Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/07/2019 18h18
O FANTASMA DA ÓPERA ESTÁ AQUI

            Sou eu que estou aqui, o Fantasma da Ópera. Não que eu queira ser visto como você me ver, eu não me sinto assim como você me ver. Talvez este seja o motivo da distorção, o contraste entre o ver e o sentir.

            Todos que me veem e que não sabem quem sou, que veem a minha aparência e o meu comportamento à distância, não percebem o que tenho de feio e porque devo usar máscara para quem entra na minha intimidade e percebem quem sou realmente.

            Poderiam pensar, e com razão: “então esse Fantasma da Ópera é uma pessoa do mal”. Outro engano, e este mais grave! Sou totalmente do bem. Por isso, devo esclarecer a causa da minha feiura, o motivo da minha máscara.

              Tudo começou quando, ouvindo as lições de um Mestre espiritual chamado Jesus de Nazaré, que ensinava sobre o Reino de Deus, sobre a família universal, e que só poderíamos alcançar um e outro se aplicássemos em nossa prática a Lei do Amor, a lei do Pai, do Criador... o Amor Incondicional! Ele ainda ensinava como usar uma espécie de bússola para as pessoas de bem, que quisessem seguir suas lições, não se perder no caminho: “Fazer ao próximo aquilo que desejas que façam contigo”.

            Ouvi estas lições e fiquei estupefato. Mas, isso era verdade! Devemos seguir esses ensinamentos e formar a família universal, construir o Reino de Deus e caminharmos em direção ao Criador. Porém, por que não vejo ninguém seguindo essas lições? Vejo sim, muitos seguindo determinada religião, cumprindo suas regras, evangelizando... mas cumprindo a Lei do Amor, não! Estou me referindo ao Amor Incondicional, pois muitos aplicam na vida o amor condicional, amar a alguém por qualquer tipo de condição. A maior delas é o amor filial, amar alguém porque é nosso filho, ou pai, ou mãe. Chegam a confundir o amor materno com o Amor Incondicional, amar a um filho tolerando o que ele faz de errado com o filho de outras pessoas. Isso jamais irá construir a família universal ou o Reino de Deus.

            Percebi tudo isso, mas estava determinado. Eu iria tentar aplicar o Amor Incondicional ao meu redor, mesmo que ninguém o fizesse. Afinal, o Mestre não dissera que o Reino de Deus iria começar a partir do coração de quem começasse a praticar a Lei do Amor? Então, com essa determinação, comecei a me considerar cidadão do Reino de Deus e praticante do Amor.

            Tudo poderia ter sido mais fácil para mim, se eu não tentasse dar um passo além do que o Mestre deu: me envolvi com o amor romântico! O amor que idealiza no outro a alma gêmea, que exige exclusividade de afetos, e manter essa fidelidade pela eternidade. Totalmente contrário ao Amor Incondicional, que ver no outro um irmão, que oferece o amor inclusivo. Este amor não pode, jamais, manter a fidelidade na exclusividade dos afetos que exige o amor romântico.

            Acontece que o amor romântico mexe com o vulcão das nossas energias biológicas, com a força dos instintos que são responsáveis pela perpetuação da espécie através do ato sexual. Fiquei diversas vezes apaixonado e segui muitas vezes esse fluxo energético, desde que não contrariasse a Lei do Amor. Foi o passo a mais que eu dei. A lição prática que o Mestre não ofereceu. Ele jamais se envolveu com o amor romântico, mesmo que tenha sido tocado por ele.

            Acontece que na minha consciência, onde está escrita a Lei de Deus, não há impedimento para que eu me envolva com o amor romântico, até as últimas consequências, do ato sexual e da geração de filhos, desde que esteja tudo sintonizado com a Lei do Amor. E a principal forma de sintonia com a Lei do Amor, é usar sempre a Verdade dentro dos relacionamentos.

            Dessa forma, agindo dentro de uma cultura cristã, mas que não segue a Lei do Amor que o Cristo ensinou, que tem na maioria das vezes um comportamento hipócrita, vou ser visto como uma pessoa diferente e feia para o que eles acreditam e fazem como se fosse correto e justo. Isso tem um impacto mais forte para as pessoas que penetram na minha intimidade, que querem ser minhas companheiras. Tenho que dizer a Verdade, a feiura aparece na mente delas e por isso tenho que usar a máscara para não causar o escândalo, que o Mestre já havia me prevenido.

