unge minha cabeça com óleo. O meu cálice transborda. Certamente, a bondade e a misericórdia me seguirão... todos os dias de minha vida”.
Deus cuidará de mim. Ele me criou com um propósito. Eu obedecerei.