Pelo caminho reto quero seguir. Oh, quando vireis a mim? Caminharei na inocência de coração, no seio de minha família. Não proporei ante meus olhos nenhum pensamento culpável. Terei horror aquele que pratica o mal, não será ele meu amigo. Estará sempre longe de mim o coração perverso, não quero conhecer o mal. (Bíblia, Ed. Ave Maria, Salmo 100).
Chego a ficar arrepiado até a raiz dos cabelos quando reflito sobre essa leitura, pois eu também quero seguir pelo caminho reto! Eu também quero ir até o Pai! Mas sei que meu coração não é inocente, apesar dele colaborar na construção da família ampliada que comporá a base do Reino de Deus. Não consigo deixar de ter ante meus olhos pensamentos culpáveis, pois eles nascem de minhas falhas para com a satisfação desnecessária do meu corpo. Então, não é que eu cometa o mal, mas me torno negligente com o Bem que eu poderia fazer e não faço! Então termino deixando espaço para o mal acontecer. E como poderei ter horror por mim mesmo? Como deixarei de ser amigo de mim mesmo? Como ficará longe de mim o coração perverso ou negligente se é o meu próprio coração? Como não conhecer o mal se ele está se originando dentro de mim?
Para me livrar desse dilema tão forte que tende a paralisar minha alma, encontro a figura de Jesus. Ele entende o meu coração pecador, a minha ignorância, covardia, preguiça e falta de sabedoria, como assim eram tantos quantos com Ele se relacionaram na Sua vida material. Ele deixou lições teóricas e práticas fundamentais para que eu possa sair dessa areia movediça na qual sinto que afundo se não tiver ajuda. Ele me mostra o Seu exemplo de coragem ao ler no templo:
Então eu disse: “Eis que eu venho. No rolo do livro está escrito de mim. Fazer vossa vontade, meu Deus, é o que me agrada, porque vossa lei está no íntimo do meu coração.” Anunciei a justiça na grande assembleia, não cerrei os meus lábios, Senhor, bem o sabeis. Não escondi vossa justiça no coração, mas proclamei alto vossa fidelidade e vossa salvação. Não ocultei vossa bondade nem vossa fidelidade à grande assembleia. (Bíblia, Ed. Ave Maria, Salmo 39 8-9).
Com essa leitura sinto um alívio no coração e mais ainda, sabendo que quem a fez primeiro que eu foi um Mestre tão perfeito do qual desejo ser discípulo. Jesus tinha autoridade para dar essa interpretação, que Ele era o “esperado” para fazer a vontade do Pai, pois cada palavra que disse, cada passo que deu foram dedicados exclusivamente a essa missão. Nenhuma oposição dos pecadores, nenhuma tentação de Satanás conseguiu afastá-lo do caminho da obediência absoluta.
No Jardim do Getsêmani Ele enfrentou uma concentração das forças do inferno. No sinédrio enfrentou o ódio implacável dos homens, a quem havia servido com tanto amor. Por fim, seguiu voluntária e obedientemente para a cruz, exclamando: “Não beberei eu o cálice que o Pai me deu?” (Bíblia, Ed. Ave Maria, João, 18 11).
Jamais as Forças do Bem viram algo assim tão inacreditável! O filho bem amado de Deus nos amou a tal ponto de se esvaziar de tudo o que era com o objetivo de deixar a lição para que nos aproximássemos de Si e consequentemente do Pai. E foi esta a vontade do Pai que o Seu filho muito amado se mostrou a altura de cumprir, que pudéssemos nos maravilhar diante de tal obra de amor. Pensar somente em nossa própria redenção é subestimar o valor dela. A obra do Mestre Jesus chega a deixar os anjos sem palavras!
Eu, diante de tudo isso, não posso deixar de ficar maravilhado, pois o Pai sabendo da minha ignorância (e de todos meus irmãos), sabendo que eu sozinho não iria ter forças nem inteligência, muito menos sabedoria para sair do lamaçal que a carne me arrasta, enviou o filho muito amado para deixar tão preciosas lições.
