Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
20/02/2016 00h11
FOCO DE LUZ (90)

            Em 18-02-16, as 19h, foi realizada mais uma reunião da AMA-PM e Projeto Foco de Luz, na primeira meia hora de informal, com conversas individuais de acordo com as necessidades e em seguida a reunião formal com a presença das seguintes pessoas: 01. Paulo; 02. Edinólia; 03. Costa; 04. Graça; 05. Márcia; 06. Netinha; 07. Marise; 08. João; 09. Nivaldo; 10. Washington; 11. Abínio (1ª vez, pai de Andreza); 12. Andreza (1ª vez a convite de Francisco); 13. Francisco; 14. Ana Paula; 15. Sued; e 16. Miltão. Inicialmente foi lido o preâmbulo espiritual “Jesus veio”, citação de Paulo em Filipenses 2,7. Foi lida a ata anterior que foi aprovada por todos com uma correção: onde se lê Lucimar, leia-se Luzimar. Francisco apresenta o balancete do mês de janeiro que ficou da seguinte forma: a) Receita = 580, 00 reais; b) Despesa = 793,50; e c) Balanço geral = 6.624,68. Márcia informa que a igreja católica dentro das atividades da Campanha da Fraternidade de 2016, com o tema “Casa Comum, nossa responsabilidade” e o lema “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, irá fazer atividades na comunidade e espera contar com o apoio de todos os grupos organizados, igrejas e associações. Será realizada uma Via Sacra nas sextas feiras, as 19h, com cinco pontos de parada e abrangendo 3 áreas da comunidade. Informa também que realiza aos sábados de 15 as 16:30 horas aulas de catequese na Capela de Santana, para alunos de 6 a 12 anos. Coloca a questão do lixo na comunidade, principalmente na área do HUOL, como verdadeiros focos de mosquitos e que tem dificuldade de falar com a direção do hospital sobre o problema. O mesmo problema acontece com a escadaria externa que dá acesso hospital que se encontra danificada e capaz de causar acidente em algum morador. Ficou combinado que na próxima terça feira às 10h será feito um ofício no Departamento de Medicina Clinica para entrega imediata ao Dr. Stênio, diretor geral do HUOL. João ressalta que Deus nos deu um mundo limpo e nós o estragamos jogando sujeira por toda a parte, praias e ruas. Miltão informa sobre a necessidade de engajamento popular para a transformação da Praia do Forte em Parque Público. Diz que está sendo montada uma caixa de areia que é a maior do Brasil para a prática de esportes e que esse legado poderia ficar para a comunidade desenvolver um “Centro de Educação e Treinamento em Esportes de Areia”. Deverá ser conquistado o maior número possível de aliados, inclusive com abaixo-assinado, pois existem grupos com pensamento contrário com a proposta de retirar de imediato os sacos de areia que sustentam a caixa e prejudicando os anseios da comunidade. Sued apresenta um levantamento dos instrumentos musicais que são necessários para a Associação no valor de 2072,00 reais parcelados, ou 1910,00 reais a vista. Foi colocado a necessidade de ser feito outro orçamento com outro comerciante para ver a possível distorção de preções. Edinólia lembrou do lanche da próxima semana e Netinha ficou responsável por trazer. Devido a hora do termino da reunião ter chegado, foi combinado com Costa que ele apresentará o seu projeto na próxima semana. Foi solicitado a Márcia fazer a condução da oração ao Pai, posamos todos para a foto oficial e degustamos o lanche da noite trazido por Washington.

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em 20/02/2016 às 00h11
 
19/02/2016 00h59
TESTE ESPIRITUAL

            A cena de um crime que relatei ontem deu-me profundas reflexões quando eu retornava para o apartamento. Primeiro, verifiquei meus sentimentos ao ver o acidente com os carros e logo depois um rapaz correndo furtivamente pela praia. Todos diziam que ele estava fugindo de alguma coisa e chegaram a gritar “pega ladrão”. Eu perguntava intimamente o que eu podia fazer nessa situação, correr atrás do provável criminoso? Gritar também “pega ladrão”? Eram sentimentos íntimos que não deixava extravasar para ninguém que estava ao meu lado. Mesmo porque, se eu me manifestasse contra o acusado e ele estivesse armado, a provável vítima seria eu. Os técnicos de segurança pública adverte que numa situação como essa o cidadão de bem não deve reagir. O meu senso crítico também concordava.

