Sióstio de Lapa
Pensamentos e Sentimentos
Meu Diário
17/12/2014 20h01
DIVERGÊNCIA DE JESUS

            No livro de Amós Oz, “Judas” encontrei um trecho interessante em que ele mostra uma divergência com Jesus, mas que eu tenho condições de rebatê-lo em defesa do Mestre. Diz o texto o seguinte:

            “Pois para discutir com Jesus, o nazareno, disse Wald num lamento, um homem tem de elevar um pouco, e não baixar aos esgotos. É claro que se pode, e até se deve, divergir de Jesus, por exemplo, na questão do amor universal: será de fato possível que todos nós, sem exceção, possamos amar o tempo todo a todos nós, sem exceção? Será que o próprio Jesus amou a todos o tempo todo? Será que amou, por exemplo, os vendilhões que estavam na entrada do Templo, quando foi dominado pela raiva, foi lá e derrubou, furioso, a mesa deles? Ou quando declarou: ‘Não penseis que vim trazer paz à Terra. Não vim trazer paz, mas espada’ – será que esqueceu nesse momento o mandamento de amor total e o mandamento de oferecer a outra face? Ou, também, quando ordenou aos apóstolos que fossem ‘prudentes como as serpentes e sem malícia como as pombas’? E especialmente, como em Lucas, quando ordenou que seus inimigos, que tinham se recusado a aceitar seu reino fossem trazidos à sua presença e executados ante seus olhos? Onde tinha desaparecido naquele instante o mandamento de amar também – e sobretudo – os que nos odeiam? Pois aquele que ama a todos não ama na verdade ninguém. Ora, aí está, é assim que se pode discutir com Jesus, o nazareno. Assim, e não com blasfêmias tiradas do esgoto.”

            A missão principal de Jesus entre nós foi para nos ensinar sobre o Amor Incondicional que tem a essência do Criador. Foi essa lição que eu absorvi e procuro colocar em prática em todos meus relacionamentos. Acredito, sim, que é possível aplicar o Amor Universal, entendido como a essência de Deus, de forma ampla, geral e irrestrita. Talvez Amós não tenha conhecimento dos aspectos duais do homem como eu tenho, enquanto doente/doença. Entendo que o Amor Universal pode ser aplicado a todas as pessoas, mas não deve ser aplicado as doenças, aos pecados, que devem ser combatidos com firmeza e prudência. É parecido com o caso dos dependentes químicos que trato no hospital e no consultório. Tenho todo o Amor pela pessoa, pelo doente, mas quando está tomado pela doença, intoxicado com o álcool, atuo com firmeza sobre a mazela que ataca o homem. Quando Jesus tem um comportamento aparentemente sem Amor sobre os homens, não é ao homem que Ele ataca e sim ao mal que o domina. O mal que é representado em sua origem pelo egoísmo colocado por Deus na essência de cada ser animal para garantir a sua sobrevivência, mas que deve ser domesticado pela inteligência do homem para que este seja co-criador junto com o Pai. Caso o homem não tenha domínio sobre seus instintos animais gera a partir do livre arbítrio dominado pelo egoísmo todo a gama de doenças e pecados, físicos e mentais. Portanto, sou capaz de amar a todos, isso não é impossível, pois eu serei rigoroso apenas quando o pecado se manifestar sobre o doente, ao qual posso usar uma agulha de injeção, um bisturi de cirurgia, um laxante para a constipação ou um chicote para um mal comportamento. Não deixei de amar o homem ou o doente, apesar de ter sido rígido com a doença ou o pecado.

            Agora, o trecho que ele citou como registrado em Lucas, de ter ordenado a execução dos seus aniversários em sua presença me deixou confuso. Não tinha lembrança de lido algo semelhante sobre Jesus, e fui atrás.