Agora eu sei de toda sujeira que ainda tem em meu coração, mas sei que tenho um Pai amoroso e misericordioso que julga minhas intenções acima de meus erros e que me deu um Mestre tão perfeito como Jesus e que até hoje está ao meu lado disposto a me ajudar, basta que eu sintonize com o Seu amoroso coração.
Tenho que dissecar com toda profundidade possível até onde vão minhas necessidades biológicas, até onde vai o que é preciso fazer para manter a integridade do meu corpo e onde começam os exageros em função dos desejos que vêm do corpo, mas que não é mais necessário satisfazer. Se continuo satisfazendo devido o desejo, o prazer carnal que sinto, mas que não é mais necessário, entro no campo da negligência com os compromissos espirituais.
Foi assim que aconteceu ontem, tenho certeza. Deixei que o meu corpo ficasse sobre a cama pensando que por ser cedo eu poderia levantar e ir para a mesa antes da meia noite e concluir meus compromissos do dia. Dormi sem delongas e só acordei hoje no dia seguinte, 14-03-13. A consciência acusa o meu procedimento. Fico até sem clima emocional de cantar (mesmo assim fiz uma canção, gravei e a vou postar no Recanto das Letras ainda hoje – Apelo ao Pai) a bondade e a justiça do meu Senhor. Sinto-me um soldado esculhambado que quer ser integrante das Forças do Bem sob o comando do Cristo. Pode!?!
Tenho apenas ao meu favor que não tenho intenção de colocar ninguém em dificuldade e que a ninguém perturbo, e que se isso acontece é porque pratico a fiel vontade de Deus escrita em minha consciência. Procuro ser bondoso para todos, procuro não deixar ninguém em ansiedade. Sei que quando consigo isso é pela graça de Deus que não me deixa ficar perturbado com nenhum contratempo aparente.
Mas essas minhas boas intenções espirituais podem entrar em conflito com a minha natureza materialista, de ficar muito feliz quando algo me propicia prazer dos sentidos e me satisfaz o corpo.
Felizmente não chego ao cúmulo de ficar triste e com inveja quando vejo alguém que tem algo para a satisfação dos sentidos que eu não tenho. Mas ainda tenho medo da represália de um inimigo e de não poder executar algo com sucesso, tudo muito materialista, que atende as necessidades biológicas.
Portanto, tenho que aprender a lidar com essas necessidades biológicas para não entrar em incoerência com a vontade de Deus que é o meu objetivo prioritário na vida...
... não devo lutar obstinadamente por dinheiro e quando ele vier automaticamente não posso ficar agitado...
... devo cuidar da limpeza do corpo com pelo menos dois banhos diários...
... devo cuidar do que me alimento para manter a limpeza fora e dentro do corpo...
... praticar exercícios que visem a boa funcionalidade do corpo...
... usufruir dos prazeres da carne quando as ações atenderem as necessidades da sobrevivência saudável do corpo ou como um louvor harmônico à criação e aos projetos de Deus...
... não me esforçar por nada que vá contra a vontade de Deus.
Fazendo assim estarei dando os primeiros passos para disciplinar o meu comportamento e não ficar tão desviado da estrada que devo trilhar.