            Por isso sou expulso quando essa feiura começa a ser percebida pelas pessoas mais próximas; por isso a razão deste texto, o Fantasma da Ópera está aqui, que foi inspirado por um sonho que tive hoje, onde uma das minhas amadas me acusa de ser o “Fantasma da Ópera” em sua vida, e devido as reflexões da professora Lúcia Helena, eu devo ter essas razões para me identificar como tal.  

Publicado por Sióstio de Lapa
em 20/07/2019 às 18h18
 
19/07/2019 00h18
HABANERA – VINTE ANOS

            Esta exótica versão la Habanera “Vinte anos”, conquistou as redes sociais. Isaac e Nora, de 11 e 8 anos, aprenderam música graças ao seu pai nascido na Coréia do Sul. A interpretação do clássico cubano acumula dezenas de milhões de vistos em seu canal.

            Esta canção é uma oferenda ao amor romântico, ao amor que sofre influência do tempo, das mudanças fisiológicas, das mudanças nas mais diversas circunstâncias. Pois vejamos a letra:

Que te importa que eu te ame?

Se tu não me queres mais?

O amor que tem passado

Não se deve recordar

Fui a ilusão de tua vida

Um dia muito distante

Hoje representa o passado

Não posso me conformar

BIS

Se as coisas que um quer

Se pudesse alcançar

Tu me quiseste o mesmo

Que vinte anos atrás

Com que tristeza olhamos

Um amor que nos deixou

É um pedaço da alma

Que se arranca sem piedade

BIS

É um pedaço da alma

Que se arranca sem piedade

            Este é um ressentimento comum, muito encontrado nos amantes que chegam até os 20 anos. As transformações corporais, as novas experiências que trazem apelo aos prazeres, ao sexo, fazem motivação para a perda da fidelidade, que é um compromisso central nas relações de amor romântico.

            A minha amada, cheia de amor romântico, faz a leitura ipsis litteris do conteúdo da música. Eu, cheio do amor incondicional, faço a seguinte leitura:

Que te importa que eu te ame?

Se tu não me queres mais?

O amor que tem passado

Não se deve recordar

            Primeiro, devemos esclarecer que tipo de amor que é colocado como pergunta e acusação ao mesmo tempo. Vou colocar aqui o “Amor” com maiúscula como o amor incondicional, e o “amor” sem maiúscula o amor romântico, condicional.

            Eu me importo que me Ame, pois nunca deixei de te Amar, nunca deixei de estar contigo... mas fui sempre rechaçado pela minha forma de Amar.

Fui a ilusão de tua vida

Um dia muito distante

Hoje representa o passado

Não posso me conformar

            O Amor é eterno, nunca cai no esquecimento, nunca se deixa de praticar. O Amor nunca é uma ilusão para quem o pratica, talvez seja para quem o recebe... recebe o Amor pensando ser o amor, e as vezes podem estar bem intricados um com o outro. Mas o amor sempre morre, enquanto o Amor é eterno. Quem ama dessa forma, ao olhar o passado não pode se conformar. Mas quem Ama dessa forma, ao olhar o passado tem a saudade revestida de compreensão e que evoca na alma a lembrança dos mesmos prazeres de outrora. Sem queixas, acusações, ressentimentos... apenas curiosidade pelo que teria sido se tivesse sido Amado da mesma forma.

Se as coisas que um quer

Se pudesse alcançar

Tu me quiseste o mesmo

Que vinte anos atrás

            Se nós tivéssemos nos Amado, jamais estaríamos olhando com tristeza o que se passou há 20 anos conosco. Nós teríamos o mesmo objetivo, de se sentir feliz com a felicidade do outro, mesmo que por alguns momentos o seu Amado estivesse Amando, também, ao lado de outra pessoa. Se num momento do passado, o amor forte que nos envolveu, a paixão animal, fazia querermos ficar juntos um do outro, o Amor que tivéssemos com certeza iria compreender que tudo isso iria um dia passar e naturalmente outras oportunidades de Amar iria surgir, contaminadas ou não pelo amor, mas nunca subordinado a ele.