            Logo após um policial conduzia um rapaz algemado, com as mesmas características daquele que estava correndo, antes, de forma furtiva. Ele chegava a dizer que não tinha nada a ver com o caso, mas ninguém acreditava, muito menos eu. Fui até próximo e vi de mais perto aquela figura, agora inofensiva. A raiva e o sentimento de justiceiro que eu gerara ia pouco a pouco se afastando de mim. Pensei de outra maneira, e se fosse um filho meu naquela situação? Se fosse um irmão? Então ocorreu um “clic” na minha mente, então eu não o considero como irmão? Eu não defendo que todos nós somos irmãos, já que todos fomos criados pelo mesmo Pai? Agora os meus sentimentos ficaram toldados... a raiva e sentimento de impotência frente ao mal que se realizara, agora era dominado pelo sentimento de compaixão, de que aquele provável criminoso, algemado, sujo e acoitado, também era meu irmão. Não era o irmão biológico pelo qual uma serie de sentimentos automáticos despertam em simpatia, em defesa. Mas era o irmão espiritual quanto a origem em um Pai criador. Também fazia parte da minha família. Família espiritual. Isso falando em tese, pois Jesus falou que a nossa família espiritual é caracterizada por aqueles que acreditam em Deus e fazem a Sua vontade. E aquele rapaz eu não sei se atende esses pré-requisitos.

            Senti então que isso era um teste que Deus estava fazendo comigo, para saber qual a direção dos meus pensamentos e convicções e qual seria a natureza do meu comportamento num caso como esse.

            Quando cheguei no apartamento, e ao fazer a leitura diária do livro “Um Santo para cada dia”, vi que hoje era o dia de Santo Onézimo. Ele era um escravo fugitivo e também ladrão. São Paulo se declara disposto a pagar pelo escravo, se Filemon fizer questão de receber. Há quem que acabar com a escravidão não foi mérito do cristianismo. Mas isso de chamar de filho e de irmão caríssimo a escravo fugitivo só mesmo no cristianismo.

            Então, para mim tudo ficou bem claro. Deus queria saber como eu iria me comportar vendo de tão perto um crime acontecendo com o criminoso algemado logo em seguida. Qual seria a natureza da minha reação, quando passasse o calor emocional dos primeiros instantes. E para confirmar tudo isso, a leitura da vida de um santo que no seu histórico tinha o mesmo crime que aquele rapaz cometera, com as devidas alterações tecnológicas trazidas pela evolução.

            Com essa compreensão, fiquei em parte satisfeito, primeiro por ter compreendido o que o Pai me ofereceu, e ter criado intenções de agir como o irmão biológico daquele marginal poderia ter agido. Cheguei a comentar com o pessoal da Associação que trabalha na área de segurança, para eles procurar ver se a família daquele rapaz mora em nossa comunidade. A ideia seria procurar os pais do rapas, ver as condições de existência da família, pedir permissão para ajuda-lo, oferecer a oportunidade de um emprego onde ele poderia todo mês guardar uma quantia para reembolsar os prejuízos que causou a sua vítima. Tudo isso com o aval da justiça que acompanharia de perto se tudo isso estava sendo cumprido.

            Fazendo isso, se o rapaz realmente tivesse boas intenções, poderíamos ver uma recuperação de um criminoso, sem traumas para nenhuma das partes, incluindo principalmente a vítima, que estaria sendo respeitada e coberto os seus prejuízos.

            Acontece que tudo isso ficou no campo das imaginações, não conseguiu fluir como deveria ser para acontecer o que eu estava prevendo. Nesse ponto a minha nota foi um, pois apenas falei sobre esse propósito e nenhuma outra ação foi realizada para construir esse tipo de recuperação.

            Preciso mais tempo e mais empenho para corrigir esses defeitos.     

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em 19/02/2016 às 00h59
 
17/02/2016 01h01
CENAS DE UM CRIME

            Procuro estar sempre sintonizado com o mundo espiritual, com a vontade de Deus na minha vida. A Associação de Moradores e Amigos da Praia do Meio é uma espécie de laboratório em que posso desenvolver projetos e praticar as lições do Evangelho. Agora, a praia, a hora de ir para ou voltar da hidroginástica parece ser o momento que Deus escolheu para fazer os testes comigo, principalmente aqueles mais difíceis, onde Ele quer me testar e ao mesmo tempo ensinar algo importante.