Estes dois campos, biológico e espiritual, parecem estar sempre em confronto, em oposição. Enquanto o primeiro tem o foco na preservação e reprodução da vida biológica, individual, com base no egoísmo, o segundo tem o foco na evolução moral, na solidariedade, com base no amor. Desde o momento que nascemos somos tomados pelos interesses biológicos, nossas ações são puramente instintivas. Cabe o papel da educação sermos disciplinados para respeitar o direito do outro e absorver os princípios espirituais da Lei do Amor cuja prática pode até levar a destruição do indivíduo. É esta aprendizagem que precisamos incorporar ao nosso caráter. Foi com essa missão que veio a terra o divino Mestre, Jesus. Com Suas lições práticas e teóricas deixou na forma de Evangelho um importante código de conduta. Temos exemplos de personalidades como São Francisco de Assis, que procurou aplicar essas lições com grande fidedignidade. Vejamos só um trecho do livro “Fontes Franciscanas e Clareanas” na página 346:
“Revestido de virtude do alto, este homem se aqueceu mais interiormente com o fogo divino do que exteriormente com uma coberta do corpo. Execrava os que na Ordem se vestiam com roupas triplicadas e usavam, além da necessidade, vestes macias. Afirmava que é sinal de espírito extinto, a necessidade manifestada não pela razão, mas pelo prazer do sentidos. Disse: [Estando o espírito tépido e resfriando-se pouco a pouco a graça, a carne e o sangue sentem necessidade de buscar as coisas que são suas. Quando a alma não encontra seus prazeres, o que resta, pois, a não ser que a carne se volte para os seus? E, então, o apetite animal disfarça a circunstância da necessidade, e o entendimento carnal forma a consciência]. E acrescentava: [Se meu irmão tiver verdadeira necessidade, qualquer uma que o atinja com a miséria; se se apressa a satisfazê-la e em expulsá-la para longe de si, que recompensa receberá? Na verdade apresentou-se a ocasião do merecimento, mas esforçou-se por provar que lhe desagradara]. Espetava com estas e semelhantes palavras os que não sabiam lidar com as necessidades, pois que não suportá-las pacientemente nada mais é que voltar para o Egito”.
Posso ver um comportamento radical de São Francisco no seguir os passos de Jesus no que tinha de humildade, serenidade e pobreza. Seu exemplo é nobre e corajoso, mas preciso dar um salto de qualidade em busca do Reino de Deus, e nesse Reino não é admissível a pobreza e riqueza entre os homens. Os impulsos da carne que também foram feitas pelo Criador, todos tem uma função nobre com relação a vida. Agora todos devemos ficar submetidos a Lei Maior, a Lei do Amor Incondicional. Posso aproveitar os avanços da ciência e da tecnologia para garantir mais qualidade de vida, sem peso na consciência. Posso lutar para ver implantado na terra, a partir da limpeza do meu coração, o funcionamento desse Reino. Faço aqui a minha parte, de aplicar o Amor Incondicional à minha vida, deixando em posição subalterna, sempre, qualquer tipo de amor ou sentimento, inclusive o amor romântico, até mesmo na forma da paixão.
Esta foi uma ordem bem simples de Jesus, em João 21:22. Isto é muito pessoal. O Senhor estava comunicando a Pedro: não se preocupe com João. Estou falando com você, você Pedro. Me siga você. Quando chegar o momento do julgamento divino, cada um de nós prestará contas individualmente pelos próprios atos. Procuro deixar meu coração constantemente sob a luz da presença do Senhor, para que Ele me sonde.
Eu posso até questionar sobre a forma com que Deus abençoa um grupo de pessoas, mesmo que as práticas ou doutrinas deles não estejam totalmente de acordo com as lições sagradas, mas isso não é da minha conta. Segue-me tu, é a ordem que Deus também deu para mim. Sei com clareza que a missão de levar o Amor Incondicional para a prática, atropelando preconceitos e amores românticos, é a minha tarefa. Posso também olhar para o pequeno grupo com os quais me reúno para os estudos espirituais e cada um demonstra ter um caminho que não igual um ao do outro. Assim todos tem um padrão acobertado pela cultura, mas para cumprir a tarefa que Ele me designou, passo necessariamente pelo confronto com a cultura.
Posso perceber irmãos e irmãs que amam o Senhor e que recebem suas bênçãos, mas que praticam ações que são incoerentes com a aplicação do amor incondicional, que estão andando na direção contrária ao entendimento que tenho sobre as leis de Deus. Até pessoas do meu convívio mais íntimo, que tem uma boa espiritualidade e conhecem os caminhos e leis divinas, cometem essas incoerências ao meu lado. Embora eu os ame, o que não posso é esquecer-me de cumprir a vontade de Deus na construção do Seu Reino.
Devo mostrar a verdade, encorajar a corrigir os próprios defeitos de cada um, inclusive os meus, e, fazer isso sim, mas não entrar em desvio que leve para longe a minha responsabilidade de seguir a vontade de Deus.