Com que tristeza olhamos

Um amor que nos deixou

É um pedaço da alma

Que se arranca sem piedade

            Se eu estivesse amando dessa forma, romanticamente, com certeza iria sentir tristeza do amor que me deixou, sentiria também ser arrancado um pedaço da minha alma. Mas, a minha forma de Amar sempre está lutando para criar ou ampliar essa capacidade de Amar em todas as pessoas, principalmente as mais próximas. De mostrar que o amor que muitos experimentam e doam, não tem a magnitude do Amor que é paciente, é bondoso; o Amor que não é invejoso, não é arrogante, não se irrita, não guarda ressentimentos pelo mal sofrido, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 19/07/2019 às 00h18
 
18/07/2019 12h18
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (14) – FINAL

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            O filme parece terminar, o teatro se queima com o candelabro que cai, parece acabar tudo. Christine casa com Raoul, escondido. Só que de repente o filme avança no tempo, vai para frente não sei quantos anos.

As cenas mostram Raoul já muito envelhecido, numa cadeira de rodas. Christine já havia morrido. Ele vai a um leilão de alguns objetos do teatro. Todos esses objetos são muito simbólicos. Depois que ele adquire uma peça, vai até o cemitério para deixar o objeto no túmulo da sua querida esposa.

Quando ele chega no túmulo, estava lá a rosa vermelha do Fantasma da Ópera. É como se o Fantasma deixasse um recado claro: eu te perdi nessa, mas eu não vou desistir.

            Raoul olha e percebe que a luta vai continuar eternamente. Eric não desiste enquanto ele não conquistar Christine. Ou seja, não somos nós que estamos captando a nossa essência, ela está nos caçando. A nossa essência, a nossa espiritualidade está correndo atrás de nós e provocando fatos na nossa vida para que a gente perceba, entregando essa rosa vermelha de vitalidade, de mistério que embeleza e busca nos atrair para sua esfera, buscando ser a voz que se expressa através das nossas palavras.

            Então, a cena final mostra isso com uma beleza incrível. “Acabou essa vida, mas eu não vou desistir de tentar na próxima. Vou tentar demonstrar que a minha hora vai chegar”.

Eu peço que vocês assistam tudo isso com bastante atenção, reparando em todos os detalhes da cenografia, os figurinos de cada coisa que se faz.

            Quero dizer, fechando a nossa palestra, que tem uma determinada passagem que Eric canta para Christine, um pedaço daquela bendita musiquinha “Think of me.” Só que ele muda a letra e aqui ele coloca o seu recado final. Ele canta para ela com uma letra diferenciada. Ele diz:

Mensagem final de Eric para Christine

Nos belos versos da canção “Think of me”:

“Lembre-se de mim de vez em quando,

Por favor, prometa-me que irá tentar.

E, quando achar aquilo que tanto deseja,

Venha buscar o seu coração e fique livre.”

            Veja, quando você cansar de brincar com os brinquedos do mundo, venha buscar o seu coração e fique livre. Por enquanto, pelo menos lembre de mim de vez em quando. Não perca o contato, mas um dia abandone as trevas e venha para a luz. Vou estar sempre, sempre te esperando! Imagine que de alguma maneira eu sei que estou falando isso para você. Pense em mim, sempre em mim. E quando cansar de brincar, vem, eu estarei aqui.

            Bom, o que eu queria transmitir para vocês era esse recado. Lembro que temos muitas palestras de vários mitos no canal da Nova Acrópole no Youtube e quanto mais assistimos, lemos, trabalhando com mitos, mais vamos criando uma visão simbólica que nos permite sermos mais profundos e não apenas mais extensos. Não temos quantidade de informações, nós temos qualidade e temos contato interno, temos intuição, temos uma visão maior da vida, temos algo a dar as pessoas. E em última instância o que mais precisamos é um sentido para as próprias vidas. Temos a começar a fazer por nós mesmos.

            Agradeço muito pela e espero que gostem dessa reflexão. Muito obrigada.

            Agradeço também, profundamente, as reflexões da professora Lúcia Helena. Confesso que eu não conseguia fazer essa reflexão e sempre me deixava ficar no papel de vilão que sempre me colocam, quando eu levo uma flor vermelha e tento cantar minha canção na mente de alguma enamorada. Sempre sou visto com desconfiança, apesar de não tentar iludir, de caminhar sobre a verdade. Mas a minha verdade, do Amor Incondicional, inclusivo, universal, sempre mostra uma face feia comparada ao belo rosto do amor romântico, mentiroso quanto a sua eternidade, egoísta quanto a sua expressão.

