Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
15/09/2021 00h07
O PODER DO MITO – 5 – SOFRIMENTO

            Encontrei na internet a entrevista de Bill Moyers a Joseph Campbell, publicada em 02-11-2019, com 7.145 visualizações, que achei interessante reproduzir partes neste espaço, para refletir junto com meus leitores neste momento em que o Brasil tem na presidência uma pessoa considerada como mito. Será que Joseph Campbell fará alguma associação moderna com o nosso caso Brasil e reflexos no mundo?

JC – É isso mesmo. A eternidade não é um tempo futuro. A eternidade não é uma extensão longa de tempo. A eternidade não tem nada a ver com o tempo. A eternidade é a dimensão do aqui e agora que é eliminada se pensamos no tempo. Se você não conseguir isso aqui, não conseguirá em nenhum lugar. E a experiência da eternidade aqui e agora é a função da vida. Há uma forma maravilhosa que os budistas têm para o “Bodhisattva”. O “Bodhisattva” é aquele cujo ser, ou “satva” é iluminação, “Bodhi”. Aquele que percebe sua identidade com a eternidade e ao mesmo tempo, sua participação no tempo. E não é correto se afastar do mundo quando se percebe como é terrível. Mas perceber que esse horror é simplesmente a antessala de uma maravilha. E assim, voltar e participar dele. “A vida é sofrimento”, é o primeiro dito budista e é isso mesmo. A vida não seria vida se não tivesse a temporalidade que é sofrimento, perda, perda, perda.

BM – Farei o melhor aqui...

JC – Vou participar do jogo. É uma ópera maravilhosa. Só que dói. Há uma frase irlandesa maravilhosa que diz: “Isso aí é uma briga particular ou qualquer um pode entrar?” É assim que é a vida. E o herói é aquele que participa dela decentemente. Seguindo o caminho da natureza, não do rancor pessoal, da vingança ou algo parecido. Há uma história interessante sobre um samurai, um guerreiro japonês que tinha o dever de vingar a morte do seu senhor. E de fato, depois de certo tempo, ele encontrou e acuou o assassino. Quando já estava prestes a liquidá-lo com sua espada, o homem acossado, enlouquecido pelo terror, cuspiu na sua cara. E o samurai embainhou a espada e foi embora. Por que ele fez isso? Porque isso o deixou enfurecido. E se ele matasse o homem naquele momento teria sido um ato pessoal. De outra natureza, não o que ele se propôs a fazer.

Essa descoberta que Campbell faz da vida como uma arena de sofrimentos pode parecer uma incoerência com a procura da felicidade como um objetivo de vida, portanto, uma vida sem sofrimentos. Buda vivia cercado de felicidade dentro do palácio do pai, que fazia tudo para ele não ver o sofrimento que havia fora. Mas o tempo leva todos nós em sua viagem de transformações. Por mais que estejamos nos sentindo bem em determinado local, com determinada pessoa, o tempo tudo transforma e o que parecia bom e belo, fica distorcido, contrário ao que esperávamos. 

Parece que a felicidade consiste em saber navegar por esse mar de sofrimentos, sabendo onde levar o nosso barco orgânico, que experimenta dores desde o momento que recebe uma palmada na maternidade para respirar o sopro da vida misturado com o grito de dor.

Eu, como capitão do meu destino, estou com o leme do meu barco direcionado para onde o Pai determina, construir a maquete da família universal, a partir da família nuclear, passando pela família ampliada. Tenho comigo as lições que o Mestre Jesus deixou, a bússola comportamental que nos ensina a não sair do caminho do amor. Lembro que ele falou, quando disseram que a mãe e os irmãos lhe procuravam, que a sua mãe e seus irmãos eram aqueles que faziam a vontade do Pai. Isso não quer dizer que ele não amava os parentes sanguíneos, mas que sua vida não estava focada para viver dentro das quatro paredes da família nuclear formada pelos seus pais biológicos, onde ele se incluía. 