            O trecho se refere a uma parábola que Jesus contou sobre um homem ilustre que teve de viajar para um pais distante a fim de ser investido da realeza e depois voltar. Chamou dez dos seus servos e deu-lhes dez moedas gregas de quase meio quilo de prata, uma a cada um, e disse-lhes para negociar até a sua volta. Mas os homens daquela região odiavam-no e enviaram atrás dele embaixadores para protestarem, que não queriam que ele reinasse. Quando investido da realeza ele voltou e mandou chamar os servos a quem confiara o dinheiro a fim de saber quanto cada um tinha lucrado. O primeiro disse que as moedas renderam dez outras moedas, e este recebeu o governo de dez cidades, pois ele fora bom e fiel nas coisas pequenas; veio o segundo e disse que havia lucrado mais cinco moedas, e recebeu em função disso o governo de cinco cidades; o terceiro chegou com a sua moeda embrulhada num lenço explicando que teve medo do senhor por ser homem rigoroso, que tira o que não põe e ceifa o que não semeia. O Senhor o repreende por não ter colocado sua moeda pelo menos no banco para receber os juros e manda dar a sua moeda a quem ganhou dez. Por ser admoestado pela sentença que deu, explicou que a todo aquele que tiver moedas mais será dado, mas àquele que não tiver moedas, será tirado até o que tiver de valor. Quanto aos que me odeiam e que não me quiseram por rei, trazei-os e massacrai-os na minha presença.

            Amós foi tendencioso nesse trecho. O contexto é totalmente diverso daquilo que ele tentou passar para o leitor. Pode ser uma falha de caráter do personagem que ele usa para veicular a mensagem. Não é Jesus o autor da frase, e sim o Senhor ao qual Ele se refere na parábola. E essa parábola é rica de ensinamentos. Primeiro tem a característica do capitalismo e que é defendido por Jesus, onde o trabalho que gera lucros é melhor considerado do que o dinheiro parado que apenas rende juros; segundo, quem mais tem capacidade de lucrar, mais obtém lucros, e aquele que não trabalha, nem ao menos coloca o dinheiro para render juros, do pouco que tem ainda será tirado. Com relação aqueles que protestaram e que não o queriam como rei, mandou massacrá-los na sua presença, um comportamento comum aos gestores públicos que tendem a massacrar aqueles que protestam a sua gestão, basta ver o Brasil atual.

            O Mestre ensinou outras lições aqui como o trabalho e a honestidade, nada tendo a ver com o Amor Universal que é a lição mais importante. 

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em 17/12/2014 às 20h01
 
16/12/2014 19h59
CAPITALISMO E SOCIALISMO

            Hoje fui a segunda reunião de cunho político realizada no Chaplin, as 19:30h. A atividade proposta foi a apresentação dos dois primeiros capítulos do livro “As seis lições” de Ludwig von Mises, Capitalismo e Socialismo, respectivamente.

            As pessoas chegaram mais cedo e as atividades começaram dentro do horário previsto. Mais uma vez eu senti falha na apresentação das pessoas presentes, com formação, trabalho, grupo ao qual está vinculado e motivação para a participação no grupo. Diferente da primeira reunião, nesta eu já conhecia algumas pessoas.

            O apresentador do primeiro capítulo fez questão de afirmar que o Brasil não funciona com o regime capitalista, e coloca exemplo das empresas estatais, como a Petrobrás que apresenta perdas profundas devidas o roubo dentro da instituição e que quem termina pagando a conta são os cidadãos. Num regime capitalista as perdas que uma empresa apresenta são absorvidas pelos seus proprietários e não pela população em geral.

            O apresentador do segundo capítulo falou do socialismo e do fracasso que aconteceu em cada país onde foi instalado esse regime. Citou a Rússia e Cuba como exemplos de países onde o comunismo/socialismo foi instalado à custa de muito sangue e que continuaram as mortes enquanto vigora o sistema. Mostrou que esse regime está cada vez mais se estruturando no Brasil e que a sociedade organizada e consciente tem o dever de reverter o processo, já que a massa ignorante dos efeitos a médio prazo e se sentindo beneficiada pelos diversos programas clientelistas sustentam pelo voto essa corrosão dos valores morais e patrimoniais do país.

            Deveria ter sido aberto um espaço na reunião para se discutir as diversas estratégias de ação em conjunto com os diversos grupos. Um grupo denominado “Vermelho nunca mais” foi à frente para falar da criação do movimento e que já está com uma página no Facebook, e que convida todos para visitá-la e participar. Está previsto uma ação no domingo às 10h na sede da Petrobrás, onde todos devem se reunir com vasouras e caras pintadas para lavar a sujeira que foi feita lá dentro.