            Para conviver bem tenho que usar uma máscara na intimidade de quem me conhece, que sabe a minha face feia. Preciso fazer isso para conviver no meio cultural cheio de hipocrisia, preconceitos, ignorância das leis de Deus expressa na natureza.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 18/07/2019 às 12h18
 
17/07/2019 00h15
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (13) – PONTO SEM RETORNO

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

            Tem outra coisa que eu gostaria de chamar a atenção de vocês. Se alguém me perguntasse sobre esse filme específico, que foi feito sobre o musical, sobre o livro, qual a minha melodia predileta?

As melodias são idênticas, no musical e no filme, mas eu realmente tenho uma especial predileção pelo “Ponto sem Retorno”. É um momento onde quase que Raoul já tinha vencido, ele estava noivo de Christine, de repente no meio dessa peça teatral, ou seja, no meio do mundo, dos olhos, Eric faz uma aparição bombástica. Consegue vencer um pouco a verdade dela, ou seja, mata todos aqueles que se opunham e entra no palco do mundo manifestado e diz para ela: não tem volta, não tente voltar, a ponte se queimou, é um ponto sem retorno. Quanto tempo nós vamos esperar para sermos um só? Vem comigo, não olha para trás, vamos observar a ponte queimando.

Mas o problema é que ela tire ainda a experiência daquele outro mundo.

            Se vocês virem aquele livro que eu falei para vocês, do Bhagavad Gita, que mostra a guerra entre os vícios e as virtudes humanas, com a consciência humana no meio, que nesse drama é Arjuna, é como se Christine fosse Arjuna, com a sua vida sendo disputada por dois mundos. Eu poderia dizer que o “Ponto sem Retorno” é como se fosse um Bhagavad Gita. Ela está sendo puxada por ele, o Fantasma, e por outro lado puxada por Raoul e ela acaba hesitando, em voltar atrás. Então, a letra desse Ponto sem Retorno é uma coisa muito bonita. Ele vai dizer o seguinte:

Você me trouxe para aquele momento

Em que as palavras falham.

Para aquele momento em que a linguagem desaparece

Dentro do silêncio, vim até aqui, mal sabendo a razão.

Ultrapassou o ponto sem retorno, não há volta agora.

Nosso drama finalmente agora começou.

Já se foram as dúvidas de certo e errado.

Uma pergunta final.

Quanto tempo devemos esperar antes de sermos um apenas?

Quando o sangue vai começar a correr

E o botão adormecido explodir em flores?

Quando as chamas finalmente nos consumirão?

Ultrapassou o ponto sem retorno, o limiar final

A ponte foi cruzada. Então pare e observe-a queimar.

Agora não podemos mais retornar.

            É como se fosse um golpe de misericórdia que Eric dá. Acabou, agora você veio, não tem volta. Acontece que Raoul não desiste e novamente entra no palco, resgata Christine... então diante desse palco que é o inimigo final, Raoul, só restava a Eric uma coisa: matar Raoul. Matar as fantasias infantis dela, as paixões, as necessidades de status quo... ele tinha que matar Raoul senão ele perderia. E ele realmente tenta. Mas quando na cena final e quase matando Raoul, ele sente o quanto ela necessitava dessa experiência, o quanto ela estava disposta a sacrificar-se por Raoul, ele a entrega e vai embora.

            Qual foi o meu “Ponto sem Retorno”? O ponto em que eu decidi e não pude mais voltar? Que segui em frente sem olhar para trás?

            Acredito que foi quando a minha consciência reconheceu a importância do amor incondicional, que eu não poderia viver subordinado ao amor condicional, preso aos diversos preconceitos que ele produz.

            Foi quando eu resolvi que não poderia viver subjugado pelas regras do casamento, da família nuclear, da exclusividade dos sentimentos, principalmente o amor, com tudo aquilo que ele traz, inclusive o ato sexual.

            Foi quando eu decidi que poderia namorar com as amigas que Deus colocou no meu caminho, desde que fosse de interesse mútuo, sem coerção ou fingimento, e por ação da justiça, a minha esposa deveria ter o mesmo direito.   

            A partir desse momento foi como se o “Fantasma da Ópera” que vive em mim assumisse o controle de minhas ações, que me deu coragem para eu ir em frente, não ficar mais preso aos preconceitos.