Na condição de professor, o Mestre deu um salto, pois saiu da família nuclear formada pelos seus pais, mas não formou sua própria família nuclear. Sua missão de ensinar o amor incondicional como forma de construção da família universal e consequentemente do Reino de Deus, não permitia que ele desviasse dessa missão mais universal, capaz de atingir pessoas em qualquer lugar, em qualquer tempo, como me atingiu, 200 séculos depois num país que para aquela gente onde ele estava inserido, nem existia. 

Agora, pessoas como eu, que recebem tal missão de construir a família universal a partir da família nuclear, vamos nos deparar com sofrimentos que não atingiram o Cristo. Eu sinto tal sofrimento, de ter criado minha família nuclear e ter ido construir a família ampliada, com novas companheiras, com novos filhos. Mas todos eles que o Pai me apresentou, sintonizados com o modelo da família nuclear, exigem uma presença minha que a família ampliada que estou construindo não permite, e muito menos a família universal que é onde quero chegar. 

Vejo assim um desfile de sofrimentos por expectativas perdidas, por frustrações, por minha ausência... Mas o Pai já me preparou logo cedo para essa travessia por esse mar de sofrimentos, no mar revolto das lágrimas dos filhos, que esperam uma presença que eu não posso dar... pois foi por isso que o Pai me deixou nascer através de um pai biológico do qual não lembro da sua face, dos seus carinhos, conselhos, nem dos recursos materiais que poderia ter me ajudado... talvez tenha sido essa a Sua intenção, de fortalecer o meu coração para seguir em frente e fazer a Sua vontade, mesmo que minhas lágrimas de sofrimento por minha missão não compreendida, se junte a tantas lágrimas dos filhos, por que eu fui a causa de trazê-los para este mundo de sofrimentos...  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 15/09/2021 às 00h07
 
14/09/2021 07h02
CARTÃO DE VISITAS

            Assistindo o filme “Sete Vidas”, na Netflix, sem ter muita pretensão do que ele podia me trazer, entendi por meio da história que Deus queria mandar para mim, com toda a sutileza que O caracteriza, mais uma mensagem para orientar as minhas ações, assim como um pai cuidadoso faz com seus filhos “deficientes”, que recebem tanto e estão dispostos a fazer tão pouco. Penso assim em função do filme, mas de automático vem a minha memória o que acontece comigo e o meu quarto filho, portador da Síndrome de Asperger, um transtorno psicológico do espectro autista. Vejo o quanto damos para ele, eu e sua mãe, do ponto de vista afetivo, conhecimentos e bens materiais, mas ele pouco se desenvolve socialmente, apesar de nós procurarmos formas de que ele supere suas limitações, que entendemos não ser culpa dele, e sim a culpa pode ser nossa, pais biológicos, de ter transmitido para ele uma falha genética.

            Da mesma forma entendo o que Deus faz comigo. Oferece todas as oportunidades que são importantes para o meu desenvolvimento. No entanto, mesmo eu recebendo tais benefícios não apresento o desenvolvimento que Ele espera de mim. Mas, paciente e bondoso, Ele sonda o meu coração e vê que não existem más intenções, que tudo que faço está justificado por algum tipo de ética associada à Sua vontade. Da mesma forma que observo meu filho recebendo meus benefícios e mostrando muita dificuldade em fazer aquilo que eu e sua mãe esperamos, o Pai também observa eu receber os benefícios que Ele me envia e fica pacientemente à espera que eu cumpra o que é esperado.

            Assim aconteceu com a mensagem que Ele me enviou através do filme “Sete Vidas”. O protagonista procura fazer o bem dentro da comunidade, além das pessoas que fazem parte do seu círculo biológico, que são parentes de alguma forma. É uma atitude coerente com quem quer construir o Reino de Deus, considerando todos como irmãos e passa a ajudar aqueles com quem tem contato, que observa aspectos meritocráticos em suas ações e que possuem bons corações.   