            Imagino que os grupos deviam adotar uma pauta de ação semanal onde cada dia um grupo ficaria responsável por uma ação, mesmo que fosse um dia da semana em cada mês para cada grupo.

            As atividades poderiam ser desenvolvidas nos cinco dias da semana da seguinte forma: 2ª feira seria feita uma panfletagem nos semáforos com venda de adesivos e bottons; 3ª feira seria divulgada uma nota no jornal com o tema mais importante da semana; 4ª feira noticiar uma ação ou promoção em outdoor; 5ª feira visita a uma repartição publica ou privada para falar sobre a realidade brasileira; e 6ª feira carro de som na praça Kennedy de 15 as 18h onde cada membro dos grupos poderiam abordar determinado tema previamente para a população, e seria distribuída as notas que sobraram da panfletagem da 2ª feira.

            Além disso seria organizado uma juventude com o perfil dos grupos, apartidários, em defesa da verdade e dos bens nacionais. Poderia esse grupo ser chamado de “Grupo Hamelin” evocando o caçador de ratos dos contos infantis.

            Tem outra reunião agendada amanhã na casa de uma colega com a participação do Deputado eleito pelo PSDB Rogério Marinho e para a qual eu fui convidado. Irei para verificar o nível de mobilização que está acontecendo em todo pais com o patrocínio dos partidos de oposição, e o que eles podem fazer para apoiar a nossa iniciativa de ir à rua.

            Continuo a entender que deve ser feito um movimento sistemático em defesa da Verdade, sem envolvimento de partidos políticos no seu direcionamento, mas que podem apoiar no sentido que estejam dispostos a contribuir com a verdade.

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/12/2014 às 19h59
 
16/12/2014 00h59
VITÓRIA DO TRABALHO

            O Trabalho é o fator motivador, o motor da engrenagem comportamental que direciona o comportamento em busca de suas metas. A minha meta comportamental é de natureza espiritual, mas isso passa necessariamente pelos compromissos no campo material. Estes terminam por se transformar em problemas sérios quando o Trabalho não é acionado párea colocá-los em dia. Sei que tenho diversas ocupações e a falta de tempo termina por ser um fator limitador de coerente justificativa. Mas tem tarefas que vão sendo procrastinadas ao longo do tempo e terminam criando um fosso entre o objetivo espiritual e o compromisso material.

            Isso foi o que aconteceu com a tarefa de organizar os imóveis sob minha administração, principalmente o flat localizado na Redinha Nova. Chegou a um nível de acúmulo de objetos como livros, CDs e DVDs cobertos de maresia e mofo, impossibilitando até mesmo o uso saudável do imóvel. Decidi fazer a limpeza junto com todas as pessoas próximas (Simone, Navegante, Fábio, Flávio, Betânia) que podiam colaborar. Como tinha o trabalho de perícia a realizar as 14h, pensava em sair e depois voltar para a conclusão. Percebi no decorrer do trabalho que isso não seria possível, existia muito material para tirar de dentro do flat e fazer a limpeza de tudo. Liguei para o trabalho e informei que não poderia ir neste dia por causa de tarefa extra. Que os pacientes fossem remarcados para o dia seguinte, eu chegaria mais cedo ao trabalho.

            Dessa forma participei ativamente do carregamento e descarregamento dos livros, DVDs e CDs na garagem do meu irmão, Carlito, com o qual eu já havia combinado neste mesmo dia após sentir a intuição que deveria caminhar nesse sentido. O espaço que ele tinha disponível era o suficiente para guardar todo esse material que deverá ser usado oportunamente na construção de um sebo, talvez de natureza comunitária, associado ao trabalho realizado na Praia do Meio.

            Como vi que o condomínio está dando sinais de organização com os moradores embelezando os seus jardins, resolvi também fazer o mesmo. Entrei em contato com o vizinho, senhor Carlos, que informou onde comprou uma mesa e bancos para jardim, de cimento, e passei na mesma loja e encomendei conjunto semelhante que deverá ser entregue no sábado, assim como seis mudas de plantas e três jardineiras. Passei no apartamento e trouxe o aspirador de pó; passei no restaurante Casa de Mãe e trouxe cinco quentinhas para o pessoal almoçar, pois eu decidi que neste dia o trabalho seria a minha única meta e que eu não pararia nem para alimentação. Comi apenas um pedaço de melancia, sucos e água.