            Assim aconteceu ontem, terça-feira, dia 16, as 06:40, estava na roda fazendo o aquecimento com os colegas antes de entrar na água. De repente ouvi o ruído estridente de pneus queimando no asfalto e ao olhar na direção do barulho, vi um carro que vinha em velocidade se chocando com dois carros que estavam estacionados. Todos ficamos impactados com aquela situação e o professor foi até o local, dizia que uma das suas alunas havia sido atingida e ele iria ajudar. A maioria ficou no local da roda da hidroginástica, entre eles eu. Queríamos entender o que aconteceu, entre todos eu. De repente um rapaz de seus 25 anos aproximadamente, vinha correndo de maneira suspeita se escondendo por trás das dunas, em direção ao mar. Imaginamos logo que ele estava envolvido no acidente e estava correndo para evitar algum flagrante.

            Passados mais cerca de 5 minutos, ouviu-se um tiro e logo depois um policial conduzindo um prisioneiro algemado. A maioria o reconheceu como a pessoa que ia fugindo, correndo e se esgueirando. Vi que o policial conduzia seu prisioneiro e que as pessoas que estavam na roda do aquecimento começaram a aplaudir a ação rápida da polícia. Resolvi subir até o calçadão para ver de perto a situação.

            Vi os estragos nos carros, principalmente nos dois primeiros que sofreram o choque direto. O rapaz negro, somente de calção, era colocado dentro do camburão, o rosto sujo de areia, era limpo pelo policial que queria tirar fotos, com movimentos da mão que parecia bofetadas. O rapaz não dizia nada, apenas olhava, indefeso, tudo que acontecia ao seu redor. Eu ouvia os comentários dos curiosos, que aquele tiro que havia sido disparado, alguém pensava que já era a eliminação do preso, pois o comandante da polícia havia dito que todos os policiais deviam ser duros contra o crime. Outro dizia que ele acabara de sair da cadeia, roubara esse carro para assaltar e agora estava aqui nessa situação. O comentário geral era que a marginalidade estava bastante exacerbada e que deveria ter uma ação do Estado para corrigir esse mal.

            Deixei todos com esses comentários e voltei para o meu apartamento. Resolvi não ir mais para a hidroginástica, apesar do professor ter me chamado. Já estava tarde e eu deveria chegar cedo no meu trabalho no departamento. Refletia no caminho sobre tudo isso. Eu estava atuando em um projeto que visa prevenir essas agressividades há mais de dois anos. Será que esse trabalho irá corrigir tamanha violência como nós podemos observar no bairro? Esse rapaz que acabara de ser preso, pode ser um dos nossos moradores, uma das pessoas que nós queremos ajudar e evitar que se envolvam com o crime ou permaneçam nele.

            A medida que eu voltava para casa esses acontecimentos flutuavam na minha mente como a exigir alguma solução. Lembrava que Jesus havia sido provocado numa cena de crime, quando a mulher pega em adultério foi levada a sua presença para Ele decidir. Sei que naquela hora a orientação que Jesus dera aquela turba que já estava com pedras na mão, de que quem não tivesse pecado jogasse a primeira pedra, foi suficiente para salvar a mulher da sanha assassina. Mas eu poderia fazer o mesmo? Primeiro, eu não tenho a autoridade que Jesus tinha naquela época. Segundo, o criminoso estava sendo levado pela polícia para ser julgado pelo seu crime, que não implicava em pena de morte.

            Era uma situação diferente, mas eu sentia que o Pai estava me cobrando algo mais dessa situação. Isso foi confirmado em dois aspectos: primeiro, ao fazer minha leitura diária, com livros espiritualizados; e segundo ao ouvir um trecho da Bíblia num MP3. Então entendi que essa circunstância que o Pai me ofereceu era mais um teste, como outros que Ele já me ofereceu nesta praia.

            Abordarei este teste com mais profundidade amanhã.