            O protagonista usa um cartão de visitas para dizer o que faz e qual a forma de comunicação para a pessoa que sente a necessidade desse engajamento. Percebi logo que esse é um detalhe importante para que eu deixe para as pessoas que eu quero ajudar, dentro das mesmas intenções. Lembro que a pessoa que hoje é o marido da irmã de uma mulher pela qual eu me apaixonei e que me deu provas de uma ética superior, ele trabalha fazendo confecção de cartões de visita e já me presenteou com vários cartões por eu atender profissionalmente sua esposa, como cortesia. Fazer contato com ele para fazer novos cartões para mim, seria uma forma de fortalecer a família ampliada e ao mesmo tempo que abro a possibilidade de favorecer o trabalho com a família universal, como o Pai quer que eu realize.

            Assim está ficando o trabalho de confecção deste novo cartão, conforme imagino a sua utilidade neste contexto que o Pai deseja. 

FRENTE

Francisco C Rodrigues

Psiquiatra-Professor-Empreendedor

Consultor de Bem-Estar Integral

(84)99983-9228 (mensagens)

rodrigus@ufrnet.br (principal)

rodriguesdmc@gmail.com (opcional)

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- DoTerra (Óleos Essenciais) doterra.com/br

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COR – AZUL CELESTE

SIMBOLOGIA 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 14/09/2021 às 07h02
 
13/09/2021 00h11
APÓSTOLOS E DISCÍPULOS

            Jesus escolheu 12 pessoas para acompanha-lo na sua missão de preparar a Terra para a construção do Reino de Deus. Essas pessoas, testemunhas vivas dos seus atos e pensamentos deveriam reproduzir no tempo e no espaço essas lições. Foi criada a Igreja Católica que quer dizer universal, que abrange tudo e reúne a todos. As 12 pessoas como receberam a missão de levar a mensagem avante, passaram a ser chamados de apóstolos, escolhidos entre os seus discípulos.

            Dessa forma, o termo apóstolo designa um trabalho específico inspirado e reproduzindo o trabalho que Jesus veio cumprir na Terra. A partir da estruturação do grupo como igreja, como instituição, esta passa a exigir uma hierarquia para o seu funcionamento. Pedro foi o primeiro líder, designado pelo próprio Jesus. A Igreja Católica, assim formada passou a exigir uma estrutura de cargos e obediência a uma hierarquia, tendo no topo a figura do Papa.

            Assim, podemos perguntar: qual a missão dessa instituição chamada Igreja Católica? Levar adiante os ensinamentos de Jesus para todo o planeta e preparar a humanidade para a construção do Reino de Deus, tendo como base o Novo Testamento, que já é um trabalho elaborado pelos primeiros apóstolos. 

            Atualmente, com o crescimento do cristianismo, a religião que a Igreja Católica espalhou pelo mundo, a hierarquia ficou mais sofisticada com diversos cargos surgidos dentro da sede do Vaticano e fora dele. Os novos apóstolos, os que seguram o bastão da missão entregue inicialmente por Jesus, são chamados de bispos. 

            Assim, para que a mensagem do Cristo exposta nos Evangelhos sempre se conserve vivo e inalterado dentro da Igreja Católica, os bispos, atuais apóstolos, não devem desviar desses princípios, guiados pelo seu líder, o Papa. A pregação apostólica atual deve expressar de modo fidedigno os ensinamentos de Jesus há dois mil anos, mesmo que a modernidade queira induzir novos costumes e destruir antigos limites que caracterizam o cristianismo.

            A transmissão viva do ensinamento de Jesus, perpassando pela mente de tantos homens que aceitaram a condição de apóstolos, sofre constantes apelos e tentações para atender os desejos do Behemoth. É preciso que esses apóstolos tenham essa compreensão, que de todos os homens eles são os mais visados pela fumaça de Satanás, pois são eles que levam a barca do cristianismo por esse mundo tão conturbado, viciado e corrupto como observamos hoje, principalmente no Brasil, onde as diversas instituições são tomadas pelos agentes das iniquidades. 