            Agora eu vejo essa história com todo o simbolismo e me coloco no lugar de Eric, mas com um certo orgulho. Orgulho de ter obedecido à minha voz interna, que está mais sintonizada com Deus com o Amor Incondicional, e que eu fazendo assim me tornei um Fantasma da Ópera, instrumento da vontade do Criador, obedecendo à Natureza assim como Ele a fez, e tendo cuidado para não prejudicar o próximo, e ensinando a quem tenha boa vontade para também se livrar dessas amarras do falso amor, do amor condicional, do amor romântico. Mas assim como Eric não teve sucesso com Christine, também não tive sucesso, até hoje, com quantos corações eu entrego a minha flor vermelha.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 17/07/2019 às 00h15
 
16/07/2019 00h15
O FANTASMA DA ÓPERA – UM MITO (12) – DOIS EM UM

            Continuando a transcrição da palestra sobre a obra de Gaston Leroux, O Fantasma da Ópera, feita pela professora Lucia Helena, voluntária da Nova Acrópole, e que está disponível no Youtube, muito útil para nossas reflexões.

Já devem ter tido experiências de algumas vezes ouvir dois músicos, dois cantores, que têm uma técnica equivalente. Mas um canta com a alma e o outro é meramente... um, digamos, um exibicionismo técnico, uma performance técnica. Lembro bastante quando eu ouvi um compositor argentino que uma vez interpretou uma música que lembro, Astor Piazolla. Diziam que era um prodígio ao tocar no bandoneon suas obras e que depois de uma apresentação chegaram para ele e disseram: nossa, você tocou maravilhosamente! E ele teria dito: muitas vezes eu toco maravilhosamente, mas poucas vezes eu faço música.

É muito interessante, fazendo a comparação é como se o Fantasma dissesse: muitas vezes eu falo como Christine, mas algumas vezes falo como Eric. Ela usa minha voz para eu vir ao mundo e ela forma tipo um canal, o cano de bambu lá dos paulistas.

Através desse cano há o sopro do espírito que chega ao mundo, ela se torna um canal de manifestação divino no mundo. O divino que vive dentro de mim mesmo. Então, ele fala isso claramente.

Christine & Fantasma

-Seu espírito e minha voz reunidos em um;

O Fantasma da Ópera está aqui,

Dentro da sua mente

            Veja, seu espírito, Eric, que é o meu próprio espírito, grandioso. E a minha voz, Christine, a voz da personalidade, seja o meu aparelho fonador, a minha projeção de voz, a técnica, a ferramenta, o veículo, mas o espírito que está por trás, aí, os dois, não um só.

            Isso é muito bonito. Pensem um pouco a respeito e vejam como isso obviamente está falando pra nós sobre o sentido mítico da obra.

            Continuando ainda nessa música, o Fantasma vai dizer:

Fantasma:

-Em todas suas fantasias, você sempre soube

Do homem e do mistério,

            Ou seja, da superfície e da profundidade. E Christine responde:

Christine:

-Ambos em você.

            Em todas as suas fantasias, você sempre soube que havia o homem e o mistério, e ela responde: ambos em você. Através de você eu reconheço os dois. É um momento de lucidez extrema nos subterrâneos do teatro, caminhando para o casamento, mas ela ainda olhava para trás, ela tinha que virar estátua de sal. E Christine e o Fantasma cantam em dueto:

Christine & Fantasma:

-E neste labirinto onde a noite é cega,

O Fantasma da Ópera está aqui

Dentro da minha (sua) mente.

            Nesse labirinto interior que é o mesmo labirinto que Teseu penetrou e conseguiu matar o Minotauro, usando um machado do fio que trabalhava sobre sua personalidade externa e sobre a sua essência interior. Juntando esses dois num só, ele entra no labirinto da vida e vence todas as provas que o animaliza.

            Eu procuro dar voz ao meu “Fantasma da Ópera”, talvez quem participe atuando como eu seja na maior parte do tempo ele. Mas, talvez ninguém perceba isso, a não ser que se interesse e procure conhecer a minha intimidade. Mas será que irá tolerar, compreender a “feiura”, segundo os padrões da sociedade, que está por trás da máscara?

            Já tenho tido essas experiências, e o máximo que obtenho de positividade é um misto de horror e admiração. Por isso eu sinto que meu destino é viver sozinho, pois quem tem a coragem de conviver com esse meu “Fantasma da Ópera” chega um momento que não suporta a pressão da sociedade e termina por me expulsar do seu convívio. Rogo a Deus que não seja com violência, pois eu não reagirei e continuarei a entender...

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/07/2019 às 00h15
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