E também muito atento ao que Ele quer fazer para contribuir com meu desempenho, pois mesmo eu organizando todo um roteiro de atividades, sei que Ele pode de um momento para outro alterar toda a programação e me fazer seguir por uma trilha diferente. Mas como sei que isso é a Sua mão para ser útil em algum outro contexto que eu não tenho ainda capacidade de prever, devo seguir com obediência e prazer todo o roteiro novo que se descortina à minha frente.
É uma das condições do amante incondicional, aquele que está matriculado na escola do Cristo, que não tem compromisso com os preconceitos humanos e sim com a Lei do Criador: ser um guerreiro do bem contra o mal.
A minha lição prática diária, de aplicar o amor incondicional em todas minhas relações, vai de confronto ao mal que permeia a sociedade. Sinto que pertenço às forças do bem, junto com pessoas que também se posicionam na sociedade e cada um com o poder que as circunstâncias e o esforço individual lhe ofereceram passam a exercer o confronto com o mal. Sei que minha posição é de humildade, não tenho o poder que um Papa, por exemplo, possui, cujas palavras tem repercussão imediata por todo o mundo.
Mas reconheço com humildade a minha posição na sociedade e tento ser o soldado competente que aspira um dia ser general nessa guerra fundamental para a formação do Reino de Deus. Temos que aplainar o coração dos perversos com a luz do amor, da compaixão, e até da tolerância. O soldado de Deus não faz a guerra convencional, com as armas convencionais, espadas, baionetas, canhões, obuses e bombas atômicas. O soldado do bem usa a estratégia de Gandhi na Índia, a não violência.
Assim é que procuro extinguir com incessante atenção todos os pensamentos inferiores que me são sugeridos. Quando entro em contato com pessoas interessadas na maledicência, procuro me retrair de forma cortês. Se acaso me fazem alguma questão direta sobre a vítima ausente, procuro lembrar alguma pequena virtude que ela apresente. Se alguém chega perto de mim, encolerizado, considero a ira como enfermidade digna de tratamento e permaneço quieto, se não consigo encontrar forma de atenuar tamanho ódio. Se dirigem insultos contra mim, faço todo o esforço para ser preenchido todo meu corpo com a essência do amor, para que a cada golpe que me atinja deixe nas mão do meu agressor a fragrância do bem, pois além de não reagir, trato o meu ofensor com a fraternidade que me é habitual. A calúnia não tem acesso à minha alma, pois cada denúncia torpe se perde inútil, no meu grande silêncio e tolerância. Se vejo ameaças à tranquilidade de alguém, tento desfazer as nuvens da incompreensão, sem alarde, antes que assumam feição tempestuosa. Se alguma sentença condenatória injusta ameaça ao próximo, mobilizo de forma espontânea todas as possibilidades ao seu alcance na sua defesa delicada e imperceptível. Procuro chegar ao máximo de zelo contra a incursão do mal, que penso em retirar pedras da via pública ou até espantar um animal deitado na pista para que não ofereça perigo aos transeuntes ou motoristas.
Todos esses itens compõem o meu arsenal na guerra ao mal, que devo caminhar com ele entoando a canção de São Francisco. Mas isso não significa que eu consiga levar sempre comigo esse arsenal e faça uso dele. Ainda está nas minhas intenções. Lembro que há alguns dias escapei de um acidente na estrada à noite, porque tinha um animal deitado na pista. Se eu estivesse usando o meu arsenal de guerra ao mal, eu teria parado e espantado o animal para longe da pista. Só fui lembrar-me de fazer isso quando já estava distante e não quis voltar para concertar a negligência. No outro dia soube que um rapaz que dirigia sua moto fora acidentado naquela mesma estrada por ter batido num animal. Pergunto: de quem foi a culpa frente ao tribunal de Deus? Se eu tivesse sido condenado pelo tribunal humano passaria alguns dias na cadeia por não cumprir o meu dever. A punição que o Pai dá tem outro sentido, tem outro formato. Coloca na minha consciência um excesso de responsabilidade para que nunca mais tal fato eu negligencie. Enche meu coração de amor e dar o comando para eu o distribuir de forma incondicional, às custas do meu próprio conforto e segurança. Acredito que esta forma de justiça seja mais eficiente, pois assim eu tenho chance de recuperar a minha alma permanecendo na trincheira da luta contra o mal.