            Fazemos também essa comparação. Da mesma forma que os apóstolos são as pessoas mais atacadas pelas influencias do mal, devido a isso que cada um resolveu assumir, assim também o Brasil, escolhido como o país para ser a pátria do Evangelho e o coração do mundo, deve ser constantemente bombardeado por essas forças do mal.

            Mas, por mais que o cenário seja maligno, existe muitas pessoas honestas de bom coração e bons discípulos do Cristo com tendências apostólicas, que são protegidas pelo Espírito Santo, a falange de espíritos que cumprem a vontade do Pai e que nos protege diuturnamente, desde que mantenhamos a nossa mente sempre atenta como Jesus ensinou: orai e vigiai.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 13/09/2021 às 00h11
 
12/09/2021 00h09
O PODER DO MITO – 4 – ETERNIDADE

            Encontrei na internet a entrevista de Bill Moyers a Joseph Campbell, publicada em 02-11-2019, com 7.145 visualizações, que achei interessante reproduzir partes neste espaço, para refletir junto com meus leitores neste momento em que o Brasil tem na presidência uma pessoa considerada como mito. Será que Joseph Campbell fará alguma associação moderna com o nosso caso Brasil e reflexos no mundo?

BM – Como Zorba disse: “Problema? A vida é problema. Só a morte não é problema.”

JC – As pessoas me perguntam: “Você é otimista a respeito do mundo com tudo que ele tem de terrível?” e eu respondo... “Sim, é fantástico. Exatamente do jeito que ele é.”

BM – Mas isso não leva a uma atitude passiva diante do mal, diante do erro?

JC – Você participa disso. O que quer que você faça é um mal para alguém.

BM – Explique isso para o público. Você disse que...

JC – Quando eu estive na Índia, conheci um homem chamado Sri Krishnamenon. Seu nome místico era Atmananda e vivia em Trivandrum. Fui a Trivandrum e tive o privilégio de me sentar cara a cara com ele, assim como estou sentado aqui com você. E a primeira coisa que ele me disse foi: “Você tem uma pergunta?” Porque o mestre lá sempre responde perguntas, ele não diz nada. Apenas responde. E eu disse: “Tenho. Uma vez que para o pensamento indiano todo o universo é divino, é uma manifestação da própria divindade, como podemos dizer não a qualquer coisa deste mundo? Como podemos dizer não à brutalidade, à estupidez, à vulgaridade, à irresponsabilidade?” E ele respondeu: “Você e eu devemos dizer sim. Eu soube, através de amigos que eram seus discípulos que esta foi a primeira pergunta que ele fez para seu guru. E durante uma hora, nós tivemos uma conversa maravilhosa sobre a afirmação do mundo. E isso me confirmou um sentimento que eu tenho “quem somos nós para julgar?” E me parece que esse é um dos grandes ensinamentos de Jesus.

BM – Percebo o que quer dizer num aspecto que certas doutrinas cristãs, o mundo deve ser desprezado, a vida só será redimida no além, nossa recompensa só vem do céu. E se você afirma aquilo que deplora, como você diz, estará afirmando o mundo, que é a nossa eternidade do momento.

JC – É isso mesmo. A eternidade não é um tempo futuro. A eternidade não é uma extensão longa de tempo. A eternidade não tem nada a ver com o tempo. A eternidade é a dimensão do aqui e agora que é eliminada se pensamos no tempo. Se você não conseguir isso aqui, não conseguirá em nenhum lugar. E a experiência da eternidade aqui e agora é a função da vida. Há uma forma maravilhosa que os budistas têm para o “Bodhisattva”. O “Bodhisattva” é aquele cujo ser, ou “satva” é iluminação, “Bodhi”. Aquele que percebe sua identidade com a eternidade e ao mesmo tempo, sua participação no tempo. E não é correto se afastar do mundo quando se percebe como é terrível. Mas perceber que esse horror é simplesmente a antessala de uma maravilha. E assim, voltar e participar dele. “A vida é sofrimento”, é o primeiro dito budista e é isso mesmo. A vida não seria vida se não tivesse a temporalidade que é sofrimento, perda, perda, perda.