            Tive que fazer a encomenda de mais duas camas, pois a cama de casal e uma de solteiro estavam sem condições de voltar para o flat. Simone entrou em contato com Neta que trouxe esses pedidos inclusive uma mesa para substituir o apoio dos livros que uso em leitura permanente no apartamento da Praia do Meio.

            Por volta das 16h faltou energia no flat e como pensei que era uma falta geral fiquei a esperar o retorno. Somente ao cair da tarde, com o escurecimento é que vi os outros apartamentos com os televisores funcionando e procurei ligar para a COSERN. Como a portaria não tinha o telefone, liguei para Edinólia que me forneceu o numero da emergência. Tive que esperar mais uma hora para que a empresa tivesse condições de me atender e depois marcar com a equipe de rua para atender a solicitação dentro de 4h de espera. Recebi ainda no final a ajuda de Gerlane e Gustavo que se integraram no esforço da mudança e arrumação.

            O carro de Neta foi fundamental para o transporte dos livros para a garagem de Carlito e ficou apenas uma pequena parte dentro da sala do flat para ser organizado no próximo domingo e dar o fechamento dessa faxina e arrumação geral. Quando cheguei no apartamento, tomei banho e fui para a cama com os dedos todos doloridos do esforço durante o dia, o relógio marcava meia noite.

            Fiz esse relato mais ou menos detalhado deste dia para reforçar o papel do Trabalho no meu plano de vida. Em um campo da consciência estão em luta constante esses dois adversários, a Preguiça e o Trabalho; o primeiro é um dos sete pecados capitais, o segundo é uma das virtudes básicas do ser humano. A Preguiça associada às necessidades do Corpo está sempre levando vantagens sobre as necessidades do Espírito.

            O meu espírito decidiu reduzir essa vantagem da Preguiça sobre o Trabalho no que se refere a administração do flat. Aproveitou o sentimento de Reconhecimento que devemos ter dos benefícios recebidos, uma responsabilidade do Espírito, e preparei com tempo hábil um espaço para Lilian e seus amigos que moram em Brasília, que nos receberam em sua casa com todo o carinho quando estivemos em sua cidade, ficassem confortavelmente instalados. O corpo não teve trégua, ficou o tempo todo subjugado pelas ordens do espírito e só usava líquidos porque percebia o ressecamento da boca, sem salivação, como sinais de desidratação.

            Isso sinaliza para meu espírito a força que tem o Corpo quando passa a ter contato ou usar aquilo que ele tem necessidade. Passa logo dos limites do necessário para o abuso, e, portanto, tenho que ficar atento para que o Espírito não seja derrotado em batalhas constante e não chegue a perder a guerra. Tenho como exemplo o tempo que gasto no jogo do buraco quando tenho oportunidade, com meus amigos, parentes ou companheiras. É uma ação que atende as necessidades lúdicas do corpo e da mente, mas que não deve entrar no exagero, como observo que acontece em algumas ocasiões.

            Percebo que o Tempo parece que está fluindo mais rápido e minhas ações relacionadas com o trabalho devem ser mais constante, que devem chegar aos limites do sacrifício. Afinal entrei numa jornada indicada pelo Pai e aceita pelo meu livre arbítrio que leva a muitos sacrifícios dos quais já estou participando de alguns, como viver sozinho, eu, que tenho uma vocação natural para viver na companhia de alguém. Porem a exigência do Amor Incondicional força o afastamento de todos os instintos egoístas que estão ao meu redor e exigem exclusividade e assim provocam desarmonia no meu plano de vida. Por mais que eu seja tolerante, surge um afastamento progressivo e natural de todos que exigem de forma implícita ou explícita a minha exclusividade; que não usam a solidariedade com honestidade de princípios e sentimentos.

            Mas, agora não é motivo para essa lamentações, e sim de júbilo, pois hoje foi o dia de uma vitória retumbante do Trabalho sobre a Preguiça!