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em 17/02/2016 às 01h01
 
16/02/2016 01h01
QUERO SER INTERNADO NO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO

            Que este título sirva de “Declaração de Consentimento” assinado em pleno exercício de minhas faculdades mentais. Caso eu seja acometido de uma doença mental, que coloque o meu patrimônio em risco e a vida das pessoas ao meu redor, parentes, amigos ou desconhecidos, que a minha condição de exacerbação mental provoque destruição ao redor e fugas dos locais de acolhimento, agredindo quem queira me conter, sei que somente o Hospital Psiquiátrico terá competência para me conter e cuidar. A não ser que no Hospital Geral tenha enfermaria psiquiátrica com todos os recursos do Hospital Psiquiátrico, capaz de conter a minha insânia destrutiva sem perturbar os demais pacientes clínicos ou desconstruir a administração.

            Claro, eu escolheria ir para o Hospital Psiquiátrico (Instituto de Psiquiatria) da Faculdade de Medicina da USP, por exemplo, ou mesmo no Hospital Psiquiátrico Severino Lopes ou Clínica Santa Maria, ao invés de ficar na carência coletiva do Hospital João Machado. Também não poderia contar com as enfermarias de psiquiatria do Hospital Onofre Lopes, pois elas não poderiam me conter sem desorganizar o serviço. Portanto, não é a questão do Hospital Psiquiátrico que irá direcionar minha opção, e sim os cuidados que os gestores tem com a instituição. O Hospital João Machado pertence à gestão estadual e obedece os princípios do Ministério da Saúde. Sua construção for terminada em 1957 e desde essa época não passou por nenhuma reforma significativa. Os recursos são limitados, a AIH que financia a internação do paciente psiquiátrico são insuficientes para cobrir todos os gastos. Se o governo do Estado não pagasse aos diversos funcionários, o Hospital já teria ido à falência. A gestão Estadual nem muito menos a gestão Federal faz a devida correção financeira para transformar o hospital num ambiente que o paciente seja tratado com dignidade e os técnicos valorizados em suas ações, sem clima de guerra promovida entre as categorias profissionais.

            Assim, quero responder à provocação de que “se caso eu precisasse de um internamento psiquiátrico, eu escolheria um estilo Hospital Psiquiátrico João Machado, Hospital Geral, ou um Centro de Atenção Psicossocial”. Eu também nunca gostaria de me internar no Hospital Psiquiátrico João Machado, sabendo de suas deficiências por descaso das gestões estadual e federal, mas se eu for acometido com uma doença mental com as características que mencionei acima, e se não tiver recursos para ser deslocado para um Hospital Psiquiátrico melhor cuidado pela gestão, autorizo me manter no Hospital João Machado enquanto o responsável psiquiátrico achar necessário. E não serei o primeiro médico a se internar em Hospital Psiquiátrico, tenho certeza, sou testemunha disso, e também médico assistente de alguns. Saberia que minha crise iria ser combatida com a melhor expertise dos colegas e que logo que eu tivesse melhorado receberia de volta a liberdade que eu perdi com a crise da doença mental.

            Espero que essas posições sirvam de reflexões para todos os técnicos que atuam na área psi, principalmente dentro dos Hospitais Psiquiátricos; que reconheçam o grande serviço prestado por essas instituições e passem a defende-las dos ataques da ignorância, da maldade ou da perversidade. Se há criminosos dentro delas, que sejam denunciados e punidos.

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em 16/02/2016 às 01h01
 
15/02/2016 01h19
HOSPITAL PSIQUIÁTRICO: MODELO DE SEGREGAÇÃO?

            Não consigo entender como técnicos que trabalham num Hospital Psiquiátrico, que fazem a estrutura funcional do Hospital Psiquiátrico, acusem o Hospital de ser um modelo de segregação sem se contaminar com essa acusação. Pois eu, como psiquiatra, se entendesse que o Hospital Psiquiátrico é um modelo de segregação, de prejuízos mental e social para os meus pacientes, eu me retiraria de imediato dessa instituição e iria denunciá-lo fora de seus muros. Iria lutar com todas as minhas forças para nenhum paciente com doença mental procura-lo, pois ao invés de ajudar iria piorar sua situação. Pois eu também entendo que nenhum modelo de segregação do ser humano deveria existir dentro da sociedade, quanto mais dentro do espaço terapêutico.