BM – É uma observação pessimista. 

JC -Você tem que dizer sim para a vida e dizer que é ótimo que as coisas sejam assim. Foi assim que Deus quis.

BM – Acredita mesmo nisso?

JC – É assim que as coisas são. Não creio que alguém tenha desejado, mas é assim que elas são. Há aquela linda frase de James Joyce... “A História é um pesadelo do qual estou tentando acordar.” E a maneira de acordar é não ter medo e reconhecer como eu fiz na minha conversa com aquele guru indiano, aquele professor de que falei, que tudo isso, assim como é, é como tem que ser. É uma manifestação da presença eterna no mundo. O final das coisas é sempre doloroso. A dor faz parte do simples fato de que o mundo existe. 

BM – Mas se aceitamos isso, será que a conclusão final não é “Nesse caso, não vou tentar mudar nenhuma lei, lutar nenhuma batalha.”

JC – Eu não disse isso.

BM – Não será a conclusão lógica? As pessoas não seriam levadas ao niilismo? 

JC – Essa não será necessariamente a conclusão a tirar. Você pode dizer: “Vou participar dessa luta, vou entrar no exército, vou à guerra”.

Costumo pensar que a eternidade é um tempo distante que consigo alcançar racionalmente, mas que jamais alcançarei pessoalmente ou espiritualmente. É uma criação de Deus onde somente Ele pode participar do início ao fim, conforme foi a estrutura dessa criação que a minha inteligência ou incipiente sabedoria não consegue alcançar. Mas agora Campbell abre uma nova perspectiva para a compreensão dessa eternidade, que ela tem sua existência no aqui e agora. Ele diz que a eternidade não é um tempo futuro, não é uma extensão longa de tempo, que não tem nada a ver com o tempo. Era isso justamente que fazia parte dos meus paradigmas. Mas Campbell raciocina que a experiência da eternidade é no aqui e agora, que é uma função da vida atual, que devemos perceber a identidade com a eternidade e a participação no tempo. É difícil absorver essa prática. Experimentar a eternidade total num pedacinho dela. Sempre me vem na cabeça que uns momentos atrás do outro virão para construir o amanhã a cada momento. Talvez tenha sido essa a iluminação alcançada pelo Buda. Não cheguei ainda nesse nível.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 12/09/2021 às 00h09
 
11/09/2021 00h09
O PODER DO MITO – 3 – POBRE SERPENTE

            Encontrei na internet a entrevista de Bill Moyers a Joseph Campbell, publicada em 02-11-2019, com 7.145 visualizações, que achei interessante reproduzir partes neste espaço, para refletir junto com meus leitores neste momento em que o Brasil tem na presidência uma pessoa considerada como mito. Será que Joseph Campbell fará alguma associação moderna com o nosso caso Brasil e reflexos no mundo?

BM – Por falar em mitologias diferentes, vamos brincar um pouco. Tirei estes trechos do seu “Atlas”. Vou ler o Gênesis e, então, você identifica e lê o mito correspondente.

JC – Ah, sim! 

BM – Gênesis 1: “E Deus criou o homem à Sua imagem e semelhança, à imagem de Deus, o criou. Macho e fêmea, os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: crescei e multiplicai-vos.”

JC – Agora veja esse trecho de uma lenda do povo Bassari da África Ocidental. “Unumbotte fez um ser humano e seu nome era homem. Em seguida Unumbotte fez um antílope e o chamou de Antílope. Unumbotte fez uma serpente, chamada Serpente. E Unumbotte disse a eles – a terra ainda não foi trabalhada. Vocês precisam amaciar a terra onde estão sentados. – E Unumbotte lhes deu sementes de todos os tipos e lhes disse: plantem todas essas sementes.”