Publicado por Sióstio de Lapa
em 16/12/2014 às 00h59
 
15/12/2014 00h05
CAPITALISMO CRISTÃO

            O capitalismo se tornou vítima de um preconceito que identifica o capitalista moderno com o usurário medieval que enriquecia com o empobrecimento alheio.

            Desde o século XVIII e XIX, em plena Revolução Industrial, os papas sempre associaram o liberalismo econômico como um regime fundado no egoísmo de poucos que ganham com a miséria de muitos.

            Isso é possível numa economia estática onde os ricos se tornam mais ricos à custa de empobrecer os pobres, pois uma quantidade mais ou menos fixa de bens e serviços tem de ser dividida como um bolo de aniversário que, uma vez saído do forno, não cresce mais. Tem um exemplo assim: numa tribo de índios pescadores a “concentração do capital” equivaleria a um índio pescar para si a maior parte dos peixes, seja na intenção de consumi-los, seja na de emprestá-los a juros, um peixe na troca de dois ou três. Nessas condições, quanto menos peixes fossem pescados pelos outros cidadãos da taba, mais estes pobres infelizes ficariam devendo ao maldito capitalista índio – o homem de tanga que deixa os outros na tanga.

            Foi com base numa analogia desse tipo que no século XIII Santo Tomás condenou os juros como uma tentativa de ganhar algo em troca de coisa nenhuma. Numa economia estática como no feudalismo ou na sociedade escravista do tempo de Aristóteles, o dinheiro, de fato, não funciona como força produtiva, mas apenas como um atestado de direito a uma certa quantidade genérica de bens que, se vão para o bolso de um, saem do bolso do outro. Aí a concentração do dinheiro nas mãos do usurário só serve mesmo para lhe dar meios cada vez mais eficazes de explorar o próximo.

            Mas no século XVIII e XIX o mundo europeu já vivia numa economia em desenvolvimento acelerado, onde a função do dinheiro tinha mudado radicalmente sem que algum papa desse o menor sinal de percebê-la. No novo quadro ninguém podia acumular dinheiro debaixo da cama, mas tinha de apostá-lo rapidamente no crescimento geral da economia antes que a inflação o transformasse em pó.

            Santo Tomaz havia distinguido entre o investimento e o empréstimo, dizendo que o lucro só era lícito no primeiro caso, porque implicava participação no negócio, com o risco de perda, enquanto o emprestador, que se limitava sentar-se e esperar com segurança, só deveria ter direito à restituição da quantia esperada, nem um tostão a mais. Na economia do século XIII, isso era o óbvio, mas no quadro da economia capitalista, mesmo o puro empréstimo sem risco aparente já não funcionava como antes. Na prática os empréstimos a juros eram úteis e imprescindíveis ao desenvolvimento da economia, e, portanto, deviam ser alguma coisa de bom. Talvez a não explicação da diferença teórica entre essa prática e a do usurário medieval, terminou por identificar o capitalista com esse tipo de usurário, condenado, portanto, pela moral católica.

            A incapacidade de conciliar o bem moral e a utilidade prática do capital terminou incriminando o capitalista e toda a ideologia liberal. Parece que ninguém nota que no quadro do capitalismo em crescimento a remuneração dos empréstimos não significa uma conveniência prática amoral, mas sim uma exigência moral legítima. Ao emprestar, a pessoa troca seu dinheiro efetivo, equivalente a uma quota calculável de bens na data do empréstimo, por um dinheiro futuro que, numa economia em mudança, podia valer mais ou menos na data da restituição. Do ponto de vista funcional a diferença colocada por Santo Tomaz entre investimento de risco e empréstimo deixa de existir e daí que a remuneração fosse tão justa no primeiro caso como no segundo.

            Se Santo Tomaz tivesse consciência desses argumentos, certamente não teria o que objetar e veria neles um bom motivo para a integração plena e sem reservas do capitalismo moderno na moral católica. Mesmo porque na própria Bíblia Sagrada existe a defesa da cobrança dos juros sobre o capital, como se observa em levítico (27:31): Se um homem desejar resgatar parte do seu dízimo, terá que acrescentar um quinto do seu valor. Observamos o mesmo comportamento capitalista no Novo Testamento, com a parábola dos talentos ensinada por Jesus escrito por Mateus 25:27 – “Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros; e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu.