            A minha compreensão é que o Hospital Psiquiátrico é uma instituição valente dentro do contexto social, principalmente nas condições da assistência médica do Brasil atual. Apesar de ser atacado por dentro e por fora, ele continua resistindo na sua missão de cuidar dos doentes mentais em crise e acolhendo-os, até mesmo fora de suas atribuições, como são os casos asilares ou manicomiais. Não é o Hospital que deseja isso, é a sociedade incompetente e relapsa com a saúde mental que joga os pacientes com essas necessidades nas portas de sua urgência. São os psiquiatras que representam o Hospital nesse momento, os responsáveis por essa acolhida (ou não) dentro de suas enfermarias, que se envolvem com a responsabilidade de, em benefício do paciente, não deixa-lo à deriva dentro dos labirintos malfazejos das ruas, sem lar ou acolhida institucional.

            A justificativa de que “nenhum modelo que sugira ao familiar afastar-se ao menos por 15 dias dos seus pacientes devia existir” mostra um completo desconhecimento da lide psiquiátrica, ou mesmo uma cegueira seletiva, pois todos os colegas psiquiatras, e consequentemente toda a equipe que acompanha o tratamento de pacientes com doenças mentais, sabem de diversos casos onde a família implora para o paciente ser mantido afastado da convivência com os parentes, enquanto a doença ameaça à integridade deles e do próprio paciente. Muitas vezes os parentes tem receio de ir à visita com esses pacientes em crise, enquanto o psiquismo estiver dominado pela doença. Não seria este o espaço suficiente para eu citar a quantidade de pacientes que estão dentro desse critério, sem falar dos pacientes que chegam a cometer crimes contra parentes tão próximos quanto a própria mãe. E a justiça promove o afastamento da sociedade desse paciente e o resto da parentela traumatizada pelo ocorrido evita qualquer tipo de contato com essa pessoa. Só resta para acolhê-lo o Hospital Psiquiátrico e por fazer isso leva a pecha de segregador... Que ironia!

            A crítica de ser feita a contensão física como punição não se aplica à correta conduta em psiquiatria. Nenhum psiquiatra que eu conheço trabalha com os recursos existentes, seja contensão física, seja eletroconvulsoterapia, como forma de punição. Essa é uma acusação perversa que visa demonizar a psiquiatria, pois qualquer pessoa de bem que tenha conhecimento de tal atitude por qualquer profissional médico, deve levar o caso à polícia ou ao Conselho Regional de Medicina. É um crime! Falar que isso acontece dentro da psiquiatria de forma vaga, é uma forma de deixar os psiquiatras de forma generalizada na berlinda, pois quem faz a indicação dessa conduta é o psiquiatra, quando a sua expertise aponta para essa necessidade.

            Então, a opinião de que os manicômios mentais (atuais Hospitais de Custódia) ou institucionais (acredito que esteja se referindo ao Hospital Psiquiátrico), não devam existir, mostra um completo desconhecimento da necessidade dos pacientes mentais, pois colocaria aqueles que por fatalidade cometeram um crime dentro das celas com criminosos perversos por outra natureza, sem cuidados terapêuticos devidos; e aqueles que nas suas crises procurassem alguma instituição para ajuda, sem o Hospital Psiquiátrico João Machado existir em Natal, talvez o seu pouco fulgor mental e esforço da família não fossem suficiente para encontrar essa tal ajuda.

            Outra informação tendenciosa, talvez por falta de conhecimentos, é que a Organização Mundial de Saúde (OMS) defende a extinção dos Hospitais Psiquiátricos. Pelo contrário, a OMS defende que para cada grupo de mil pessoas deveria ter um leito psiquiátrico. Assim, o país precisaria abrir mais 154 mil leitos para atingir a meta da OMS. O Ministério da Saúde no Brasil, sim, luta para acabar com os hospitais psiquiátricos com foco ideológico que infelicita não só a psiquiatria, mas toda a nação. O fechamento de hospitais psiquiátricos, que sucumbiram à lei, revelou a realidade do abandono familiar. Dois estudos na área da psiquiatria sugerem que muitos egressos desses hospitais morreram ou foram parar no sistema penitenciário. O pesquisador Fernando Portela, da Associação Brasileira de Psiquiatria do Rio de Janeiro, verificou que entre 1996 e 2005, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, a mortalidade de doentes mentais aumentou 62,3%. Como concordar que técnicos que estejam aliados a essa coordenação mental do Ministério da Saúde que promove isso, esteja defendendo pacientes mentais?

Publicado por Sióstio de Lapa
em 15/02/2016 às 01h19
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