BM – Gênesis 1: “Viu Deus tudo que havia criado e eis que era muito bom.”

JC – Agora cito do Upanishad. “Então ele percebeu... na verdade eu sou essa criação, pois eu a expeli de mim mesmo. Dessa forma, ele se tornou essa criação e aquele que sabe disso se torna um criador nessa criação.” Este é o ponto principal. Quando se sabe disso, se identifica com o princípio criativo que é o poder divino no mundo, ou seja, em você mesmo. É muito bonito.

BM – O que acha que estamos procurando quando nos atemos a uma dessas teorias da criação, a uma das histórias da criação? O que estamos procurando? 

JC – Acho que estamos procurando uma forma de experimentar o mundo onde vivemos. Que nos abra para a transcendência que o inspira. E que inspira a nós mesmos dentro do mundo. É isso que as pessoas querem. É isso que a alma pede.

BM – Então procuramos uma harmonia com o mistério que anima as coisas. Isso que chama de vasto campo de silêncio que todos compartilhamos?

JC – Sim, mas não apenas encontra-lo, mas encontra-lo no nosso próprio ambiente, no nosso mundo, reconhecê-lo, ter algum tipo de informação que nos permita ver a presença divina.

BM – No mundo e em nós mesmos.

JC – Na Índia, há essa saudação, o “anjail”. Você sabe o que significa? É a saudação de prece. Usamos para fazer nossas preces. Eles cumprimentam assim para saudar o deus que existe dentro de você. Eles têm consciência da presença divina. Quando você entra num lar indiano, você é uma divindade e você sente isso pela maneira como eles o tratam. É um tipo de hospitalidade que não existe quando há simplesmente uma pessoa e outra. É um reconhecimento da identidade.

BM – Mas as pessoas que contavam essas histórias, que acreditavam e agiam de acordo com elas, não estavam fazendo perguntas muito mais simples como: “Quem fez o mundo? Como o mundo foi criado?” Não são essas as perguntas que as histórias sobre a criação tentam responder? 

JC – Não. É através daquela resposta que eles percebem que o Criador está presente no mundo inteiro. Entende o que quero dizer? Veja essa história que acabamos de ler: “Vejo que Eu sou esta Criação”, diz Deus. Quando você vê que Deus diz que Ele é a Criação e você é uma criatura, então esse Deus está dentro de você e do homem com quem você está falando. Há então essa percepção, dois aspectos de uma única divindade. É maravilhoso.

BM – Deixe-me perguntar sobre os aspectos comuns dessas histórias. O significado do fruto proibido.

JC – Existe um tema recorrente nas histórias folclóricas chamado “A Única Coisa Proibida”. Lembre-se de Barba Azul... “Não abra aquela porta e sempre tem alguém que abre. No Velho Testamento, Deus dá uma única coisa proibida e Ele sabe muito bem, agora estou interpretando Deus. Ele sabe muito bem que o homem vai comer o fruto proibido. Mas ao fazer isso, o homem inicia sua própria vida. A verdadeira vida começa com aquele momento.

BM – Vejo também em algumas histórias antigas, a tendência humana de sempre culpar alguém.

JC – Sim.

BM – Deixe-me ler o capítulo um de Gênesis e você lê a lenda dos Bassari. “E Deus disse: Comeste da árvore que te ordenei que não comesses? E o homem respondeu: A mulher que me destes por companheira me deu o fruto da árvore e eu o comi. E disse o Senhor à mulher: O que fizeste? E a mulher disse: A serpente me enganou, e eu comi. Essa história de culpar os outros começou cedo! Vejamos a lenda dos Bassari.