            Portanto, o cristianismo tem mais afinidade com o capitalismo e certamente o Reino de Deus, deverá ser instalado na base do liberalismo econômico domesticado da selvageria do egoísmo pelo Amor Incondicional. Teremos assim um verdadeiro Capitalismo Cristão.

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em 15/12/2014 às 00h05
 
14/12/2014 00h59
PEDRAS DO REINO DE DEUS

            A proposta de fazer da comunidade da Praia do Meio um modelo do Reino de Deus através do trabalho do Projeto Foco de Luz e da Associação de Moradores e Amigos, ficava sempre martelando em minha cabeça. Como fazer isso acontecer se todo o trabalho realizado parece se tornar um mero clientelismo com cores da fraternidade cristã e onde existem simplesmente doadores e receptores? E a situação tende a persistir assim para sempre? Cheguei a colocar para os meus companheiros essa preocupação, e enquanto a Luz não chega às nossas consciências, nós continuamos a fazer o clientelismo cristão e esperando a Graça de Deus para nos ensinar como construir o Seu Reino.

            Foi hoje na viagem que faço semanalmente para o trabalho em Caicó, que pressenti ter recebido a resposta de Deus. Alguém esqueceu no carro que eu viajava um livro com o título: “Francisco de Assis e Irmã Clara – O romance de suas vidas”. Tenho diversos livros de São Francisco, mas não conhecia esse. Portanto, eu conheço a história desses dois santos, que mais ele podia me ensinar?

            O motorista permitiu que eu levasse o livro para ler e retornasse com ele no próximo sábado. Aceitei e comecei a leitura pelas orelhas como sempre faço com os livros. Procuro ler tudo que é escrito antes da leitura do texto propriamente dito. A orelha dizia o seguinte:

            Filho de um próspero comerciante de Assis, nos últimos anos do século XII, no Reino de Itália, o jovem Francisco Bernardone procede a uma mudança radical em sua vida. Sua mediunidade desperta e ele passa a ouvir as vozes da Espiritualidade. Assume a difícil missão de restaurar os ensinamentos de Jesus, passando da teoria para a prática, conforme o ambiente religioso de seu tempo. Francisco não se permitiria mais desfrutar de tanta riqueza, enquanto errassem pelas estradas tantos pobres mendigando um pedaço de pão. Ele não se conformava com tamanha injustiça social: de um lado, tão poucos com uma vida de luxo e ostentação, de outro, tantos miseráveis passando fome e frio. Francisco de Assis criou um verdadeiro movimento revolucionário. Comprometido com a vivência dos ensinamentos de Jesus, ele e seus seguidores possuíam apenas um bem estar para dividir: a pobreza.

            Pronto! Surgiu de imediato a ordem do Pai, de seguir os passos de Francisco de Assis de acordo com minhas condições, com a época em que vivo e com as circunstâncias do meio. Vou desposar, como Francisco fez com a Dama Pobreza, a quem namoro há muito tempo: a Dama Verdade. Já escuto as vozes da espiritualidade através da intuição e de momentos como este, de encontro com um livro que abre todo meu campo perceptivo. Não me conformarei com a injustiça provocada pela mentira que provoca no mundo o divisionismo, o ódio, a guerra, a fome e a ignorância. Deus já está tocando o coração de diversas pessoas para a construção deste projeto, assim como tocou no coração de diversas pessoas para juntos a Francisco reconstruir a Igreja de São Damião.

            Iremos casa a casa que necessita de nosso apoio fraterno e faremos a ponte entre o reino mundano e o Reino de Deus. Cada casa visitada receberá o convite para ser uma pedra de construção do Reino de Deus.

            Construiremos um decálogo da maneira que Deus construiu para Moisés usar junto aos hebreus, subordinado às duas principais leis que Jesus nos ensinou: Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Não é necessário ou obrigatório que os membros dessa casa frequentem com assiduidade as nossas reuniões regulares, mas que se comprometam a ajudar ao próximo assim como foram ajudados. Sei que o tempo é pouco para cada um de nós atender essa demanda, mas sei que o Pai como sempre nos trará uma solução para o trabalho continuar, pois os trabalhadores já estão prontos. 

Publicado por Sióstio de Lapa
em 14/12/2014 às 00h59
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