JC – Ela também é severa com a serpente. “Um dia a Serpente disse. Nós também devemos comer esses frutos. Por que passar fome?” E o Antílope disse: “Mas não sabemos nada sobre essa fruta.” Então o homem e sua mulher tomaram a fruta e a comeram. E Unumbotte desceu do céu e perguntou: “Quem comeu a fruta?” E eles responderam: “Fomos nós”. Unumbotte perguntou: “Quem disse que vocês podiam comer essa fruta?” E eles responderam: “Foi a Serpente”. 

BM – É a mesma história.

JC – Pobre Serpente.

BM – o que concluiu do fato de que nessas histórias os atores principais acusam outro personagem de ser o causador da queda? 

JC – Acontece que, de fato é a Serpente. E nas duas histórias, a Serpente é o símbolo da vida, que descarta o passado e continua a viver.

BM – Por quê?

JC – É o poder da vida, porque a serpente solta a pele, assim como a luz solta sua sombra. Na maioria das culturas, a serpente é positiva. Até a mais venenosa da Índia, a cobra, é um animal sagrado. E a serpente Naja, o rei-serpente Nagaraja é a divindade mais próxima do Buda. Porque a serpente representa o poder da vida no campo temporal de enfrentar a morte. E Buda representa o poder da vida no campo da eternidade, de viver eternamente. Vi uma coisa fantástica de uma sacerdotisa de Burma, que tinha de trazer chuva para seu povo, atraindo um rei-cobra para fora da toca e lhe dando três beijos no nariz. Ali estava a naja, o doador da vida, o doador da chuva, que pertence à vida, uma figura divina positiva, não negativa. As histórias cristãs invertem isso, pois a serpente foi a sedutora. Isso equivale a recusar-se a afirmar a vida. Segundo esta visão, a vida é o mal. Qualquer impulso natural é pecado, a menos que você tenha sido batizado. Ou circuncidado. Nesta tradição que herdamos. Por Deus! 

BM - Por ter sido a mulher a tentadora, as mulheres tiveram que pagar um alto preço, pois na mitologia, em algumas mitologias, foram elas que provocaram a queda.

JC – Claro que foram elas. A mulher representa a vida. O homem só entra na vida através da mulher. E assim, é a mulher que nos traz para este mundo de polaridades, de pares de opostos, de sofrimento. Creio que é uma atitude muito infantil dizer não à vida com toda a sua dor. Dizer que é uma coisa que não deveria ter acontecido. Schopenhauer diz num dos seus maravilhosos capítulos, creio que é em “O Mundo Como Vontade e Ideia”, que “A vida é algo que não deveria ter acontecido. Ela é, na sua própria essência e caráter, uma coisa terrível, pois precisamos matar e comer para viver.” Ou seja, sempre no pecado, segundo critérios éticos.

Uma forte reflexão Joseph Campbell traz à minha consciência. O sentido de culpa e perversidade que joguei sobre a serpente devido os ensinamentos bíblicos, fazem eu rever a consciência. Caso não fosse a participação da serpente nessa história, induzindo Eva a comer do fruto proibido, do conhecimento do bem e do mal, da dualidade, nós não existiríamos. Até hoje viveriam Adão e Eva no paraíso, uma existência idílica, utópica, sem sofrimento, ou transformações. O tempo não existiria, nós não existiríamos. A serpente foi o elemento que deu condição de existência à vida, como nós a conhecemos hoje. Dessa forma, é justo pensar de forma positiva sobre a o comportamento da serpente, como faz a maioria das mitologias. Então, aquele ar de malignidade que vocifera aquele ex-presidente que se tornou bandido e ex-presidiário, não pode ser tão culpado na sua relação com a serpente. Mas, consideremos, tudo isso no campo simbólico, pois quando chega ao nível da realidade, tanto a peçonha da cobra quanto as iniquidades dos marginais são prejudiciais para nós, individual e coletivamente.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 11/09/2021 às 00h09
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